Capítulo Vinte Três - Layla

Durante muito tempo, minha mente ficou absorta em pensamentos.

Eu não conseguia parar de pensar em Steven. Não conseguia parar de pensar no mistério que tínhamos de resolver e, principalmente, não conseguia deixar de lado aquela voz insistente em minha cabeça que dizia que eu não deveria partir de Steinorth no dia trinta de dezembro.

Eu sei. Isso é loucura. Aliás, quando coloquei os pés em Arthenia, tudo o que mais desejei foi que os dias voassem e eu pudesse logo voltar para casa, mas agora, com a data da minha partida se aproximando, eu sabia que não poderia entrar no avião e deixar aquele país para trás.

Não por enquanto. Não quando eu ainda tinha coisas a resolver ali.

Que coisas? Bem, o mistério por trás da morte da antiga rainha certamente era um dos motivos pelos quais eu ainda não queria partir. Talvez, o principal deles. Eu não conseguia dizer exatamente como, mas sentia que Steven e eu estávamos chegando a algum lugar, por mais que ele, aparentemente, não acreditasse muito naquilo.

E, é claro, tinha ele.

Steven.

Seria tola se dissesse a mim mesma que o que sentia por ele só tinha se revelado no dia anterior, quando nos beijamos no carro. Na verdade os sinais estavam ali o tempo todo, talvez desde o momento em que ele me encontrou no meio de uma tempestade dias antes.

Porém, apenas quando ele próprio revelou o que sentia, foi que as coisas dentro de mim deram um estalo.

E céus, eu simplesmente não podia ir embora sem resolver aquilo primeiro. Sem... Bom, sem garantir para mim mesma que não acabaria com um coração partido.

Pois era claro que nós dois não poderíamos ficar juntos. Não como um casal normal.

Havia um mar nos separando, além de - e isso talvez fosse ainda mais drástico do que o próprio mar - as diferenças sociais.

Steven era um príncipe. Um dia seria um rei. E eu... Bom, eu era apenas eu.

Eu era a garota de vermelho que havia aparecido em um baile da nobreza sem fazer parte dela e que até então a mídia internacional não conseguira identificar.

Era impossível ficar com Steven sem pensar no futuro distante e no que ele nos reservava. E, para nós dois, as possibilidades não pareciam ser tão boas assim. Ah não ser se...

Não. Eu não podia criar esperanças. As expectativas acabariam me destruindo um dia.

Então, enquanto aquilo ainda parecia confuso demais para mim e eu simplesmente não sabia o que fazer, a lógica era continuar onde estava até estar pronta para partir, certo? Pois, naquele momento, eu definitivamente não estava pronta.

"Então você quer dizer que vai ficar por mais tempo?", Alexia tinha perguntado na noite anterior, quando contei a ela que tinha conversado com a minha mãe e decidido trocar minha data de retorno para a Escócia em janeiro, quando ela também voltaria. "Ah, Layla, eu não acredito!" Ela correu até mim e me abraçou, em seguida pulando pelo quarto como se tivesse recebido a melhor notícia do mundo. "O que te fez tomar essa decisão? Ou, melhor dizendo, quem?"

"Ninguém", eu tentei responder, mas é claro que o meu rosto vermelho e a minha tentativa de olhar para qualquer outra coisa que não fosse Alex tornou tudo ainda mais claro. Aliás, as lembranças que eu tinha tido com Steven mais cedo estavam muito claras na minha memória, fazendo com que eu simplesmente não conseguisse agir de outra forma senão como uma tola apaixonada.

No fim das costas, Alex tirou a verdade de mim.

Quer dizer, não toda a verdade, pois eu não tinha contado que Steven e eu tínhamos passado algum tempo trancados num carro perto da penitenciária de Bluehill. Mas o resto... Bom, pois é. Ela quis todos os detalhes, por mais que antes tivesse dito que jamais queria saber de nenhum envolvimento físico entre seu primo e eu.

Eu esperava que, se ela dissesse algo a Steven, ele me perdoasse por ter dado com a língua entre os dentes. Mas é que Alexia era muito persuasiva...

Seja como for, eu estava bastante satisfeita organizando minhas roupas no armário no meu quarto - aliás, já que tinha decidido ficar mais tempo em Steinorth e não tinha trago tantas roupas assim, teria que me organizar para não acabar não tendo o que vestir - quando o meu celular apitou.

Na pressa para pegá-lo, quase o derrubei no chão.

