Capítulo 2 - Uma Proposta Tentadora
A paciência é uma virtude. Dificilmente nos concentramos em outros pensamentos ou atividades quando estamos com as expectativas voltadas para algo que ansiamos. É comum querer que algo que desejamos muito aconteça logo.
Com Kyungsoo não foi diferente. Desde o dia em que chegou no correio, sentindo os olhares repletos de julgamento ardendo em suas costas, e enviou cada uma das cartas, não havia outro pensamento ocupando sua cabeça. Aquela ideia agia como um combustível para que permanecesse acordando todos os dias e mantendo a sanidade em meio a toda sua solidão na espera das respostas.
Era como uma tortura ouvir o tique-taque do relógio e constar que o tempo estava passando tão devagar, assim como a frustração que sentia ao riscar mais um dia no calendário sem ainda obter um único retorno.
Ele havia estabelecido uma data naquelas cartas com o intuito reunir seus amigos para um jantar ao final daquele mês, e temia não receber uma confirmação até o dia previsto, pois sabia que não poderia mais adiar seu plano.
Por fim, como uma luz no fim do túnel, sua primeira resposta veio em uma manhã fria. Kyungsoo esperava receber uma carta de volta, ligação, mensagem pelo celular, o que quer que fosse, menos a própria presença da pessoa, em plenas sete da manhã, tocando a campainha da sua casa.
— Park Chanyeol, tem noção de que horas são? — o Do questionou, notoriamente irritado. Havia despertado assustado ao ouvir o som incessante da campainha por toda a casa, o que contribuiu para que começasse o dia com o pior humor possível.
— Sempre bem humorado, não é? Achei que, como um velho amigo seu, não precisasse avisar — o homem alto a sua frente respondeu, desfazendo a carranca de Kyungsoo. — Estava passando aqui perto e pensei se você gostaria de um pouco de companhia também.
— Estou bem dessa forma — insistiu na resposta que sempre dava quando o Park oferecia seu apoio ou tentava fazê-lo desabafar.
— Então... fiquei muito feliz pela carta que você me enviou. Sim, estranhei um pouco algo tão repentino, mas fiquei feliz de verdade — confessou com um pequeno sorriso, se encolhendo em seu sobretudo negro.
— Pensei que seria bom reunir alguns amigos para conversar futilidades enquanto jantamos e depois comentar sobre nossos dias de glória na presença de algum vinho caro — riu do próprio comentário.
— Esse é o Kyungsoo que eu conheço! — exclamou em um tom animado, dando tapinhas em seu ombro. — Isso fará bem a você. Logo tudo vai voltar a ser como antes, e sinto que esse jantar será um bom primeiro passo para esquecer os problemas.
O sorriso do Do desapareceu aos poucos, tão sutilmente que Chanyeol nem havia notado. Esquecer. Nada é apagado das lembranças completamente. O trauma de uma traição da pessoa que um dia amou incondicionalmente, a dor de ser tratado com indiferença pelos próprios filhos, aqueles que possuíam seu sangue correndo pelas veias, a tristeza de uma vida inteira em vão por causa da mentalidade de agir em função das vontades alheias e a preocupação com o que os outros pensariam de si nunca seria esquecido.
Kyungsoo foi desperto dos seus pensamentos após ouvir o Park chamar sua atenção.
— Sim, será sim — concordou após um tempo, um pouco aéreo. — Não ouse faltar. É uma ordem do seu chefe — brincou.
— Claro, chefinho — assentiu, ainda bem humorado. — Estarei aqui pontualmente.
— Assim espero — falou como forma de despedida, observando seu fiel funcionário se afastar e seguir seu caminho pela calçada.
Ao fechar a porta, Kyungsoo lembrou-se das palavras de Chanyeol sobre tudo voltar a ser como era antes e recomeçar. Aquilo não adiantava. Jamais seria como antes. Mesmo que conseguisse reerguer sua empresa e aos poucos limpar sua imagem pública, o próprio Do já não era como antes, como no auge da Belle Époque da sua vida, quando tinha tudo que um homem poderia desejar. Nada poderia recuperar o coração vívido que um dia já possuiu.
