12

Durante o caminho de volta, suas primas estavam envoltas em uma nuvem de frenesi em que comentavam repetidas vezes o que acontecera. Ao chegar a casa, elas repetiram a história para Mary e Evelina com detalhes tediosos. Ambas as mulheres se giraram para Amanda, assim que ela ia escapar pelas escadas, com a desculpa de precisar de um banho, para investigar a suposta mordida de Callum com a qual Amanda havia excluído contar a reação dele ao ver a cobra.

— Não há vestígio da mordida da cobra — gaguejou ela, andando na direção das escadas — Receio que precisamos de um banho urgente.

Ela não lhes deu tempo para protestar; Amanda pegou Callum pela mão e subiu as escadas de dois em dois degraus, como costumava fazer quando era criança.

Callum não disse uma palavra até fechar a porta do banheiro. Antes que ele dissesse nada, Amanda lhe indicou com a mão que mantivera a voz baixa, pois sempre havia pessoas andando naquela parte da casa.

Ela se aproximou dele para evitar ter que falar alto.

— Vou explicar para você como se banhar e te deixo sozinho.

Callum olhou para a cuba branca que tinha quatro patas de garras douradas.

— Não é necessário, é igual que no Andrónicus. Mas eu não preciso de um banho, nós já tomamos banho esta manhã no lago.

— Quando foi à última vez que você se deu banho com sabão e esponja? — Amanda cruzou os braços olhando para ele como uma educadora olhasse para o estudante mais desalinhado.

— À noite antes da cerimônia em que você me sequestrou. Se houve algum banho antes disso, minha consciência não estava lá para lembrar.

Amanda franziu o nariz para mostrar seu desgosto.

Bem, meu jovem, você não vive mais no Andrónicus. Nesta casa você vai tentar tomar banho diariamente.

— Diariamente? — Ele protestou incrédulo.

— Isso mesmo — determinou Amanda. — Afortunadamente temos recursos e água quente direta, algo que poucas casas têm. Além disso, quando você se acostumar tomar banho todos os dias vai se perguntar como você podia viver sem fazê-lo antes.Vou deixar você sozinho, e não demore, porque estou desejandotomar banho também. Ela foi até a porta, ignorando o rosto irritado do seu servo. Com um sorriso, ela se preparou para fechar a porta, quando Sarah surgiu do nada com claras intenções de entrar no banheiro.

— Onde você está indo? — Amanda falou preocupada.

Sarah piscou várias vezes surpresa com a pergunta e reagiu:

— Isso não é óbvio?

— Callum está dentro. Ele vai tomar banho.

— Você deixa seu servo tomar banho sozinho?—Sarah exclamou incrédula.—Isso é muito perigoso, Amanda, ele poderia ter um acidente.

Amanda apertou os dentes com tanta força que ficou surpresa em não quebrasse nenhum. Não conseguiu explicar a sua prima que, no seu caso particular, era mais perigoso assistir seu servo tomar banho. A jovem continuou a olhá-la com expectativa, até que Amanda fez um leve gesto com a cabeça e voltou para o banheiro.

Ela olhou para a porta fechada por alguns segundos, incapaz de se virar.

Lentamente, ela se virou, mantendo os olhos no chão com quadrados pretos e brancos, como se fosse tão fascinante como as páginas de seu livro favorito. As roupas de Callum estavam empilhadas no chão ao lado da banheira. Ele estava completamente nu com seus braços nos quadris esperando que a banheira ficasse cheia.

— É costume que as amas ajudem seus servos durante o banho para sua segurança — ela murmurou com o olhar fixo na parede oposta do banheiro. — Eu não quero aumentar mais suspeitas.

Ela se sentou na cadeira que descansava a alguns passos da banheira e virou os olhos para os dele, concentrando-se em mantê-los ali. O jovem assentiu despreocupado e totalmente em paz com sua nudez.

— Ótimo. Eu estava lendo o panfleto das filhas de Lilith e há algo que me chamou atenção.

Amanda tentou manter a compostura e agir com naturalidade como Callum, mas não pôde deixar de cobrir os olhos com a palma da mão e desviar o olhar quando ele se colocado bem na frente dela.

— Callum, por favor! — Ela implorou, recostando-se no encosto da cadeira.

— O que acontece?

— Sua nudez me incomoda — ela explicou com uma voz estrangulada e a mão ainda no rosto.

