Capítulo Seis - Layla


Uma batida na porta fez com que eu largasse meu livro e mancasse até lá. Definitivamente dois dias de movimentos limitados já estavam me dando nos nervos, e eu não via a hora de poder me livrar daquelas bandagens e da dor incômoda que sentia toda vez que pisava no chão.

Sentindo-me um pouco nervosa, abri a porta, sem ter ideia de quem poderia ser. Alexia não era muito do tipo que bate antes de entrar.

"Oi. Você está ocupada?"

Pisquei para Margot e Sebastian, que estavam parados diante de mim com olhares ansiosos.

Antes de responder, olhei para a minha cama bagunçada e o livro que tinha largado em uma parte não tão boa assim.

"Não", disse com um sorrisinho. "Vocês não estão fugindo de outra aula, não é? Porque se estiverem, eu infelizmente..."

"Nós já tivemos nossa aula de hoje", Margot falou com a voz arrastada. "Papai nos deu uma baita bronca e acho que não vamos fugir por um longo tempo..."

"Só estamos entediados", Sebastian explicou.

"Fomos até o quarto de Alexia, mas ela está há uma hora na banheira, cantando como se fosse a Beyoncé." Margot abriu um sorrisinho travesso. "Bom, pelo menos ela está tentando. Não garanto que os vidros das janelas continuarão intactos quando voltarmos."

"Bom, se vocês não têm mais nenhum compromisso de príncipes..." Eu espiei pela janela do quarto. Os flocos de neve constantes das últimas horas tinham parado de cair. "Que tal irmos lá fora? Com toda aquela neve nos jardins, podemos construir o maior boneco de neve do mundo!"

Margot e Sebastian trocaram um olhar apreensivo.

"Ah, não me digam que não podem ir lá fora", falei, erguendo as sobrancelhas.

Eu própria estava apenas esperando uma desculpa para sair ao ar livre. Já estava mofando ali dentro e minha mãe tinha me prendido no telefone por quarenta minutos para saber todos os detalhes da recuperação do meu pé machucado. Precisava urgentemente de ar.

"É claro que podemos ir lá fora", disse Margot. "Só não sabemos por quanto tempo vão deixar com que fiquemos lá sem antes alguém chamar Arabella."

Eu revirei os olhos ao ouvir aquilo.

Pelo amor de Deus! Aquelas crianças eram tratadas como bonecos de cera. Me surpreendia que eles - em especial Margot - ainda conseguissem ser sociais. Ou, pelo menos, quase isso.

"E eu preciso usar a minha cadeira de rodas especial para a neve", Sebastian comentou baixinho. "Essa aqui atolaria em dois segundos."

"Ok, chega de desculpas vocês dois." Entrei no quarto e comecei a revirar minhas coisas em busca de um cachecol, casaco e botas. "Me procuraram pois estavam entediados, não é? Bom, nós não vamos sentar aqui e conversar sobre o tempo, que por sinal é bastante imprevisível por aqui." Com cuidado, calcei minhas botas. "Vamos aproveitar que parou de nevar um pouco e vamos lá para fora."

Margot e Sebastian trocaram olhares e em seguida me fitaram com uma expressão estranha, como se eu fosse um ET ou algo do tipo, mas em seguida largos sorrisos se abriram em seus rostos.

Eu suspirei aliviada.

"O que estão esperando?", perguntei, em tom de brincadeira. "Não vou deixar com que saiam lá para fora desse jeito. Sebastian, procure um gorro e vista um casaco mais quente. Margot... Você gosta de calças?"

"Está brincando? Eu odeio essas coisas..." Ela olhou com desprezo para o próprio vestido de inverno. "É um saco ter que sentar-se direito com essas saias."

"Não diga saco", repreendi, saindo com eles do quarto. "Sebastian, você precisa de ajuda com a cadeira de rodas?"

"Ah, não", ele falou com um sorrisinho tímido. "Ela já fica montada e eu consigo me ajeitar nela sozinho."

"Ótimo", falei, bagunçando seus cabelos castanhos. "Agora, vocês dois, se agasalhem o máximo que puderem. Não querem dar motivos à rainha para os mandarem para dentro de novo, não é? Nos encontramos no saguão em dez minutos."

