Capítulo 4 - Por Trás das Máscaras

- Sim, Kanim, eu tive uns problemas com o carro. Meu celular descarregou e precisei usar o de um amigo - Kim Jongin mentiu para a garota, tentando fingir a todo custo que não se sentia desconfortável com a maneira que o anfitrião lhe encarava. - O homem que me convidou para esse jantar me ofereceu estadia aqui por hoje - explicou, calmamente. - Por favor, cuide dela enquanto eu não estiver. Confio em você.

O celular foi desligado após a resposta da moça, e, então, entregue ao dono.

- Deixará de seus surtos, agora? - Kyungsoo indagou.

Jongin respirou fundo, tentando manter a paciência.

- Como gostaria que eu reagisse, Do Kyungsoo? Bem? Quer que eu pule de alegria? Eu vou ser a testemunha de um assassinato! - disse estressado, se dirigindo até a grande sala de estar e se sentando no sofá cinza, atordoado.

Kyungsoo o acompanhou como uma sombra, como sempre. Observou o outro tirar o sobretudo, revelando o tronco bem marcado pela camisa preta que se colava ao corpo e também realçava o formato do seu peitoral forte e da cintura fina. Talvez não devesse reparar nesses detalhes.

- Não se preocupe, Jongin. Se não quiser ser a testemunha, pode ser o próprio assassino, sem problema algum - disse com desdém.

O Kim se enfureceu.

- Você é um egoísta fodido, não é? Você não pensa nos outros, por acaso? Você tem filhos, Do Kyungsoo! Tem amigos! Você não para pensar em como essas pessoas vão ficar? Construiu simplesmente uma família para deixar ela de um jeito trágico sem mais nem menos? - cuspia as palavras, sem dó ou piedade.

- Cale a boca! - gritou. - Você não sabe de nada, Jongin!

- E você também não! - rebateu, se inclinando para a frente. - Se soubesse, não estaria planejando algo tão estúpido!

Kyungsoo levou a mão à testa e baixou a cabeça, num claro sinal de quem procurava algum resquício de sanidade.

Foi então que se dirigiu até um armário de vidro no canto da sala, onde se dispunha de várias bebidas e taças. Retirou uma e um vinho qualquer dali, derramou o líquido dentro do recipiente e estendeu-o a Jongin.

- Vamos, beba! - insistiu. - Você está precisando, Kim Jongin.

Jongin entendeu o que o outro estava querendo fazer. Ele gostaria que ficasse o menos sóbrio possível para que pudesse suportar aquela ridícula ideia. Mas não, Jongin não queria ser mais uma peça naquele jogo sombrio e não deixaria que embriaguez alguma lhe tirasse os sentidos em um momento como aquele.

- Eu não vou beber, Kyungsoo - rejeitou, virando o rosto para o lado.

- Beba! - o mais baixo voltou a ordenar, impaciente, aproximando a taça do outro. Estranhou sua repentina falta de reação, recebendo apenas o silêncio como resposta.

- Beba agora, Jongin! - se exaltou.

Foi assim que o dançarino perdeu o controle dos seus instintos e deu um tapa forte na mão do outro, fazendo com que a taça caísse e se quebrasse estraçalhada no chão, ao que o líquido escuro acabou voando para a camisa de seu terno Gucci caro, mas sequer se importou com aquilo.

- Você está ficando louco, Kim? - Do Kyungsoo berrou, bravo. Respirava fundo para manter a paciência e compostura.

- Sim, Kyungsoo, talvez eu esteja ficando louco há muito tempo e tudo isso seja culpa sua! - disse, apontando o indicador na face do citado.

- Então, por que não aproveita? - gritou. - Por que não está feliz com a ideia de me ver morto, se, no fim das contas, você também me odeia?

Reprimiu seu espanto diante daquelas palavras. Afinal, aquilo era algo que não entendia no mais velho. Talvez nem o próprio Kim Jongin entendesse direito. Era claro que havia sofrido nas mãos dele, talvez devesse o odiar, mas realmente não conseguia. Quem sabe estivesse apegado um pouco demais ao que via de bom no outro nos tempos da faculdade. Porque sim, ele ainda tinha algo bom naquela época.

O Do respirou fundo. Não sabia o motivo de não ter perdido a paciência de vez com o moreno ainda. Sua hipótese era de que saber que iria morrer lhe deixava sem energia para grandes discussões.

Tomou a mão alheia, fazendo com que os olhos pequenininhos de pálpebras duplas se arregalassem, e o puxou delicadamente.

- Venha comigo, Kim. Você precisa trocar essa camisa. Acho que tenho algo do seu tamanho - chamou, com um tom calmo.

- Não precisa disso - o convidado tratou de falar.

- Não quero que os policiais achem que sua camisa manchada seja uma pista - explicou, sério, o encarando com os olhos fundos.

Jongin suspirou derrotado, deixando-se levar pela mão gelada do outro enquanto subiam as escadas em direção ao quarto.

[ . . . ]

Kim Junmyeon andava pelos corredores da casa com uma calma que não condizia com a situação horrível a qual todos foram submetidos. Mas, diferente dos demais, a ocasião lhe era tão agradável como um passeio no parque em um domingo ensolarado. Não tinha o que temer.