[ . . . ]
Kim Jongin pôs a perna na barra e alongou o membro inferior lentamente fazendo um Grand Battement com classe. Deixou que a cintura dobrasse um pouco e levou o braço no mesmo movimento, segurando a barra com a mão do outro. Depois de se alongar, observou com profundidade o vazio da sala de dança. A emoção característica correu por suas veias, fazendo com que corresse um pouco antes dos movimentos surgirem com naturalidade e graciosidade.
As sapatilhas negras junto ao collant de mesma cor ajudavam nos movimentos precisos. Os braços rodaram no ar e um giro delicado antes do clássico Jeté.
— Senhor Kim! — a voz doce interrompeu a coreografia.
— Algum problema? — o homem moreno indagou, enquanto abria um espacate no chão gélido da sala de dança.
Kanim, a secretária novata, parecia nervosa.
— Chegou uma nova correspondência para o senhor — mostrou o envelope de escritório que parecia ter um papel caro demais.
Jongin estranhou o objeto, mas agradeceu à garota, que saiu do lugar após duas reverências de noventa graus. Riu da menina, se tornaria uma dançarina boa e com carisma depois que se formasse.
Sentou-se no puff macio e branco. Abriu o envelope e chocou-se ao ver o remetente. O que ele queria? Já não havia o machucado o bastante? Do Kyungsoo fez de sua vida um verdadeiro inferno durante os longos anos de faculdade. Lembrava muito bem do dia em que ele havia destruído suas sapatilhas. A gota d'água. Naquele tempo, não tinha muitas condições para possuir um par dos sapatos caros como os que sua professora havia lhe dado por ser o melhor de sua classe, sem contar o valor emocional do objeto.
Quando abriu seu armário naquele dia e viu que as sapatilhas estavam rasgadas e sujas com uma massa estranha que não saía por mais que puxasse, ouviu Do Kyungsoo, aluno de empreendedorismo, começar a rir junto a Sehun e Baekhyun. O moreno começou a chorar desesperadamente, não só de tristeza como também de raiva.
As risadas cessaram rapidamente, algumas pessoas que passavam no corredor se aproximaram do Kim choroso, perguntando o que havia acontecido. Jongin simplesmente não conseguiu falar, estava farto das brincadeirinhas. Nunca pensou que seria tão vergonhoso ser o único homem a cursar dança em sua faculdade. Talvez as pessoas daquela época na Coreia não fossem tão mente-abertas como na França. Correu para fora do lugar e adentrou o primeiro ônibus. Só queria se ver longe dali.
Agora, mais de dez anos depois, ele resolvia lhe enviar uma carta? Que tipo de brinquedo ele achava que era? Abriu a mesma com as mãos trêmulas. Não tinha mais idade para aquilo. Leu o que dizia no papel enquanto levava a língua aos cantos da boca, tenso. Sabia que havia algum motivo para Do Kyungsoo lhe convidar para um jantar, e com certeza não era para um pedido de desculpas.
Ficou pensativo durante aqueles dias, pedindo a si mesmo para não cair na armadilha que o Do poderia estar planejando. Havia chegado o dia do maldito jantar, faltavam ainda quatro horas para o momento marcado. Não havia respondido a carta, não teria essa coragem.
Estava sentado na poltrona francesa do grande quarto quando o barulho da porta se abrindo e passinhos curtos lhe tiraram do transe.
— Pode ir falando o que está acontecendo, appa! — a menina pulou em seu colo, desengonçada.
Olhou para Eui descrente com a audácia e depois sorriu, ajustando o corpo pequeno em seu colo.
Era um homem gay assumido desde o fim da faculdade. Kyungsoo riria ao ter suas expectativas certas. Nunca conseguiu manter um relacionamento com um homem por mais de um mês. Entendia que era difícil para eles lidarem com seu trabalho, mas não largaria sua paixão para agradar homem algum. Porém, sentia que algo faltava para suprir sua solidão.
