Capítulo Vinte, parte II - Layla
Parada no corredor à esquerda, que ficava praticamente ao lado das escadarias que levavam até o salão de baile, eu conseguia ouvir com perfeição os sons de conversas, risos e da música clássica, mas nada era alto o suficiente para abafar o som do meu coração, que batia descontrolado.
Veja bem, eu não era do tipo que acreditava em coincidências, mas com certeza acreditava em milagres. E ali naquele instante, tudo o que eu conseguia pensar é que só podia ser um milagre que aquele vestido glamoroso tenha servido como uma luva em mim.
Mas nada daquilo adiantava - todo aquele milagre digno de livros - se eu não conseguia nem ao menos dar um passo à frente.
"Não sei se posso fazer isso", confessei para Alex, que estava ao meu lado ajeitando os cabelos de última hora.
"Você pode sim", ela disse, olhando para mim zangada. "Margot e Sebastian estão contando com isso, lá embaixo. Não os decepcione."
Eu abri um sorrisinho trêmulo, me lembrando de como, há poucos instantes, os gêmeos tinham sido encontrados pela rainha enquanto caminhavam à frente de mim e Alex nos corredores.
Nós duas, seguindo algum instinto tácito, nos escondemos da rainha e deixamos que eles fossem arrastados para o salão, ficando para trás.
Mas é claro que eu não me esqueceria dos olhares animados e confiantes que eles tinham me lançando antes de desaparecem por trás do vestido glamoroso da madrasta. Eles realmente contavam que eu apareceria.
"E se eu cair das escadas?", perguntei de súbito. "Não sou muito bom com saltos. E se..." Eu gemi quando o pensamento me ocorreu. "E se eu for apresentada por um monte de pessoas que claramente vão perceber que eu não pertenço a esse lugar?"
Alex suspirou, se virando de frente para mim.
"Pensei que você tinha dito antes que estava segura."
"Eu estava, mas isso foi antes de descobrir que Asha destruiu meu vestido."
Alexia sorriu para mim, segurando minhas mãos enluvadas.
"E daí? Você arranjou outro muito melhor. Sério, Layla, você está...", ela passou os olhos pelo meu corpo, "tão linda que nem parece real. Por dentro e por fora. Vai deixar com que Asha acabe com sua noite?"
Eu mordi o lábio inferior, fechando os olhos por um instante e respirando fundo para tentar acalmar as batidas frenéticas do meu coração.
"Não", decidi por fim, minha voz firme parecendo afastar um pouco o frio que estava instalado na minha barriga. "Não vou."
"Isso aí!", ela exclamou dando um pulinho animado e me abraçando com força. "Não se preocupe, tá legal? Eu vou estar do seu lado."
Eu sorri, apertando a mão da minha amiga.
"E quando é que você não esteve?"
Então, em um acordo tácito, nós saímos do corredor e deixamos que a luz do salão de baile nos iluminasse.
Antes de chegarmos ao topo das escadarias, nos deparamos com um senhor alto vestindo um terno perfeitamente alinhado e passado, que se curvou ligeiramente para nós antes de nos perguntar educadamente nossos nomes.
"Alexia Arthenia", Alex disse.
"Layla Bennett."
Por um momento o senhor olhou para mim com dúvida, mas, ao se deparar com o olhar nem um pouco amistoso da parte de Alex, se apressou até ficar em vista nas escadarias, anunciando nossos nomes em voz alta para que todo o salão ouvisse.
Isso é realmente necessário?, eu quis perguntar baixinho, sentindo meu estômago despencar quando Alexia me deu um empurrãozinho e nós aparecemos no topo das escadarias.
Quando olhei lá para baixo, para imensidão do salão, a primeira coisa que constatei é que muitas pessoas - muitas mesmo - estavam olhando diretamente para mim.
Mulheres com vestidos estonteantes e homens de ternos aparentemente iguais aos meus olhos pararam o que estavam fazendo e ergueram seus rostos para mim, suspendendo as conversas e as taças de líquidos coloridos, como se de repente nada daquilo fosse mais tão importante.
