Finalmente o acreditar

Nessa noite ao jantar o advogado esteve presente, e falou com Jaime no sentido de perceber o que pretendia fazer com a herança do tio. Jaime disse-lhe que às 10h do dia seguinte poderiam reunir-se no escritório do tio.

Jaime deitou-se cedo. Estava exausto e sentia mesmo necessidade de descansar.

Às 10h já estava reunido com o advogado. Estiveram mais de duas horas a conversar e a ultimar todos os documentos necessários para o que ia acontecer a seguir.

Almoçou e foi com Lourenço dar uma volta pela quinta, ver as vinhas, estar com os trabalhadores e, falou-lhe dos projetos que tinha para o futuro. Lourenço abraçou o amigo e disse

- Conta comigo.

De tarde Jaime reuniu-se com Matilde e fez-lhe uma proposta.

- Matilde, quando soube desta herança fiquei abalado, e pensei que me iria livrar de tudo porque achei que nunca encaixaria aqui. Já não penso assim. Mais do que nunca, acho mesmo que o meu lugar é aqui. Contudo, como sabes, não percebo do negócio então, esta é a minha proposta:

serias minha sócia, teríamos 70% da empresa e os outros 30% seriam divididos pelos trabalhadores. Que te parece?

Matilde estava perplexa. Levantou-se e abraçou-o.

- Oh Jaime, isso é maravilhoso e tão grandioso da tua parte!

- Nada disso é mais que justo, penso eu.

- Sim, sim. Vão todos ficar tão contentes!

- Lourenço vai-nos ajudar com o site e a imagem da empresa.

- Isso é maravilhoso!! Estou tão feliz! Obrigado Jaime pela tua generosidade.

- Basta de agradecimentos. Vamos reunir amanhã com os trabalhadores e contar as novidades.

Nessa noite o jantar foi especial. festejaram as boas notícias. Regado com o bom vinho da quinta.

No dia seguinte, Jaime acordou tarde. Tinha tido finalmente uma noite repousante, e sentia-se mesmo bem.

Preparou-se e foi direto para a cozinha, estava cheio de fome.

Matilde, entretanto, chegou e perguntou-lhe se queria que reunisse todos os trabalhadores de manhã ou de tarde.

- Agora de manhã pela fresquinha - Respondeu

Matilde foi tratar de tudo. Pouco depois foi até à Adega, que seria o ponto da reunião. Já lá estavam todos.

Subiu para cima de uma pipa e pediu a palavra. Fez o discurso de agradecimento a todos, pelo excelente trabalho ao longo de todos estes anos, e por apoiarem o tio. Agradeceu ainda, o manterem tudo organizado mesmo depois da morte do tio e, fez um agradecimento especial a Matilde.

Assim, entrou na parte em que explica como vai ser o negócio a partir daquele momento. Explicou a sociedade entre ele e Matilde que foi recebida com palmas e vivas, e falou da parte que caberia aos trabalhadores.

Fez-se um silêncio, quebrado apenas pelas palmas de Matilde e Lourenço.

Jaime ficou constrangido, não sabia o que dizer.

De repente alguns trabalhadores pegaram no Jaime e levaram-no ao mesmo tempo que dão vivas.

Foi o choque da notícia, nunca tinham conhecido ninguém tão generoso.

Estavam todos muito felizes e para comemorar Jaime pediu a Matilde que organizasse uma festa que fosse o símbolo de um novo começo.

A festa durou o fim de semana todo e até vieram pessoas de outras quintas.

Depois do fim de semana Jaime e Lourenço voltaram ao Continente. Tinham que tratar de algumas questões de caráter prático e não só.

Jaime e Lourenço chamaram alguns amigos, e foram jantar fora para lhes poderem comunicar, os novos projetos em que estavam envolvidos. Claro que Jaime disponibilizou logo a quinta para os amigos fazerem férias.

Jaime voltou para a Madeira depois de ter resolvido todos os assuntos no continente. Quando chegou ao aeroporto Matilde aguardava-o.

Jaime abraçou-a.

- Já me lembrei Jaime.

Jaime ficou surpreendido.

- De quê?

- Do nome da senhora idosa que veio ver o teu tio: Cândida.

Jaime sorriu e disse

- Sim, era a minha avó.

- A sério? Que giro.

- Vamos?

E lá foram para quinta. Jaime ao chegar sentiu um grande orgulho sem saber bem porquê, mas ia fazer parte de algo maior que ele, e que fortalecia a gerações que tinham existido e acabado nele, até àquele momento.

Todos o receberam muito bem e Jaime começou a sentir que estava em casa.

Apesar de toda esta sensação de bem-estar e boa energia à sua volta, Jaime queria saber se o pai ficou a saber da verdade antes de morrer. Isso ainda o deixava inquieto e curioso.

Por isso depois de descansar um pouco, e ter falado de alguns assuntos com Matilde, voltou para o escritório para ler a última carta.