Era ele.

Puxa a vida, o sorriso no meu rosto era tão grande que eu poderia jurar que logo teria marcas de expressão nas bochechas.

Com o coração batendo forte, li a mensagem:

Steven: Recebi uma carta da Mulher Misteriosa. Escrevi para ela ontem à noite e já tenho a resposta. Não estou conseguindo pensar direito sozinho. Pode me ajudar?

Eu ainda estava sorrindo quando respondi:

Pode contar comigo, Sherlock. Onde?

Steven: Que tal no seu quarto?

Larguei o celular como se ele fosse uma batata quente.

De jeito nenhum eu criaria expectativas com aquelas simples frase.

Não mesmo.

Sem a mínima chance.

Porém, antes que eu pudesse ao menos pensar direito, já estava correndo para o banheiro na pressa de pentear os cabelos.

Antes de Steven chegar, eu pensei que morreria de vergonha por vê-lo de novo depois do dia anterior, que não conseguiria falar ou qualquer outra coisa.

Desde tudo o que tinha acontecido, nós só tínhamos nos visto no jantar da noite anterior, e levando em conta a presença da metade da família dele, era essencial que mantivéssemos as aparências e não deixássemos transparecer nada.

Mas agora, com nós dois sozinhos de novo... Bem, eu não sabia se estava preparada para aquilo.

Porém, quando abri a porta e o vi parado do outro lado, instantaneamente percebi que meus medos não tinham fundamento.

Nós dois nos conhecíamos no nível mais alto fisicamente que alguém pode se conhecer, então, por mais estranho que possa parecer, a vergonha simplesmente não apareceu. Nem o constrangimento.

Bom, pelo menos não para mim.

Assim que os olhos claros de Steven se encontraram com os meus, as palavras pareciam incapazes de sair de sua boca. Não posso dizer que aquela vermelhidão em suas orelhas também não me deixou um tanto quanto satisfeita.

"Oi", disse, dando passagem para que ele entrasse. "Trouxe a carta?"

Em resposta, Steven mostrou um pedaço de papel amassado.

"Talvez isso faça mais sentido para você do que fez para mim", ele sussurrou, me entregando o papel.

Com um suspiro, caminhei até a poltrona, me sentando ali. Steven se acomodou na beirada da cama, me olhando com ansiedade.

"Você... pensou sobre o que Scarlet disse ontem?", perguntei, antes de ler a carta. "Quer dizer, acreditou nela?"

Steven ficou em silêncio por um instante, fitando o céu através da janela do quarto. Alguns segundos se passaram até que ele voltasse os olhos para mim, as marcas de expressão em sua testa se acentuando.

"Eu não quero acreditar", ele disse. "Mas não é a mesma coisa, não é?"

Mordi o lábio inferior, desejando ter uma boa resposta para aquilo, algo que o tranquilizasse e fizesse com que a dor em seu rosto, já tão natural, aliviasse um pouco.

Parecia mais fácil que eu simplesmente jogasse aquela carta para o alto e o beijasse, porque, céus, aquilo seria mil vezes melhor... Mas havia prioridades em jogo.

Eu sentia, eu sabia, que Steven nunca teria paz se não chegasse ao fim daquilo, onde quer que tudo o levasse. Por isso eu me empenharia o máximo possível para ajudá-lo a entender aquilo.

E eu não faria aquilo pelo meu desejo de aventura, que inicialmente era o que tinha me impulsionado a pedir Steven para ajudá-lo naquele mistério. Faria por ele.

"Eu não sei, Steven", disse por fim, porque apesar de vazias aquelas eram as palavras mais sinceras que eu tinha para oferecer. "Mas eu acho que acredito nela."

Ele me olhou com surpresa, mas a reação durou apenas um segundo. Em seguida, ela desviou os olhos, assentindo lentamente.

"Eu entendo."

Me remexi na poltrona, um pouco desconfortável.

"O que você escreveu para a nossa Mulher Misteriosa ontem?", perguntei então, tentando espantar um pouco a aura negativa que tinha se instalado ali.

"Bom, falei sobre tudo o que aconteceu desde que visitamos a minha avó no Natal. Sobre o maior sofrimento da minha mãe ter sido perder o filho, o envenenamento por trás da perda do bebê e a vista à Scarlet. Disse também que não sabia como tudo isso poderia ajudar e que estou mais perdido do que nunca."