"Certo!", eles disseram em uníssono, disparando pelo corredor e logo sumindo de vista.

Devagar por conta do pé machucado, caminhei até o quarto de Alexia. Ela havia me mostrado onde estava instalada na noite anterior, quando outra tempestade caiu e eu tive medo de ficar sozinha. Para nós duas, que estávamos acostumadas a dormir encolhidas em noites chuvosas, aquela cama enorme de seu quarto foi como o paraíso.

Quando cheguei até lá, bati na porta.

"Entre!"

Empurrei a porta e entrei no quarto, me deparando com uma Alexia enrolada na toalha, secando os cabelos com um secador barulhento.

"Alexia!", exclamei, fechando a porta no mesmo instante. "Como você não perguntou quem era? E se fosse qualquer outra pessoa?!"

Alex apenas riu e desligou o secador, se virando para mim.

"Layla, as únicas pessoas que poderiam vir até meu quarto do castelo nesse Natal são você e Steven. Bem, Steven é meu primo e não faz meu o tipo, e você também não."

Eu revirei os olhos e me aproximei dela.

"E se fosse o rei?"

"Improvável. Ele fica quase todos os dias no parlamento. E por que ele falaria comigo?"

"A rainha?"

"É um sacrifício para ela até me dar boa noite nos jantares."

"Seus pais?"

"Podemos ficar nisso o dia todo, querida."

"Ok, certo. Você venceu." Me encaminhei até uma poltrona confortável que ficava perto da janela, me jogando ali. Ainda não conseguia ficar em pé por muito tempo. "Margot e Sebastian apareceram no meu quarto. Disseram que tinham terminado a aula com a Sra. Jones e estavam entediados. Os convidei para ir lá fora brincar na neve."

"Legal", comentou Alex, passando os dedos pelos fios curtos do cabelo. "Aproveitem enquanto Arabella não aparece."

Suspirei, olhando para ela impaciente.

"Por quê?", não pude deixar de perguntar. "Eles são príncipes, certo, mas ainda são crianças que daqui a pouco se tornarão adolescentes. Precisam de um pouco de diversão, de alegria... Vê-los sozinhos desse jeito, andando sempre juntos como se temessem perder um ao outro nesse castelo enorme, é terrível..."

Alexia suspirou e se virou para mim, os olhos tristes.

"Tio Carl sempre foi muito protetor em relação a eles. Foi com Steven também depois que a mãe deles morreu. Quando tio Carl se casou com Arabella, acho que ela também se sentiu responsável na tarefa de colocá-los numa bolha." Mordi o lábio inferior, sentindo meu coração dividido. "Isso, ou ela é simplesmente uma megera."

Soltei uma risadinha, revirando os olhos para Alexia.

"Eles eram muito novos?", perguntei, tensa de repente. "Quando a mãe deles morreu?"

"Tinham um ano. Steven tinha onze, a idade que eles têm agora."

Eu queria perguntar como aconteceu, mas não consegui. Tudo aquilo já era triste o suficiente.

"Então tio Carl se casou de novo um ano depois, com Arabella."

"Um ano?", perguntei, franzindo as sobrancelhas. "Não foi tanto tempo assim."

"É, eu sei que pode parecer meio errado. Mas o país estava triste, Arabella tinha jeito para os negócios - o que a tornaria uma boa rainha - e as crianças já a conheciam a vida toda."

"Conheciam?"

"É." Alexia se sentou na cama, perto de mim. "Até eu conhecia. Arabella era prima da primeira rainha, Louisa. Ambas pertenciam à família Lawford, netas do antigo conde de Partelia. Como moraram próximas a vida toda e tinham quase a mesma idade, foram melhores amigas. Quando Louisa se casou com o meu tio, ela convidou a prima para vir morar no castelo também. Arabella sempre a ajudou com as crianças e acabou administrando o palácio. Pelo menos é isso que eu sei."

"Uau", assoviei. "Não é meio esquisito que o rei tenha se casado com ela depois? Quer dizer, Arabella era a melhor amiga da esposa falecida!"

Alexia soltou uma risadinha.