Eu queria fugir. Queria correr e me esconder nas dobras do meu vestido. De repente me perguntei se o rei perceberia que eu estava usando o vestido da antiga esposa e se aquilo poderia fazê-lo me expulsar do salão ou algo assim, por mais que, quando disse aquilo para Margot mais cedo, ela tivesse rido da minha cara e dito que o vestido era dela e que poderia fazer o que bem entendesse com ele.
Lentamente eu desci as escadas, todas as minhas forças voltadas a única e específica tarefa de não tropeçar. Cada degrau que desci com elegância se tornou uma pequena vitória, me deixando cada vez mais segura e aliviada.
Quando finalmente coloquei os pés no chão de mármore, me senti como o primeiro homem a pisar na lua deve ter se sentido: invencível.
Pelos minutos seguintes tive que me acostumar com os olhares incansáveis de todos aqueles nobres, que aparentemente sussurravam entre si coisas como: "Quem é ela?" ou "Qual estilista fez aquele vestido maravilhoso?"
Eu me sentia como a Cinderela devia ter se sentido quando chegou àquele baile da corte, envolta por tantas pessoas que à primeira vista eram diferentes dela.
Mas Cinderela queria uma noitada e um pouco de diversão, não queria? Pois eu também, e não deixaria que aquilo me abalasse.
Então os pais de Alexia se aproximaram de nós, aparentemente surgidos do nada. A mãe dela estava simpática e teceu pelo menos duas dúzias de comentários sobre como nós estávamos esplêndidas, assim como seu pai, apesar de também ter deixado escapar algo como atrasos são pouco elegantes.
Sinceramente, eu não liguei.
A música estava boa e eu simplesmente amava o som daquele piano, as enormes janelas em forma de arco do salão circular nos davam uma vista perfeita do céu estrelado e dos jardins repletos de neve do palácio. Tudo estava lindo e eu me sentia linda, o que colaborou um pouco para que me sentisse mais à vontade.
Então, do outro lado do salão, eu vi a família real.
O rei conversava algo com outro homem ao seu lado, mas, por um momento, seu olhar recaiu sobre mim e vi que ele analisava meu vestido com cuidado, provavelmente se perguntando o que eu estava fazendo vestindo-o.
A rainha também me olhou uma ou duas vezes, mas não captei mais no seu olhar do que alguma estranheza. Já os gêmeos, parados ao lado da madrasta, abriram largos sorrisos para mim e ergueram os polegares satisfeitos, o que me fez ficar ainda mais feliz.
E, naquele instante, quando um casal se moveu para a direita, eu pude vê-lo.
E o meu coração parou.
Steven não estava apenas lindo. Estava deslumbrante.
Cada parte do seu corpo, dos pés até o último fio de cabelo, parecia perfeita, excitantemente masculina e reluzente, assim como seus olhos claros ao me encarar.
Não era surpresa nenhuma todas as mulheres ao seu redor lançarem olhares despistados para ele de cinco em cinco segundos. Inclusive ela. Asha.
Os dois estavam lado a lado, como se antes estivessem conversando sobre alguma coisa. Ao lado de Asha vi Lilian, que parecia profundamente infeliz ao lado da prima, bebendo algo em uma taça de cristal.
Ao perceber que o príncipe tinha se distraído com alguma coisa, a princesa ergueu o rosto e moveu os olhos na direção em que ele estava olhando. Para mim. Quando seus olhos azuis me encontraram, percebi a raiva clara contida neles, tão intensa que parecia queimar minha pele.
Alexia, ao meu lado, acabou percebendo para onde eu estava olhando e deu um passo a frente de forma instintiva, mas antes que ela pudesse fazer alguma coisa eu a segurei pelo pulso.
"Não", disse baixinho. "Alex, deixe-a."
"Ah, eu não preciso", ela falou, e quando olhei para ela vi um sorrisinho cruel em seus lábios. "Ele já está fazendo isso."
