Capítulo Vinte Oito - Layla
Se alguém me perguntasse hoje, eu ainda diria que não sei como cheguei até Steven naquele dia.
O temporal não deu trégua nem por um segundo e eu facilmente poderia me perder nas rodovias de Steinorth, ou, pior ainda, na minha própria cabeça.
Querendo ou não, aquele medo não tinha me abandonado por completo em um momento de necessidade. Eu sabia que as coisas não funcionavam assim, mas para mim aquela pequena vitória já era mais do que o suficiente.
O importante foi que eu cheguei até ele. E descobri a verdade.
"Eu não sabia que você tinha carteira de motorista", disse Steven naquele instante, enquanto estávamos sentados em seu carro olhando para frente. Tínhamos ficado em silêncio total por pelo menos dez minutos, porque eu, pelo menos, não fazia ideia do que dizer. Meu cérebro ainda parecia ter dificuldade em processar que possivelmente a atual rainha tinha matado a mãe de Steven.
"É?", perguntei de forma automática, sem nem piscar. "Consegui a minha um pouco depois de fazer dezoito."
"Legal."
Três segundos. Foi isso que eu aguentei de mais silêncio até me virar para Steven de súbito.
Ele olhou para mim.
"Tá legal, escuta, como você sabe que é ela? Eu sei que disse que vamos pegá-la, e nós vamos, mas ainda não consigo..."
Eu me calei, sentindo a mão grande e forte de Steven segurar a minha. Ergui a cabeça e encarei seus olhos claros, que além de tristeza pareciam carregar uma grande determinação.
Determinação essa que eu não tinha no momento.
"Você sabe de quem é essa casa?", ele disse, indicando a casa de campo atrás de nós. Eu fiz que não com a cabeça. "É de Jamie Lawford, irmão de Arabella e primo em primeiro grau da minha mãe. No dia em que minha mãe morreu, Arabella veio para cá dizendo que passaria uma temporada com o irmão, coisa que nunca faria normalmente. Ela dispensou os empregados e ficou sozinha com ele. Jamie me contou que ela lhe ofereceu um chá, que eles conversaram por algum tempo e que depois ele dormiu repentinamente." Steven suspirou, massageando as têmporas. "Quando acordou, ela já não estava mais aqui. Ele disse que dormiu por horas, tempo suficiente para..."
"E se ele estiver mentindo?", perguntei, mesmo sabendo que aquilo era apenas algo para tentar me defender da verdade terrível. "E se..."
"Jamie detesta a irmã, Layla, isso é verdade, mas é um bêbado que eu ofereci bastante dinheiro para abrir a boca. Também não sei se posso confiar nele, mas acredito no que fala. De todo modo, se lembra de Julian?" Os olhos de Steven cintilaram e vi suas mãos se fecharem em punhos. "Ele disse que a minha mãe tinha atendido o celular enquanto estava em sua padaria, disse que parecia alegre e que estava indo se encontrar com alguém. Com Arabella. De algum modo que eu ainda não sei, ela conseguiu armar tudo isso e atrair minha mãe para aquele penhasco. Depois que a matou, voltou para a casa do irmão que acreditava ainda estar dormindo para construir seu álibi."
Durante todo o tempo em que ele falou, eu nem pisquei. Não conseguia me mover.
Eu tinha ido até Steinorth para sair da minha zona de conforto, e se aquilo não era o mais longe que eu já tinha ficado dela eu não sabia o que era. Até porque, quando geralmente acontece quando saímos de um lugar seguro, o medo em meu estômago era a coisa mais real que eu conseguia sentir no momento.
"Certo", murmurei, passando as mãos pelos cabelos e apoiando os cotovelos nas coxas. Minha cabeça parecia a ponto de explodir. "Então nós temos o que a Mulher Misteriosa quer, não é? Temos nossa própria suposição sobre quem é o assassino. Podemos nos encontrar com ela."
Steven assentiu ao meu lado, e no mesmo instante se inclinou para mim e abriu o porta-luvas, tirando de lá um caderno velho e uma caneta.
"Vou escrever para ela de uma vez", ele disse, abrindo o caderno em uma folha em branco. "Quero vê-la amanhã ou depois de amanhã. O mais rápido possível."
"Você sabe que daqui a dois dias é o ano novo, não sabe?", perguntei quando o fato repentinamente me ocorreu, enquanto via a letra perfeita de Steven ocupar as linhas da folha. "É incrível como tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo." Agora eu já estava falando mais para mim mesma do que para ele. "Todo esse mistério, a visita a Scarlet, nós dois... Às vezes acho que nada disso é real. Que é só um sonho muito louco que estou tendo na minha cama na Escócia e que daqui a pouco vou acordar." Eu parei, percebendo que Steven, apesar de tudo, olhava para mim com carinho e com um sorrisinho triste. "Mas eu não quero acordar", falei por fim, ouvindo o som da chuva do lado de fora. "Apesar de tudo, não quero acordar."