"Bem, sim, mas ambos sofreram muito depois da morte dela e talvez aquilo os tenha unido de alguma forma. Eu não sei, Layla. Não sou boa em relacionamentos." Ela riu e se levantou novamente, pegando o secador. "Acho que o tio Carl pensava que precisaria de alguém para substituir Louisa para os filhos, e como ela já estivera presente na vida deles... Bem, eu não sei. Só sei que, apesar de nunca ter ido com a cara dela, Arabella é uma ótima rainha e praticamente ajuda Carl a governar daqui do palácio. Claro que isso não justifica o modo duro como ela age com os gêmeos, mas... Bem, cada um tem suas esquisitices, não é?"

Assenti, tentando digerir tudo aquilo.

"Prometo que não vou deixar nada acontecer com eles", sussurrei, mais para mim mesma do que para Alexia. "Só quero... Bem, eu gosto deles mesmo nos conhecendo há tão pouco tempo. Quero deixá-los contentes."

"Ah, eu sei, Lya..." Alexia se aproximou e passou um braço por meus ombros, me puxando para um abraço. "Sabe, eles também gostam muito de você, quase como gostam de mim, acredita?" Eu ri, a empurrando de brincadeira. "E eu acho maravilhoso que você esteja tomando essa iniciativa. Eu mesma, apesar de tentar entretê-los o máximo possível nos dias que passo aqui, nunca consegui ir muito longe. Talvez você consiga. Eles são maravilhosos e merecem isso."

Sorri, sentindo um calor se espalhar pelo meio peito.

"E enquanto a Steven? Sei que os gêmeos gostam dele, mas não os vi muito juntos desde que cheguei."

Alexia simplesmente deu de ombros, os olhos fixos no carpete.

"Eles passam tempo demais longe um do outro. Sei que tentam se comunicar por meio de ligações e tudo mais, mas não é a mesma coisa." Ela ficou em silêncio por um instante, parecendo tentar encontrar as palavras certas. "Steven tem seus próprios demônios, Lya, sei disso por mais que ele lute para não demonstrar. Talvez isso impeça que ele olhe com mais cuidado para os irmãos. Eu realmente não sei. Apesar de ser próxima a ele, há certas coisas que nós nunca vamos nos sentir verdadeiramente confortáveis para compartilhar, mesmo para as pessoas que mais amamos. Você sabe como é isso."

"É. Eu sei", respondi baixinho, sentindo meu coração se encolher.

Então me levantei, tentando expulsar todos os pensamentos tristes que tinham se espalhado por minha mente e coração. Não tinha tempo para isso naquele momento.

"Tenho que ir me encontrar com os gêmeos. Você não vem?"

"Ah, talvez mais tarde..." Alexia se esparramou na cama, os braços esticados preguiçosamente. "Aqui está quentinho. Lá fora está frio. Mas o que você acha de fazermos uma maratona de Friends à noite? Temos que aproveitar enquanto não voltamos para a universidade e retornamos a terrível rotina de acordar cedo."

"Já vimos todos os episódios de Friends pelo menos três vezes, Alex...", protestei com um sorrisinho.

"Tudo bem, eu deixo você escolher o que vamos assistir hoje", ela cedeu com uma careta. "Mas hoje."

"Eu não vou me esquecer disso."

"E quando você esquece alguma coisa?"

"Eu não sei muito bem como fazer um boneco de neve", confessou Margot, enquanto nos dirigíamos a uma parte mais afastada dos jardins, onde não havia tantos guardas nos observando.

"Nem eu", disse Sebastian.

"Bom, faz alguns anos que eu não brinco na neve também...", admiti.

"Acho que o nosso boneco vai sair meio estranho."

"Você acha?", perguntou Sebastian com ironia. Margot mostrou a língua para ele.

"Não mostre a língua para o seu irmão. Além de ser feio, ela pode acabar congelando nesse frio."

Encolhi-me mais em meu casaco enquanto levava a cadeira de rodas de Sebastian pela neve. Nós já tínhamos saído dos caminhos de pedra que circundavam os terrenos do palácio e o vento que me acertava nas bochechas fazia com que me arrepiasse inteira.

"Aqui parece bom", disse, parando perto de um banco que ficava embaixo de uma árvore grande. "Deixe-me te ajudar, Sebastian."

Desafivelei o cinto que prendia sua cintura a cadeira de rodas e o icei pelos braços, sentando-o na neve junto de Margot.

