Capítulo Dois - Layla
Aquilo era um sonho. Apenas um sonho do qual eu logo acordaria, rindo de mim mesma quando me visse em St. Andrews novamente por ter uma imaginação tão fértil. Aliás, eu estava sempre tendo sonhos malucos.
Mas aquilo, bem, aquilo não era um sonho. Era um pesadelo.
Conforme assistia as torres do palácio engrandecerem e ficarem cada vez mais próximas da janela escura daquela limusine luxuosa - que provavelmente custava mais do que eu conseguiria ganhar em um ano - meu estômago parecia dar solavancos, como se a qualquer momento eu fosse botar para fora toda a pouca comida que tinha ingerido na última hora dentro do avião.
Sem querer eu soltei um gemido desesperado, escondendo o rosto nas mãos.
"Você nunca mais vai falar comigo, não é?", uma voz feminina e sonora disse de repente, e eu senti minhas entranhas revirarem.
Ergui o rosto, fuzilando Alexia com o olhar. Ela parecia bastante ocupada conversando com alguém por mensagem de texto para se importar com a minha inclinação para o assassinato.
"Eu não sei", respondi, lutando para manter a voz tão neutra quanto a dela. Falhei miseravelmente, pois a frase saiu como um rosnado. "Será que tenho o direito de discutir com uma princesa?"
Alexia revirou os olhos e largou o celular no colo, olhando para mim como se eu fosse uma criança irritante.
"Eu já disse. Eu não sou uma princesa. E estou muito longe de sequer pensar em me tornar uma, sendo a décima primeira na linha de sucessão ao trono."
"E você acha que isso importa?!", eu disse com a voz esganiçada, agradecendo mentalmente que o vidro que nos separava do banco do motorista estivesse fechado. Ele provavelmente me acharia uma maluca. "Alexia, você mentiu para mim, disse que era alguém e na verdade é outra pessoa!"
Ela suspirou, e, pela primeira vez desde que tínhamos saído do avião, ela pareceu disposta a explicar alguma coisa.
Durante todo o tempo em que ela havia jogado a informação de que na verdade era a sobrinha de um rei para cima de mim, eu havia entrado em certo estado catatônico, enquanto meu cérebro parecia lutar para digerir as informações. Infelizmente tudo só piorou quando saímos do aeroporto e eu me deparei com uma limusine enorme e luxuosa que nos esperava do lado de fora, com um cara todo uniformizado e com um brasão da Família Real de Steinorth bordado em fio dourado no peito carregando nossas malas.
Desde então, enfiada naquela cabine e observando as ruas de Arthenia passarem pelas janelas e o palácio se aproximar cada vez mais, eu apenas estive de olhos fixos do lado de fora, enquanto um verdadeiro furacão parecia tomar conta do meu cérebro e eu me perguntava vezes seguidas como tinha me metido naquilo.
"Eu nunca menti para você sobre quem eu sou, Layla", Alex falou naquele instante, seus olhos fixos nos meus. "Nunca desde que nos conhecemos. Eu apenas omiti a informação de que na verdade minha família faz parte da realeza de um país no meio do mar. Não queria que você me tratasse diferente quando soubesse, por mais que, depois de te conhecer melhor, eu tive certeza de que você não é esse tipo de pessoa. Mas eu não queria arriscar e, apesar de estar tão longe da linha de sucessão ao trono de Steinorth, a mídia não ligar muito para mim e a maioria das pessoas não me reconhecerem à primeira vista, eu só queria ter uma juventude normal como a de qualquer outra pessoa e realizar meus próprios feitos sem a influência da minha família. E... Bom, estou conseguindo fazer isso muito bem desde que me mudei para a Escócia."
Comprimi os lábios, desejando dar uma resposta mordaz, mas sem conseguir pensar em nada.
Tudo bem, eu entendia Alexia. Sempre soube que ela era uma garota de atitude e que, quando quer alguma coisa, simplesmente corre atrás e faz por si mesma. E faz sentido que ela quisesse esconder sua verdadeira identidade em St. Andrews, e também que ela não mencionasse o fato para mim mesmo nós morando juntas por alguns meses, aliás, não é como se fosse algo assim tão importante depois de tudo o que passamos juntas, embora de maneira alguma seja uma informação descartável.
Mas mesmo assim...
"Certo, talvez você não seja uma completa maluca com quem eu estive convivendo no último ano..." Ela abriu um sorrisinho irônico. "Mas isso não justifica me arrastar para cá sem me contar tudo antes!"
"Se eu contasse, você teria vindo?"
"É claro que não!"
"Bem, então fiz bem em não contar, não é?"
Respirei fundo, lembrando a mim mesma que eu não seria capaz de um ato tão terrível como matar a minha melhor amiga. Se bem, que se olhássemos por certo ângulo, não pareceria tão ruim assim estrangulá-la.
"Você é louca", disse apenas, sentindo borboletas no estômago quando enxerguei os portões dourados do palácio a poucos metros de distância, guarnecidos por guardas armados e uniformizados com roupas azuis escuras. "Você é louca e eu vou pegar o primeiro avião para casa amanhã..."
Os olhos de Alexia se arregalaram e ela agarrou meu pulso.
"Você não se atreveria!"
"Olha só quem fala: a garota que me arrastou para um país no meio do mar sem mencionar o pequeno fato de que é a sobrinha de um rei e que quer que eu passe alguns dias em um palácio!"
"Qual é o problema com o palácio?"
Levei as mãos à cabeça, prestes a arrancar os cabelos.
"O problema não é o palácio, sua doida! O problema é que eu não me preparei para isso!"