Sem entender o que ela estava dizendo, voltei a olhar para onde Steven e Asha estavam. Tudo o que pude ver foi ele se inclinando e sussurrando algo no ouvido dela, se afastando logo em seguida sem esperar por uma resposta.
Ao ver Steven se aproximar a passos elegantes, meu coração voltou a bater com toda força no peito.
Do outro lado do salão percebi que o rei havia se distraído da conversa com o nobre e olhava atentamente para o filho de forma dura. Mas Steven não o viu, e se viu não se importou, pois continuou caminhando até mim.
Quando ele se aproximou o suficiente, ficando de frente para mim, mais parecia que cada parte do meu corpo entraria em combustão. Eu não conseguia respirar e era como se um cabide estivesse na minha boca, porque era meio impossível parar de sorrir.
Me senti um tanto quanto patética, mas, novamente, não liguei.
"Pensei que a senhorita não vinha", ele disse com um pequeno sorriso, o corpo perfeito dentro daquele terno justo se inclinando para mim. "Estou feliz por ter me enganado."
"Oi para você também, Steve", disse Alex docemente, fazendo com que os olhos de Steven se desviassem de mim por um segundo. "Não sentiu minha falta?"
Steven estreitou os olhos para a prima, mas havia um sorriso tímido em seu rosto.
"O salão estava um tédio sem você", ele disse, e baixinho completou: "Tinha me esquecido que só consigo aguentar esse baile por ter a sua companhia todos os anos."
Alex ergueu uma sobrancelha de forma irônica para o primo.
"Eu acho bom mesmo. Mas, como pode ver, esse ano tenho companhia." Então ela se virou para mim. "Layla, se importa se eu deixar você sozinha por um instante? Acho que preciso salvar uma pessoa." E dizendo isso ela inclinou a cabeça para o canto do salão onde Lilian estava, olhando para nós como se tudo o que quisesse era estar ali também.
Eu senti minhas bochechas arderem com o comentário nem um pouco sutil de Alex, mas, sinceramente? Ficar sozinha com Steven - o máximo que se pode conseguir ficar sozinha em um baile lotado - parecia algo muito convidativo.
Então eu assenti, fazendo com que Alexia em menos de um segundo desaparecesse por entre a multidão.
"Parece que ela comprou bastante a sua ideia sobre..." Steven pareceu pensar por um momento, mas olhando diretamente para mim quando completou: "Você sabe. Sobre nós."
Eu abri um sorrisinho, fingindo ajeitar minhas luvas que estavam perfeitamente em ordem.
"Pois é. Talvez eu seja uma boa mentirosa, afinal de contas."
Os olhos claros de Steven cintilaram e, quando um criado se aproximou de nós com uma bandeja repleta de taças de cristal, ele perguntou:
"Você bebe?"
Lancei um rápido olhar para a bandeja de bebidas.
"Depende. O que é isso?"
"Champanhe."
Eu sorri, erguendo de leve uma sobrancelha para ele.
"Depois da primeira taça, eu posso ficar um pouco mais animada que o normal."
Steven chamou o criado e pegou duas taças de sua bandeja, estendendo uma para mim em um gesto cortês.
"Então vamos cuidar para que você não passe da primeira taça. Não hoje, pelo menos."
Eu sorri timidamente e peguei a taça, arriscando um pequeno gole. Assim que o líquido desceu pela minha garganta, fiz uma careta, fazendo com que Steven risse.
É. Talvez eu não fosse tão afeiçoada a bebidas assim.
"Estão todos olhando para nós", comentei baixinho naquele instante, pela primeira vez percebendo todas as pessoas ao nosso redor que de tempos em tempos esticavam o pescoço para nos olhar. "Você chama atenção demais, Alteza."
Steven abriu um meio sorriso, que, sinceramente, era desconfortável de tão excitante.
"Posso lhe garantir que eles estão olhando para você. Não para mim."
Eu troquei o peso de uma perna para outra, arriscando outro gole do champanhe.