Foi quando, enquanto voltava de uma viagem em Busan, percebeu que policiais rondavam um lugar cercado de lixo. Se aproximou e lhe falaram sobre um bebê abandonado. Quando pôs os olhos em Eui sentiu que havia encontrado o que faltava. Sem planejamentos! Apenas de forma natural. Lutou durante meses pela guarda da menina e conseguiu. Era um pai solteiro feliz.
— Por que está ordenando isso? — indagou a ela.
— Você anda estanho’, appa! — Eui apontou, só tinha cinco anos e ainda se enrolava nas palavras. — O senhor costuma dizer que eu tenho que te contá’ tudo, então cê’ tem que contá’ tudo pra mim também.
Jongin suspirou. Não sabia se deveria contar aquilo para uma criança, mas no fim das contas tudo deveria ser mútuo, não?
— Digamos que o papai está em dúvida em relação a fazer ou não alguma coisa.
Eui virou a cabeça para o lado e fez um bico, parecendo um filhote de cachorro.
— É errado, papai?
— Não, meu amor.
— Então faz! — disse ela, empolgada. — Uma vez a tia da escolinha disse que a gente tem que fazê’ as coisas que a gente tem dúvida em fazer ou não. Se a gente errá’, a gente aprende, né? Se não é errado, então tudo bem.
Jongin respirou fundo. Talvez devesse parar de levar aquela coisinha tão a sério, pois agora a ideia de ver Kyungsoo novamente não parecia realmente uma má escolha.
— Tudo bem ficar com a tia Kanim, hoje?
A menina anuiu com um sorriso.
— Papai, usa! — a criança estendeu uma pulseira feita de pedrinhas coloridas, estranho. — Fiz na aula de artes.
— Por que quer que eu use, Eui? — indagou, observando o objeto cheio de cola.
— Tem amor, vai te proteger do que você está com medo.
O Kim riu. Então era isso que estava sentindo? Medo? Era um homem de quase quarenta e estava com medo de algo que aconteceu quando era um pirralho? Talvez realmente tivesse que enfrentar aquilo.
Pôs a pulseira no pulso. Ligou para a secretária rapidamente, pedindo aquilo como um favor, já que a babá só aceitava cuidar da menina quando marcada com antecedência. Disse que daria um bônus generoso a ela e ingressos para O Lago dos Cisnes no fim do ano. A menina riu, dizendo que aceitaria de qualquer forma, já que amava a criança. Com tudo pronto, o dançarino foi se arrumar com antecedência.
[ . . . ]
Toda espera chega ao seu fim, e com isso, a recompensa para quem aguarda. E ninguém poderia se sentir tão recompensado como Kyungsoo apenas com a chegada daquela data.
Havia se preparado a semana inteira para aquele jantar, não poupando do seu dinheiro ao encomendar os pratos mais refinados e a bebidas mais caras em que pôs seus olhos. Não hesitaria tomar as medidas necessárias para proporcionar aos seus convidados uma noite memorável.
O relógio já marcava 19:12 naquela noite calma de sábado. O empresário se encontrava em frente ao espelho do seu quarto, conferindo os mínimos detalhes do seu terno Armani novo, comprado apenas para aquela ocasião.
Mal estava se reconhecendo, o corpo se moldava perfeitamente no corte clássico. Não usava gravata, parecia um homem jovem. Seu barbeiro até estranhou sua presença na barbearia. Cortou o cabelo que havia ficado grande demais durante o seu tempo de melancolia. Havia se arrumado perfeitamente. Estava lindo para a morte.
De repente, o som da campainha soou pela casa, anunciando a chegada do primeiro convidado. Apressado, o Do se olhou no espelho uma última vez antes de sair do quarto e descer pelas escadas. Estranhava ter retomado toda a vaidade que já teve quando mais novo, mas estava determinado estar com a melhor aparência possível diante de todos que iriam comparecer. No fim das contas, nunca gostou de piedade e nem naquele momento queria ser alvo de pena.
Sentiu seu estômago revirar em expectativa para saber quem seria, afinal, só recebeu respostas de três dos seus cinco convidados.
Engoliu em seco e abriu a porta de vez, se deparando com a última que pensou que estaria ali agora.