"Eu garanto que os meus parentes não são capazes de matar alguém com o olhar", ela falou exasperada, mas se calou logo depois. "Bom, talvez alguns sejam meio antipáticos e mesquinhos, mas quem liga, não é?"
Eu abafei um grito, escondendo o rosto nas mãos.
"Você vai me dever favores para uma vida inteira, Alexia, uma vida inteira!"
Ela se mexeu ao meu lado, parecendo chegar mais perto.
"Isso quer dizer que você não vai embora?"
Não disse nada, aliás, nem tive a chance.
Quando dei por mim, os portões do palácio estavam sendo abertos, e a limusine entrou silenciosamente para dentro das muralhas guarnecidas.
Ali dentro, no pátio que se estendia até as impetuosas escadarias brancas que levariam a uma enorme porta dourada em arco, a neve cobria tudo como um cobertor macio, e apenas os caminhos de pedra que se estendiam em todas as direções e aquela estrada principal eram visíveis na imensidão branca.
Desde que o avião deixou o mar para trás eu havia percebido que ali na ilha estava nevando muito mais que na Escócia, apesar dos dois territórios estarem tão próximos.
Antes que eu sequer pensasse em descer do carro ou fazer qualquer outra coisa, a porta do meu lado foi aberta e o motorista me estendeu a mão. Eu devo ter olhado para sua mão estendida e enluvada durante dois segundos até decidir o que fazer. Hesitante, coloquei a minha mão na dele, que me ajudou a descer do carro. Tentei reprimir meu desejo de bufar. Como se alguém precisasse de ajuda para descer de um carro...
Meu Deus, eu mal havia chegado e estranhava tudo ao meu redor.
Assim que meus pés tocaram o chão de pedra, escorreguei por causa da fina camada de gelo que parecia ter tomado conta do local. O motorista, porém, segurou meu cotovelo com firmeza e me colocou de pé novamente em um gesto gentil. Quando agradeci e ergui os olhos para Alexia, vi que ela comprimia os lábios em uma linha fina, tentando não rir.
Quando Alexia e eu descemos do carro, o motorista disse que chamaria alguns guardas para levar nossas malas para dentro. Alex, então, pegou meu braço e me guiou até as escadarias de mármore. Estava tão frio e ventava tanto que eu percebi que nem todo meu guarda-roupa de inverno conseguiria me manter suficientemente aquecida naquele lugar.
E, dali, agora que me permitia olhar diretamente para o palácio, ele pareceu se agigantar sobre mim de tal forma que me senti tonta.
Ele era muito diferente dos castelos e palácios atuais da Inglaterra, na verdade, se assemelhava muito mais a um monumento saído das páginas de um livro.
Repleto de torres que podiam chegar ao tamanho de arranha-céus, lá no alto eu podia ver a bandeira de Steinorth tremulando por conta do vento forte. A coroa dourada sobre o fundo negro e azul escuro parecia brilhar como uma estrela, e seu brilho somado a todas as reluzentes janelas douradas do palácio davam ainda mais charme e grandiosidade ao lugar.
Eu suspirei, apesar de tudo, apenas aquela vista magnífica já tinha feito algumas coisas valerem à pena.
Quando Alexia e eu chegamos ao patamar das escadas que levavam à enorme porta em arco, os guardas que guarneciam a entrada simplesmente se curvaram para Alexia em uma pequena reverência e abriram as portas pesadas, fazendo com que o calor que vinha lá de dentro aquecesse um pouco meu corpo congelado.
"Para quem é a décima primeira na linha de sucessão, você parece muito importante", não pude deixar de comentar baixinho, enquanto as portas se abriam para que nós pudéssemos entrar.
Ela deu de ombros e suspirou dramaticamente, como quem diz: "É, sou adorada, o que posso fazer?"
"Uma vez com Arthenia no nome, sempre terá regalias", ela disse simplesmente.
Eu soltei uma risadinha, que no mesmo instante foi abafada por um gritinho assombrado. Levei as mãos à boca.
Se Alexia não tivesse me arrastado para dentro, eu provavelmente teria continuado ali, paralisada, os pés fincados no chão como uma árvore.
"Uau...", foi tudo o que consegui dizer, arfante, enquanto meus olhos esquadrilhavam ansiosos o espaço que se abria à minha frente.
O ruído das portas se fechando atrás de nós foi quase imperceptível aos meus ouvidos, tamanho era o barulho que o meu cérebro ansioso parecia produzir ao se deparar com o que deveria ser o saguão principal do palácio.
O chão aos meus pés era coberto por um carpete vermelho escuro, que se estendia por todo o espaço da sala retangular até subir pelas escadarias que ficavam perfeitamente do lado oposto ao das portas. Lá em cima, elas se bifurcavam em duas, levando a corredores que eu não podia ver dali.
As paredes eram brancas com detalhes em dourado, tomadas por quadros enormes em molduras elaboradas que pareciam retratar alguns dos antigos reis e rainhas da história de Steinorth. O teto, por sua vez, era mais suntuoso e pintado com pequenas figuras de anjos no céu claro, que brincavam entre as nuvens e voavam pelo ar. Os três lustres idênticos que pendiam dali pareciam ser feitos de pequenos cristais, e a luz que refletia neles produzia um efeito extraordinário. O do meio, e o maior, pendia sobre o patamar da escadaria principal.
Encostados nas paredes também estavam divãs azuis bem escuros, com almofadas tão alvas quanto a neve do lado de fora.
Por onde quer que eu olhasse, parecia haver mais coisas para se ver, e por mais que tentasse simplesmente não conseguia digerir tudo. Era tudo perfeito demais, e eu sabia que jamais veria algo parecido em toda a vida.