— Você acabou de dizer que é costume ajudar os servos durante o banho.

— Mas eles não estão cientes.

— Então, o que te incomoda não é a minha nudez, mas o fato de eu estar consciente de que você me esta vendo nu? — Ele perguntou genuinamente confuso. — Mas eu não me importo com essa bobagem, Amanda.

E acabando de dizer isso, ele agarrou seu pulso para impedi-la de cobrir seu rosto. Amanda respirouprofundamente e disse a si mesma que era hora de se comportar como uma pessoa adulta.

Callum se inclinou na frente dela para que seus rostos estivessem na mesma altura.

— Talvez você se sinta melhor se também tirar suas roupas —Ele sugeriu, falando como se fosse um médico que recomenda passear pelas manhãs para melhorar a saúde do paciente.

Ela nem sequer conseguiu responder, mas simplesmente moveu a cabeça devagar, como uma menininha que se agarra a seu direito de recusar alguma coisa, mesmo sem saber muito bem por quê.

Callum encolheu os ombros e entrou na banheira fumegante. Ele gemeu porque não havia verificado a temperatura da água antes de fazê-lo. Aparentemente, Sarah estava mais certa do que ela acreditava.

— Como eu estava dizendo... — ele parou de falar, procurando por algo. Amanda adivinhou o que era, revirou os olhos e levantou-se para pegar o sabonete transparente de Pears e uma esponja. Agora que a cintura de Callum estava coberta pela água, ela se sentiu civilizada novamente. Entregou-lhe os utensílios e se abaixou para pegar o panfleto queCallum deixara na pilha de roupa suja.

— O que o panfleto diz sobre Henrique VIII é verdade?— Ele perguntou com interesse, enquanto friccionava sem sucesso o sabão rachado contra a esponja, ainda mais seca.

Amanda colocou as mãos sobre as dele, afundou-as na água para que tanto o sabão quanto a esponja ficassem molhadas, e então as retirou de dentro da água, e lhe indicou que tentasse de novo esfrega-los um contra o outro. Callum observou suas indicações com os lábios abertos como uma criança aprendendo algo novo.

Seus ombros e peito fortes estavam fora da água, mas as gotas que haviam escapado da superfície na forma de vapor deslizaram pela sua pele quente. Amanda se inclinou na beira da banheira com os olhos fixos no seu corpo. Não só timidez de antes a tinha deixado, mas um pensamento bem diferente a tinha substituído. Ela desejava tocar sua pele molhada sem que nada mais importasse.

— Amanda? — Ele disse, esfregando o peito com a esponja. Os pelos que cobria a protuberância dos músculos do peito eram tingidos de bolhas brancas.

Ela piscou, tentando lembrar a pergunta e limpou a garganta quando percebeu que sua voz estava sonolenta.

— Acho que sim, o que diz o panfleto?

— Ai diz que ele teve seis esposas, e quando se apaixonava por uma nova mulher, ele as executava ou ignorava, e até mudou a religião do país para poder ter uma nova esposa.

Receio que seja verdade.

— Que monstro — ele disse suavemente, e começou a ensaboar o cabelo com a esponja. — Eu não entendo, por que um homem quer mudar de esposa? E tantas vezes!

Amanda suspirou, desejando que Callum pudesse permanecer tão inocente para sempre. Num ataque de ternura, ela tirou a esponja da mão antes que ele colocassesabão nos olhos. Amanda jogou-a na água e começou a massagear seus cabelos com as pontas dos dedos. Callum fechou os olhos com satisfação.

— Ele se cansava delas depois de um tempo — sussurrou, pois estava ajoelhada atrás de Callum e com a boca perto da parte de trás do pescoço.

— Como você pode ficar entediado com tantas mulheres? — Ele argumentou em tom tranquilo. Ele inclinava a cabeça para o lado que ela estava massageando, desfrutando do que lhe estava fazendo. — Eu acho que o rei Henry era chato, e quando a esposa percebia, ai era quando ele se livrava delas.

Amanda sorriu.

— Você é maravilhoso, Callum.

Ela se arrependeu de dizer-lhe isso, mas as palavras saíram antes que ela pudesse detê-las, e terrivelmente carregadas de sentimentos.

