Capítulo Vinte, parte I - Layla

Sentada no chão em um canto do meu quarto, eu estava dividida entre surtar, escutar Lilian, acalmar Alexia e chorar. Todas as quatro opções provavelmente iriam requerer muito esforço da minha parte, por isso apenas fiquei ali sentada, tentando ignorar a revolta que gritava em minha mente e a ardência em meus olhos.

Desde o momento em que coloquei os pés naquele país, nunca desejei tanto ir embora como naquele momento.

"Eu vou matá-la!", uma voz disse, parecendo vir de um lugar bem distante. "Eu juro que vou. Por Cristo, quantos anos aquela garota tem? Cinco?!"

"Alexia, por favor!", outra voz disse desesperada, e eu precisei usar toda a minha força de vontade para erguer os olhos e encarar uma Alexia enraivecida de ódio, sendo segurada por Lilian para que não atravessasse a porta do quarto. "Você vai acabar fazendo uma besteira!"

"É claro que eu vou!", gritou Alex, se desvencilhando dos braços de Lilian. Seu rosto estava transtornado e veias saltavam de seu pescoço e testa. Eu nunca a tinha visto tão nervosa. "Eu vou fazer uma besteira na cara da sua prima! Eu quero que alguém tente me tirar de cima dela, quando..."

"Alex", supliquei baixinho, escondendo o rosto nas mãos e respirando fundo antes de continuar. "Esqueça isso. Por favor."

"Esquecer?", Alex gritou incrédula, caminhando até mim a passos largos. "Layla isso é...", ela pensou por alguns instantes, balançando as mãos no ar como se não conseguisse encontrar as palavras certas, "é inaceitável! Não pode ficar assim. Se ela achou por um segundo que faria isso com você e sairia impune, estava redondamente enganada. Tio Carl vai me ouvir e eu juro que não vou..."

"Talvez não tenha sido ela", falei, tentando convencer mais a mim mesma do que qualquer outra pessoa. "Talvez tenha sido..."

"O que, Layla?", disse Alex, com uma voz esganiçada. "O gato do palácio? Eu não sei se você já percebeu, mas nós não temos animais aqui! Ah não ser, é claro, a vaca daquela..."

"Chega. Por favor", pedi, lentamente me levantando e caminhando até a cama.

Olhar para os pedaços do vestido destruído fazia o meu coração doer e minha garganta se fechar em um grande nó. Em qualquer outra situação, eu me acharia a mais fútil das garotas por me sentir daquele jeito por conta de um vestido, mas para mim não era um vestido. Era algo que tinha me feito sentir bonita, segura e bem comigo mesma. Era a minha passagem para um baile que poderia ser inesquecível se eu me permitisse ser eu mesma e aproveitar o momento. Pois, antes de entrar naquele quarto e ver tudo destruído, sabia que aquela situação seria uma boa história para um dia contar para os meus filhos e netos. Um baile real como nos filmes? Era algo emocionante para uma garota do interior da Escócia como eu.

Mas agora já era. Não adiantava eu me lamentar.

"Foi ela", a voz de Lily disse baixinho, quando comecei a limpar toda aquela bagunça com objetivo vão de ocupar minha mente. "Eu sei."

Por mais que quisesse esquecer aquilo e simplesmente enterrar a cabeça na areia, fingindo que nada daquilo tinha acontecido, a curiosidade e a revolta afloraram dentro de mim e eu ergui os olhos para Lilian, que torcia as mãos sem parar.

"Por quê?", foi a única coisa que consegui dizer, olhando para ela. "Por que ela fez isso? O que eu fiz para ela?"

E ao dizer aquelas palavras as lágrimas vieram com força total até os meus olhos. De repente eu queria esmurrar alguma coisa, descontar em algo aquilo que parecia me sufocar por dentro.

Pela primeira vez desde que vi o que tinha acontecido, realmente desejei colocar minhas mãos em Asha.

"Não é o que você fez para ela", disse Lilian com um suspiro pesado, sentando-se na beirada da minha cama e encarando o carpete com pesar. "O problema é ele. O príncipe."

"Steven?", perguntei, me sentando ao lado dela. "Eu não enten..."

Mas, antes que eu pudesse completar a frase, tudo se encaixou perfeitamente. E, apesar de fazer sentido, a ideia era simplesmente absurda e mesquinha demais para que eu a aceitasse.