"Se continuar desse jeito, vai acabar babando no tapete", uma voz disse ao meu lado, e eu despertei com Alexia olhando para mim, um sorriso travesso nos lábios.
"Eu não estou babando."
"Mais alguns segundos e você começaria."
Revirei os olhos, mas não respondi nada. Ainda estava arrebatada demais com tudo ao meu redor para dizer alguma coisa. O lugar todo parecia aromatizado, e eram tantas as sensações que aquele ambiente parecia despertar em mim que eu me sentia tonta. Nunca me imaginei em um lugar como aquele, onde eu definitivamente não pertencia.
Alex começou a me arrastar até as escadarias naquele momento, aliás, dois guardas do palácio tinham acabado de entrar com nossas malas, porém duas figuras surgiram primeiro no topo das escadarias, impedindo que começássemos a subir.
"Alexia!", falou uma voz levemente esganiçada, mas que pareceu retumbar por todo o saguão com aquele sotaque forte. "Você chegou mais cedo do que prevíamos..."
Alexia soltou meu braço para abraçar a mulher que desceu as escadas apressada, seguida juntamente de um homem alto vestindo roupas sociais, embora não tanto assim, levanto em conta a falta do uso de gravata e tudo mais. Assim que o fitei, soube que era o pai de Alexia. Aqueles olhos verdes eram absolutamente iguais aos dela.
"Filha, é muito bom ver você", o homem disse, novamente naquele sotaque forte, e mesmo dizendo poucas palavras eu tive dificuldade em entendê-lo. Observei enquanto ele abraçava Alexia, embora de um modo mais contido que o da mulher, que observando bem parecia claro que fosse a mãe dela.
Parecia estranho pensar nisso agora, mas Alexia nunca havia me mostrado nenhuma foto dos pais e, raramente, quando eles conversavam, já era tarde da noite e ela geralmente estava refugiada em seu quarto no nosso minúsculo apartamento.
Naquele momento, a mulher se virou para mim, seu sorriso radiante ainda no rosto.
"E você deve ser Layla", ela disse, me abraçando. Eu retribui sem jeito, tentando ser tão calorosa quanto ela. "Alexia me falou sobre você. São amigas de St. Andrews, não é?"
"Sim, senhora", falei cordialmente, abrindo um sorriso. "Alexia também me falou muito sobre vocês."
Aquilo era uma mentira, é claro, mas eu queria ser simpática.
"Por favor, me chame apenas de Gracie", a mulher disse, apertando minha mão em um gesto amigável. Seus saltos altos a deixavam consideravelmente mais alta que eu, e produziam um contraste gritante com as minhas botas gastas.
Tentei não pensar muito naquilo.
Então foi a vez do pai de Alexia se virar para mim. Ele era um homem alto e inspirava certo medo. Talvez ser alguém tão importante quanto ele fizesse com que assumisse certa postura que se agigantava aos demais. Tentei não me encolher e me afastar, mas foi difícil.
"É um prazer conhecê-la", ele disse cordialmente, embora sua voz fosse muito mais impessoal do que a de Gracie. "Srta. Bennett, certo?"
"Sim, senhor..."
Ele estendeu a mão para mim e eu a apertei, sentindo minha palma suar.
Alexia deve ter percebido o que se passava comigo naquele momento, pois se aproximou e segurou meu braço em um gesto rápido, mas reconfortante.
"Então vocês se conheceram na universidade de St. Andrews?", o homem perguntou, soltando minha mão. Eu quase suspirei aliviada. "Você estuda História da Arte, Srta. Bennett?"
"História, na verdade", falei, tentando escolher as palavras com a maior formalidade possível. "Nós nos conhecemos por acaso em um corredor."
Ele apenas continuou me observando, os olhos impenetráveis.
"E são amigas desde então?"
"Daniel, por favor...", Gracie sussurrou para o marido, parecendo muito sem graça.
Ouvi quando Alexia soltou um suspiro exasperado ao meu lado, e, de repente, entendi o que estava acontecendo ali. Mesmo sem querer, senti meu rosto corar, ao mesmo tempo em que me sentia muito mal por Alexia.
"Sim, papai, Layla e eu somos só amigas", ela falou naquele tom irritado que eu conhecia bem. Aparentemente, se Alex tinha um plano de manter a calma durante todo o reencontro com a família, tudo já tinha ido por água abaixo com o comentário do pai. "E se puderem nos dar licença, tenho certeza de que Layla está muito cansada da viagem e quer descansar."
"É claro, foi muita indelicadeza a nossa", Gracie falou com um sorrisinho amigável, se virando para mim. Ela fez sinal de que iria chamar os guardas que estavam carregando minhas malas mais as de Alexia, mas, naquele momento, uma figura silenciosa surgiu no patamar que unia as escadas secundárias, parecendo ter vindo da esquerda.
O salão, que já estava silencioso, pareceu se calar ainda mais.
A mulher lá em cima sorriu para nós, colocando sua mão repleta de anéis dourados no corrimão da escada, enquanto segurava o vestido vermelho escuro com a outra.
Seus olhos, porém, estavam fixos em nós.
Ao meu lado, ouvi Alexia bufar baixinho, e no mesmo instante seu pai lhe lançou um olhar mordaz.
"Alexia!", a mulher falou, sua voz suave e firme reverberando pelo saguão. "Não sabia que já tinha chegado. É um prazer vê-la de novo."
