Novas revelações

Entretanto já era bastante tarde e estavam ambos cansados e resolveram ir dormir.

No dia seguinte Jaime acordou muito cedo. Queria falar com Matilde. Até que ponto conhecia a família do tio e se alguma vez falou alguma coisa. Precisava de saber.

Encontrou Matilde cá fora a falar com uns trabalhadores.

- Bom dia! Matilde, precisava de falar contigo.

- Bom dia Jaime. Dá-me 5 minutos.

Jaime afastou-se um pouco e esperou. Matilde aproximou-se com uma expressão de quem percebia que alguma coisa se passava e não seria propriamente boa.

- Que se passa Jaime?

- Preciso de falar contigo sobre o meu tio.

- Ok. Sobre?

- Vamo-nos sentar no alpendre.

Matilde estava intrigada, Jaime não estava com boa cara.

- Alguma vez o meu tio falou contigo sobre a família? Chegaste a conhecer alguém?

- Não. O teu tio nunca falou da família. Logo no início, quando vim para cá, veio uma senhora idosa visitá-lo. Mas fecharam-se no escritório, e não faço ideia do que falaram, nem quem era a senhora. Ela foi embora nesse mesmo dia.

- Como era?

Matilde olha para ele com uma cara, ao mesmo tempo, de surpresa e estupefação.

- Só podes estar a brincar. Era uma senhora idosa. Jaime desculpa, mas estás a assustar-me. O que se passa?

- Tens razão. Desculpa Matilde, pareço um louco. Diz-me só, ela deve ter sido anunciada, pelo menos o nome deve ter sido dito...

- Jaime, estou aqui há 15 anos... deixa-me puxar das memórias.

- Bem, pensa nisso, se te lembrares dizes-me, ok?

- Sim claro!

Jaime voltou ao escritório para ver se conseguia perceber melhor, ou saber mais, sobre toda esta situação.

Voltou a pegar nas cartas. Pôs de lado as que já tinha lido. E começou novamente pelas que ainda estavam dentro do envelope.

"Caro Samuel

Não podes voltar cá. O António já soube e ficou bastante zangado. Por favor, não voltes a fazer isso, porque somos nós que temos que levar com o mau humor dele. Isto aqui é um meio pequeno e embora ninguém saiba o porquê, sabem que o António te detesta. Por isso acaba sempre por saber que vieste cá. Eu não quero baixaria nem má educação acima de tudo pelo Francisco. É um menino tão feliz e querido, não vamos estragar nada disto.

Arranja uma mulher e casa, tenho a certeza que não terás dificuldades, porque és um homem carinhoso, bonito e rico.

Deixa-nos viver a nossa vida e esquece-nos por favor.

Fico-te eternamente grata.

Cândida

3-3-1949"

"Caro irmão,

estou muito doente e provavelmente não durarei muito mais. O que nos aconteceu, hoje vejo, que não foi assim tão mau. Amar a mesma mulher não é assim tão mau. Cândida é sem dúvida uma grande mulher, uma excelente companheira e, acima de tudo, uma mãe fantástica!

O Francisco é o filho que toda a gente gostaria de ter, e eu já não vou poder estar muito mais tempo com eles.

Quero-te dizer que te perdoo e que deixo para vocês os dois, Cândida e tu, resolverem como deve ser a vida depois de mim.

Peço que respeitem apenas uma coisa: Francisco é meu filho e é assim que quero que seja.

Espero que respeites a minha vontade.

Até sempre irmão.

António

18-9-1960"

O avô tinha morrido uns anos antes de Jaime ter nascido. Mas de alguma forma Jaime sentiu-se aliviado pelo avô ter perdoado o irmão. E pelo que sabe a avó ficou no continente e viveu com ele e com os pais, até falecer.

Pegou noutra carta, era a penúltima.

"Caro Samuel

Agradeço a tua presença no funeral do teu irmão pois sei que também era sua vontade que lá estivesses. Agradeço-te tudo o que me disseste, mas como referi na altura e volto a reforçar, a minha vida é aqui. Foi aqui que morreu o amor da minha vida, e é aqui que quero morrer. Considero-te um bom amigo, o meu cunhado, mas nada mais. Sei que o Antônio falou contigo, contudo não tinha a menor intenção, independentemente de ele aceitar ou não, de voltar para junto de ti. Passaram muitos anos e os sentimentos mudaram.

Tens uma vida próspera. Um negócio de sucesso. Gente à tua volta, que gosta de ti. Aprecia isso, pois realmente num instante desaparecemos. Quem sabe um dia destes o Francisco vai aí passar umas férias?

Fica bem

Cândida

26–2-1961"

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top