"Ela gosta dele. Sempre gostou, mesmo quando era criança", Lily começou a dizer, e eu me senti aliviada quando vi Alexia se sentar do lado dela também, sua raiva aparentemente sendo um pouco aplacada pela curiosidade. "Desde que chegamos aqui, o único assunto de Asha é o príncipe Steven. Ela está platonicamente apaixonada por ele. Muito. Asha nunca gostou de um garoto antes, sabe? Em Liechtenstein, ela não tem muito contato com outras pessoas e geralmente os rapazes que os pais dela lhe apresentam não chamam sua atenção." Lilian parou por um segundo, massageando a ponte do nariz. "Eu imagino que quando ela veio para cá de novo esse ano não esperava ter concorrentes e finalmente iria conseguir alguma coisa com o príncipe herdeiro, mas então se deparou com você." Lily olhou para mim, os olhos cansados me encarando. "Desde que chegamos ela tem te observado e não para de falar como acha que você tem alguma coisa com ele. Com o príncipe. Ontem, antes de irmos até Arthenia, ela deve ter colocado na cabeça que estava certa, diante da proximidade com que vocês dois se trataram na Sala de Chá. Ela falou sobre isso a noite toda."

"Ela é louca", resmungou Alexia. "Só pode ser maluca..."

"Asha é ciumenta e possessiva", Lilian corrigiu. "E aparentemente, nenhum pouco ligada à união feminina. A vida toda ela foi assim e ninguém nunca se preocupou o suficiente para freá-la. E agora parece que as coisas saíram do controle."

Lilian então pegou um pedaço do tecido destruído que estava em cima da cama, olhando-o como se fosse a prova de que estava lamentavelmente certa.

"Sinto muito Layla", ela disse, erguendo os olhos para mim. "Eu devia ter te falado sobre isso, mas achei que essa paranoia da Asha ia passar. Mas não vai. Ela sempre teve tudo o que quis e os pais dela são, em parte, responsáveis por isso, por mais que não vejam, e agora parece inaceitável que ela perca o garoto que está a fim para quem quer que seja."

"Você não precisa se desculpar", falei para Lilian, segurando de leve sua mão na minha. "Não tinha como você saber que ela faria isso."

Lily assentiu devagar, mas percebi que ela ainda não tinha se convencido muito bem disso.

Atordoada por tudo o que Lilian tinha dito, não consegui deixar de pensar que, além de lidar com todo aquele drama com Asha, eu também não conseguia parar de pensar que todos ao meu redor, aparentemente, pareciam ver entre mim e Steven algo que não existia. Ou, pelo menos, algo que eu tentava me convencer que não existia.

Mesmo tentando me enganar, eu sabia que havia algo bem ali no meu peito que ascendia toda vez que via o príncipe e mesmo quando eu não o via.

Tudo tinha ficado mais confuso desde o Natal, mas, surpreendentemente, também parecia ter ficado mais claro desde aquele dia.

Eu estava justamente pensando sobre isso quando meu celular apitou da cômoda. Me levantei e o peguei, lendo a mensagem de Steven com um nó na garganta.

Quando o respondi, dizendo que não iria ao baile, foi como se eu própria estivesse enfiando uma faca no meu coração, porque a verdade é que eu queria ir sim. Queria dançar com ele todas as danças possíveis, mesmo sabendo que acabaria torcendo um tornozelo por ser a pior dançarina de todos os tempos.

"Vocês deviam ir", disse então, olhando para Alex e Lilian, que estavam sentadas uma do lado da outra em um silêncio imperturbável. Porém, assim que disse isso, elas se levantaram em um pulo e me olharam como se eu fosse louca.

"Eu não vou ir sem você", disse Alex, no mesmo instante em que Lilian falou:

"Você vai sim, nem que para isso te embrulhemos em uma cortina."

Eu abri um sorrisinho triste, apesar de tudo grata por tê-las ao meu lado.

"Não dá", disse simplesmente. "Não tenho um vestido e os do armário, por mais que sejam magníficos, não são apropriados para o baile. Acreditem, eu li e vi muitas fotos sobre esse evento na Internet. Lá embaixo estarão pelo menos cem nobres de todos os cantos de Steinorth vestidos como se estivessem no tapete vermelho."

Tanto Alexia quanto Lilian abriram a boca para contestar, mas obviamente nenhuma palavra foi pronunciada.

Às vezes eu odiava estar certa.

Porém, antes que elas conseguissem dar mais alguma sugestão, a porta do meu quarto foi escancarada.

Pelo vão da porta, Margot e Sebastian apareceram eretos e com olhares determinados, esquadrinhando o quarto com os olhos atentos até me encontrarem.

Mal sabia eu que eles - aquelas duas crianças de onze anos que colocavam pobres tutoras para correr usando métodos de tortura como ratos mortos - seriam a minha salvação.