"É o seguinte, nós temos que fazer três bolas", disse a eles, levantando três dedos enluvados da mão direita. "A maior tem de ser a da base, a média a do corpo e a menorzinha para a cabeça."

"Layla, nós já vimos um boneco de neve. Sabemos como funciona", disse Margot, soltando uma risadinha.

"Bem, eu queria deixar as coisas claras", expliquei, dando de ombros. "Sebastian, você é o responsável por firmar a boneco de neve no chão e moldar o corpo, para que ele não se despedaça."

"Certo!" E ele fez sinal de sentido, como se fosse um soldado. Eu sorri.

"Margot, você vai fazer a bola para a cabeça e o corpo."

"Eu consigo fazer a da base!", ela protestou, cruzando os braços.

"Ok, então você faz a da base. Nada de reclamar de cansaço."

"Não vou", ela respondeu com toda a convicção do mundo.

"E role-a para perto de Sebastian. Bem grande, hein?"

Então nós começamos a trabalhar, enquanto eu cantarolava músicas natalinas.

"Você canta melhor do que Alexia", Sebastian comentou com um sorrisinho, fazendo desenhos na neve.

"Qualquer pessoa canta melhor do que Alexia, Sebastian", disse Margot, que tinha os pés enterrados na neve pelo esforço de rolar a base do boneco de neve para perto de Sebastian.

"Quer ajuda, Alteza?", perguntei com doçura, enquanto a observava com uma sobrancelha erguida.

"Não, eu estou bem", ela guinchou, seu rosto ficando vermelho como um pimentão devido ao esforço.

Dois segundos depois e ela se desequilibrou, caindo de cara na bola de neve e a desmanchando por completo.

Sebastian riu tanto que tombou para trás, rolando na neve.

Margot levantou-se, os cabelos castanhos agora cobertos de branco. No esforço de conter a risada, um som estranho escapou pelo meu nariz.

"Do que você está rindo, Sebastian?", ela perguntou ameaçadoramente, mas antes que Sebastian pudesse responder ele olhou para ela, soltando outra gargalhada.

"Você está parecendo o Papai Noel, com barba e cabelos brancos..."

"Barba?!"

Ela se agachou e pegou um punhado de neve na mão, moldando-a e atirando-a contra o irmão sem que eu pudesse impedir.

"Margot!"

"Você vai ver só..." Sebastian resmungou depois de ter sido atingido no peito. Ele pegou um punhado de neve com as mãos e acertou Margot antes que ela pudesse correr.

"Ei, vocês dois!"

Mas a guerra já tinha começado.

Antes que eu me desse conta, uma bola de neve me acertou na cabeça.

"Foi ela!"

"Foi ele!"

Olhei para Sebastian e Margot, que estavam ao mesmo tempo determinados a culpar um ao outro e rindo de toda a situação.

"Certo, vocês pediram por isso..."

Então eu entrei na guerra de bolas de neve. Uma guerra que cada um luta por si mesmo.

Tudo que pude ouvir foi o barulho das nossas risadas, e enquanto eu corria para acertar Margot, acabei escorregando e deslizando pelo chão.

Os gêmeos riram tanto que acabaram se unindo contra mim, o que, em minha defesa, foi bastante injusto.

Eu já devia ter escorregado pela terceira vez na neve fofa quando, de repente, um rosto familiar surgiu à cima de mim, tapando o céu nublado e fazendo com que apenas seu rosto entrasse em foco.

"Precisa de ajuda, Srta. Bennett?"

Eu pisquei, atordoada.

"Já disse para não me chamar de senhorita", foi a única coisa - coisa estúpida - que escapou de meus lábios.

Steven apenas riu e me estendeu a mão, que eu prontamente aceitei.

"Steven, você está no meio da batalha", ouvi a voz de Margot dizer, enquanto eu tentava inutilmente me fazer apresentável. Minhas roupas estavam tortas e cobertas de neve, e eu tinha certeza que meu cabelo poderia ser facilmente confundido com um ninho de passarinhos. "Se não quiser ser atingido, sugiro que saia daí!"

"Com todo prazer." E ele deu um passo para trás, se sentando no banco embaixo da árvore.

Sebastian me atingiu com uma bola de neve no rosto.

