Capítulo Dezoito - Layla
Nunca fui o tipo de garota que passa horas se aprontando para uma festa e cobre o rosto com quilos de maquiagem. Sempre gostei do natural, daquilo que pode ser bonito por si só e... Bom, talvez a verdade seja que eu nunca tive realmente talento para maquiadora.
Talvez tudo isso se deva ao fato de que nasci em uma cidade pequena e que nunca frequentei tantas festas assim, além de, depois de sair de casa e entrar na universidade, ter começado a namorar um cara que simplesmente não me deixava usar o que eu exatamente tinha vontade.
Mas agora, enquanto me olhava no enorme espelho do quarto de Alexia, eu percebi o quanto um pouquinho de maquiagem e cuidados especiais com os cabelos pode aumentar a autoestima de uma garota.
Talvez, depois que voltasse para a Escócia, eu comprasse uma maleta cheia de produtos de beleza. Se eu aprendesse a como usar todos eles, talvez acabasse me tornando um pouquinho mais vaidosa.
"Gostou, Srta. Bennett?", Sra. Fleury perguntou ao meu lado, ansiosa.
"Se ela gostou?", Alexia disse com uma risadinha, entrando no banheiro e olhando para o meu reflexo no espelho. "Garanto, Christine, ela adorou."
Devagar me virei para a senhora francesa, que tinha vindo diretamente de Paris juntamente com outros profissionais da sua empresa para preparar todas as mulheres do palácio para o baile do Dia da Nova Conquista.
"Eu amei!", disse com um enorme sorriso. "Você fez exatamente o que eu imaginei e ainda mais. E esse cabelo... Ah, obrigada!"
Christine sorriu e se inclinou para me dar um abraço.
"Foi uma honra preparar as senhoritas", ela disse com seu sotaque carregado, se virando para Alexia, Lilian e eu, que agora estávamos todas devidamente maquiadas e penteadas. "Espero realmente que se divirtam no baile."
"Nós vamos", falou Alexia, com certeza, entrelaçando seu braço no meu. "Eu só preciso embebedar um pouco essas duas garotas para que a noite fique ainda mais divertida."
"Nem ouse!", protestou Lilian, soltando uma risadinha.
Alexia então foi abrir a porta do quarto para Christine, que se despediu de nós com um sorriso gentil.
"Espero vê-las novamente um dia, senhoritas. Au revoir."
Eu suspirei, sentindo-me um pouquinho triste por vê-la saindo. Quem diria que passar quase quatro horas com uma pessoa já pode te deixar tão mal com sua partida?
Quando a porta se fechou, eu me virei novamente para o espelho do banheiro de Alexia, analisando a maquiagem suave e delicada que Christine havia se empenhado em fazer no meu rosto. Os cachos em meu cabelo também já estavam completamente prontos e eu gostei das ondas suaves nas pontas, que o deixaram mais brilhante e vivo.
"Bom, acho que já não falta muito, não é?", Alexia disse naquele instante, caminhando até sua cama e checando as horas no celular que estava jogado por ali. "Já são quase oito."
"E eu garanto que vamos gastar o resto do tempo para vestir nossos vestidos", Lilian comentou com um suspiro, analisando os cabelos ruivos ao meu lado no espelho. "O meu tem pelo menos quinze botões nas costas. Já me arrependi de ter trago justo aquele para o baile..."
"Eu acho que não vou ter esse problema", falei, pensando com ansiedade no vestido azul que me esperava no meu quarto, lindo e aparentemente saído de um conto de fadas. Ele era esplendoroso, mas não demais, de modo que eu poderia chamar atenção de um jeito saudável e que não me deixasse constrangida ou insegura - pelo menos não mais que o normal -, além de ser absolutamente confortável e fácil de vestir. "Lilian, você vai se encontrar com a gente para descermos até o salão?", perguntei a ela, que no mesmo instante desviou os olhos dos meus pelo espelho.
"Eu não sei...", ela sussurrou saindo do banheiro, as bochechas subitamente coradas. "Asha espera que eu entre com ela no baile. E, bom, eu já contei que ela ficou um pouco ressentida por eu ter vindo me aprontar com vocês e não com ela e a outra maquiadora..."
Assim que ouviu aquilo, Alexia bufou audivelmente e cruzou os braços, os olhos verdes - agora delineados de um jeito super sofisticado - encarando Lilian com aspereza.