De repente, ouviu um som estrondoso vindo da sala de estar, e logo tratou de apressar o passo até o cômodo. Lá, encontrou Baekhyun ajoelhado no chão, vasculhando as gavetas do raque de madeira que ficava abaixo da espaçosa televisão. Havia algumas folhas e objetos aleatórios espalhados por todo canto. Ele parecia estar com a paciência no limite.

Seus lábios se repuxaram em um sorriso lateral, enquanto chegava perto dele sorrateiramente.

- Procurando por algo? - perguntou, inclinando a coluna pra se aproximar um pouco mais.

O Oh assustou-se, lhe lançando um olhar mortífero.

- Sim, a minha dignidade depois de ter me metido nessa merda toda - resmungou, fechando a gaveta com brutalidade e levando suas mãos para outra.

- Não creio que vá encontrar dignidade em nenhum canto dessa casa - comentou, dando de ombros. - Ninguém que está aqui tem, afinal.

- E quem é você para falar de algum bom valor, hein, Junmyeon? - levantou-se do chão frio, virando-se na direção do outro. - Desde a faculdade que você sempre foi um egocêntrico e egoísta do pior tipo. Ainda me surpreendia o fato de você ter algum amigo.

Junmyeon refletiu sobre suas palavras, em um silêncio que deu ao Oh a sensação de vitória. Não era segredo que sempre pensou muito em si mesmo e no seu próprio sucesso. Nunca havia hesitado, mesmo que ainda na faculdade, em pisar em qualquer um que tentasse estar acima dele, em qualquer quesito que fosse. Acreditava que havia nascido para estar no topo e no atual momento de sua vida, aquilo apenas se confirmava.

Ao contrário de Kyungsoo, a solidão jamais o incomodou. Não sentia nenhum arrependimento de ter afastado muitas pessoas de sua vida para se tornar o que era hoje, um homem bastante rico e detentor de inúmeras posses. Encontrava no poder o seu maior conforto, e isso já era mais do que suficiente para ele. Não possuía uma esposa e nem filhos, apenas saía com algumas poucas mulheres vez ou outra. Sabia que aquilo era o melhor para si, principalmente quando lembrava do exemplo da família do seu rival, que só serviu para deixá-lo no fundo do poço.

O empresário não evitou um riso alto de puro deleite. Baekhyun irritou-se mais ainda, julgando que a loucura na cabeça do outro poderia ser tão grave quanto a de Kyungsoo.

- O que é tão engraçado?! - questionou, quase gritando.

- Desculpe-me, mas realmente é engraçado pensar nisso, porque todo esse meu egocentrismos e egoísmo me tornaram um homem rico, com um legado que talvez você não tenha capacidade de compreender em números - sorriu amplamente ao ver como o outro era fácil de provocar. - Mas e você, Baek? O que aquela imagem de bom samaritano que você mantinha na faculdade lhe rendeu hoje? Um carro velho e usado? Um estilo de vida limitado que é sustentado por um emprego de mixuruca qualquer? Ou melhor, até se prestar a um assassinato para por as mãos em algum dinheiro, talvez? Até Kim Jongin que você e Oh Sehun sempre julgaram tanto, conseguiu se tornar um homem famoso e bem sucedido. Mas e vocês?

Junmyeon praticamente destilava veneno com suas palavras cruéis e insensíveis. Sabia do efeito que cada uma daquelas perguntas causava no Oh.

Baekhyun chegava a tremer, sentindo o corpo se consumir em adrenalina e ódio. Estava considerando avançar no homem de fios castanhos e lhe causar o máximo de dano que pudesse, mas logo Sehun chegou na sala.

- Baekhyun - chamou, antes de ver que o Kim também estava presente. - Atrapalho algo?

- De forma alguma, Sehun - Junmyeon disfarçou com tamanha serenidade no rosto.

- Apenas estava conversando amigavelmente com o Baekhyun sobre... coisas da vida - direcionou seu olhar para o outro, como se esperasse uma confirmação. Se divertia tanto com aquilo.

- Some daqui, Junmyeon - o loiro disse, impaciente.

- Eu já pretendia - fez questão de ter a última palavra, antes de se retirar da sala.

- Está tudo bem? - Sehun perguntou, pegando na mão pálida do marido.

- Sim, não se preocupe - afirmou, optando por poupar ele daquele diálogo que só resultaria em mais estresse. - Conseguiu a arma?

Sehun apertou os lábios. Tinha total certeza de que o outro teria um surto quando soubesse que a arma não estava com ele.

- E então?!

- A arma não estava mais lá - respondeu com receio, fazendo com que Baekhyun arregalasse os olhos.

- Aquela arma não pode estar nas mãos de outro, porra! - exclamou como se a culpa fosse do próprio Sehun.

- Não adianta perder a calma agora - se esforçou para manter a famigerada calma, mesmo que, por dentro, estivesse tão assustado e irritado com aquele fato quanto o outro Oh.

- Certo, certo... - bagunçou os cabelos como forma de descontar sua frustração. Obter aquele revólver era a única forma de garantir a imunidade naquele jogo. - Vamos focar somente na busca pelo testamento agora. Quanto antes acharmos, antes damos o fora daqui.

Sehun assentiu.

- E vamos evitar o Junmyeon... só por precaução - acrescentou, temeroso.