"Ei, eu preciso de uma pausa para me recuperar", disse em meio às risadas dos gêmeos. Steven tinha aberto um sorrisinho. "Não posso lutar contra vocês dois."

"Não mesmo", comentou Sebastian. "Principalmente se continuar caindo de cinco em cinco segundos."

"Isso foi cruel", falei em tom de brincadeira, e me aproximei para ajeitar o seu gorro que estava torto na cabeça, assim como o casaco amarrotado de Margot. Eu quase podia sentir o olhar do príncipe em minhas costas, atento como o de uma águia. Bem desconfortável. "Agora, como Margot destruiu o boneco de neve, acho que vocês deveriam se unir para fazer outro, não é? Vem Margot, eu te ajudo com a bola maior desta vez."

Felizmente ela não recusou.

Steven acabou se juntando a nós e fez com que a base do boneco ficasse sólida o bastante para que eles continuassem. Colocamos Sebastian novamente na cadeira de rodas e os dois se uniram para terminar o boneco, em um silêncio reconfortante.

Sem jeito, me sentei no banco com Steven, que observava os irmãos construírem o boneco de neve.

"Faz muito tempo que não os vejo se unirem em alguma brincadeira. Muito menos alguma que requer atenção e cuidado." Ele se virou para mim, e naquele momento percebi que havia marcas escuras sob seus olhos azuis esverdeados, como se ele tivesse passado a noite toda em claro. Me perguntei se alguma coisa tinha acontecido. "A ideia foi sua?"

"Vir aqui fora e aproveitar a neve? Foi. Espero que não se importe...", acrescentei, mordendo o lábio inferior.

"Me importar? De jeito nenhum." Ele sorriu. "Estive observando vocês antes de me aproximar... Eles realmente gostam de você."

Sorri, sentindo meu rosto corar em contentamento.

"Acho que eles só precisam de alguém para se divertir", falei, dando de ombros como se aquilo não fosse nada. "Não é difícil cativá-los."

O príncipe voltou novamente os olhos para os irmãos, que agora se concentravam em formar o corpo do boneco.

"Você chegou há dois dias e eu sinto que eles têm mais liberdade com você do que têm comigo", ele sussurrou, o olhar distante. "E não que isso não seja uma coisa boa para vocês. Eu só..." Steven suspirou, erguendo os olhos atormentados para mim. "Queria entendê-los como você já parece entender."

Eu não disse nada, aliás, o que poderia dizer? Eu ficava feliz que ele percebesse que ali, naquele lugar improvável e em uma situação improvável, eu tinha me afeiçoado aos príncipes mais novos, assim como eles pareciam ter se afeiçoado a mim tão rapidamente. Mas o meu coração também pesava ao ouvir aquilo. Pesava ao saber que Steven não parecia ser tão próximo dos gêmeos como eles eram um do outro.

"Desculpe" A voz do príncipe me fez despertar, tão carregada de sentimento e tristeza que eu me senti péssima. "Eu não devia dizer que..."

"Steven", chamei, sentindo o coração pulsar apressado. Ele olhou para mim. "Eu sei que Sebastian e Margot gostam de você, não só gostam, amam você. Você é o irmão deles." Endireitei-me no banco, olhando para o príncipe diretamente, como ele fazia comigo sem hesitar. "Quando me mudei para St. Andrews, há um ano e alguns meses, eu morria de medo que isso fizesse com que eu me afastasse da minha mãe e do meu irmão, mesmo sem querer. Porque a distância, mesmo não sendo tão grande, faz isso com as pessoas. Mas eu acabei percebendo que por mais que eu não os veja sempre e o dia acabe sendo tão corrido que eu não tenha nem a oportunidade de ligar, o amor que sinto por eles nunca vai diminuir. Não há distância no mundo que afaste corações que se amam. Sempre que Oliver, meu irmão, precisa de mim, eu estou lá. Talvez não fisicamente, mas através de uma ligação ou uma mensagem. Assim, mesmo se um dia eu estiver do outro lado do mundo, ele ainda saberá que tem um porto seguro em mim, e eu tenho um nele. É assim que os irmãos funcionam. São abrigos um para o outro."

Steven ficou em silêncio, parecendo digerir minhas palavras. Eu mesma estava tendo dificuldade em processá-las.