"Provavelmente estão se perguntando o que o príncipe está fazendo conversando com uma garota estranha por aqui", sugeri.
"Ou", ele começou, se aproximando um pouco mais, "estão se perguntando de onde uma garota como você surgiu, roubando toda a atenção desse jeito."
Eu soltei uma risadinha involuntária, fitando o chão sem jeito. Era incrível o modo como ele me deixava, acanhada e como se nunca tivesse beijado um garoto na vida.
Mas, afinal de contas, o que beijos tinham a ver com tudo aquilo?
Deus, talvez aquele champanhe fosse mais forte do que eu pensava...
"Se não te conhecesse, diria que é um galanteador de primeira", falei, obrigando-me a olhá-lo de forma divertida, porque, afinal, nenhum comentário de Steven poderia me deixar tão envergonhada a ponto de não saber interagir com ele com a familiaridade de costume. "Mas, eu não sei se você sabe, mas outro dia Alex comentou algo sobre você nunca ter tido uma namorada de verdade na vida. Não sei se isso forma ou não uma boa impressão a seu respeito."
Uma satisfação cruel se instalou no meu peito quando vi o rosto de Steven se tornar escarlate, aliás, se ele podia me deixar envergonhada, eu poderia fazer o mesmo com ele.
Eu nunca tinha conhecido um garoto com tanta facilidade para corar como o príncipe herdeiro, mas sem dúvida aquilo era algo bastante fofo.
"Alexia não sabe nada", ele disse casualmente, o que me fez rir. "Está sempre se intrometendo na vida amorosa de outras pessoas."
"Ou, no seu caso, na falta dela."
"Layla..."
Eu ri, erguendo uma mão na frente do peito em sinal de rendição. "Tudo bem, relaxe, eu já parei."
Ele sorriu de maneira tímida, o rosto aos poucos voltando ao tom normal. Talvez houvesse poucas coisas na minha atualmente que me causavam tanta satisfação quando deixar Steven envergonhado.
"Então, vai me dizer o porquê de ter falado que não vinha ao baile?" Steven perguntou tentando mudar de assunto, depois de me convidar para dar uma volta no salão. "Eu fiquei... preocupado."
Tentei segurar o sorriso que ameaçou surgir em meus lábios.
"É mesmo?", não resisti perguntar.
"É mesmo", ele confirmou, olhando sério para mim. "Eu estava indo atrás de você até Arabella me impedir."
"Bom, é realmente cavalheiresco de sua parte, Alteza, mas fique sabendo que seus irmãos me ajudaram. Se não fosse por eles eu não estaria aqui."
Steven se inclinou para mim, a curiosidade estampada em seu rosto.
"Não vai mesmo me dizer, não é?"
Eu abri a boca, prestes a contar sobre Asha e o vestido destruído, mas no segundo seguinte pensei melhor e decidi que, definitivamente, eu não queria estragar aquele momento falando sobre a princesa e o que ela tinha feito comigo.
"Não", decidi por fim, olhando para ele com um sorrisinho de desculpas. "Talvez em outra ocasião." Steven abriu a boca para protestar, mas, antes que fizesse isso, completei: "E, como o exímio cavalheiro que nós dois sabemos que você é, não vai insistir mais."
Steven fechou a boca, por um instante parecendo chateado, mas logo em seguida a expressão foi embora e ele me lançou um olhar zombeteiro.
"Você sabe como manipular alguém, não sabe?"
Dei de ombros levemente.
"Só quando me convêm."
Então, sem que combinássemos, paramos defronte uma das janelas do salão, observando o céu escuro lá fora. A lua não era mais do que uma linha fina e curva no céu, escondida atrás de uma nuvem.
"Então...", comecei a dizer, trocando o peso de uma perna para outra nos meus saltos enormes. "A gente não conversou muito, depois do que aconteceu em Arthenia no Natal."
Steven piscou, parecendo surpreso por eu ter falado aquilo de repente. Ele girou os olhos para a janela, analisando o céu com certo pesar.