"Certo, Layla, você não quer mesmo que a gente acredite que um gato entrou no castelo e fez isso com o seu vestido, não é?", perguntou Margot, erguendo um pedaço do tecido em frangalhos no ar, bem próximo ao seu rosto. "Pois eu posso não ser muito inteligente ou algo assim, mas isso é simplesmente ridículo. Qualquer um inventaria uma desculpa melhor. Tipo, eu não sei, mas que tal alguém malvado e que não gosta de você entrou aqui e fez isso? Seria mais convincente."

"E emocionante", acrescentou Sebastian.

"E emocionante", concordou Margot, olhando para o irmão.

Eu suspirei, olhando para Alexia que parecia agora mais calma e propensa a não matar alguém.

"Bom, digamos que eu simplesmente não quero falar sobre isso", disse novamente para os gêmeos. "Vocês aceitam?"

"Em um dia qualquer, não", falou Margot, largando o pedaço de tecido e se virando para mim com os braços cruzados. "Mas hoje não é um dia qualquer e não temos muito tempo. Você precisa de um vestido o mais rápido possível, se não vai chegar atrasada no baile. As pessoas diriam que isso não é elegante, mas eu digo que a Cinderela só chamou a atenção que devia porque a fada madrinha atrasou um pouco no serviço."

Ao lado de Alex, Lilian soltou uma risadinha.

"Ela é sempre tão articulada e inteligente assim?", ela sussurrou para Alex.

"Só nos dias que a convêm."

Eu olhei para Margot e Sebastian, dividida entre querer abraçá-los e dizer que eles eram uma das melhores coisas que tinham me acontecido desde que cheguei ao castelo e mandá-los não perderem tempo comigo. Era um caso perdido.

"Eu sinto muito, gente", falei, me aproximando deles. "Mas não tem nada que vocês possam fazer, de verdade. É melhor irem para o baile. Não quero que o pai de vocês ou a rainha fiquem preocupados."

Sebastian riu.

"Layla, essa não é a prioridade no momento, tá bom?", ele falou. "Além disso, Steven já está no salão. Ele sozinho mantêm todos entretidos por um bom tempo."

"E quem disse que não tem nada que possamos fazer?", questionou Margot, olhando obstinada para mim. "Na verdade, eu acho que foi até bom que esse seu vestido fosse destruído de forma misteriosa. Eu tenho um bem melhor para você."

"Você?", perguntou Alexia, erguendo uma sobrancelha para a prima. "Como?"

Margot sorriu modestamente.

"Me sigam e vão ver."

E dizendo isso ela sussurrou algo no ouvido de Sebastian, que arregalou os olhos e olhou para a irmã, empolgado.

"É perfeito!"

Eu estava prestes a dizer que aquilo não era uma boa ideia e que devíamos todos esquecer aquilo, mas então Alex se aproximou de mim, os olhos verdes se encontrando com os meus.

"Pode parecer loucura, mas acho que temos que confiar neles", ela disse, em seguida lançando um olhar carinhoso para os primos. "Se eles fossem mais ouvidos, acho que o mundo já seria um lugar melhor. Eu vou ligar para os meus pais e dizer que houve um imprevisto, que podem ir até o salão sem nós."

"E eu vou me encontrar com Asha", disse Lily baixinho, também se aproximando. "Ela não para de me mandar mensagens e é melhor que eu a encontre logo." E, em seguida, Lilian olhou diretamente para mim, o rosto sério. "Se você quiser, posso arrancar a verdade dela, por mais que eu não duvide que ela própria vá me contar o que fez. Eu acho..." Lilian suspirou. "Acho que ela não sabe que me tornei amiga de vocês desse jeito."

Dentro do meu peito, senti meu coração bater descontrolado. Se havia alguma chance de eu aparecer naquele baile... Eu iria agarrá-la. Iria agarrá-la e não precisaria lavar a roupa suja com a princesa.

Pelo menos não por enquanto.

"Não diga nada", disse por fim. "Finja que não sabe. Vou deixar essa passar."

Alexia olhou para mim como se eu fosse maluca, mas não me importei. Por ora, era aquilo que iria fazer.

"Bom, então é melhor irmos logo, não é?", disse Margot, se aproximando do círculo que Alex, Lilian e eu tínhamos formado. "Eu posso estar errada, mas Arabella deve estar procurando Sebastian e eu pelo palácio todo. Não podemos demorar."

"Certo", falei determinada, me virando para os gêmeos. "Não sei o que vocês têm para mim, mas estou ansiosa para descobrir."