Kim Jongin estava na sua frente. O sobretudo creme da Valentino cobria o terno preto básico Gucci e descia até os sapatos Louis Vuitton. Parecia jovem ainda, a pele morena sequer parecia desgastada, as pouquíssimas rugas se camuflavam no meio da aparência jovial. Os lábios vermelhos e cheios eram másculos quando estavam em conjunto com o maxilar triangular e bem definido.
— Kim Jongin… — o nome escapou rouco de seus lábios.
— Do Kyungsoo — o outro murmurou, tentando soar frio.
O Do engoliu em seco e abriu o braço, pedindo para que entrasse. Realmente a noite estaria disposta a lhe surpreender.
— Bela casa — elogiou, olhando em volta.
— Obrigado — disse após fechar a porta. Nunca imaginou que ficaria tão sem ação diante de alguém como estava agora. — Gostaria de se sentar um pouco?
O homem assentiu, se acomodando no sofá branco no centro da sala, e Kyungsoo sentou-se numa poltrona próxima. Era indiscutível o clima tenso que pairava entre os dois. O anfitrião buscava em sua mente qualquer coisa que rendesse um diálogo enquanto tentava evitar cruzar seu olhar com o do convidado.
— Então, como andam as coisas? Não dou muita credibilidade ao que li sobre você nos jornais — cruzou as pernas, ajeitando sua postura. — Ainda mais agora que estou vendo como você está bem.
Kyungsoo estreitou os olhos, não entendendo o significado em suas últimas palavras. Estava fazendo um elogio ou sua mente apenas o estava induzindo a interpretar um pouco mais além?
— Digamos que eu estou melhor agora — tentou passar firmeza em sua fala. — Passei sim por um período bem conturbado na minha vida pessoal, que acabou afetando o meu trabalho, mas não foi nada que um pouco de tempo e calma não resolvessem. Ou eu pareço tão derrotado como soube que andaram me fantasiaram por aí?
— Sua aparência sempre demonstrou sua imponência, independentemente dos momentos da sua vida, Do Kyungsoo. Isso não é algo que eu ache que vá mudar — o Kim murmurou, ainda sem encarar os olhos do outro, como havia feito desde que chegou.
O baixinho coçou a garganta. Um lado seu gostaria de questionar o adjetivo, mas não sabia se gostaria de ouvir a resposta. Resolveu, então, apenas ignorar.
— E como você está? Não tive notícias de você durante todos esses anos. Sequer apareceu nas reuniões do pessoal da faculdade. Dá para ver que conseguiu lucrar com a dança — o dono da casa deixou claro seu espanto em ver como o antigo bolsista parecia ter mudado de vida.
Jongin por um segundo deixou-se sorrir debochadamente, os lábios grossos entortando lentamente, formando uma meia-lua.
— Acho difícil não ter ouvido falar sobre mim, Do. Digo, talvez não tenha ouvido falar sobre o Kim Jongin, mas com certeza Kai não é algo a ficar soterrado.
Os lábios do Do se abriram lentamente.
— O bailarino dono da Academia Iseul de Balé? — estava realmente surpreso.
— Nunca viu meu rosto na mídia, senhor Do? — encarou o outro pela primeira vez.
— Raramente me importei com arte, Kim — falou sincero.
— Por isso é tão frio — o convidado quis continuar, mas a campainha interrompeu o diálogo de ambos.
— Com licença — Kyungsoo disse antes de se dirigir à entrada, abriu a porta e novamente foi como uma surpresa. Então ele realmente tinha comparecido.
— Boa noite, Do Kyungsoo — Junmyeon o cumprimentou assim que seus olhares se cruzaram.
O homem a sua frente estava simplesmente impecável, no sentido mais profundo da palavra.
— Boa noite — estendeu sua mão, que logo foi apertada exageradamente pelo outro. — Como está, Junmyeon?
— Seria exagero dizer que as coisas nunca estiveram tão bem como estão agora? — seus lábios se moldaram em um sorriso venenoso.
Kyungsoo sabia muito bem ao que ele se referia. Desde a queda da sua empresa, Junmyeon nunca havia ganhado tanto destaque como atualmente, em que sua empresa superava até nos mínimos aspectos a do Do.