[ . . . ]

Jongin retirou a camisa de gola alta com naturalidade ao receber uma camisa emprestada do Do. Seu corpo moreno e bem delineado foi então exposto. Do Kyungsoo observou-o, desde os ombros largos à cintura fina, contemplando as linhas formadas pelos ossos fundos das costas nuas. Kim Jongin sempre fora um rapaz bonito e ninguém podia discordar, mas, apesar de não ter envelhecido muito, seu corpo havia mudado bastante e seu jeito também. O amadurecimento natural, diferente de vários homens, apenas lhe fez bem, trazendo consigo um charme único.

- Sabe de uma coisa, Kyungsoo? - Jongin perguntou, enquanto se vestia. - Durante muito tempo senti falta do que você foi um dia, antes de começar a se enturmar com os riquinhos da sua turma e... com o Baekhyun e o Sehun. Se eu soubesse o que aconteceria, provavelmente não teria te dito um "oi" naquela manhã.

Lhe fez lembrar de quando costumava conversar com ele na faculdade, antes de começar a agredi-lo verbalmente. Algo em si naquela época achava o bolsista moreno e magro, tão pobre quanto ele mesmo, adorável. E fora o primeiro de quem se aproximou... até conhecer Sehun e Baekhyun, e ambos descobrirem o curso que o garoto escondia de si de todo jeito.

Naquele tempo, Jongin era apenas um rapaz de sorriso bonito que sentava ao seu lado no ônibus e ouvia música consigo em um pequeno rádio de pilha, enquanto conversavam besteiras. Mas então, o Do começou a se enturmar com seus colegas de classe e o Kim foi sendo esquecido, logo se tornando o alvo de suas brincadeiras maldosas.

- Como um homofóbico assumido, você não deveria observar por tempo demais o corpo de um homem, Do - debochou, terminando de ajustar a camisa azul marinho que o outro lhe emprestou, enquanto se virava para observar o anfitrião sentado em sua cama, ainda lhe encarando com o mesmo olhar de sempre.

O Do respirou fundo.

- Se eu fosse homofóbico, provavelmente não teria deixado você entrar na minha casa, ou teria te agredido verbalmente ou fisicamente - rebateu, seco. - Isso não é certo, mas não é como se eu ainda me importasse com essa merda.

O bailarino arqueou a sobrancelha esquerda, numa clássica expressão de deboche e, com uma lentidão exagerada, se aproximou da cama, abaixando-se e apoiando as mãos na superfície macia, em cada lado do corpo do mais baixo.

- E por que é errado, Kyungsoo? O que é certo, afinal? - indagou, com a voz rouca soando profunda e macia, como se, de algum modo, quisesse se infiltrar no interior da mente do mais velho.

Um bolo se formou na garganta do outro homem. Gostaria de gritar os motivos de achar aquilo, chamar homossexualidade de aberração, mas a única coisa que conseguiu deixar escapar de seus lábios foi o argumento que sempre ouviu de seu pai desde pequeno.

- Homens devem ficar com mulheres, é o natural e correto.

- É isso que acha mesmo, Do? Quem define o que é correto? Você esteve na pré-história para saber se homens já não metiam em homens desde aquela época? E, no fim das contas, você se apaixonou pela Eun-ji ou pela buceta dela? - foi agressivo ao perguntar, não recebendo uma resposta do Do. - Se acha que não seria capaz de amá-la com um pênis entre as pernas, talvez seja o motivo de o seu casamento não ter dado certo. Você não a amava. Pelo que soube, eu não sei que louco amaria uma mulher como aquela. E bem... eu entendo, Kyungsoo, que a beleza e a feminilidade da Eun-ji te fizeram feliz por um tempo, mas nunca foi algo te prendeu de verdade.

Talvez aquela conversa tenha tocado o Do de alguma maneira. Aquilo era algo em que nunca havia parado para pensar. Óbvio que sentia algo por Eun-ji, mas não negava que o que lhe atraíra na mulher fora o corpo esbelto que tinha e a fama de ser desejada na faculdade. Até porque foram amigos durante pouco tempo antes de iniciarem um relacionamento, o que era comum para a época em que amizades entre duas pessoas de sexo oposto eram consideradas quase impossíveis. "Amizade entre homem e mulher não existe, a não ser que você seja uma bichinha", diziam eles.

Agarrou a nuca do Kim com firmeza e o aproximou de si, repentinamente, fazendo que os olhares se cruzassem nos rostos próximos.

- Nunca mais fale sobre o meu casamento - ordenou, expressando uma seriedade muito mais intensa do que o habitual.

Kim Jongin riu. Ordinário - foi a única coisa que Kyungsoo conseguiu pensar.

- Eu toquei na ferida, não foi, Kyungsoo? No fim das contas, o corpo da sua mulher não te faria feliz para sempre, não é? E talvez tenha sido por isso que resolveu não ir ao casamento do Sehun e do Baekhyun: inveja - sua boca se moveu lentamente ao destacar aquela palavra. - Você os inveja por terem passado por tudo que a sociedade joga de ruim em cima de um casal gay e ainda assim terem conseguido ficar juntos, enquanto você estava preso num casamento falso e sem amor algum - cuspiu as próprias palavras, ainda sem se afastar do outro. - O que você quer, Kyungsoo? Quer que eu te diga o quanto eu me machuquei por sua causa? O que quer de mim para ter me trazido aqui, hoje?