"Querido Samuel,

finalmente o Francisco já sabe a verdade e como calculas está abalado. É muita informação e revelações, que põe em causa toda a verdade que até aqui conhecia. É avassalador. Temos que lhe dar tempo. Eu não podia partir sem revelar a verdade ao meu filho. Poderia tê-lo feito deixando um documento escrito, mas pareceu-me demasiado cobarde da minha parte, não assumir os custos de toda esta mentira, perante o meu filho.

Francisco não fala comigo. Ignora-me se puder, e não come na mesa, se eu estiver. Não vou dizer que não dói, mas entendo. De repente a mãe assume-se como uma pecadora de todo o tamanho. O pai para ele tornou-se ainda maior e mais heroico, porque, como calculas, neste momento, tu és apenas um monstro que destruiu tudo o que ele tinha como garantido. Nestas coisas, não interessa se somos adultos ou não.

Precisa de tempo e é isso que lhe vamos dar. O que me preenche é o meu menino lindo, Jaime, que na sua inocência não percebe o que se passa, e ainda bem, e eu continuo a ser a sua maravilhosa avó.

Provavelmente é a última carta que te escrevo. Tenho-me sentido muito cansada.

Mas deixa-me dizer-te apenas mais uma coisa. Acredito que Francisco te vai querer conhecer mais cedo ou mais tarde. Promete-me estares preparado tanto para o melhor como para o pior. Fá-lo sentir-se em casa e acarinhado pelo menos por todos os outros.

Fica bem, com carinho

Cândida

21-3-1977"

Jaime lembrava-se vagamente de uma altura em que ouvia os pais a sussurrar e existia qualquer coisa em casa que ele não sabia explicar, mas que também não deu grande importância. Era demasiado novo para perceber as subtilezas dos adultos.

Mas agora percebia porque é que os pais iam para o aeroporto naquele dia fatídico.

Os pais tinham-lhe dito que iam passar umas férias como nunca passaram. Iam à Madeira para um hotel 5 estrelas, durante uma semana.

Jaime ficou muito contente, pois os pais nunca tinham gozado muito a vida. Tinham uma vida remediada, mas à custa de muito trabalho. Eram o tipo de pessoas que amealham, em vez de gozar a vida. Por isso, ficou mesmo muito contente.

Mal sabiam os três como rudo iria mudar da pior maneira.

Neste caso, os pais de Jaime a caminho do aeroporto, tiveram um grande acidente. A mãe faleceu no local. O pai ainda foi para hospital, mas chegou já sem vida.

O pai do Jaime ia conhecer o pai biológico!

Agora é que percebia tudo. Que tragédia!

Tinha que repor o equilíbrio nesta família. Chega de dramas.

Levantou-se e foi até à adega. Acompanhou os trabalhos e no que pôde ajudou.

De tarde, Matilde levou-a a conhecer todos os recantos maravilhosos da cidade.

Câmara de Lobos era efetivamente linda. Queria conhecer e saber tudo sobre a Madeira.

Voltaram à quinta e Lourenço já tinha chegado.

- Fizeste boa viagem amigo?

- Sim. Sempre. Estou apenas um pouco cansado.

- Vamos jantar e depois cama. Amanhã precisamos de falar.

Jaime levantou-se cedo, como já vinha sendo costume, foi até ao escritório queria organizar tudo o que lá estava. Começou pelas cartas que as colocou exatamente onde as tinha encontrado.

Ainda faltava encontrar as fechaduras para as outras duas chaves.

Procurou novamente entre todas as saliências que existiam nos móveis e não só do escritório, mas não encontrou nada. Que frustração.

Não sabia muito bem, que mais fazer. Sempre poderiam ser de outros locais que não do escritório... seria estranho, mas ainda assim... sentou-se. Olhou para a estante à sua direita que era a mais pequena e com menos livros. Que espécie de livros tinha ali colocado? Levantou-se e foi ver. Eram de assuntos variados: viagens, receitas, autoajuda... esse era um pouco estranho pegou nele. Não era um livro qualquer era a segunda fechadura.

- Bom dia Jaime!

Lourenço acordara. Jaime colocou de novo o livro no sítio. Voltaria a ele mais tarde.

- Então dormiste bem?

- Que nem uma princesa - E riu-se – Então de que me querias falar?

- Negócios claro. Tens que agendar uma reunião com a empresa que produziu o site, para rescindirmos e começares a trabalhar nele, e vê se me apresentas ideias fantásticas. Quero que negócio vá de vento em popa.

- Ei, gosto de te ouvir a falar assim. Ok. Vou começar a tratar disso. Vou dar uma vista de olhos no site e quando agendar a reunião, aviso-te. Agora vou tomar o pequeno almoço.

Lourenço saiu e Jaime foi direto à estante. Sentou-se e experimentou as chaves. Uma, claro, abriu o livro. Dentro estava mais uma carta. Que estranho... porque estava aquela assim sozinha?

Olhou o envelope e este tinha remetente: Francisco Caetano, o seu pai.

Jaime, respirou fundo e retirou a carta do envelope.

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