Capítulo 15 - Zander

Minha vida não poderia estar melhor. Sinto como se todas as vezes em que me irritei ou me preocupei com o que meus pais poderiam vir a fazer tivessem sido uma perda de tempo. Não acredito que eu só precisava de uma namorada para os fazer desistir da ideia de me tornar o próximo grande homem da família, mas aparentemente era isso. Minha mãe chegou a me dar os parabéns por ser tão dedicado ao meu trabalho na semana passada e eu não consegui deixar de pensar se ela estava sendo sarcástica. Passei alguns dias esperando que ela tentasse me convencer a desistir de meu emprego e seguir a "vida que nós planejamos juntos", porém isso não aconteceu. Acho que minha mãe finalmente compreendeu que o que nós dois combinamos quando eu tinha doze anos não faz mais sentido para mim. Eu não quero ser igual ao meu pai ou avô, mas quando eu era pequeno entrava escondido no quarto deles e me vestia com suas roupas. Todo mundo achava uma graça quando eu falava que seria como eles, até tiraram várias fotos para provar, mas à medida que seus ternos foram encurtando, a ideia de ficar preso em um escritório também começou a desaparecer.

— Zander! Está me ouvindo, já te chamei várias vezes. — Minha mãe bate na porta de meu quarto, me acordando para a realidade.

Confiro o relógio em minha cabeceira. Estou desenhando a algumas horas, desde que deixei Barbara no mirante e voltei para casa. Por mais que eu não quisesse, acabei dando muita importância para a sugestão dela sobre os desenhos. Eu nunca tinha pensado em ganhar dinheiro com isso antes dela dizer que eu poderia.

— Zander, — minha mãe chama uma última vez antes de abrir a porta. — O que você está fazendo que seja tão importante?

— Nada. O que aconteceu?

— Eu queria que você me explicasse... — Ela cruza os braços e me encara.

Como não tenho ideia do que ela pode estar falando, penso imediatamente no plano de Hilary e no quanto isso pode atrapalhar o que eu tenho com Barbara. Se meus pais descobrirem eu tenho certeza que me mandar para a faculdade seria a coisa mais legal que eles fariam.

— Mãe, — engulo em seco. Não há nada que eu possa dizer.

— Eu sei que você já é um homem, mas eu não quero que a sua namorada bata na minha porta depois de meia noite novamente, entendeu? Eu só a deixei entrar dessa vez. — Minha mãe balança a cabeça, enfatizando o quanto não está satisfeita. Em seguida seus olhos param nas folhas sobre minha escrivaninha e ela me dá um sorriso cansado. — A Hilary está te esperando na biblioteca.

— Você a deixou entrar lá?

— Não vi nenhum problema. — Ela dá de ombros e caminha até a mesa, finalmente pegando um dos desenhos. Alguns minutos se passam em silêncio enquanto ela analisa a folha e eu não sei se está fazendo isso de propósito ou se está mesmo curiosa com a gravura.

— Mãe, — Minha voz sai mais dura do que eu gostaria, mas não tenho como evitar. — Por que você deixou a Hilary entrar na biblioteca?

— Ela é sua namorada, não é? — Suas sobrancelhas se erguem, como se ela estivesse me desafiando a dizer o contrário.

Neste momento eu percebo que devo estar agindo de uma forma bem suspeita aos olhos de minha mãe. Se Hilary realmente fosse minha namorada eu não me importaria com o fato de ela estar em um dos cômodos mais íntimos da casa.

Além da grande coleção de clássicos que meu avô juntou ao longo de sua vida, vários objetos de grande valor sentimental para a família estão guardados lá. Depois que meu avô faleceu eu passei a maior parte de meu tempo naquela sala e se eu me concentrar o bastante, ainda hoje posso ouvir sua voz fraca me contando histórias ou me ensinando a desenhar como se ele ainda estivesse vivo. Minha avó deixou que eu trouxesse a coleção de livros para cá depois que o marido faleceu, porque ela sempre soube o quanto eu era ligado à ele. A biblioteca passou a ser uma lembrança de meu avô, talvez a mais importante de todas já que também era seu lugar preferido quando ele vinha nos visitar. É também o meu esconderijo, sempre que eu quero fugir da realidade vou para lá. Nem mesmo Valentin tem permissão para entrar nela, por mais que ele seja meu amigo mais próximo.