Steven segurou minha mão e eu apoiei minha cabeça em seu ombro. Nós dois olhamos para frente, para além do para-brisa como se em algum lugar por ali nós pudéssemos ver o futuro e o que ele nos reservava.
"Não sei se consigo voltar para lá, Layla", Steven disse baixinho, passando o polegar suavemente pelas costas da minha mão. "Não sei se consigo olhar para ela e não perder a cabeça. Todos esses anos, todos os segundos que respirei o mesmo ar que a mulher que matou a minha mãe, convivi com ela. E ela sempre mentiu. Sempre olhou para mim e para os meus irmãos como se nada tivesse acontecido. Como ela conseguiu esconder isso por todo esse tempo?"
Eu suspirei, também tentando entender.
"Ela tem um motivo. Não acho que apenas a ambição seja ele. Tem de ser algo forte, algo que ela acreditasse tanto que acabasse matando a própria prima por isso. Seja lá o-que-for, A Mulher Misteriosa vai saber responder."
Eu ergui a cabeça, agora olhando séria para Steven.
"Você vai ter de saber mentir tão bem quanto ela pelos próximos dias, Steven", falei. "Se Arabella desconfiar, se ela perceber uma mudança no seu timbre de voz com ela, tudo pode ir para o buraco." Eu suspirei, sentindo meu coração doer ao pensar em como aquilo seria difícil para ele. Mas era preciso. "Não compareça aos jantares se não quiser, invente uma gripe, mas nos momentos em que estiver com ela, nada pode parecer diferente."
Lentamente, Steven assentiu, apertando minha mão na dele.
"Você vai comigo? Se encontrar com essa mulher?" Ele indicou a folha de papel semiescrita.
"Eu te mataria se não me levasse", ameacei com um sorrisinho. "Começamos isso juntos. Agora vamos juntos até o final."
Steven sorriu tristemente, acariciando meu rosto.
"Pelo menos até você entrar em um avião e me deixar para trás, não é, Srta. Bennett?"
Eu senti um nó imenso se formar em minha garganta, quase me impedindo de respirar.
"Não vamos falar sobre isso", pedi baixinho.
"Certo. Mas só porque agora temos problemas maiores."
Ele se inclinou e me beijou de leve, em seguida se afastando e colocando as mãos no volante do carro.
"Já estou bem o suficiente para dirigir e o tempo está melhor para voltarmos. Você vai no outro carro?"
Eu assenti, tentando me recompor.
"Vou sim. Preciso entregá-lo em perfeito estado no estacionamento, caso contrário ninguém nunca mais vai me deixar por as mãos em um automóvel do palácio."
Steven deu de ombros.
"Eu deixaria."
"Porque você é um fofo."
Então eu sai do carro de Steven e corri para o outro, me trancando na cabine e seguindo as luzes do carro dele para voltar ao palácio.
Durante todo o trajeto, o rosto da rainha pairou em minha mente como uma maldição, e me perguntei se seria eu, ao contrário de Steven, que conseguiria manter a máscara perto dela.
Você foi ao lugar certo. Jamie Lawford sempre teve as respostas que você precisou.
Sei que não está sendo fácil. Sei que manter as aparências é difícil para a maioria das pessoas. Mas não para Arabella.
Nunca foi difícil para ela.
Agora nós finalmente podemos nos encontrar. Na verdade, está mais do que na hora de esclarecermos tudo. Você ainda tem mais coisas para saber do que imagina, Alteza.
Eu tenho um plano e estou ansiosa para passá-lo a você. Teremos que agir depressa. Tenho certeza que agora mais do que nunca você quer ver a responsável pela morte de sua mãe atrás das grades para sempre.
Me encontre na casa da colina hoje às onze da noite. Ninguém a vigia durante a noite, por isso é seguro que nos encontremos lá. Espero que você consiga a chave. Não consigo ajeitar todos os detalhes, afinal de contas.
Mantenha-se firme Alteza, lembre-se que se Arabella desconfiar de algo tudo estará perdido.
Ela nunca hesitou em eliminar pessoas no seu caminho para conseguir o que quer ou alimentar seus próprios desejos. Se ela desconfiar que você sabe o que aconteceu há dez anos, seus dias estarão contados, por mais que tente se proteger.
Até logo.
"Meu Deus", sussurrei depois de ler a carta que Steven me entregou. "Ela consegue mesmo assustar alguém. Me pergunto como ela deve ser. Estou ansiosa para conhecê-la, apesar da situação."
Steven não respondeu, apenas se deitou na minha cama e fechou os olhos.
"Estou prestes a enlouquecer. Juro."
Eu larguei a carta da Mulher Misteriosa e fui até ele.
"Não consigo olhar para Arabella, Layla. Não consigo ficar nesse lugar. Eu sou sortudo se ela ainda não tiver notado nada."
"É claro que não notou", falei com horror, porque aquela ideia era terrível demais até mesmo para ser cogitada. "Quantas vezes você a viu desde ontem? Uma?"
"Duas", ele disse, agora abrindo os olhos para me encarar. "Encontrei com ela quando estava no quarto de Margot."