A mulher então chegou até nós, e de perto pude ver o quanto ela era bonita. Seus longos cabelos louros desciam pelas costas em caracóis, e seus olhos azuis eram tão claros e reluzentes que chegavam a assustar. Ela usava muitas joias, mas não tantas para ser considerada brega. O colar em seu pescoço, com uma pequena pedra que eu poderia apostar ser um rubi, realçava em sua pele clara.
Ela toda parecia reluzir.
"Tia", Alexia cumprimentou com um sorriso forçado, e quando se curvou em uma ligeira reverência, eu fiz o mesmo.
Aquela não poderia ser quem eu estava pensando, não é? Droga, poderia sim. Por que eu não tinha me preocupado em pesquisar membro a membro da família real de Steinorth antes de sair de casa? Eu estava tão ansiosa e animada para rever toda a história do país e pessoas importantes de antigamente que tinha me esquecido completamente das pessoas atuais, que faziam parte daquilo hoje em dia.
Quando Alexia se levantou a mulher se inclinou para abraçá-la, e minha amiga retribuiu o abraço, apesar de parecer rígida como uma pedra.
Elas se afastaram, e então os olhos da mulher caíram sobre mim.
No mesmo instante, foi como se a cor no rosto dela sumisse por completo e seus olhos mirassem um fantasma. Ela ficou muito quieta, os lábios ligeiramente entreabertos. Porém, tão rápido como veio, a reação foi embora, como se jamais tivesse existido.
Eu pisquei, tentando entender o que tinha acontecido ali, mas a mulher assumiu sua antiga postura tão rapidamente e com tanta perfeição que pensei ter sido apenas minha imaginação pregando peças.
"Você deve ser a amiga da minha sobrinha", ela disse simplesmente, seus lábios curvados em um pequeno sorriso. "É um grande prazer conhecê-la, Srta..."
"Bennett", completei, com o tom de voz mais firme que consegui reunir diante daqueles olhos que me fitavam como se fossem capazes de ver através do meu corpo. "É um prazer conhecê-la também, Majestade."
Ninguém me corrigiu ou contradisse, e naquele momento tive a confirmação das minhas suspeitas.
Aquela mulher era a rainha. Uma rainha de verdade, bem ali, na minha frente. Será que eu deveria me curvar de novo? Eu não fazia ideia, e só o que conseguia pensar naquele instante é que queria matar Alexia por ter me metido naquilo sem que eu nem soubesse o que esperar.
Porém, a rainha apenas deu um aceno imperceptível com a cabeça à menção do título, e decidi entender aquilo como um sinal de que já era o suficiente.
"Mandei preparar um quarto para você na ala leste do palácio", a rainha falou, naquele mesmo tom aveludado. "Um guarda pode te mostrar o caminho enquanto levam suas coisas para cima."
"Na verdade", Alexia falou naquele instante, se aproximando da tia. "Eu pensei em deixar Layla instalada em um local mais perto do meu quarto. Ela não conhece o castelo e não seria bom ficar isolada tão longe."
Eu já estava abrindo a boca para contestar, pronta para dizer que a ala leste parecia perfeita para mim e que eu estava muito satisfeita. Talvez aproveitasse a oportunidade para mandar Alexia calar a boca e não me fazer ter vontade de me jogar da torre mais alta daquele maldito castelo, mas antes que pudesse fazer isso, a rainha disse:
"Bom, se você acha melhor assim", ela falou ainda com um pequeno sorriso. Seus olhos pareciam gelo e intimidariam qualquer pessoa, mas Alexia não parecia nem um pouco propensa a recuar. "Tenho certeza que teremos um quarto vazio nos aposentos reais perto do seu." Ela então fez sinal para os guardas que carregavam nossas malas, indicando a escadaria secundária que se dobrava à direita lá em cima.
"Obrigada", Alexia pareceu se forçar a dizer, e se virando para os pais completou: "Vejo vocês mais tarde." E no mesmo instante ela agarrou meu braço e me fez subir as escadarias ao seu lado, os guardas nos seguindo com nossas malas.
"Você ficou maluca?!", eu sussurrei entredentes para Alexia quando sumimos de vista pelo corredor que se estendia depois da escadaria à direita. "Qualquer quarto seria ótimo para mim nesse lugar. Quase me fez morrer de vergonha!"
Alexia simplesmente revirou os olhos, e eu estava tão nervosa pelo que havia acabado de acontecer que nem ao menos me espantei com todo o luxo que parecia se revelar para nós em cada corredor em que virávamos e escadas que subíamos.
"Não seja tão medrosa", Alex falou, fazendo com que eu quisesse sacudi-la. "Arabella tem aquela postura toda, mas não assusta um gatinho."
Arabella... Então esse era o nome da rainha.
"Bom, talvez não assuste você, mas eu definitivamente não estou acostumada a me portar perante rainhas, duques e nada do tipo." Suspirei, massageando as têmporas. Minha cabeça tinha começado a doer. "E o que diabos foi aquilo com seu pai?"
Foi a vez de Alexia suspirar, e distraidamente a vi passar os dedos pelos cabelos curtos, os olhos verdes desfocados, por mais que seus pés parecessem saber bem aonde ir.
"Bom, você deve ter percebido, não é?", ela falou baixinho, para que os guardas que carregavam nossas malas não pudessem ouvir. "Ele não é do tipo que aceita quem eu sou. Quando contei que traria uma amiga de St. Andrews para cá esse ano, eles logo acharam que... Bem, que nós tínhamos alguma coisa."
"E você não explicou para eles?", perguntei.