"Eu sei. Acho que lhe devo uma explicação."
"Não", apressei-me a dizer, involuntariamente colocando uma mão sobre seu braço, sentindo seu calor mesmo através de seu paletó e da minha luva. Meu corpo inteiro se arrepiou. "Desculpe. Eu sei que você ficou..."
"Envergonhado", Steven soltou de repente, com um suspiro pesado. Então ele virou o rosto para me encarar, as luzes do salão revelando cada traço do seu rosto. "Essa é a palavra. Fiquei envergonhado."
"Envergonhado?", perguntei confusa. "Por que você ficaria enver..."
"Pelo que aconteceu no carro", ele falou me cortando novamente, como se agora que tivesse começado a dizer as palavras não conseguisse mais parar. "Do modo como me descontrolei e disse aquelas coisas para você. Por isso não te procurei. Não por estar transtornado pelo que descobri, quer dizer, isso também, mas principalmente pelo que aconteceu depois que saímos do lar de idosos."
Eu fiquei em silêncio, a boca aberta enquanto tentava assimilar aquilo.
Então era por isso que ele tinha sumido? Por isso que parecia um tanto quanto distante?
"Steven", chamei, seu nome saindo pelos meus lábios com uma força e intensidade que a princípio eu não pretendia. "Se lembra do que eu disse quando voltamos da visita à sua avó? Disse que ninguém precisa ser forte o tempo todo. Disse que não ia te julgar." E com o coração apertado completei: "Como você não me julgou quando me encontrou na beira da estrada aquela noite."
"Eu sei", Steven falou baixinho, baixando os olhos sem me encarar. "Mas eu me julguei e fiquei envergonhado. Acho que... Acho que me acostumei por tempo demais a esconder o que sinto, por isso, quando fiz isso com você, não soube como agir."
Eu abri um sorrisinho triste, sentindo meu estômago dar voltas ao perceber que não só eu realmente tinha sido a pessoa em quem ele confiou para dizer todas aquelas coisas, mas que o que eu poderia pensar dele também era importante para Steven, por mais que não devesse ser.
"Não pense nunca mais que aquilo fez com que eu mudasse o modo como te vejo, Steven", falei, olhando séria para ele. "Pelo contrário. Apenas fez com que eu te admirasse mais."
O príncipe sorriu timidamente, revelando aquela covinha que tinha o poder de fazer o meu coração disparar. Ele era tão lindo por dentro e por fora... E estava ali. Comigo. Me olhando de um jeito que me fazia sentir estonteante e poderosa, algo que por muito tempo eu não me sentia. Não desde Joseph.
Me senti a garota mais sortuda do mundo naquele instante.
"A propósito, você ainda não me disse o que vamos fazer a partir de agora. Ainda temos um mistério para resolver", falei, tentando mudar um pouco de assunto. "Admito que não sei como o que descobrimos a respeito do passado de sua mãe pode ajudar, mas acho que pensei bastante sobre isso e tenho uma vaga ideia."
Steven assentiu, bebendo um curto gole do seu champanhe.
"Eu acho que a sua ideia é a mesma que a minha. Se a minha mãe foi envenenada... Bom, tenho que falar com quem fez isso."
Assenti, sentindo meu corpo estremecer de expectativa e medo.
"Você acha que quem a envenenou pode ter sido a mesma que..." Eu não completei a frase, por medo de ser ouvida.
"Eu não sei", Steven admitiu, o rosto se fechando em concentração. "Talvez. Mas só se ela tiver sido solta por algum motivo na época em que minha mãe morreu. Parece improvável, mas até agora não tive uma ideia melhor."
"E você não escreveu para ela? Para a Mulher Misteriosa?", perguntei.
Ao me ouvir dizer aquilo, Steven abriu um sorrisinho de lado.
"É assim que vamos chamá-la a partir de agora?"
Eu dei de ombros, retribuindo o sorriso.
"Você tem uma sugestão melhor?"