Não sabia de onde havia arrancado coragem para falar daquele jeito com o príncipe, mas, quando ele me olhou com aqueles olhos cansados e tristes, as palavras simplesmente jorraram, desesperadas para iluminar aquela sombra em seu olhar.

"Às vezes acho que não sou um bom irmão para eles. Não do jeito que deveria ser", Steven confessou, depois de minutos em silêncio. Ele não me encarava. "Eu sinto que eles precisam de mim, sei disso, mas simplesmente..." Ele parou, parecendo não saber como continuar.

"Sabe, nós não podemos ajudar outras pessoas sem antes ajudarmos nós mesmos", disse de repente, sentindo que, talvez, aquilo se aplicasse bastante a mim naquele momento. Ignorei aquilo e segui em frente: "Eu sei que você não me conhece, e sei também que eu mal te conheço, mas se precisar de ajuda saiba que tem com quem falar. Alexia, por exemplo, sempre tem ótimos conselhos."

Ele abriu um pequeno sorriso de lado, revelando aquela covinha na bochecha esquerda. Senti-me vitoriosa por aquele sorriso.

"Você é realmente boa em dar conselhos a estranhos", ele comentou, ainda sorrindo. "Talvez devesse ser psicóloga."

Eu ri, fitando as minhas mãos enluvadas.

"Obrigada, mas história já me dá trabalho o suficiente."

Naquele momento, um grito de Sebastian chamou nossa atenção:

"Ei, nós terminamos o boneco de neve!"

Steven e eu nos viramos para os gêmeos, e o que eu vi me fez ter vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.

Aquele era o pior boneco de neve da face da terra. O pior.

A cabeça era gigante, quase do tamanho do corpo, e ele estava torto como se a qualquer momento fosse desabar para a direita. Como se não bastasse, os galhos que os gêmeos tinham encontrado eram desiguais, sendo um bem maior do que o outro. E o pobre boneco tinha apenas um olho, feito de pedrinhas.

"Meu Deus, eles realmente precisam sair mais do lado de fora", Steven comentou baixinho, se inclinando para mim. "Isso está horrível..."

Eu lhe dei uma cotovelada de leve nas costelas.

"Não seja cruel. Eles só precisam praticar mais um pouco." E em voz alta eu disse: "Uau! Está... peculiar."

"O que é peculiar?", perguntou Margot, franzindo as sobrancelhas.

"Eu não sei", confessou Sebastian, coçando a cabeça. "Mas não tenho certeza se é algo bom."

"É claro que é uma coisa boa", disse Steven com uma voz confiante que me fez querer rir.

"Estávamos pensando em chamá-lo de Alfredo", contou Margot, ajeitando os bracinhos de graveto do boneco de neve.

"É um ótimo nome", eu falei.

"Você está sendo sarcástica?", a princesa perguntou, estreitando os olhos para mim.

"É claro que não. Como eu poderia ser..." Mas antes que eu pudesse responder, ela me lançou uma bola de neve. Rapidamente e guiada pelo puro instinto de sobrevivência - pelo menos era o que eu pensava - me escondi atrás de Steven, que foi acertado em cheio. "Desculpe", murmurei, nem um pouco arrependida.

Ele limpou o rosto com a manga do casaco, olhando de Margot para mim.

"Vocês não sabem que eu sou o melhor guerreiro de bolas de neve da Terra, não é?"

Sebastian gargalhou.

"Tá bom... Sua pontaria pode até ser boa por causa do boxe, mas você jamais acertaria uma..."

Antes que Sebastian pudesse concluir, Steven o acertou com uma bola de neve.

"O que você estava dizendo, Sebastian?", o príncipe mais velho perguntou com carinho.

E a guerra recomeçou.

Eu tentei me esconder atrás da árvore enquanto os três disputavam entre si. E ali, escondida sem que eles me vissem, eu sorri.

Steven até poderia achar que não levava jeito com os irmãos, ou que não conseguia se sentir próximo deles o suficiente, mas, na verdade, o que faltava nele, o que faltava naquele lugar, era só um pouco mais de espontaneidade. De diversão. Mesmo estando há poucos dias ali, eu já podia ver isso com clareza.