A caminhada pelos corredores do palácio não foi fácil, isso levando em conta os meus saltos altos - que Margot tinha me forçado a calçar de uma vez - e as duas voltas por caminhos mais longos que tivemos que dar para evitar a rainha, que estava realmente à procura dos gêmeos.

Quando finalmente chegamos ao quarto de Margot eu estava agitada e esperançosa que tudo aquilo tivesse valido à pena, pois agora não só eu como Alexia e os gêmeos também estavam atrasados para o baile, o que poderia causar problemas para os três.

"Certo, fada madrinha, realize a sua mágica", disse Alex quando fechamos as portas atrás de nós. Ela estava recostada na parede do quarto massageando os tornozelos, que provavelmente estavam doloridos devido à longa caminhada. "O que você tem aí que pode ajudar Layla?"

Margot não disse nada, apenas sorriu e caminhou junto com Sebastian até um baú de madeira que ficava aos pés de sua cama branca de dossel.

Antes de abrir o baú, ela olhou para mim com um sorriso e disse:

"Você tem que prometer que não vai pirar."

Eu abri um sorriso, sentindo ondas de expectativa borbulharem no meu estômago.

"Eu prometo."

Porém, no instante em que Margot abriu o baú e tirou de lá de dentro um vestido vermelho, eu soube que não deveria ter prometido aquilo.

Instantaneamente eu levei as mãos à boca, sufocando um grito. Atrás de mim Alexia arfou e se aproximou aos tropeços, os olhos praticamente saltando das órbitas.

"Mas o que..."

Margot riu, se aproximando de nós com o vestido nos braços, que por conta de sua altura se arrastava pelo chão.

"Ele está um pouco amarrotado, mas acho que não temos tempo de chamar um criado para dar um jeito nisso agora. Aposto que ninguém vai perceber, afinal de contas."

"É claro que não vai", disse Sebastian ao lado da irmã, revirando os olhos. "Ninguém percebe essas coisas. Não os garotos pelo menos."

Margot estendeu o vestido para mim, mas minhas mãos estavam tão trêmulas que eu temi pegá-lo.

Aquele vestido...

Ele era magnífico. Não só perfeito por sua beleza, mas perfeito para mim, pois era exatamente o tipo de coisa que eu usaria sem pestanejar.

Ele era vermelho, mas não um vermelho berrante ou apagado demais, estava mais para o vinho, mas não tão escuro assim. A saia era bastante rodada e brilhante, de modo que cintilava dependendo de sua posição em relação à luz. O corpete parecia justo, mas, ao olhá-lo, percebi que não me apertaria demais na cintura. O decote não era cavado demais, graças a Deus, e eu percebi, quando Sebastian revirou o baú, que havia luvas também vermelhas que acompanhavam o vestido, daquelas que vão até os cotovelos.

"Margot...", sussurrou Alexia, ainda embasbacada. "Onde você conseguiu isso?"

"Era da minha mãe", a princesa disse, analisando o vestido com um olhar carinhoso. "Eu devia ter uns nove anos quando papai me chamou e me mostrou um armário cheio dos antigos vestidos dela. Ele disse que iria doá-los e vendê-los, porque não achava certo ter tanta coisa parada ali sem ninguém usar, mas pediu para que eu escolhesse um." Margot suspirou, prendendo uma mecha do cabelo castanho atrás da orelha. "Ele disse que eu poderia guardar até ter tamanho para vesti-lo, mas que também poderia ter de recordação. Vocês sabem, eu não cheguei a conhecê-la realmente, por isso não é como se me lembrasse dela usando qualquer um daqueles vestidos. Mas quando vi esse... Ah, parecia bem o tipo de coisa que eu usaria."

Devagar, me aproximei de Margot, me curvando para ela e colocando uma mão em seu ombro.

"Margot, não sei se posso aceitar", disse baixinho. "É muito importante para você."

Margot ergueu os olhos para mim no mesmo instante.

"É claro que você vai aceitar!", ela falou com veemência, praticamente jogando o vestido para cima de mim. "Layla, você vai nesse baile nem que para isso Sebastian, Alex e eu te joguemos escadas abaixo."

Eu sorri, sentindo minhas mãos suarem.

Então encarei Alexia, que olhava de mim para o vestido e do vestido para mim.

"O que diabos você está esperando?", ela perguntou alguns segundos depois, sorrindo para mim. "Quer que Margot também agite uma varinha e faça o vestido aparecer magicamente no seu corpo? Ande já para o banheiro e o coloque!"

E, segurando o tecido pesado com as mãos trêmulas, eu segui a ordem de Alexia.



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