Nunca pensei em levar ninguém para lá e me perturba saber que Hilary está nesse exato minuto vendo tudo isso. Eu me sinto como se tivesse dez anos de novo e uma garota tivesse sido convidada para participar do clube de garotos que eu ajudei a fundar. Na verdade, eu me sinto traído por minha própria mãe.

Volto a encará-la e reparo no brilho malicioso de seus olhos. Ela acabou de testemunhar meu colapso e tenho a impressão de que era exatamente o que queria. Minha mãe está desconfiada, mas não tenho tempo para me preocupar agora.

— Você não devia ter deixado.

Escuto-a prender a respiração quando saiu com pressa e desço as escadas. Sei que vou precisar explicar o que acabou de acontecer e se eu tiver sorte, minha mãe vai compreender, mas eu não sou tão ingênuo.

O primeiro andar da casa está no escuro, exceto pelo feixe de luz que escapa por uma brecha na porta da biblioteca. Posso ouvir Hilary andar lá dentro enquanto cantarola uma música que nunca escutei. Empurro a porta com cuidado e a encontro na ponta dos pés, de costas para mim, tentando alcançar o globo de meu avô na prateleira mais alta.

— Não toque nisso. — Meu aviso faz Hilary pular.

Ela vira sorridente e eu percebo o que deixou minha mãe tão incomodada. Seu rosto está coberto por maquiagem e a sombra preta ao redor de seus olhos está um pouco manchada e escorrendo por uma das bochechas, como se ela tivesse chorado e depois passou a mão para limpar, mas não conseguiu. Para completar, ela está vestindo uma camiseta tão curta que deve ter feito minha mãe chorar. Hilary está bem diferente da garota comportada e responsável que minha mãe achou que ela fosse e eu noto que essa garota diante de mim é a verdadeira. Ela parece perdida, mesmo com a aparência de alguém que sabe o que quer; mas quem não está perdido? Eu sei que eu estou. Hilary não é diferente de ninguém.

— Estou tão feliz por te ver. — Ela vem rapidamente em minha direção e afunda o rosto em meu peito. Suas mãos se agarram em minha camiseta como se eu fosse desaparecer se ela não me segurasse.

— O que aconteceu? — Eu a guio até o sofá no meio da ambiente.

— Não quero falar sobre isso. — Ela se aninha em mim, sem dar chance de eu me afastar.

— Você falou com a minha mãe?

Hilary faz que sim, mas não fala. Fico parado por alguns segundos ponderando se devo ou não me mover, porém acabo desistindo ao sentir o quanto ela está gelada e passo um braço por seus ombros. Eu não sei o que mais poderia fazer por ela. Hilary pode não ser minha namorada de verdade, mas continua sendo uma pessoa, e se ela veio até mim é porque não tem mais ninguém em quem confiar nessa cidade.

— Me desculpa. Eu sei que não devia ter vindo aqui tão tarde, — ela aperta os olhos. — Mas eu não sabia para onde ir e eu não podia voltar para o hotel do jeito que eu estava.

Estudo-a com atenção, mas ela não demonstra nada além de estar cansada.

— Hilary, o que está acontecendo? Onde você estava?

— Com alguns amigos. — Ela morde o lábio.

— O que aconteceu? — Quando percebo que ela vai mudar de assunto, seguro seu rosto com firmeza e a faço entender que precisa me contar. — Hilary, você pode confiar em mim.

— Eu sei, — ela respira fundo. — Eu estava com alguns amigos na parte oeste, perto do clube de golfe. A gente entrou em uma casa, e eu duvido que algum deles fosse o dono do lugar, mas eu fui mesmo assim...

Eu não gosto do jeito que Hilary se retrai. Posso imaginar o tipo de coisa que aconteceu nesse lugar. Barbara me contou algumas histórias sobre os garotos que moram por lá.

— A gente começou a se divertir. Tinha uma piscina bem pequena no quintal e algumas pessoas foram para lá, mas eu resolvi seguir o Alex para dentro da casa. Ele queria conhecer os quartos.

— Alex?