"Bom, eu tentei, mas meus pais..." Ela suspirou novamente. "Eles acham que só porque sou lésbica não posso ter amigas mulheres que com certeza há algo por trás. Eles são assim, conservadores e definitivamente errados em alguns pensamentos. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais eu quis ir para longe e conseguir as coisas por mim mesma, tentar não precisar da aprovação deles para tudo."
"Puxa, Alex, isso é horrível", murmurei, pela primeira vez me solidarizando com ela desde que havíamos saído do avião. "Mas sua mãe foi gentil. Ela até repreendeu seu pai quando..."
"Não se engane", Alexia falou no mesmo instante, me cortando. "Ela só estava daquele jeito porque você estava por perto. Ela não é muito diferente do meu pai, salvo pelo fato de que ao contrário dele tenta ser mais educada com as questões relacionadas a mim em público."
Senti um aperto no coração por ela.
"Alex, eu sinto mui..."
"Ah, corta essa", ela disse rapidamente, seu semblante anteriormente fechado aos poucos se abrindo de novo. "Está tudo bem. Eu me acostumei com a reprovação deles e isso não representa mais nada para mim."
Eu não disse nada. Sabia que ela estava mentindo para mim e principalmente para si mesma, mas aquele não era o momento de falar sobre aquilo.
Naquele instante ela parou em frente a uma porta branca na curva de outro corredor. Já havíamos dobrado tantos que nem se eu quisesse conseguiria me lembrar do caminho que me levaria novamente para a saída principal do castelo.
"Esse aqui deve servir", Alex falou naquele instante. "Todos os quartos por aqui geralmente ficam preparados durante as festas de fim de ano. Arabella nunca sabe quantos convidados pode receber, embora esse ano pelo menos uma das minhas tias tenha decidido ir para outro lugar com os meus primos. Não que eu me importe, é claro, a maioria são uns pestinhas." Ela riu de si mesma. "Meu quarto é o primeiro depois que você virar em dois corredores a direita e um a esquerda. Tem um quadro bem grande de um cara montado em um cavalo do lado da porta."
"Eu não vou me lembrar disso", falei simplesmente.
"Eu sei, por isso liguei meu GPS em localização real caso você se perca aqui dentro e precise de ajuda. Não se esqueça de ligar o seu também."
Eu ri, sem conseguir conter. Alexia sempre parecia pensar em algo útil que ninguém nunca prestaria atenção.
"Vou deixar você arrumar suas coisas e mais tarde venho aqui para sairmos em um tour, o que acha?", ela sugeriu, seus olhos brilhando.
"Desde que não encontremos mais ninguém no caminho..."
Ela me lançou uma piscadela.
"Sem encontros reais para a minha amiga antissocial. Fechado."
Ela então abriu a porta do quarto e se despediu. Antes que eu pudesse analisar o ambiente novo que se abria diante de mim, um dos guardas depositou minhas malas cuidadosamente perto da porta do lado de dentro, e com uma leve reverência se despediu. Fiz uma careta. Agora eu também recebia reverências? Ok, talvez em um milhão de anos em me acostumasse com aquilo.
Assim que fechei a porta atrás de mim, me recostei nela e fechei os olhos com força, aproveitando o silêncio maravilhoso que caiu sobre mim naquele instante. Minha cabeça latejava e a única coisa que eu conseguia ouvir era as batidas rápidas do meu coração e minha respiração que saia um pouco entrecortada.
Aquele dia estava sendo real? Pois eu ainda achava que aquilo era só mais um sonho maluco.
Então abri os olhos com cuidado, primeiro um e depois o outro, tentando inutilmente me preparar para o que veria.
"Meu Deus..."
Dei dois passos hesitantes para o interior do aposento, minhas mãos na boca e os olhos arregalados. Aquele era mesmo o meu quarto? Não podia ser...
Tudo ali parecia ser tão absurdamente chique e caro que eu tive medo de tocar em qualquer coisa e acabar derrubando algo. Desde o lustre de cristal no teto até o carpete branco e fofinho aos meus pés, tudo era perfeito.
Na parede oposta à porta, havia uma enorme janela em arco que, ao me aproximar, percebi dar a um pequeno pátio interno do castelo, onde havia uma fonte congelada com uma escultura de anjo e uma árvore coberta de neve. As paredes, embora nuas, eram elaboradas com detalhes em dourado, que formavam arabescos e pequenas rosas. Havia um pedestal perto da enorme cama com almofadas em rosa antigo e branco, onde um vaso de porcelana ricamente ornamentado se encontrava. Teria que lembrar a mim mesma de não chegar nem perto daquilo por medo de deixar cair.
Então, lentamente e sabendo que eu não tinha observado nem metade das coisas luxuosas que aquele quarto guardava, me sentei na cama, que afundou deliciosamente com meu peso.
Eu devo ter ficado parada por uns dois minutos ali, apenas fitando a parede oposta à cama, até que rapidamente saquei meu celular e liguei para a minha mãe pelo Skype.
Quando ela atendeu instantaneamente franziu as sobrancelhas, se deparando com o espaço estranho e luxuoso onde eu me encontrava.
"Layla? Onde você está?"
"Você não vai acreditar", falei simplesmente, e pela meia hora seguinte contei tudo o que havia acontecido e o que Alexia tinha escondido de mim. Lá para o meio da história, Oliver, meu irmão mais novo, deve ter percebido o teor da conversa e se aproximou, olhando de olhos arregalados para tudo o que eu conseguia mostrar pela tela do celular.