Então, rapidamente, o sorriso de Kim Jongin sumiu, quando os lábios grossos do outro homem se chocaram com os seus, num beijo violento e cheio de raiva, que foi correspondido por si de maneira recíproca. Ambos os lábios fartos faziam uma dança em conjunto, quando Kyungsoo o puxou para sua cama sem o mínimo de delicadeza, jogando-o entre os lençóis, ao que dirigia suas mãos brutas até a cintura fina e amorenada do outro por baixo do tecido da camisa, apertando-a sem medir forças. Interromperam o beijo poucos segundos depois, apenas para que pudessem recuperar o fôlego e voltar a todo vapor.

Nenhum deles entendia como as coisas haviam chegado a tal ponto. Mesmo se deixando facilmente levar por aquele sentimento primitivo e ardente, o artista sabia que era um erro se render tão rápido a alguém que havia feito da sua vida um inferno. Porém, qualquer resquício de culpa parecia se esvair quando sentia as mãos grandes apertando sua pele fervorosa com vontade, e o corpo másculo encaixado sobre o seu, com seu dono beijando-lhe com agressividade e calor.

Do Kyungsoo também não sabia ao certo o que estava fazendo, apenas era guiado pelos seus instintos. O fato era que havia reparado no outro desde que havia posto os pés em sua casa e tinha o observado durante a recepção inteira. Não podia negar que Kim Jongin lhe despertava uma curiosidade antiga que o próprio o havia desencadeado antes de descobrir o que ele cursava.

- Achei que tivesse dito que isso é errado, Kyungsoo - Jongin murmurou, ofegante, os lábios vermelhos inchando, enquanto mantinha as mãos nos braços do mais velho, segurando naquele maldito pedaço de pano.

- Também disse que não é como se eu me importasse - rebateu, no mesmo estado que o mais alto. Olhava fixamente em seus olhos, como se aqueles orbes negras pudessem revelar mais sobre como o Kim se sentia.

O que ambos não sabiam era que dois pares de olhos lhes observavam atentos pela pequena brecha na porta. Enquanto um deles, o mais baixo e musculoso, apenas apreciava a situação com um sorriso malicioso e debochado no rosto bonito, o mais alto apenas chorava em silêncio, como uma criança, lavando o rosto ainda jovial com lágrimas pesadas.

- Está entendendo o que eu quero dizer agora? - Junmyeon virou-se para o Park e segurou seu ombro. - Não importa o que faça. Com Eun-ji, sem Eun-ji, com mulheres ou com homens, ele nunca vai escolher você.

Chanyeol engasgava com a própria saliva e soluçava assistindo a cena fixamente, o que era uma tortura psicológica para si. Aquilo se assemelhava a uma faca recém-amolada de dois gumes atravessando lentamente seu coração sensível e fatiando-o em mil pedaços.

- Como e-ele pôde, Junmyeon? Como ele pôde fazer isso comigo? - indagou, com os lábios trêmulos, se afastando da porta. - Como ele pôde escolher esse... bailarinozinho afeminado de quinta quando eu fiquei do lado dele esse tempo todo? - nunca foi do seu costume falar mal de ninguém, mas tentar diminuir o outro com xingamentos, foi o único conforto que encontrou.

Ele estava ali, fiel como sempre, pronto para contar para seu chefe o que seu rival planejava para dar um fim a sua vida. Não pretendia estar ao lado de Junmyeon naquele plano perverso. O Kim até o procurou, pronto para dizer que se arrependeria das coisas que disse, mas foi quando deu de cara com Chanyeol assistindo aquele momento íntimo e... nojento.

Junmyeon respirou fundo, e fez uma triste feição, demonstrando uma falsa empatia ao mais novo e se aproximou, abraçando-o de lado. Estava certo de que o Park não hesitaria mais em ajudá-lo.

- É isso que Do Kyungsoo faz com as pessoas, Park. Ele extrai tudo o que pode delas para no final as trair - disse, e virou o rosto triste do outro para que lhe encarasse. - Nós podemos fazer isso mudar, Chanyeol, tudo depende de você.

[ . . . ]

A casa estava em completo silêncio. Quem passasse pela calçada e olhasse para aquela bela construção, jamais imaginaria que aquele local era palco de um verdadeiro terror psicológico, que, aos poucos, trazia à luz a verdadeira face de cada homem que estava envolvido em um jogo tão mortal quanto aquele.

Sehun percebia isso. Sempre soube que o marido era uma pessoa que agia por impulso, que bastava pouco para que ele fosse tomado por emoções negativas, mas nunca se passou por sua cabeça testemunhar Baekhyun tão obcecado com a ideia de ser dono de uma verdadeira fortuna a ponto de estar destruindo toda a casa em busca do bendito documento. Se impressionava com a fé que ele depositava em algo que talvez nem desse certo, o que era o caso da falsificação. Ainda assim, não conseguia simplesmente contestar o outro.

Já passaram pela cozinha, a sala de estar e a sala da televisão, mas nem sinal do testamento. Claro que aqueles não eram os locais mais prováveis para Kyungsoo esconder algo tão importante, mas estavam evitando encontrar com algum dos outros convidados ou o próprio anfitrião, por essa razão resolveram deixar o primeiro andar por último, justo onde tinham mais chances de sucesso e onde todos provavelmente estavam.

O Oh assistia Baekhyun quebrar os móveis, derrubar objetos e até mesmo jogar uma cadeira contra um armário de portas de vidro. Parecia um completo louco, esquecendo que deveriam ter o máximo de discrição e cautela. Não parecia a mesma pessoa que havia lhe convencido a aceitar sua ideia depois que Kyungsoo havia lhes informado de seu plano suicida.