"Não, não tenho. Mas, respondendo a sua pergunta: não. Não escrevi para ela. Nem acredito que precise. Vou a Bluehill primeiro e verei se posso conversar com essa mulher. Espero que ela ainda esteja viva..."
Eu assenti lentamente, percebendo que, apesar das palavras de Steven, havia uma raiva profunda em seus olhos. E, afinal de contas, como não poderia haver? Alguém, por algum motivo, havia envenenado a mãe dele anos atrás e impedido que ela tivesse um filho. Aquilo era horrível em tantos níveis que eu nem conseguia descrever.
"Quando?", perguntei de repente, determinada. "Quando nós vamos?"
Steven ergueu os olhos para mim, as sobrancelhas ligeiramente franzidas.
"Tem certeza que quer vir junto, Layla? É uma viagem um pouco longa e... Bem, é uma penitenciária."
Ergui uma sobrancelha para ele.
"E daí? Acha mesmo que vai me tirar da jogada fácil assim? De jeito nenhum. Eu sou Watson, lembra?"
Steven soltou uma risada que fez meu coração sacudir.
"Certo", ele falou docemente. "Então, já que está tão determinada, vamos amanhã."
Talvez ele quisesse me intimidar com aquela afirmação, mas eu com certeza não me deixaria abalar. Com um sorriso, completei:
"Não atrase."
Naquele momento, a música que estava tocando terminou e depois de breves instantes de silêncio - que foi preenchido pelas conversas sussurradas de todos aqueles nobres - outra começou, mais lenta e romântica, o som melodioso do piano me fazendo fechar os olhos por um instante e apreciar o momento.
Pelo salão, lentamente casais começavam a se formar, fazendo com que eu pudesse ver melhor além da multidão.
Não muito longe vi Asha conversando com um cavalheiro qualquer, e, como se fosse atraída pelo meu olhar, ela se virou para mim e me encarou com tanta raiva que fez um arrepio percorrer minha espinha.
Antes que eu pudesse ao menos pensar em me esconder, Steven estendeu a mão para mim, os olhos azuis esverdeados reluzindo diante da minha expressão de surpresa.
"Me concederia uma dança, Srta. Bennett?"
Sem conter, eu comecei a rir, olhando para Steven como se ele tivesse vindo de outro mundo.
"Eu não sei dançar", foi a primeira coisa que consegui dizer. "Seria um desastre."
"É uma música lenta", ele disse de forma casual, sorrindo de forma galanteadora para mim. "Prometo que não vou reclamar se você pisar no meu pé."
"Isso porque você ainda não viu os meus saltos agulha..."
Mas então Steven tirou a taça de champanhe das minhas mãos e pós junto com a sua na bandeja de um criado que passava por ali, e, quando vi minhas mãos livres, parecia incrivelmente certo que elas fossem parar nas de Steven.
Ele então sorriu e, antes que eu pudesse me dar conta do que estava fazendo, o príncipe me guiou até o centro do salão.
Ah meu Deus! O que diabos eu estava fazendo ali? Com todos aqueles olhares me encarando com curiosidade, estranhamento e o que mais pudesse ser? Se eu pelo menos soubesse dançar, talvez não passasse tanta vergonha por estar ali, com o príncipe, e...
"Ei, se concentre em mim", Steven sussurrou ao meu ouvido, me fazendo estremecer. Olhei para ele, que me encarava atentamente. "Não ligue para o que eles pensam. Finja que ninguém está olhando."
"Não é tão fácil assim", murmurei, mordendo o lábio inferior.
"Bom, para mim é." E, colocando suas mãos firmes em torno da minha cintura, ele completou: "Estou dançando com a garota mais bonita do baile. Por que deveria estar prestando atenção em outra coisa?"
Meu coração bateu tão rápido naquele momento que, por um segundo, achei que realmente cairia dura no chão.
Minhas bochechas não poderiam nunca estar mais quentes.
"Por acaso você está flertando comigo?", perguntei com um sorrisinho travesso, porque as palavras simplesmente pareciam incapazes de ficar dentro da minha boca.