"Espera um pouco", ele disse, me interrompendo quando eu falei que não sabia se deveria continuar ali até a data agendada para o meu retorno ou dar o fora no mesmo instante de toda aquela loucura disfarçada de contos de fadas. "Você por acaso é maluca? Aquela sua colega de apartamento te arrastou para Steinorth, revelou que faz parte da Família Real e que na verdade você vai passar uma parte das suas férias em um castelo chique e você diz que quer sair daí?" Ele olhou para a minha mãe, que durante todo o meu relato havia ficado calada e espantada com o que estava acontecendo. Aliás, não era para menos, se fosse a minha filha em uma situação daquelas, eu provavelmente conversaria serialmente com a amiga maluca que tinha armado tudo aquilo. Porém minha mãe não parecia inclinada a fazer nada. "Mamãe, você pode dizer à Layla que ela perdeu o juízo ou eu é que terei de fazer isso?"
Minha mãe simplesmente piscou, e eu queria entrar pelo celular e sacudir meu irmãozinho irritante de dezesseis anos para que algum juízo entrasse na cabeça dele.
"Oliver, a questão não é a riqueza nem nada disso!", falei em tom baixo, temendo ser ouvida. Eu não sabia se todo aquele palácio tinha passagens secretas como nos filmes, e definitivamente não queria pagar para ver. "A questão é que eu simplesmente não faço parte desse lugar. Não sei como agir com as pessoas..." Me sentei na cama, novamente pensando que o mais seguro seria pegar o primeiro voo de volta para a Escócia. "Quer dizer, eu acabei de me encontrar com a rainha deste país! Ela foi muito educada, é claro, mas pareceu me olhar como se eu fosse um objeto sobressalente que ela não sabia muito bem onde encaixar na decoração perfeita desse lugar!" Suspirei, me deixando cair de costas na cama, que pareceu me abraçar confortavelmente, disposta a não me deixar sair dali. "A única pessoa que conheço neste palácio é Alexia, e ela, bem... Ela é alguém como eu. Nem parece ter saído de uma família rica que ajuda a governar um país. E isso é um elogio." Mordi o lábio, enquanto olhava para minha mãe apreensiva, ela sempre tinha as respostas para os meus problemas, mas até o momento tinha ficado espantosamente calada perante a situação. "Eu admito que o lugar é legal e pode ser divertido passar uns dias aqui com Alexia, mas a verdade é que eu não faço ideia do que esperar, de como agir ou me comportar, e isso é aterrorizante!"
Oliver ficou calado enquanto eu falava, mas no fim simplesmente revirou os olhos castanhos.
"Maninha, você pensa demais. Talvez nem todas as pessoas sejam como essa rainha que você acabou de conhecer, e, talvez, você esteja tão disposta a achar que não pertence a esse lugar que acabou imaginando coisas nela que na verdade só vieram da sua própria imaginação."
"Escuta, Oliver, em qualquer outra situação você poderia estar certo, mas nesse caso..."
"Layla, eu acho que você deve ficar, mas só se quiser", minha mãe disse de repente, interrompendo o que eu dizia. Fiquei em silêncio, pronta para me agarrar a qualquer palavra dela como um bote salva-vidas. "Escuta, filha, acho que você merece trocar um pouco de ares. Qualquer ar que seja." Mesmo sem querer, abri um sorrisinho. "Eu sei que desde que você terminou com aquele seu namorado, Joseph, você tem estado distante e não parece exatamente a mesma." Meu estômago despencou, e eu senti instantaneamente minhas mãos suarem. Se minha mãe já me entendia tão bem mesmo sem saber da história toda, imagine só se soubesse... E, me peguei pensando, se ela soubesse será que continuaria reforçando a ideia de que seria bom para mim ficar um pouco longe de casa? "Layla, você é tão inteligente quanto qualquer um dos ricaços reais que encontrar por aí, e por mais que sua mente esteja te dizendo isso, você é tão boa quanto qualquer um deles e não há maneira melhor de se portar diante das pessoas do que do seu próprio jeito, em qualquer lugar do mundo em que esteja." Eu suspirei, mesmo sem querer sentindo os olhos arderem. "Olha, talvez Alexia realmente seja meio maluca e tenha alguns parafusos a menos, mas sei que ela é uma boa garota e gosta de você de verdade. Se ela omitiu isso, talvez fosse por medo de que você recusasse e não quisesse ir. E, como eu disse, acho que tanto eu quanto ela sabemos que você precisa sair um pouco da sua zona de conforto."
Mordi o lábio inferior, tentando não olhar para os olhos da minha mãe que, mesmo de tão longe, poderiam facilmente captar o que havia dentro de mim.
Era exatamente aquilo que eu temia: sair da zona de conforto que havia cuidadosamente montado para mim depois de todo o caos que aconteceu na minha vida.
"Escuta, filha, eu preciso desligar agora, mas você sabe que pode me ligar quando quiser e independente da sua decisão", minha mãe disse por fim, e eu desejei diminuir a distância entre nós e poder abraçá-la.
"Eu sei, mãe. Te amo."
"Eu também."
Oliver acenou para mim e disse pela última vez que eu deveria pensar bem no assunto. Então a tela do celular escureceu e eu deixei com que minha mão caísse no colchão, meu coração ainda batendo forte no peito.
Antes que pudesse perceber, deixei que meus olhos se fechassem e permiti que o sono viesse para me engolir. O som dos flocos de neve batendo no vidro da janela lá fora foi a única coisa que consegui ouvir quando finalmente peguei no sono.
Em meus sonhos duas crianças brigavam uma com a outra. Uma se parecia muito com Alexia e a outra definitivamente era eu quando tinha uns dez anos. Eu gritava alguma coisa sobre não termos lugar para nos esconder, e ela gritava mais alto dizendo que havia o castelo inteiro onde eu pudesse me enfiar.