Sehun rangeu os dentes, cansado daquela histeria desnecessária. Se aproximou e agarrou o braço do marido, jogando-o contra a parede, logo pressionando os braços do loiro contra a superfície gélida na altura da cabeça. Os dois olhos castanhos estavam vidrados no rosto sério do mais alto. Oh Sehun não costumava perder a paciência daquela forma.

- Pare com essa palhaçada, Oh Baekhyun! - exclamou, furioso. - Tente se comportar como uma pessoa normal ao menos uma única vez - apertou seus antebraços, provocando um grunhido de dor no outro.

- E-está me machucando, Sehun... - murmurou em meio à dor.

O mais alto imediatamente o soltou e afastou-se, assustado com a própria ação.

- Me perdoe... - disse com a voz falha, enquanto seu marido o olhava com pavor, como se visse um monstro.

Sehun era a própria personificação da calma. Por que havia tido uma reação tão explosiva diante de só mais um dos vários momentos de raiva do outro?

- Acho que esse é o plano do Do Kyungsoo: deixar-nos loucos... - concluiu, com medo daquela hipótese perturbadora.

- Apenas... vamos continuar - disse o mais baixo, após um breve momento de silêncio, evitando olhar para o outro novamente.

- Amor... - tentou se aproximar, com a intensão de lhe abraçar, mas o loiro apenas teve uma reação involuntária de afastamento.

- Sehun... não - Baekhyun murmurou, seguindo seu caminho para fora do cômodo.

Sehun estava devastado. Passou a mão pelo rosto, desejando mais do que tudo poder voltar no tempo para não aceitar aquele maldito convite. Antes de tomar mais alguma ação, pôde ouvir vozes ecoando pelo corredor que levava a onde ele estava, o que o faz se retirar de lá e seguir atrás do seu marido.

- Uma vez me disseram isso... - Junmyeon falava com Chanyeol quando ambos chegaram ao cômodo arruinado pelas mãos do Baekhyun.

- O que aconteceu aqui? - Chanyeol perguntou, sem acreditar no péssimo estado do local.

- Isso, Park, se chama desespero - respondeu com desprezo, escolhendo manter para si a suspeita de que Sehun e Baekhyun persistiam na busca desenfreada pelo documento. Embora, nem que fosse por eliminação, não seria difícil de adivinhar quem eram os responsáveis. - Mas também é algo que eu garanto que você nunca vai passar caso se comprometa com meu plano.

Chanyeol lhe lançou um olhar confuso e cansado, devido a todas as informações daquela noite em sua cabeça. Talvez enlouquecesse antes do amanhecer.

- Perceba, se a morte do Kyungsoo for por suas mãos, todo aquele patrimônio estará destinado a você pela própria vontade dele - explicou, seguindo seu plano doentio. - Você não terá que se preocupar em agradar ninguém, porque serão seus funcionários que terão que se preocupar com isso... coisa que eu sei que acontecia entre você e o Do. Você sempre quis agradá-lo, só pelo prazer de ver um sorriso ser provocado nele por conta de algo que você fez - Chanyeol não sabia como ainda se surpreendia com a razão que o outro possuía. Tudo em si era tão claro assim? - Além de que a melhor parte será vê-lo caído no chão, banhado em vermelho, não?

O Park não respondeu, nem em gestos e nem em palavras. Se negava a ser um sádico como Junmyeon.

- Então esse é seu plano? Se quer tanto matar ele, por não faz você mesmo?

- Porque acho que estou fazendo um grande favor de deixar uma oportunidade dessas para você - esclareceu com frieza. - Você sabe bem que dinheiro não é problema para mim. Minha única recompensa nisso seria dormir com a plena consciência de que ele não respira mais. Já você, teria a ganhar metade daquele patrimônio e sua vingança. A única coisa que quero disso são algumas coisinhas da empresa dele que eu o ajudei a construir. Nada que diminuirá demais os lucros ou te causará prejuízo.

Era isso que Chanyeol sentia lhe corroer por dentro, afinal? Desejo de vingança?
Junmyeon olhou para aquela expressão assustada presente no rosto do homem mais novo, fazendo todo esforço para manter a paciência diante das dúvidas que ainda pareciam deixá-lo tão confuso. Antes era até engraçado vê-lo assim, mas agora apenas lhe irritava. Como cartada final, o Kim retirou o revólver da lateral da calça, escondido pelo paletó pouco justo e escuro.

- Confio em você para fazer o certo - puxou seu pulso com sutileza e deixou a arma em sua mão, que tremeu com o contato. - Mas tenha em mente que, caso não tome uma atitude logo, algo pior pode acontecer - deixou no ar, antes de abandoná-lo naquela sala.

[ . . . ]

O corpo suado e despido de Kyungsoo desabou ao lado do de Jongin, que se encontrava no mesmo estado. O peitoral subia e descia rápido, em busca de mais ar, que entrava pela boca aberta e vermelha. Fitava o teto enquanto tentava normalizar a respiração e descansar os músculos.
Não podia crer no que havia acabado de fazer e com quem havia feito. Se um dia alguém lhe dissesse que ele faria sexo com outro homem, Kyungsoo daria sua melhor risada de escárnio. Porém, naquele momento, sobre sua própria cama, ofegante e sujo pelo suor que ainda escorria pelos poros de sua pele e pelo líquido esbranquiçado proveniente dos dois corpos masculinos, todo seu ser deveria estar queimando em arrependimento... mas por que parecia tão certo? Imaginava como sua ex-esposa reagiria àquilo. Jamais imaginaria que se deitaria com outro corpo na cama que antes era dos dois, ainda mais com um homem. Contudo, não conseguia sentir um pingo de arrependimento.