Olhei atentamente para Steven, por algum motivo não tendo muito certeza de suas palavras. Ele parecia disposto a não olhar para mim, além de estar estalando os dedos mais do que o normal.

Decidida, abri a carta para lê-la.

Você está mais adiantado do que eu previa, Alteza. Esperei uma carta sua por esses dias, até pensei que tinha desistido de tentar encontrar a verdade, mas aparentemente eu estava enganada.

Ao que parece, você está ainda mais determinado.

Sua avó não errou ao dizer que o maior sofrimento de sua mãe foi perder o primeiro filho. Nem que foi um veneno que causou aquilo.

Você também fez muito bem em ir até Bluehill, fez bem em ver Scarlet. Era justamente isso que eu recomendaria que você fizesse caso tivesse me escrito antes.

Bom, pelo que você me disse, parece que não consegue encontrar um meio de chegar ao fim disso e nem mesmo sabe o que fazer em seguida.

Alteza, eu posso estar errada, mas mesmo através de suas palavras pude sentir que isto é uma mentira.

O envenenamento de sua mãe e a morte dela doze anos depois tem uma ligação. Se não tivesse, por que eu o mandaria perguntar isso à sua avó?

Se sabe o que tem de fazer, faça. Não importa que você ache que isso é loucura, ou que está começando a desconfiar até mesmo de sua própria sombra.

A verdade se encontra nos lugares mais difíceis, por isso que é sempre preferível mentir para nós mesmos. Mas isso também não trará a sua paz.

Se realmente precisar de mim, estou aqui, mas estou certa em dizer que não precisa.

Nosso encontro está mais próximo do que você imagina, Alteza.

Apenas você pode fazer com que ele aconteça o mais rápido possível.

"Ela é sempre tão intensa, assim?", perguntei quando terminei de ler.

Steven abriu um sorrisinho.

"Talvez ela penda um pouco para o drama. Não podemos dizer que não é uma exímia escritora."

Eu sorri, olhando para ele com o coração apertado. Sem conter, me levantei e me sentei ao seu lado na cama, pegando sua mão forte na minha.

Finalmente Steven olhou para mim, e, de verdade? Ele parecia arrasado.

"Quer saber de uma coisa, Steven? Essa mulher, seja lá quem ela for, teve a mesma opinião que eu." Me aproximei dele, buscando seus olhos. "Acho que você sabe o que tem de fazer. Só você. Porque eu mesma não faço ideia, por mais que sinta que isto está acabando."

"Não sei se quero descobrir, Layla", ele sussurrou. "Não sei mesmo. A ideia que tenho na cabeça... É horrível demais para acreditar."

"Bom, você só vai conseguir tirar isso daí de dentro se descobrir se está errado."

Lentamente, Steven assentiu.

Por mais que eu estivesse curiosa para saber o que ele achava de tudo aquilo, se já estava encontrando a solução para aquele mistério, não disse nada. Eu sabia que tinha me proposto a ajudá-lo naquilo, mas também sabia que certos passos ele teria de dar sozinho. Além do mais, se Steven realmente estivesse disposto a contar o que passava pela sua cabeça desde que deixamos a penitenciária de Bluehill, ele já teria falado.

"Ei, tenho uma notícia para te dar", disse de repente, fazendo com que Steven voltasse sua atenção para mim.

"O que é?"

"Decidi voltar para a Escócia em janeiro, com Alex", contei de uma vez, sorrindo como uma boba assim que os olhos de Steven se arregalaram e um sorriso enorme se espalhou pelo seu rosto.

"Mesmo? Nossa, isso é..." Mas ele não concluiu, pois se inclinou para mim no mesmo instante e me beijou, segurando meu rosto com as duas mãos. "Incrível..."

Quando ele se afastou, eu não soube dizer qual de nós dois estava sorrindo mais.

"Essa é a melhor notícia que ouvi em muito tempo", ele falou, me puxando para um abraço apertado e deslizando as mãos por minhas costas. "Por que decidiu fazer isso?"

"Não queria ir embora sem antes descobrirmos tudo sobre o que aconteceu com sua mãe", revelei. "E eu, bem, eu gosto daqui. Não quero dizer adeus para Sebastian nem Margot, nem... Bom, nem para você."

Steven se afastou um pouquinho, me olhando com um sorrisinho sedutor que quase me fez derreter em seus braços.

Deus, como eu poderia dizer o que estava planejando se ele continuasse me olhando daquele jeito?