"Você não devia fazer tudo o que ela manda ou espera de você, Lily. É ridículo."
"Alexia..."
"O que foi? Você sabe que é verdade."
Lilian não respondeu, mas pude ver claramente em seu rosto o dilema que estava enfrentando.
Apesar de conhecê-la há apenas dois dias, Lilian tinha se provado uma boa amiga e uma companhia agradável. Alexia tinha feito amizade com ela praticamente no instante em que se conheceram e eu logo entendi o motivo da amizade rápida.
Lilian era tímida e acanhada, mas extremamente divertida quando se sentia à vontade com as pessoas e gentil. Ao contrário, eu já havia percebido, de sua prima.
No dia anterior, quando nós três fomos até Arthenia escolher o meu vestido e o de Alex - uma cortesia do palácio, que Alexia tinha dito que bancaria os valores dos nossos vestidos e tudo o que usaríamos para o baile -, pude ver que, enquanto estava longe da prima, Lilian parecia ser totalmente outra pessoa, mais livre e segura de si mesma.
Se eu tivesse um pouco mais de intimidade com ela, diria que nenhuma relação do mundo vale a pena se isso estiver te impedindo de ser quem você é. Mas, felizmente e ao que parecia, Alex já tinha se incumbido desse cargo.
"Bom, se você prefere assim, tudo bem", ouvi Alex falar depois de algum tempo, agora abrindo as portas do armário à procura de seu vestido. "Mas acho que você realmente deveria reconsiderar como deixa Asha tratar você. Fala sério, Lilian, eu conheço vocês duas há dois dias e já pude ver claramente como aquela..."
"Alex!", repreendi, antes que ela falasse o que quer que fosse em voz alta.
Lilian, por outro lado, soltou uma risadinha.
"Tudo bem. Eu juro que não conto para ela."
"É claro que não vai contar..."
Por fim, nós três decidimos que iríamos nos encontrar no baile. Lilian iria com Asha enquanto Alexia e eu apareceríamos com os pais dela, que tinham insistido para que chegassem ao salão conosco.
Já que estávamos no quarto de Alexia, ela quis aproveitar o momento e já vestir seu vestido e calçar as sandálias de salto alto.
"Então, como estou?", ela perguntou alguns minutos depois, saindo do banheiro para que nós a víssemos.
"Uau..."
Alexia definitivamente estava mais bonita do que eu jamais a tinha visto. O vestido preto tinha uma abertura na parte de trás, expondo boa parte de suas costas de um jeito elegante. A saia descia até o chão de uma maneira etérea, salpicada de pérolas brilhantes na cintura e nas mangas compridas do vestido.
Se eu tivesse que comparar aquele vestido com alguma coisa, com certeza escolheria um céu negro repleto de estrelas brilhantes.
Mas eu não sou muito boa com comparações.
"Bom, Layla, agora é a sua vez", minha amiga disse, rumando até a porta do quarto. "Com aquele vestido você vai parecer mais princesa do que muitas princesas de verdade por aí..."
"Alexia!", repreendi, olhando de soslaio para Lilian que apenas riu e ergueu as mãos em sinal de rendição, como se também já tivesse aceitado e não se incomodasse nem um pouco com as indiretas de Alex.
Assim que saímos do quarto, percebi que os corredores estavam ainda mais movimentados do que mais cedo, quando entrei no quarto de Alexia para ser preparada para o baile.
Criados corriam de um lado para o outro e vez ou outra eu escutava pessoas conversando em francês rapidamente, enquanto transitavam com rapidez de um lugar para o outro.
Por um momento, pensei ter visto Steven no final de um corredor, o que fez meu coração acelerar pateticamente. Mas logo o sentimento foi embora, pois quando o homem se virou e conversou algo em francês no telefone, percebi que não era ele.
Sem querer, meus pensamentos voltaram até a manhã de Natal, quando visitamos o lar de idosos e descobrimos aquela coisa horrível sobre o passado da mãe de Steven. Me lembrei dos momentos que tínhamos passado dentro do carro e como o abracei, sentindo-me ao mesmo tempo forte por confortá-lo e completamente segura em seus braços, como se ele pudesse me defender do resto do mundo e das coisas que me assombravam.
Pelo dia inteiro havia pensado nele e no que tinha acontecido, além de, é claro, tentar entender meus próprios sentimentos.