Reuniu coragem para olhar o rosto do moreno ao seu lado, tendo flashes dos momentos que acabaram de ocorrer. Cada toque e som ainda bem vívidos em sua mente, assim como a imagem daquele rosto angelical contorcido no mais puro prazer. Os gemidos dele enquanto o penetrava com força e puxava seus cabelos, a elasticidade e sensualidade do corpo moreno, as lágrimas que desciam dos seus olhos bem delineados nos momentos de êxtase; tudo nele durante aquele ato parecia ser a mais pura arte.

- Jongin? - chamou, guardando um pouco de medo da reação dele. Começou a se desesperar ainda mais quando não recebeu uma resposta. - Jongin...

- Isso não deveria ter acontecido, Kyungsoo - falou, sério, enquanto fitava o teto, como se aquilo de alguma forma lhe ajudasse a fugir daquele momento. - Agimos por impulso...

- Kim Jongin, - chamou, pegando em seu queixo para virá-lo para si - talvez esse não seja o momento para dizer isso, mas... se tem alguém que eu me arrependo de ter prejudicado aqui, é você. Então, se é por isso que se arrepende...

O coração do dançarino parecia querer sair por sua boca. Ele nunca entendia nada?

- Você não entende mesmo, não é, Do? - interrompeu o mais baixo, dando um leve empurrão em seu braço e se levantando da superfície macia para recolher suas roupas que foram jogadas pelo quarto, quando o outro as arrancou na afobação. - Você nunca entende caralho nenhum!

- Você pode parar de agir como um adolescente e me dizer de uma vez o que eu não entendo? - o empresário indagou, estranhando aquilo.

- Eu vou descer. Espero que tire essas ideias idiotas da sua cabeça, Do! - falou o outro, enquanto arrumava a manga da camisa e se dirigia para fora do cômodo, abandonando Kyungsoo confuso entre os lençóis.

[ . . . ]

A luz solar começava a clarear ainda mais a casa quando reluzia batendo nas janelas de vidro, sinal de que o sol já inaugurava um novo dia. O tempo parecia ter passado extremamente rápido, menos para Kim Junmyeon, que parecia calmo enquanto tomava uma taça do vinho Grand Cru que Park Chanyeol havia trazido para o jantar, sentado numa das poltronas clássicas da sala destruída de seu inimigo. Porém, as aparências enganam, e a sua imagem de despreocupado e tranquilo eram apenas uma maneira de disfarçar o fato que sua cabeça estava a mil, com tamanha ansiedade lhe agonizando por dentro enquanto aguardava para que o grande ato daquela noite se findasse.

Seu maior sonho era ver Do Kyungsoo morto, e o próprio resolveu realizar isso para si. O único problema era esperar o veredito final do miserável funcionário alheio, e aquilo estava demorando demais. O céu já começava a se tornar claro, o que era um péssimo sinal.

- O que está planejando? - uma voz rouca lhe tirou de seus devaneios.

Seus olhos fixaram-se em Kim Jongin. O moreno estava longe se parecer com a figura elegante e imponente que havia adentrado a mansão na noite anterior. Os cabelos estavam um pouco desgrenhados, a pele se mantinha um pouco suada, os lábios apresentavam-se inchados e olheiras devido a falta de sono apareciam, junto às marcas de um vermelho intenso em seu pescoço.

- Querido, estive aqui durante a maior parte do tempo - mentiu. - Acredite ou não, sou um dos poucos que não está planejando nada.

- Você quer Do Kyungsoo morto, essa é a verdade - apontou.

Desde a faculdade, sabia que Kim Junmyeon não era flor que se cheire. Não perseguia a si, pessoalmente, mas sabia das manipulações que o mesmo fazia para ganhar o que quisesse, sempre se revelando uma pessoa fria e cruel.

- Sim, eu quero - assumiu, ainda mantendo a suavidade na voz. - Porém, não quero que isso aconteça por minhas mãos - esclareceu, sendo verdadeiro, de certo modo.

Kim Jongin sentou-se no sofá mais próximo e deixou-se suspirar pesadamente por tudo que vinha acontecendo.

- Você é um monstro, Kim Junmyeon! - julgou, sem paciência. - Como pode desejar a morte de alguém? Como alguém pode cogitar assassinar alguém?

- Sabe de algo, Jongin? - perguntou, deixando a taça sobre um centro de vidro. - Ainda existem pessoas que se dão o devido valor. Se importar com o Do depois de tudo que ele te fez é como se deitar com o inimigo - falou, dando destaque ao fim da frase, com um sorriso labial inescrupuloso.

Jongin sentiu um arrepio percorrer por sua coluna, ao que seus olhos se arregalaram mesmo que pouco diante daquela insinuação. Ele sabia de algo?

- Passou um furacão por aqui, por acaso? - Oh Baekhyun apareceu, repentinamente, se sentando um pouco distanciado do Kim no sofá. Trocou um rápido olhar com Junmyeon, que riu discretamente ao ouvir sua fala. Ele sabia bem quem havia revirado toda a sala.