O homem respirou fundo quando o convidado passou por si e entrou na casa. Sabia que, desde o momento em que endereçou aquela carta ao seu rival, seria como permitir que uma cobra entrasse em sua casa. Porém, não se arrependia nem um pouco, pois já estava acostumado com as provocações do outro homem.
— Fico feliz de saber disso, meu caro — retribuiu um sorriso falso. — Eu também estou ótimo — não poupou da ironia em seu tom de voz.
Junmyeon permanecia com uma expressão de satisfação inabalável. Sabia que as palavras do homem de fios negros eram apenas um modo de se proteger, tinha consciência de que nada ia realmente bem para seu rival, e isso mantinha seu sorriso ainda mais vivo em sua face.
Os dois chegaram na sala em que Jongin se encontrava. Junmyeon olhou para o homem sentado no sofá sem se preocupar em ser discreto.
— Boa noite — cumprimentou ao se aproximar.
— Boa noite — o Kim respondeu após guardar o celular que estava olhando no bolso.
— Seu rosto não me é estranho — o recém-chegado disse, sentando-se ao lado de Jongin. — Não era você o único homem que cursava balé na nossa faculdade?
Jongin franziu o cenho ao ouvir aquilo. Não conseguia disfarçar o quanto ficava incomodado quando se referiam a ele como “um homem que cursou balé”. Não que aquilo fosse ofensivo, mas sabia que era usado pejorativamente. Qual era o problema? Isso o tornava menos homem do que qualquer outro, por acaso?
— Eu mesmo. Prazer, Kim Jongin, dono da companhia de balé de maior destaque de toda Seul — fez questão de apertar sua mão com mais força que o comum.
Kyungsoo ouvia o diálogo dos dois enquanto fingia mexer no celular. Nem sabia que ambos se conheciam.
Não teve tempo para se juntar na conversa, pois logo ouviu batidas na porta, seguidas do som da campainha sendo pressionada rapidamente, fazendo uma barulheira. Apressou-se em atender.
— Kyungsoo! — mal teve tempo de ver de quem se tratava quando foi envolvido por dois braços, em um forte aperto — Quanto tempo!
— Baek, por favor... — aquele timbre de voz denunciava a identidade dos dois convidados. Kyungsoo retribuiu o abraço ao ouvir os risos do outro.
— Ah, amor, não venha me dizer que eu estou sendo exagerado agora, porque eu não estou — Oh Baekhyun disse ao outro. — Faz anos que não vemos o grande Kyungsoo!
Kyungsoo sorriu sem jeito. De fato, há anos não via seus dois amigos mais próximos da época em que fazia faculdade. Ambos permaneciam com uma aparência tão jovial quanto no dia que se conheceram. Principalmente Baekhyun, que parecia ainda agir como um jovem no auge da adolescência com seu jeito animado e inquieto.
— É um imenso prazer revê-los — o Do abriu um sorriso e abraçou Sehun. — Entrem.
— Olha só como ele está falando agora, Sehun — cutucou o braço do mais alto, como se contasse um segredo com uma expressão divertida no rosto. — Ele agora está falando como essa gente rica.
Kyungsoo ergueu as sobrancelhas, a dúvida estampada em sua testa. Não havia falado nada demais, certo?
— Brincadeira, Soo — sacudiu seu ombro. — Apenas dispense as formalidades para seus velhos amigos.
Kyungsoo sorriu amarelo, fazendo um gesto para que eles entrassem. Estava prestes a fechar a porta quando viu um carro cor de vinho estacionar na frente da sua casa.
— Podem seguir por esse corredor, eu vou esperar um amigo que acabou de estacionar o carro aqui na frente — avisou aos dois, que assentiram e se afastaram.
Ele permaneceu parado na porta, observando aquele homem alto descer do carro, quase tropeçando nos próprios sapatos durante o processo. O Do riu, chamando a atenção de Chanyeol, que ficou envergonhado por quase ter caído na sua frente.
— Está muito atrasado, Park — brincou com os braços cruzados.
— Foi por um ótimo motivo, senhor Do — riu, lhe entregando um vinho adornado por um laço vermelho.