Ele abriu os olhos para ouvi-la e virou a cabeça para olha-la. Seus olhos lindosde cor azuis prateados se uniram aos dele, causando todo tipo de tortura no seu interior. Eles se ficaram olhando com os lábios entreabertos, tão perto que ela podia sentir o ar quente de dentro de Callum acariciando sua pele. Ele a olhava com uma mistura de expectativa, emoção e confusão. Amanda só tinha que mover se alguns centímetros para tocaro seu rosto e os lábios molhados do seu servo. Ela poderia tirar a camisa e as calças e afundar dentro da banheira quente com ele. Callum nunca a machucaria.

Uma gota de sabonete deslizou pela testa do joveme entrou no olho. Callum gritou de dor e, num gesto instintivo, esfregou-o com as mãos cheias de sabão.

— Silêncio — ela insistiu, olhando para a porta.

Amanda conseguiu tirar a mão dele do rosto e os enxugou com uma toalha seca. Quando Callum se acalmou um pouco, ela lembrou-o novamente para abaixar o tom e parar de espirrar água por todos os lados, ela estava tentando tirar o sabão do seu cabelo.

Amanda pegou uma jarra, encheu com água para derramar na cabeça.

Callum saiu da banheira e ela se apressou para envolvê-lo numa toalha enquanto ele estava secando, se afastou dele três passos prudentes e o contemplou, viu como ele era realmente: um vulcão bonito, mas inexperiente, sem autocontrole pronto para explodir. Mas, felizmente, aquela gota de sabão a salvou de si mesma.

Depois do jantar, Callum seguiu Amanda até a porta do quarto dela. Antes de tocar a maçaneta, ela se virou. Ele tagarelou incessantemente sobre o assunto que havia tomado o jantar, o grande voto, até que ela levantou a mão para silenciá-lo.

— Vá para o seu quarto, Callum. Amanhã teremos um dia importante e devemos descansar.

Como sempre, quando ela mandou que ele dormisse, o jovem fez uma careta. Ignorando seu pedido, ele colocou a mão na maçaneta para tentar abrir a porta. Ela o parou, empurrando-o no peito.

— Pela primeira vez, gostaria que você respeitasse meu desejo de descansar. —Ordenou. Por alguma razão, estava chateada com ele desde que saíram do banho. Amanda começou a ficar esgotar por culpa da sua falta de habilidade para controlar a tentação. Naquele momento, estava tão cansada que por um momento ela desejou que ele fosse como os outros homens.

O que acontece amanhã? O jovem perguntou sem se preocupar com sua grosseria.

— É uma surpresa — ela disse, suavizando o tom. Sentia-se culpada por ter pensado isso. — Mas, acredite em mim, será um dia muito intenso.

— Deixe-me ir ao meu quarto através do seu — ele se jogou sobre ela, aprisionando-a contra a superfície da porta. Seus olhos se reconectaram com a intensidade das duas ocasiões em que ela considerou beijá-lo.

— Essa porta está fechada e eu não sei onde esta a chave— ela gaguejou, lembrando-se que, se lutasse contra aquele momento de tentação, ficaria feliz mais tarde.

Ele a olhou com expressão tão desanimada que seu coração afundou. Do desânimo passou a estar ofendido.

— Você está mentindo para que te deixe em paz — ele disse com resignação. E foi para seu quarto e não se virou quando ela lhe chamou.

Amanda bufou em quanto entrava no quarto. Estava exausta demais para apelar à paciência essa noite.

Depois de colocar o pijama, ela sentou na beira da cama e começou a pentear o cabelo. Foi quando ela o viu. Seu colar, o que havia usado no dia da cerimônia, e que tinha certeza de que o jogara no bosque porque Jane a ridicularizara, de algum modo estava preso à parede como se fosse um enfeite. Ela se aproximou ao colar. Não estava preso diretamente à parede, mas a uma folha fina, e sob ele leia-se:

«Medalha para o dia em que minhas opiniões deixaram de ser escravas de outra ama».

De boca aberta, ela releu a frase duas vezes e virou a cabeça para a porta que levava ao quarto de Callum. Ele deveria ter preparado aquilo após o banho, enquanto ela tomava o seu. Agora entendia por que ele insistira muito em entrar no seu quarto. Queria ver sua reaçãoquando ela encontrasse a medalha que tinha preparado.

Ela tocou a medalha com os dedos. Se antes olhar para a joia fazia sentircom vergonha, agora a fazia sorrir.

Ela foi dormir com aquele sorriso nos lábios.


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