O pescoço de Steven ficou totalmente vermelho por um instante e ele ergueu o braço, mexendo na gravata como se ela o estivesse sufocando.
"Não sou muito de flertes", ele admitiu, lentamente me guiando em uma valsa lenta. "Estou fazendo certo?"
"Está", sussurrei, me apoiando nos ombros dele como se a minha vida dependesse disso, pois, de repente, senti como se o meu corpo fosse derreter em seus braços. "Tudo pelo teatro com Alexia, não é?"
Steven não respondeu, apenas continuou olhando nos meus olhos.
Então eu respirei fundo, tentando relaxar e ser levada pelo ritmo da música.
"Só para você saber, você também não está nada mal", falei. "Cada mulher desse salão está com os olhos fixos em você."
Steven riu, os ombros sacudindo sobre os meus dedos.
"Assim como cada homem desse salão está com os olhos em você. Desde o momento em que chegou, eles mais parecem abutres famintos. Se não a tivesse chamado para dançar primeiro, já estaria cheia de pretendentes. "
Suspirei, olhando para ele de forma triste.
"Levando em conta que além de você e Sebastian todos aqui têm mais de quarenta anos, estou decepcionada."
Steven sorriu.
"Ah, é? E você está à procura de alguém?", ele perguntou, mas por trás da pergunta casual e brincalhona parecia haver algo realmente sincero ali.
"Não tenho certeza", respondi, pois aquela, por mais vaga que seja, era a única e verdadeira resposta. "E você?"
Steven segurou minha mão e me girou por um instante, fazendo com que o meu vestido vermelho rodopiasse maravilhosamente. Quando voltei aos seus braços, ele respondeu com uma voz rouca:
"Eu não sei. Acho que..." Ele suspirou, por um instante seus olhos se afastando e voltando a se encontrar com os meus. "Acho que sim."
Então a música terminou e outra começou, mas Steven e eu não saímos do lugar. Enquanto nossos corpos se moviam, tudo parecia perfeito e o mundo estava em suspenso, pelo menos até os olhares raivosos de Asha e do rei, perto do espaço onde dançávamos, me fizessem voltar à realidade.
"Acho que a princesa quer dançar com você", sussurrei baixinho para Steven, pela primeira vez errando um passo da dança que ele com tanto custo me guiava. "E o seu pai parece concordar."
Steven não respondeu, mas percebi pelas marcas vincadas em sua testa que aquilo o incomodou mais do que demonstrava.
"Não ligo", ele falou por fim, deslizando uma das mãos para a parte inferior das minhas costas, me puxando para mais perto. "Não quero dançar com ela. Então não vou."
Sem querer, soltei uma risadinha.
"Mas não é isso que esperam de você? Que dance com a princesa estrangeira?"
"É", ele respondeu. "E sei que vou acabar tendo de fazer isso. Mas não agora. Agora estou com você."
Eu sorri, apertando seu ombro levemente.
"Obrigada, Steven."
O príncipe ergueu a mão, afastando um cacho que havia caído sobre os meus olhos.
"Na verdade, eu acho que sou eu quem deve agradecer."
E então novamente eu me desliguei do mundo e de todas as pessoas naquele salão. Não havia mais ninguém ali, apenas Steven e eu.
"Ei, Layla?", ele chamou de repente.
"Sim?", perguntei em expectativa.
"Você acabou de pisar no meu pé."
Eu rapidamente abri a boca para pedir desculpas, envergonhada, mas quando vi a expressão de Steven, tentando segurar o riso, me calei.
"Idiota", reclamei, embora também não conseguisse segurar a risada.
"Desculpe, não consegui resis... Ai!"
Olhei para ele inocentemente, piscando.
"O que foi? Pensei que você queria uma amostra de verdade."
"Engraçadinha..."
Então a música lentamente atingiu seu ápice. E, quando pensei que meu coração iria estourar de emoção e que meu corpo se perderia para sempre naquela dança com Steven, ele sussurrou:
"Se segure, eu vou te girar no ar. Faz parte da dança."