- Ninguém aqui sabe, Oh - rebateu, com certo desprezo na voz. - Onde está seu marido?

- O que isso tem a ver com você, Barbie Bailarina? - Baekhyun provocou, de maneira infantil.

O Kim já estava farto daquelas provocações baratas. Estava prestes a perder a compostura e avançar no loiro, mas sentiu uma mão grande o segurar pelo ombro.

- Nem pense em encostar um dedo no meu marido - Oh Sehun lhe encarou, como um cão rosnento.

- Sem confusões aqui, por favor - Park Chanyeol finalmente apareceu, com o rosto inchado de quem havia passado a madrugada inteira aos prantos.

Oh Sehun deu a volta pelo móvel e sentou-se no confortável sofá, ao lado do marido. Segurou a mão alheia amavelmente e se aproximou do seu ouvido para lhe sussurrar a informação.

- Encontrei um escritório escondido num quarto do andar superior e achei o que queríamos lá. Dei um fim ao documento original e tirei uma foto da assinatura do Kyungsoo para enviar ao Woojung quando sairmos daqui - informou, usando o nome de um de seus vizinhos que entendia do trabalho sujo. - A partir de amanhã estará tudo pronto, querido.

O antigo Byun voltou-se para ele com imenso sorriso e beijou o rosto do amante.
- Eu te amo muito, me perdoe por aquilo - Sehun pediu, acariciando a mão pequena do outro. - Ficará tudo bem conosco, eu prometo.

O menor apenas encostou a cabeça no ombro do homem sério e suspirou, aliviado.
Enquanto isso, Park Chanyeol se sentou ao lado de Kim Junmyeon, sem fazer questão de esconder o quão derrotado estava. Encarava Kim Jongin fixamente, o que não passou despercebido pelo outro.

- Está tudo bem, Chanyeol? - indagou, gentil, estranhando o comportamento incomum do outro.

- Está sim - o Park respondeu. - Apenas estou observando essa marca no seu pescoço.

Kim Jongin se amaldiçoou por corar diante do seu comentário, levando logo sua destra para cobrir o local.

- Eu me machuquei na parede - deu a primeira desculpa esfarrapada que lhe veio à mente.

Park Chanyeol não falou mais nada, logo desviando o olhar para um ponto qualquer do chão.

- Park... - Junmyeon sussurrou o nome quando se aproximou. - E então, irá fazer?

- Eu não consigo, Junmyeon - respondeu-lhe, no mesmo volume.

- O quê?! - o Kim indagou baixo, porém de maneira agressiva.

- O que aconteceu entre o Soo e o Jongin foi só uma aventura, eu sei que não há sentimentos envolvidos e...

- Escute aqui, seu idiota... - o empresário foi interrompido pelo som da voz do Do.

- Bom, fico feliz que já estejam reunidos, pois eu preciso falar algo agora mesmo - Do Kyungsoo anunciou, parecendo tão destruído quanto Kim Jongin.

Manteve-se em pé diante dos outros, preferindo ignorar o estado caótico de sua sala.

- Estamos aqui há mais de sete horas - lembrou ele, suspirando pesadamente. - Como um homem de negócios, uma das muitas coisas que eu aprendi é que o tempo vale muito. Estamos perdendo bastante tempo aqui, e eu não aguento mais. Então, receio que todos ficaremos confinados aqui até que alguém resolva tomar uma atitude.

- Você vai mesmo continuar com isso?! - Kim Jongin gritou, exaltado.

- Jongin, já conversamos sobre isso - Kyungsoo tentou desconversar, não encarando os olhos do outro.

- Não, Kyungsoo! Não conversamos porra nenhuma! - berrou, começando a tremer involuntariamente devido às emoções. - Você não tem o direito de fazer isso... não depois de hoje.

Todos ficaram atentos diante da insinuação do Kim, especialmente o casal de convidados.

Do Kyungsoo suspirou. Nunca entenderia aquele homem. Como ele ainda poderia insistir naquilo? Como poderia insistir nele?

- Por que você tenta, Jongin?

- Ninguém merece morrer desse jeito - falou, um pouco mais calmo.

- Eu mereço! - o empresário gritou, perdendo sua pose fria em meio a todos pela primeira vez. - E você deveria ser a primeira pessoa a achar isso!

- Então me diga o porquê, Kyungsoo! - gritou de volta, levantando-se do sofá enquanto algumas lágrimas se formando em seus olhos. - Se você me der apenas um motivo plausível eu juro... que eu mesmo acabo com você. Caso não consiga, terá que desistir dessa ideia doentia.

Todos ali, inclusive o Do ficaram chocados com as palavras proferidas pelo bailarino. Para Jongin, nada justificaria um suicídio, ou assassinato.

- Eu me tornei seu amigo, andei de bicicleta com você, dividimos o lanche na faculdade várias vezes e, no fim das contas, eu te troquei sem ao menos hesitar - disse sem emoção. - Já te machuquei verbalmente, destruí suas sapatilhas e estraçalhei o seu collant... isso não é suficiente? - indagou, com os olhos redondos fixados nos do moreno.

- Isso não é nada que a maioria dos jovens daquela época não faziam, Do - murmurou, choroso. Havia lhe perdoado daquilo faz tempo, apesar de que ainda feria um pouco.

- No fim, isso só fez com que eu notasse o quanto amo minha arte e não seriam essas bobagens que me fariam desistir dela.