Eu já ia abrir a boca para gritar mais com ela quando acordei, percebendo incomodamente que a barulheira na porta do meu quarto havia interferido nos meus sonhos.
Aparentemente, realmente havia duas crianças brigando, mas elas com certeza estavam gritando mais alto do que no meu sonho.
Desci da cama um pouco tonta, olhando pela janela e percebendo que continuava nevando e a claridade lá fora não havia se alterado muito desde que adormeci. Talvez tivesse se passado apenas alguns minutos, e eu tive que parar um pouco onde estava e me situar para que caísse a ficha de que aquele quarto magnífico era realmente meu por alguns dias e eu não continuava tendo sonhos malucos.
Sem me importar em calçar minhas botas gastas que havia tirado quando me joguei na cama, me dirigi até a porta do quarto. Lá fora, uma das crianças gritou:
"A ideia de vir até aqui foi sua! Você acha que não vão saber que viemos a esta parte do castelo quando escolhemos o mesmo lugar duas vezes essa semana? É melhor que descemos até a biblioteca ou..."
"Sempre nos pegam na biblioteca também, caso esteja se esquecendo", outra voz disse, e essa definitivamente era a de um menino. "E não é como se pudéssemos pedir abrigo nas cozinhas, já que os criados sempre nos deduram para Arabella depois. Não temos cúmplices!"
Lentamente, eu abri a porta, sem aguentar de curiosidade para saber o que estava acontecendo.
Assim que o barulho das dobradiças se fez ouvir, as crianças do outro lado se calaram.
Ali, em frente a minha porta, um garoto e uma garota que não pareciam ter muito mais de dez anos olharam para mim, os olhos arregalados e os rostos vermelhos, provavelmente por conta da discussão acalorada que estavam tendo. A garota, que possuía olhos castanhos esverdeados e longos cabelos castanho escuro, deu um passo para trás, parecendo querer se esconder atrás da cadeira de rodas do garotinho, que por sua vez me olhava através dos óculos de graus como se eu fosse alguém que tivesse acabado de pegá-los em uma cena de crime.
"Quem é você?", foi a garota quem perguntou, me olhando com atenção.
"Eu..." Tentei me recompor, ainda me perguntando de onde aquelas crianças tinham saído. Pelas roupas aparentemente caras que vestiam, deveriam ser alguns dos primos de Alexia que tinham vindo passar o Natal. "Meu nome é Layla. Eu sou... amiga de Alexia."
"Alexia?", foi a vez do menino interrogar, e quando assenti os olhos dos garotos se iluminaram. Só naquele momento percebi o quanto eles eram absurdamente parecidos, apesar da cor dos olhos ligeiramente diferentes.
"Arabella não nos contou que ela havia chegado...", sussurrou a garota, e seu rosto voltou a se tornar escarlate. "Nós nem sabíamos que ela chegaria hoje!"
"Se soubéssemos, ela já teria nos ajudado", acresceu o menino, em igual revolta.
"Desculpe", falei, olhando para eles como alguém que assiste a uma partida de ping pong. "Mas qual é o nome de vocês?"
Eles me olharam com estranheza e a garota se aproximou, parecendo me olhar como se eu fosse um enigma a ser decifrado.
"Você não é daqui, é? Sua voz é diferente."
"É sotaque, Margot", corrigiu o menino. "Ela tem um sotaque diferente."
"Ah, sim, que seja", a garota respondeu, dando de ombros. "Você disse que é amiga de Alexia. Você mora na mesma cidade que ela, na Escócia? Por isso tem esse sotaque diferente?"
Eu pisquei. Aquela garota - Margot - fazia mais perguntas do que eu era capaz de responder de uma só vez.
"É, eu sou da Escócia", falei, e percebi que aquela garota conversava como gente grande. Sorri para mim mesma ao constatar sua postura ereta, olhando para mim com a testa ligeiramente franzida. "Alexia e eu nos conhecemos lá e ela me convidou para passar alguns dias aqui."
"Finalmente alguém diferente...", o garoto falou, abrindo um sorrisinho para mim. "Deve ser por isso que ela não nos reconheceu Margot. Não é daqui."
Eu já ia perguntar o que aquilo significa quando o garoto completou:
"Meu nome é Sebastian e essa é minha irmã, Margot. Nós somos... Bem...", ele parecia não saber como dizer aquilo. Coçou a cabeça sem jeito. "Acho que não tem uma maneira menos arrogante de dizer..."
"Nós somos filhos do rei, é isso", Margot falou, revirando os olhos para o irmão. "O que foi? Não é arrogante. É só a verdade..."
Eu dei um passo para trás, tentando lidar com aquela bomba.
Eu estava diante de um príncipe e uma princesa. Legal. Nada mais me surpreenderia naquele dia, absolutamente nada.
Mas era claro que eu estava enganada sobre aquilo também.
"Ok", falei baixinho, piscando para os dois. "Legal. Eu... eu posso ajudar de alguma forma?"
A princesinha riu, dando um tapinha no braço do garoto.
"Eu sabia que ela ia falar algo do tipo..."
Franzi as sobrancelhas para ela.
"Bom, eu ainda não sei muito bem como me portar diante de pessoas como vocês", falei em tom brincalhão, o que a fez rir mais.
"É claro que não sabe", a princesa falou. "Se soubesse, já teria se curvado."
"O quê?", falei incrédula, mas a menina só riu mais, e Sebastian franziu as sobrancelhas para ela, em reprovação.