Hilary se irrita por eu ter interrompido, mas continua:

— Alex. O cara que eu estava saindo escondido. Ele é o meu garoto de cabelo laranja, mesmo que seja louro. — Ela ironiza. — Como eu estava dizendo, comecei a ficar entediada depois de um tempo.

— O que?

— Eu tentei falar com ele, mas sabe o que o idiota disse? Se eu não estava satisfeita, podia ir embora! Foi exatamente o que eu fiz.

— Você pegou uma carona no meio do caminho?

— Não. Eu não queria ficar nem mais um segundo parada lá e vim andando.

Mentalmente, calculo a distância entre a minha casa e o clube de golfe. De carro o trajeto dura uma meia hora, o que significa que Hilary andou por cerca de uma hora e meia para chegar aqui. O hotel em que seu tio está hospedado fica no meio do caminho. Ela podia ter parado lá.

— Por que você veio até aqui?

— Eu precisava te ver. Eu queriate ver.

Sinto meus olhos se arregalarem e meu sangue gelar. Eu não esperava ouvir isso. As palavras de Hilary não parecem certas, mas antes que eu consiga encontrar alguma explicação ela se estica e gruda sua boca na minha.

Meu primeiro instinto é empurrar ela para longe e nunca mais permitir que ela chegue perto de mim, mas eu tento me lembrar de que ela deve estar apenas brincando.

— O que você acabou de fazer?!

— Por que você está tão surpreso? — Ela revira os olhos e a garota fragilizada de poucos segundos atrás desaparece. Eu torço para que ela não estivesse me manipulando, mas não tenho tanta certeza.

— O que realmente aconteceu antes de você vir para cá, Hilary? — Ela se encolhe com meu tom de voz, mas a esta altura já não me importo.

— Eu te disse.

— Eu quero saber a verdade.

— Você não acredita em mim? — Ela faz um beicinho sem preocupar que não parece real e começa a rir. — A festa estava um saco e eu quis vir me divertir com você.

— O que fez você acreditar que podia aparecer aqui à essa hora? — Tento ignorar que ela acabou de me beijar, mas é difícil quando meu cérebro fica repetindo que essa é a pior coisa que poderia ter acontecido.

— Fala sério, — ela revira os olhos sem nenhum sinal de que vai se levantar tão cedo. — Você era mais divertido quando se esforçava para ser a decepção da família.

— Eu nunca fiz isso.

— Não? Deixa eu te ajudar a lembrar, — ela começa a contar nos dedos. — Aquele primeiro jantar que eu vim você discutiu com todos os seus irmãos e depois fugiu. Sua irmã contou para o Oliver como você ganhou a primeira tatuagem. Ninguém na cidade acreditaria que você é um Morris se eles não soubessem, porque você é sinônimo de problema.

— Você entendeu tudo errado. Eu não fiz nada disso de propósito. Só a tatuagem...

— Você enganou seus pais junto comigo, Zander. Você pode fingir que não, mas essa é a verdade. Nós dois somos iguais.

— Não somos. Eu fiz isso porque achei que fosse uma boa ideia. Eu só queria que eles me deixassem descansar por um tempo.

— E por que você acha que eu fiz? Já estou de saco cheio dos meus pais ditando cada passo meu! Eu queria viver um pouco. — Ela joga os braços para o alto e finalmente se levanta. — Estou vendo que essa é uma péssima hora. A gente pode conversar depois.

— Não. Eu acho que a gente não devia mais. — Apesar de eu não explicar, sei que Hilary entendeu o que eu disse.

— Inacreditável. — Ela solta uma risada fria. — Você está acabando com nosso namoro de mentira?! Você é muito engraçado.

— Depois do que você acabou de fazer eu acho que não devemos continuar fingindo. Você não é minha namorada e não tem direito nenhum de aparecer aqui como se fosse.

— Se você está dizendo isso é porque está caindinho pela Barbara. Só me diz uma coisa e eu vou embora: se eu não posso vir aqui fingindo ser sua namorada, ela pode?

Penso no que poderia acontecer se Barbara aparecesse aqui como minha namorada. Não tenho muita certeza de que meus pais ficariam satisfeitos, porque isso significaria que tem alguém nessa cidade capaz de me prender aqui por mais tempo. Eles veriam a Barbara como um obstáculo em seus planos, mesmo que conseguissem enxergar que ela é uma boa garota. Minha mãe poderia acabar afastando ela de mim, por mais que não fosse de propósito.