Mas aquilo era impossível. Pois, mesmo depois de passar quase a noite toda acordada, eu ainda não conseguia entender o que havia se passado dentro de mim quando o abracei.
Mas era certo que não havia sido algo ruim.
"E então, aposto que você vai arrasar corações hoje. Principalmente um em específico", uma voz divertida disse ao meu lado. Dei uma cotovelada de leve em Alex, que riu e se afastou de mim.
"Não seja idiota."
"Ah, eu não estou sendo. Meu primo é quem vai, quando vir você." Eu me virei para Alexia, tentando assustá-la com meus olhares fulminantes. Claro que nada disso adiantou. "Sabe, agora que tive quarenta e oito horas para pensar sobre isso, a história não me parece mais tão estranha. Vocês formam um casal bonito e acho que posso aceitar que minha melhor amiga e o meu primo estão tendo..."
"Quem forma um casal bonito?", Lilian perguntou com um sorrisinho, se inclinando para nós ao ouvir um trecho da conversa.
"Layla e..."
"Ninguém!", gritei, antes que Alex pudesse dizer qualquer coisa que piorasse ainda mais a minha situação. "Ninguém, não é, Alex?"
Lancei a ela um olhar duro e sério, fazendo com que ela finalmente calasse a boca.
Suspirei, tentando caminhar pelos corredores mais depressa e chegar logo ao meu quarto antes que a boca grande de Alex me colocasse ainda mais em maus lençóis.
Eu confiava em Lilian, é claro, mas ela ainda era prima de Asha e a princesa estava obviamente interessada no príncipe herdeiro. E eu, de jeito nenhum, queria mais problemas para lidar.
Qualquer um com olhos teria percebido como a princesa tinha olhado para Steven no dia anterior e como também tinha olhada para mim, enquanto tomávamos aquele chá. Por várias vezes, pensei que me engasgaria com um pedaço de cookie pela simples força maléfica de seus olhos azuis.
Aliás, aquela era outra coisa que não saia da minha cabeça.
Para alguém que Steven aparentemente não gostava tanto - levando em conta o que ele próprio tinha me contado antes de Asha chegar na manhã de Natal - ele estava passando um bom tempo com ela...
Desde tudo o que tinha acontecido no lar de idosos, nós ainda não tínhamos tido um momento para conversar sobre o que descobrimos e o que aquilo significava, além de planejarmos nossos próximos passos. Aliás, ainda estávamos no meio de um mistério, não é?
Mas Steven não tinha me procurado. Não tinha me mandado mensagens e nem mesmo conseguimos trocar poucas frases como tinha acontecido no dia anterior na Sala de Chá, onde, por coincidência, ele tinha entrado com ela. A princesa.
No início pensei que ele simplesmente estava atordoado demais para sequer conversar com alguém, e eu claramente entendia aquilo.
Descobrir do dia para noite que na verdade você deveria ter um irmão e que ele não nasceu porque sua mãe foi envenenada? Fala sério, se isso acontecesse comigo eu me trancaria no meu quarto por um mês até finalmente digerir a ideia.
Isso mais o fato de que Steven ainda não sabia quem tinha matado a mãe - uma morte que até pouco tempo tinha pensado ser acidental - com certeza o tinha deixado mais abalado do que qualquer outra coisa, e eu pude ver isso quando ele desabou no carro.
Mas, agora, eu já não tinha tanta certeza.
Se ele estava tomando chá com a princesa Asha e passeando com ela pelo palácio, talvez ele já tivesse se recuperado do que tinha acontecido, não é?
Bom, era isso o que eu tentava sem sucesso me fazer acreditar, pois, de algum modo, meu coração sabia que Steven não era daquele jeito.
Suspirei baixinho.
Quem eu estava querendo enganar?
A verdade é que eu sentia falta dele. Por mais que estivéssemos debaixo do mesmo teto e eu o visse sem falta nos jantares, não era a mesma coisa.
Eu já havia me habituado tanto às nossas conversas e momentos simples, mas absurdamente especiais juntos, que agora que ele parecia ocupado com outra pessoa - dentre tantas, justamente a princesa - aquilo me deixava um pouquinho enciumada.
O que era ridículo, por eu não era uma pessoa dada a sentimentos tão bobos.
Bom, pelo menos eu poderia me confortar um pouco com o que tinha acontecido na Sala de Chá no dia anterior, pois aquilo me provou que ele não estava diferente comigo e nada disso. Pelo menos não tanto quanto eu pensava.