"Espera um pouco, o quê?"
Mas antes que eu pudesse questionar mais alguma coisa, as mãos fortes e firmes de Steven me seguraram pela cintura e me girou no ar em um círculo completo, como os outros casais ao nosso redor também fizeram.
Quando meus pés tocaram novamente o chão, eu estava ofegante e meu coração batia acelerado.
"Não faça mais uma coisa dessas", disse sem ar, fazendo com que Steven risse.
Tão lindo...
"Tarde demais. Segure-se."
E, naquele momento, enquanto girava no ar com as luzes dos imensos lustres de cristal iluminando o meu rosto e o de Steven, que me olhava como se eu fosse a coisa mais preciosa de todo mundo, eu soube que aquela viagem a Steinorth tinha valido à pena.
Não importava o que poderia acontecer dali para frente, pois de algum modo eu soube que jamais seria a mesma depois daquilo.
E aquilo, surpreendentemente, era agora maravilhoso.
Naquele instante, com a música preenchendo todos os cantos do salão, o barulho de um fogo de artifício se fez ouvir. E ao olhar pela janela, vi o céu ser colorido de branco.
Depois de rosa.
E verde.
E todas as cores existentes.
"É meia-noite", Steven disse então, quando todos pararam de dançar e correram para as janelas para ver o espetáculo no céu. "É uma tradição do palácio..."
"Soltar fogos de artifício a meia-noite durante o Baile Real", completei com um sorriso, de olhos arregalados olhando para a janela mais próxima. "Eu li sobre isso. Ah, Steven, é lindo..."
Ele sorriu e me conduziu até a janela mais próxima, onde Alexia, Lilian e mais um punhado de outros nobres que eu não conhecia observavam o céu.
"É tão lindo!", Lily sussurrou ao meu lado, olhando para o céu com os olhos marejados. Um fogo de artifício azul explodiu, iluminando nossos rostos. "Não é magnífico, Alex?"
Alexia abriu um sorrisinho, olhando para Lilian com ternura. Esta, por sua vez, retribuiu o olhar.
E podia ser só uma ilusão dos fogos de artifício vermelhos que explodiram naquele instante, mas eu podia apostar que o rosto de Lily corou completamente.
"É. É lindo sim", minha amiga concordou.
Eu sorri, me virando para o show no céu e me sentindo... Ah, eu não sabia como eu me sentia.
A música, as cores no céu e a companhia de Steven, tudo parecia se encaixar e tornar o momento perfeito. Tão perfeito que eu queria que durasse para sempre.
Então fogos multicoloridos foram lançados de uma só vez no céu, fazendo com que eu arquejasse e olhasse para tudo como se fosse uma criança de novo, encantada pelas pequenas coisas da vida.
"Olhe, Steven, não é...", eu comecei a dizer, me virando para ele e percebendo que o príncipe já estava olhando para mim, os olhos claros transbordando gentileza e... E de algo que eu não sabia muito bem o que poderia ser.
"Maravilhoso?", ele sugeriu em um sussurro, fazendo com que apenas eu ouvisse. "É. É sim."
E, para todos os efeitos que aquilo poderia causar, tanto para as pessoas quanto para o meu coração, ele entrelaçou sua mão na minha.
E eu aceitei. Porque, sinceramente, aquela parecia ser a coisa mais certa no mundo.
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GALERIA
Oiii gente! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Eu realmente espero que vocês tenham gostado desse capítulo (que teve de ser dividido em dois por ser simplesmente gigante). Foi gostoso demais escrever sobre esse baile e tudo o que aconteceu nele, por isso já estou aqui super empolgada para ler os comentários de vocês!
Aliás, se acharem que esse formato de duas partes está bom, posso continuar postando alguns capítulos maiores assim, porque eu imagino que deve ser cansativo ler algo tão grande em formato digital ):
Bom, por hoje é isso gente. Beijos repletos de amor e fogos de artifício para vocês!
Ceci.
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