"Steven", comecei, mas naquele momento ele me empurrou de leve, fazendo com que meu corpo afundasse no colchão. "Nós dois... Eu..." Mas, ao invés de palavras, um suspiro escapou dos meus lábios.

"Sim?", ele murmurou contra o meu pescoço. Um arrepio percorreu minha coluna. "Estou ouvindo..."

Eu precisei de toda a minha força de vontade para rolar para o lado, para longe do calor do corpo dele.

"Não vai dar certo", falei. "Entre a gente."

Steven se voltou para mim, franzindo as sobrancelhas.

"Por que não? Parece estar dando muito certo até agora."

"Você é um príncipe, Steven", disse, me encolhendo. "Eu faço parte dos plebeus, ok? Pesquisei toda a árvore genealógica da sua família e não há ninguém que tenha se casado com uma pessoa que não faça parte da nobreza de Steinorth ou de outro país."

"Então você já está pensado no casamento?"

"Steven!"

Peguei a primeira coisa que encontrei e joguei nele. Infelizmente foi um travesseiro.

"Ok, agora escute aqui", ele falou, segurando o travesseiro no ar e se aproximando de mim, que permanecia atirada na cama. "Eu não ligo para nada disso. Não dou a mínima, na verdade. E você também não deveria."

"É difícil", sussurrei, mal suportando olhar para ele. Era tão lindo... E não podia ser meu. "Passei a vida inteira desejando não chamar a atenção, com medo do julgamento das pessoas. Sei que parece bobeira, mas é algo que vem de dentro de mim, que sempre esteve aqui. Com você... Bom, com você isso seria difícil."

Steven se inclinou para mim, acariciando meu rosto. Quando olhei para ele, percebi que seus olhos estavam distantes e uma sombra de dor os permeava.

"Nunca odiei tanto ser um príncipe como odeio agora."

"Não...", sussurrei, arrependida. "Não diga isso. Além do mais, bem, não é só isso. Boa parte do Mar do Norte separaria nós dois, não é?"

Steven não respondeu, mas percebi que aquilo era algo que ele não tinha dado atenção até então, além do mais, tecnicamente, só tínhamos nos declarado oficialmente há um dia.

"Ei, não fique assim", falei, puxando seu rosto para perto do meu. "Não aguento ver essa tristeza no seu rosto. Steven, estou apaixonada por você. Meu coração nunca bateu por um garoto como bate por você. É loucura, porque não nos conhecemos há muito tempo assim, mas é real. Assustadoramente real." Eu fechei os olhos por um momento, pedindo a Deus força para continuar. "Mas nós dois sabemos que..." Engoli em seco, sentindo um nó gigante se formar na minha garganta. "Sabemos que não temos muito tempo. E eu não quero perder você simplesmente pelo fato de saber que isso vai ter de acabar."

Steven suspirou, seu peito musculoso subindo e descendo em uma respiração pesada.

"Vai ser doloroso passar esses momentos com você sabendo que eles são finitos."

Eu abri um sorrisinho triste, olhando para aquele homem gentil, bondoso e cavalheiro que tinha me tocado de formas tão profundas.

"Então não vamos pensar nisso. Vamos tentar, pelo menos. Tudo bem?"

Alguns segundos se passaram até que ele respondesse.

"Tudo bem."

E então, lentamente, suas carícias voltaram, atiçando meu corpo e meu coração.

Quando fechei meus olhos, permitindo me perder em seu corpo e na maciez dos lençóis da minha cama, soube que não seria tão fácil quanto eu dissera.

Seria impossível, na verdade.

Porque, horas depois, quando despertei do meu sono e encontrei Steven ainda dormindo ao meu lado, sua pele nua reluzindo à luz que entrava pela janela, soube que poderia me acostumar com aquela visão para sempre.

E que perdê-la, justo agora que a tinha, seria uma das coisas mais difíceis do mundo.

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Oii gente! Demorei um pouco para postar, mas finalmente esse capítulo saiu!

Espero muito que vocês tenham gostado do capítulo, sei que ele talvez cause algumas polemicas, mas estou muito ansiosa para ouvir a opinião de vocês...

Na semana que vem volto com um capítulo novinho em folha para vocês, aliás, gostaria de aproveitar e anunciar aqui em segredinho para vocês que estou trabalhando em um livro novo... Então, se tudo correr bem, em breve vocês vão ter uma outra história para acompanhar hahaha

Por hoje é isso galera, beijos e até o próximo capítulo!

Ceci.

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