Quando finalmente avistei a porta do meu quarto, tentei parar de pensar naquilo tudo.
A ansiedade para o baile agora tomava conta de cada pedacinho do meu corpo e eu realmente esperava que tudo corresse bem e que eu... Bem, que eu me divertisse.
Pois aquele era o verdadeiro objetivo da minha viagem para Steinorth, não era? Diversão e experimentar coisas novas, sair da zona de conforto que eu tinha construído em St. Andrews e aproveitar aquele momento com Alexia, Lilian e as outras amizades que tinha feito ali.
Isso mesmo.
Eu iria aquele baile chiquérrimo da realeza e não iria mais me sentir como um peixe fora d'água. Iria me divertir o máximo que é possível se divertir em um salão cheio de pessoas com dinheiro suficiente para comprar um pequeno país.
E seria incrível. Seria incrível porque eu estaria lá.
Sorri, sentindo algo excitante se espalhar pelo meu estômago.
Não deixaria que nenhum olhar enviesado de alguém me assustasse, não mais. Principalmente o daquela princesa insuportável, que me olhava como se eu fosse algo muito desagradável que tinha entrado no caminho dela por acidente.
Bom, que pena para ela, porque eu não iria a lugar nenhum.
Realmente esperava que minha confiança repentina pudesse durar a noite toda...
"Por que está sorrindo?", Lilian perguntou quando coloquei a mão na maçaneta do quarto, me olhando com um sorrisinho também no rosto.
"Não sei...", falei, agora soltando uma risadinha. "Acho que estou feliz, só isso. E...", meus olhos se encontraram com os de Alex, "e um pouco mais segura comigo mesma. Finalmente."
Alexia abriu um largo sorriso e eu vi seus olhos brilharem. Ela segurou minha outra mão, a apertando de leve.
"Me agradeça pelo resto da vida por ter te trago para cá."
Eu ri, dando um empurrãozinho dela.
"Obrigada."
Então eu abri a porta do quarto e nós três entramos.
Com ansiedade, fui até a minha cama, onde tinha estendido o vestido do baile.
Porém, meu corpo paralisou assim que cheguei perto o suficiente para enxergar o que tinha acontecido.
"Mas o que...", a voz de Alex disse ao meu lado, completamente embasbacada.
Lilian soltou um arquejo e eu, por minha vez, fiquei ali parada, o sangue bombeando em meus ouvidos e me impedindo de ouvir qualquer outra coisa que não fosse as batidas frenéticas do meu coração.
Em cima da cama, onde devia estar meu vestido - o mesmo vestido que eu tinha amado quando experimentei e tinha feito eu me sentir linda -, não havia mais nada.
Não. Na verdade, havia sim.
Tiras e mais tiras de tecido azul estavam espalhadas pela cama e jogadas no carpete do quarto. A saia, antes longa e não muito rodada, estava em frangalhos e pequenas plumas azuis dançavam pelo ar.
Dei um passo vacilante até a cama, como se se eu me aproximasse mais e olhasse diferente para a cena, o cenário mudaria e tudo ficaria bem.
"Layla, o que aconteceu?", a voz de Alexia soou, esganiçada. Ela já estava próxima da cama, o vestido negro rodopiando quando ela estendeu as mãos e segurou pedaços do tecido destruído.
"Eu..." Mas nenhuma palavra era capaz de sair da minha boca. Eu estava tão confusa, atordoada e triste que tudo o que queria era sentar em um canto do quarto e ligar para a minha mãe. Porque ela sempre tinha um jeito de resolver os problemas. "Eu não sei..."
Então Lilian se aproximou de mim, sua mão suave pousando em meu ombro.
Quando ergui os olhos para ela, encontrei um rosto transtornado e repleto de culpa.
"Mas eu acho que eu sei."
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Oii gente!! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
O que foi esse final, hein? Estavam esperando por algo assim? O que será que aconteceu???
Só sei que meu coração está bem apertado por conta da Layla ):
Bom, espero realmente que vocês tenham gostado!
Gostaria de perguntar para vocês qual o horário que acham melhor para postar os capítulos, porque assim posso liberá-los de uma forma mais constante e melhor para que vocês leiam <3 Se tiver leitores de Portugal por aqui, também sintam-se à vontade para opinar!
Mil beijos e até o próximo capítulo,
Ceci.
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