Naquele momento uma figura solitária apareceu na esquina de uma das torres do palácio, se aproximando silenciosamente da nossa pequena batalha de bolas de neve.

Eu gemi quando percebi quem era, me encolhendo de encontro ao tronco da árvore.

"Steven, suponho que não tenha sido uma boa ideia trazer seus irmãos aqui para fora com a temperatura estando bem abaixo de zero", a voz da rainha se fez ouvir, quando ela se aproximou o suficiente. As risadas e as bolas de neve voando pelo ar cessaram. A rainha estava vestida com um lindo vestido azul de inverno, feito de veludo, seus cabelos louros em contraste com o tecido escuro. "Suponho que seja melhor irmos para dentro, não é? Sebastian, você está completamente sujo de neve..."

Steven pareceu fazer sinal de ajeitar Sebastian na cadeira de rodas, mas, quando vi a desanimação nos rostos dos gêmeos, me revelei.

"Majestade", disse, me curvando ligeiramente. "A ideia de trazê-los aqui fora foi minha. Sinto muito se não foi uma boa ideia."

A rainha estreitou os olhos para mim, e eu me senti novamente como uma peça sobressalente naquele lugar, como se eu fosse um ligeiro incômodo para ela.

"Srta. Bennett... A senhorita aqui?"

Respirei fundo, tentando acalmar o tremor em minhas mãos. O olhar de Sebastian na cadeira de rodas, com os olhos antes radiantes apagados, me deu a coragem de que eu necessitava.

"Suponho que os príncipes já tiveram sua aula com a Sra. Jones hoje, e, como pode notar, tomei o cuidado de trazê-los bem agasalhados." Ergui os olhos para Arabella, aquela mulher imponente e contida. "Tenho certeza que não estão expostos a nenhum risco aqui fora."

"Srta. Bennett", ela murmurou, embora seus olhos demostrassem impaciência sua voz continuava firme. "Eu tenho certeza de que você não sabe como..." Eu baixei os olhos, sabendo que daquela vez não teria mais coragem de rebatê-la, mas então senti uma mão em meu ombro e ergui os olhos para Steven.

"Arabella, não se preocupe", o príncipe disse, olhando confiante para a madrasta. "Eles estão comigo. Logo vamos voltar para dentro."

A rainha ergueu os olhos para o enteado, os lábios vermelhos comprimidos em uma linha fina.

Lentamente, ele sorriu.

"Se você acha que é melhor assim..." Ela então nos deu as costas, segurando a saia do vestido para que não arrastasse pela neve até ela alcançar o caminho de pedras. "Só não esqueça de que Sebastian ainda tem sua sessão de fisioterapia."

E, tão rápido como veio, ela foi embora.

Ergui os olhos para Steven, que continuava ao meu lado.

"Ela é bem protetora, não é?", sussurrei, me afastando um pouco dele e me aproximando das crianças. Steven piscou, olhando para mim.

"É. Ela é."

"É uma chata, isso sim", resmungou a princesa, se jogando na neve fofa.

"Margot!", Steven e eu repreendemos em uníssono. Nossos olhares se encontraram e eu sorri.

"Onde estávamos?", perguntei, tentando dar ao local o clima de antes. "Ah, sim, nós três tínhamos feito uma aliança contra Steven..."

"Espera um pouco, o quê?", o príncipe indagou.

Mas os gêmeos e eu já tínhamos nos unido, apanhando a neve no chão e lançando-a contra Steven.

"Srta. Bennett, você vai acabar se arrependendo disso...", ele disse com um sorriso radiante, as expressões de cansaço em seu rosto quase desaparecidas.

É, pensei, sentindo-me inquieta por dentro, eu sei que vou.

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Oii meus amores! Tudo bem com vocês?

Estou postando esse capítulo um dia mais cedo porque ele já estava pronto mesmo, e eu simplesmente não via a hora de compartilhá-lo com vocês!

O que acharam? A relação dos gêmeos com a Layla está avançando, não é? Será que podemos dizer o mesmo sobre ela e Steven? Acho que a atitude diferente dela perante a rainha fez com que o nosso príncipe repassasse um pouco sobre suas próprias atitudes diante dos irmãos. Será?

Bem amores, por hoje é isso, espero realmente que vocês tenham gostado!

Beijos e até mais.

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