— Não precisava se preocupar em trazer algo — agradeceu a sua maneira. — Vem, os outros já chegaram — acompanhou o último convidado até a sala de jantar, onde todos pareciam se olhar com cara de poucos amigos.
Kim Jongin se esforçava para parecer confortável e imponente ali, com uma carranca de homem poderoso, o que realmente era. A verdade é que gostaria muito de provocar o casal recém-chegado.
Durante seus anos cursando dança, era xingado por aqueles dois e pelo Do por balé ser considerado algo feminino. Por isso, quando se descobriu gay, chorou desesperado e até pensou em desistir do curso que tanto amava por se considerar um homem afeminado, uma aberração segundo a sociedade da época. Atualmente, sabia que dançar não o tornava feminino, e ainda que o fosse, não era e jamais seria um problema.
Porém, ver como Sehun e Baekhyun estavam felizes juntos, quando precisou de meses de terapia para ficar bem, lhe fazia querer jogar algumas verdades naqueles rostos bonitos enquanto observava o homem de fios loiros e poucos centímetros mais baixo que o marido fazer questão de exibir sua aliança sem a mínima discrição. Como já dizia o ditado popular: “Todo homofóbico é um homossexual incubado”.
— Jongin? — o Do chamou sua atenção.
— O quê? — indagou, confuso.
— Vamos para a mesa? O jantar está servido.
O moreno suspirou e se levantou, acompanhando o anfitrião e os outros até a luxuosa sala de jantar. Sentaram-se à mesa. O lustre pendia sobre suas cabeças, junto a suas tiras de cristais caros. Um banquete repleto de comidas caras estava disposto. Lagosta, ovas, queijos caros, escargot, matsutake se misturavam com alguns alimentos típicos da cozinha coreana. Kyungsoo parecia ter gastado em abundância com a quantidade absurda de alimentos.
— Você caprichou, Soo! Não é, Hunnie? — Baekhyun elogiou, chacoalhando o marido que se mantinha calado ao seu lado.
— Obrigado, Baek — agradeceu, com um pequeno sorriso enquanto colocava o Chateau Villemaurine Saint-emilion Grand Cru em cima da mesa e retirava o laço.
— Vamos abrir o vinho, sim? — sugeriu. — Um jantar entre homens só começa após a primeira taça.
Após todos concordarem com a ideia, o anfitrião derramou um pouco em cada taça ali presente.
— Aqui não teria veneno, teria? — Kim Junmyeon indagou com seu mesmo sorriso, balançando o líquido vermelho na taça, fazendo com que o Park e o Do revirassem os olhos.
Tomaram a decisão de ignorar a fala alheia. No entanto, antes que algum deles pudesse provar o vinho caro, Baekhyun resolveu se pronunciar.
— Eu quero propor algo! — disse, animado. — Devemos fazer um brinde. Estamos todos unidos para comemorar a vida após muito tempo. Temos muito o que relembrar dos tempos da faculdade. Então, um brinde a nós, um brinde a estarmos vivos!
Todos ergueram as taças, mas antes que o ato se concretizasse, o Do interrompeu a todos.
— Eu adorei a ideia, Baekhyun, mas podemos fazer diferente, não? — manteve uma expressão serena, deixando a taça sobre a mesa e retirando um revolver que estava escondido em seu terno. — Que tal invés de um brinde à vida, fazermos um brinde à morte? — indagou, causando espanto a todos ali.
— O que quer dizer com isso, Do Kyungsoo? — Junmyeon perguntou, tão assustado quanto qualquer outro.
O anfitrião abriu um sorriso, jogando a arma próxima ao centro da mesa.
— Tenho uma proposta tentadora a fazer: um de vocês terá que me matar antes do fim do jantar, e quem fizer isso terá metade do meu patrimônio. Está tudo assegurado em meu testamento — explicou de forma direta e seca, vendo os olhos dos convidados se arregalarem. Sabia que sua ansiedade o faria externar aquelas palavras o quanto antes e não pôde evitar. — Estão com dificuldade para digerir, não é? Não se preocupem, temos a noite toda… — murmurou por fim, com um sorriso diabólico no rosto.
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