Mordi o lábio inferior, me remexendo na cama.
"E se Jamie abrir a boca?", ele questionou de repente, se sentando tão rápido que quase me derrubou da cama de susto. "E se ele já tiver contado para ela?"
"Não seja bobo, Steven", falei, olhando para trás e conferindo minha porta trancada. "E fale baixo."
Steven passou as mãos pelos cabelos e vi que ele arrancava alguns fios em nervosismo.
Segurei seus braços e o fiz olhar para mim.
"Sei que você está à flor da pele, eu também estou, mas se não agirmos com naturalidade não vamos conseguir resolver isso. Alexia já percebeu que desde ontem você anda estranho, não precisamos de mais alguém achando que algo aconteceu."
Steven suspirou.
"É difícil demais. Quando encontrei meu pai para tomar café hoje de manhã, tudo o que consegui pensar foi em que a mulher dele está morta por conta de Arabella, que ele se tornou o que é hoje porque não conseguiu lidar com a dor de perder minha mãe daquele jeito. E quando vejo Sebastian e Margot..." Steven desviou os olhos dos meus. "Eles não têm recordações dela. Não se lembram nem da voz da minha mãe. A perderam quando ainda eram bebês e isso não pode ser mudado."
Eu senti meu coração doer ao ouvir aquilo, porque, apesar de estar acompanhando tudo de perto, eu não fazia ideia da dor que Steven estava carregando naquele momento nem do autocontrole que tinha de ter.
"É engraçado", ele falou depois de um tempo, os olhos perdidos em algum ponto. "Até hoje de manhã, quando ainda não tinha ido até a Fonte do Anjo e encontrado a resposta dessa tal Mulher Misteriosa, uma parte de mim ainda queria acreditar que talvez não tivesse sido Arabella. Que eu tinha tirado conclusões precipitadas. Agora..." Ele soltou uma risada seca. "Isso só me mostrou como eu estou sempre errado sobre a maioria das coisas."
Eu segurei a mão de Steven, fazendo-o olhar para mim.
"Só aguente até hoje à noite, ok?", falei baixinho. "Depois disso vamos ter um plano. Algo em que nos concentrar para fazer justiça." Eu suspirei, olhando preocupada para o rosto de Steven. Ele estava péssimo. "Sei que você não dormiu nada noite passada, dá para ver no seu rosto. Se quiser, pode ficar aqui hoje até o momento de irmos encontrá-la. Ninguém vai descobrir."
Steven abriu um sorrisinho cansado, algo grande e bom comparado ao seu estado nas últimas vinte e quatro horas.
"Dormir aqui? Parece que estamos avançando cada vez mais no nosso relacionamento nos últimos três dias."
Eu ri, lhe dando um empurrãozinho.
"Pare de ser bobo. Nós podemos disfarçar e chamar Alex também, para uma noite maratonando alguma série. Acho que Alexia me contou que você gosta de programas policiais."
Steven fez uma careta.
"Nada de mistérios e pistas e testemunhas para mim por um longo tempo, Layla, obrigado."
Eu abri um sorrisinho triste, agora também me jogando na cama e fechando os olhos por um instante.
"Se nós sairmos dessa, se conseguirmos solucionar tudo isso antes de eu voltar para casa, vou ter uma história e tanto para contar para minha família."
Eu não podia ver Steven, mas tinha certeza que o ouvi sorrindo. Por detrás das pálpebras, podia enxergar seu rosto perfeitamente, que querendo ou não já estava gravado em minha memória.
"Não sou muito de contos de fadas, mas eu gostaria que esta história tivesse um final feliz."
"Ela vai", falei, porque aquela era a coisa certa a dizer e eu precisava garantir que aquele homem maravilhoso e gentil ao meu lado não enlouquecesse pelas próximas horas. "Você vai ver."
Pelo menos, pensei, com meu coração batendo ligeiramente acelerado no peito, é o que eu espero.
_____________________❤️_________________
Oii meus amores! Como vocês estão? Vocês não fazem ideia de como estou feliz por ter conseguido voltar a postar nessa quarta-feira kkkk Estava super ansiosa para soltar esse capítulo!
Então, o que acharam? Sei que ele é curtinho e não tem grandes acontecimentos, mas eu precisava ter "uma ponte de ligação" para o que vai acontecer no próximo capítulo. Aliás, já adianto que o capítulo 29 vai ficar bem grande. Se importam ou preferem que eu divida em duas partes e poste uma no dia e a outra no outro? Comentem aqui!
Bom, também aproveito o momento para anunciar que UAPOPH está chegando ao fim... Esse fim de semana sentei e planejei todo o final do livro e até agora (segundo minhas anotações) ele terá trinta e cinco capítulos, o que nos deixa com mais sete capítulos para finalizar essa história. (Capítulos intensos e cheios de ação, já posso adiantar. Já colocaram os coletes?)
Por hoje é isso pessoal! Espero que tenham gostado desse capítulo e vejo vocês no próximo! Mil beijos e tchau tchau.
Ceci.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top