Caminho para Gintabirona
Sr. Laos era um tagarela e conversou com Caio pelas três horas seguintes enquanto desciam os morros nevados rumo ao vale do Rio Sturges. Quase nada do que Laos dizia fazia sentido para Caio, todavia, ele foi aprendendo algumas coisas a respeito daquela terra fantástica. Era normal os animais falarem, ou mesmo cantarem. De fato, tiveram um breve diálogo com um casal de esquilos que brigava por causa do estoque de nozes. Receberam más notícias de uma águia de cabeça cinzenta e viram um rebanho de ovelhas cantando algo que lembrava muito uma sinfonia barroca. Também descobriu que havia algumas cidades, só de homens, e que todos eles eram vegetarianos, algo que o Sr. Laos achava risível.
— Eu e minha família comemos carne.
— Oh, mas será possível? — Laos ficou tão feliz que deu um abraço apertado em Caio. Caio ficou apavorado, achando que Laos iria devorá-lo. — Um humano que come carne! Que coisa ótima! Preciso ir conhecer essa Conquista da Vitória!
— É Vitória da Conquista!
— Foi isso que eu disse, mas então, Só-caio, você come carne de que?
— Boi, frango, porco e às vezes, peixe.
— Mas e quanto aos ratos e camundongos? São as melhores, eu diria!
— Ainda não tive o prazer de experimentar...
— Ah, mas nós vamos, assim que chegarmos em Gintabirona, vou levá-lo num restaurante especializado!
— Não vejo a hora... — disse Caio torcendo os lábios.
Laos recitou alguns poemas famosos em sua terra e não admitiu que Só-caio não pudesse fazer o mesmo. Então Caio cedeu e recitou algo que estava grudado em sua cabeça por causa de sua irmã mais nova.
— A galinha pintadinha e o galo carijó. A galinha usa saia e o galo paletó! A galinha ficou doente... — e declamou a cantiga até o fim.
— Essa poesia é meio estranha, vocês realmente gostam de repetir palavras, galo, galinha, galinha galo...
— Admito que não é o melhor de nossa poesia, mas é o que consegui me lembrar.
— Quando seus miolos terminarem de descongelar, vou querer escutar algo melhor, então.
Finalmente chegaram ao vale. Estava um pouco frio, mas era um lugar lindo e verdejante. Caio suava dentro de sua pesada roupa de inverno.
— Nossa, que calor!
— Nossa? Como assim, nossa? — indagou Laos.
— Calor. CA-LOR. Só isso que eu quis dizer. Que tá muito quente.
— Para mim, a temperatura está agradável. Porque não experimenta mudar de roupas?
Caio começou a tirar o casaco, mas foi interrompido.
— Assim não! Use o anel, por Arioque! Afinal, deu muito trabalho fazer esse anel para vê-lo ser subutilizado!
Caio ficou olhando, embasbacado para o anel em seu dedo, sem ideia do que fazer.
— Vamos, miolo de neve! Troca logo!
— Não sei como.
— É só pensar no tipo de vestimenta que está precisando. É preciso sentir a necessidade brotando como um desejo ardente em seu peito.
Caio balançou a cabeça. Aquela coisa de magia não fazia o menor sentido para ele.
— Vamos! — Laos projetou seu par de presas para fora da boca, ameaçando-o com uma mordida. A coisa toda aconteceu em instantes. A roupa de inverno deu lugar a conjunto de couro azul flexível coberto por algumas peças de armadura leve, como um peitoral, ombreiras, braçadeiras e um elmo. A bota ficou mais fina e alta. Todas as peças tinham tons azulados.
— Agora sim! Muito melhor! — sibilou Laos. — Está quase apresentável! Deixe-me incluir o brasão de minha casa em seu peitoral...
Caio olhou para baixo e viu a imagem de uma cobra azul estampada no peitoral da armadura.
— Estou parecendo o Comandante Cobra.
— Comandante Cobra? Quem é esse cara?
— Ah, nada não Sr. Laos. É só um personagem de desenho animado.
— Desenho animado? Personagem? Isso é algum tipo de bruxaria de Conquista da Vitória?
— Vitória da Conquista.
— Foi o que eu disse, não?
Caio suspirou e puxou a caminhada outra vez.
— Vamos, Sr. Laos. Não vejo a hora de chegar nessa tal Gintabirona para resolvermos esse problema.
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