O coração do Do começava a acelerar conforme ouvia aquelas palavras. Nunca alguém havia sido tão compreensivo com erros tão graves como aqueles. Teria que apelar para motivos piores.

- Uma vez você foi agredido por cinco caras da minha turma, Jongin - Kyungsoo lembrou, com amargura. - Eu passei por aquele beco, Kim, eu te vi caído, levando um chute após o outro, sem a mínima chance de se defender, e não fiz nada. Eu não tive o mínimo de empatia. Se não fosse o diretor, você teria morrido.

O silêncio reinou na sala. Junmyeon observou a cena com um sorriso maléfico. Se não teria seu rival morto pelas mãos de um, teria pelas mãos de outro.

- Como você sabe que foi o diretor que me salvou? - Jongin indagou, deixando o Do sem palavras. Um sorriso esperançoso surgiu na face do moreno. - Foi você quem o chamou, não foi?

- Bem, e-eu... - o Do se perdeu nas palavras, buscando ainda alguma informação que o fizesse vencer naquela discussão.

- Eu não acredito que um dia você fez uma boa ação, Kyungsoo - Junmyeon disse, numa falsa expressão de surpresa.

O homem simplesmente o ignorou.

- Eu... eu não senti nada com o que aconteceu entre nós hoje - mentiu, com o coração acelerado, escolhendo o golpe mais baixo possível.

Baekhyun e Sehun pareceram chocados com a ideia implícita em sua fala.

- Está tudo bem, Kyungsoo - Jongin sorriu, em meio às lágrimas que deixavam de cair pouco a pouco. - Eu sei que é mentira, o seu corpo fala por você. E além disso, não haveria problema. Eu teria sentido por nós dois.

Kyungsoo começava a sentir-se derrotado, mas não queria desistir. Recorreu, então, ao que realmente sentia, não aos motivos para que outros odiassem ele, mas sim ao motivo pelo qual ele mesmo se odiava.

- Eu não sou um ser digno de amor, Jongin - algumas lágrimas começaram a escorrer dos olhos grandes. - Eu nunca me esforcei tanto por alguém, quanto me esforcei pelos meus filhos. Meus gêmeos foram uns dos poucos que eu amei na vida e eles me retribuíram com repúdio. Eu sou um ser tão desgraçado que ninguém nesse mundo é capaz de me amar.

Kim Junmyeon se divertiu com aquele diálogo, segurando uma risada de escárnio na garganta, enquanto o casal ali presente parecia hipnotizado. O silêncio retornou por mais um tempo.

Naquele momento, a garganta de Park Chanyeol coçou. Aquela era a hora de agir, mas ele não conseguia. Era fraco demais, tolo demais para falar.

- Eu te amo, Kyungsoo - porém, Kim Jongin falou. Falou direto e com ternura, se aproximando do Do. - É tão difícil assim para você entender? Eu amo você desde os meus dezenove anos. Nesses mais de dez anos, eu não consegui esquecer você, ainda que você tenha me causado tanto dano. A prova disso é que eu iria recusar esse convite pra jantar, mas a minha filha percebeu que eu estava com medo e me disse isso. Achei que meu medo fosse baseado apenas em você, mas agora eu sei que eu estava com medo do que sentia e continuo sentindo por você. Eu me coloquei em primeiro lugar, tive vários relacionamentos, mas isso não significa que eu tenha te colocado em último - declarou-se. - Eu posso estar me humilhando aqui, que se foda, mas se você decidir viver depois de hoje, eu ficaria feliz em estar com você nesse recomeço, porque você não foi e nunca será uma carcaça, um ser desprezível, ou seja lá o que ache de ruim sobre si mesmo. Você é o mesmo cara que ouvia Beatles comigo no caminho para a faculdade e que juntava dinheiro comigo para comprar bolinhos - sorriu fraco. - Kyungsoo, eu te amo.

Jongin levou sua mão ao rosto do outro e enxugou a lágrima solitária que desceu dali. Kyungsoo segurou sua mão fortemente.

- Jongin, eu... - sua fala foi interrompida por um grito de dor.

O moreno gritou ao ver o sangue surgir pelo buraco que a bala fez no corpo do outro, na região da barriga. Apressou-se em segurar o corpo dele próximo ao seu colo, se ajoelhando no chão enquanto o prendia em seus braços. Jongin levantou o olhar, se deparando com o sorriso cínico estampado no rosto de Kim Junmyeon, e Park Chanyeol chorando ao lado dele enquanto segurava a arma nas mãos trêmulas.

- O que você fez, Chanyeol?! - o bailarino gritou.

- Me p-perdoa, Soo... - o homem alto pediu, ainda descrente do erro que havia cometido, mantendo os olhos fixos no corpo caído em sua frente. - Me perdoa, por favor... O que eu acabei de fazer? - seus joelhos fraquejaram, fazendo com que ele caísse sobre os calcanhares, levando as mãos à cabeça em pânico.

Do Kyungsoo começava a ouvir tudo ao seu redor como um eco distante, que aos poucos diminuía até se reduzir à total ausência de som. Sua visão embaçada pelas lágrimas se focava no rosto desesperado de Jongin, até que a escuridão e vazio que tanto almejava levaram sua consciência embora.

(N/A) Último capítulo, finalmente! Mas não definitivamente o último. Temos um epílogo de mais de 7 mil palavras para dar um final digno à essa história.

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