"Estou só brincando", ela falou, fazendo com que involuntariamente eu soltasse um suspiro aliviado. "Você devia ter visto a sua cara..."
O olhar do príncipe cruzou com o meu e ele deu de ombros com um sorrisinho de lado, como se dissesse: "Ela é assim mesmo. Não repare."
Porém, antes que eu pudesse continuar aquela conversa estranha com os dois, uma voz ecoou de um corredor próximo:
"Princesa Margot? Príncipe Sebastian? Vocês sabem que não adianta se esconderem, crianças. Por favor, tenham piedade é apareçam logo. A Sra. Jones está esperando por vocês na sala de aula do primeiro andar."
"Quem é essa?", perguntei a eles, que no mesmo instante pareceram se encolher e olhar para todos os lados, como se procurassem uma rota de fuga.
"É a Sra. Smith", disse o príncipe, olhando para o lugar de onde vinha a voz, que parecia se aproximar. "Ela é como uma..."
"Babá", completou Margot com claro desprezo. "Ela garante que compareçamos a todos as aulas chatas da nossa tutora, Sra. Jones, até nos fins de semana! Ela consegue ser quase pior do que Arabella..."
Eu franzi a testa, estranhando o fato de que a princesa chamasse a mãe pelo nome, mas antes que eu pudesse pensar em dizer alguma coisa, Sra. Smith, agora obviamente mais próxima, gritou:
"Crianças, por favor! Serei obrigada a contar ao pai de vocês que andam fugindo das aulas se não aparecerem logo!" A pobre mulher parecia estar à beira das lágrimas.
Então as crianças pareceram finalmente perceber que não adiantaria mais tentar fugir dali, pois a princesa de repente olhou para mim e seus olhos reluziram.
"Você pode nos deixar entrar, Srta. Layla?"
Eu abri a boca, na verdade sem ter certeza do que responder. Ouvir ela me chamando daquele jeito foi muito fofo.
"É! Por favor...", o príncipe também implorou baixinho. "Fazemos o que você quiser depois. Prometemos."
"Meninos, vocês não podem...", eu comecei a dizer, inclinada a recusar, mas a princesa me interrompeu:
"Você disse que é amiga de Alexia, não é?" Eu assenti. "Alexia é incrível e eu sei que nunca faria amizade com alguém menos incrível do que ela. Então, por favor, nos ajude!"
Eu arquejei.
Aquele era um golpe baixo, mas a princesa parecia saber muito bem como jogar aquele jogo, e me olhava com olhos tão suplicantes que era difícil dizer qualquer coisa que não fosse concordar com o que ela queria.
"Isso é verdade", disse Sebastian, que pela primeira vez pareceu apoiar a irmã. "Por favor, se você soubesse como as aulas da Sra. Jones são..." Ele pareceu incapaz de completar, se contentando em fazer uma careta.
Havia ali um príncipe e uma princesa. Um príncipe e uma princesa adoráveis. E eles estavam me pedindo um favor, me olhando com aqueles olhos brilhantes e suplicantes.
Praguejei internamente, sabendo que me arrependeria daquilo muito em breve.
"Entrem logo", falei, com certeza menos delicada do que seria apropriado ao falar com dois membros da Família Real de Steinorth.
Eles quase me derrubaram na pressa de entrar no quarto, Sebastian incrivelmente ágil apesar da cadeira de rodas.
Então eu fechei a porta e a tranquei no exato momento em que vi a sombra de uma mulher gordinha aparecendo no corredor.
Silenciosamente me voltei para as crianças com um dedo sobre os lábios, no sinal universal de silêncio.
"Príncipe Sebastian?", a voz da mulher gritou, e a ouvi abrir algumas portas pelo corredor para em seguida fechá-las. "Princesa Margot?"
E lentamente a voz dela foi sumindo.
"Missão cumprida", disse aos dois, que tinham permanecido obedientemente quietos.
Os rostos das crianças se iluminaram e Margot estendeu a mão para o irmão, que se inclinou na cadeira de rodas e bateu com animação.
"Eu sabia que você era uma dessas pessoas com quem se pode confiar", disse Margot, olhando para mim com um sorriso de aprovação. Sebastian riu.
"Ela só nos ajudou por livre e espontânea pressão da sua parte", falou o garoto, e a princesa fechou a cara, cruzando os braços.
"Como se você estivesse tão inclinado quanto eu a assistir mais uma aula chata com a Sra. Jones..."
"Pelo menos eu consigo boas notas..."
"Quem foi melhor em matemática no último mês, hein?"
"Se está falando sobre aquela sua nota no último exame, fique sabendo muito bem que eu sei que você colou escrevendo as respostas no pulso."
"Sebastian! Eu nunca faria isso!"
Eu sorri, um pouco atordoada com aqueles dois, mas fascinada. Aquilo era loucura, só podia ser, mas uma loucura boa.
Sem querer, a voz da minha mãe ecoou na minha cabeça.
"Layla, eu acho que você deve ficar, mas só se quiser."
Bem, talvez tudo aquilo não fosse uma má ideia. Não uma ideia boa, claro, mas também não uma de todo ruim.
Então senti um frio inesperado na barriga, algo bom, algo que não sentia há algum tempo... E soube que estava certa.
____________________***___________________
Oii meus amores! Tudo bem? Mais um capítulo novinho para vocês <3
Esse foi grande, hein? Espero que satisfaça vocês por um tempinho hahaha
Me contem, o que acharam? Já têm as primeiras opiniões sobre Arabella? E sobre o príncipe e a princesa? Eles são adoráveis, né?
Bom, espero que vocês tenham gostado!
Mil beijos e até mais.
Ceci.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top