Volto a encarar Hilary e ela está rindo, satisfeita com minha falta de respostas. Assim como eu, ela sabe que trazer Barbara para dentro da minha casa não seria a melhor escolha nesse momento.

— Exatamente, Zander. Você é igual à mim. Você pode até gostar dela, mas não tem coragem de enfrentar sua família pelos seus sentimentos.

Escuto os saltos de Hilary bater contra o chão e em seguida a porta de frente fechar. Rapidamente fecho a porta de biblioteca, antes que minha mãe resolva aparecer para conversar. Eu não saberia nem por onde começar a explicar o que está acontecendo.

. . .

Ao escutar o sino da porta do Java tocar, levanto a cabeça torcendo para que não seja nenhum grupo de clientes irritantes. Eu não preciso de mais nenhuma desculpa para perder a paciência hoje. Depois que Hilary foi embora na noite passada eu não consegui dormir, repassando o que ela disse sobre eu não ter coragem. Minha mãe tentou conversar comigo, mas consegui sair de casa sem que ela percebesse e estou enviando todas as suas ligações para a caixa postal.

— Você está péssimo. — Valentin comenta com um sorriso largo ao passar pela porta.

— Animado para começar as aulas? — Pergunto quando ele se senta diante do balcão onde estou apoiado.

Meu amigo dá de ombros fingindo que não é grande coisa, mas eu sei que ele está ansioso. Desde que nos conhecemos que o escuto falar sobre a faculdade e agora que isso está acontecendo imagino que ele esteja muito contente. Tenho ouvido a maioria dos clientes tagarelarem sobre isso na última semana, sei que todos eles se formaram no último ano junto com Barbara.

— O que aconteceu?

— Nada. — Dou de ombros e me concentro em limpar uma das xícaras de chocolate quente, por mais que a peça já esteja brilhando.

— Sei... — Valentin se debruça sobre o balcão e apanha um dos muffins que separei para colocar na vitrine. — A Valentina disse que vai levar a Abby junto com ela para a sua festa.

— A festa não é minha, é da minha mãe.

— Dá no mesmo. Vai acontecer na sua casa. E todo mundo está curioso para ver onde você mora. Acho que as meninas estão esperando encontrar uma caverna. Eu disse que é uma casa bem normal, mas elas não acreditaram.

— Você sabe se a Barbara também está curiosa? — Por mais que eu imagine que não, acabo perguntando.

Pude perceber que Barbara não fica muito animada ou curiosa quando minha vida pessoal está em evidência, e isso me incomoda mais do que deveria. Fico me perguntando se ela gosta de mim do jeito que diz ou se sou só um passatempo para ela. Acho estranho que ela nunca tenha demonstrado interesse ou feito qualquer pergunta sobre a minha vida, quando eu tento descobrir tudo que posso sobre ela.

— Foi mal. A Val e a Abby conversam bastante, mas elas não falam muito da Barbara, então eu não sei se ela está incluída na lista.

Assinto, contrariado, e Valentin me olha com preocupação.

— Tem alguma coisa que você queira falar?

— Não.

— Eu não vou ficar perguntando... Nem vou ficar chateado. Na verdade, não vou nem pensar mais sobre isso. Eu só vou comer esse muffin em silêncio e fingir que não reparei que você está pior do que o normal. Eu vou...

— Tudo bem. — Jogo o pano de limpeza em cima do balcão e guardo a xícara. — A Hilary me beijou ontem.

— Tá legal. — Valentin começa a rir, mas para ao perceber que não estou achando graça. — Você está falando sério? Porra, por que você fez isso? Pensei que você e a Barbara eram sérios.

— Nós somos. Eu não sei o que aconteceu. A Hilary apareceu na minha casa e me beijou e aí foi embora como se não tivesse acontecido nada.

— Eu sei que é uma péssima hora, mas... Eu disse que não era uma boa ideia aceitar o plano da garota.

— Agora eu sei disso.

— E a Barbara, você vai contar para ela?

— De jeito nenhum! Ela não pode saber disso. — Acabo gritando e os outros clientes me olham com medo.

— Foi o que eu pensei... Mas se você não gostou, por que está tão incomodado?

— Porque ela me falou uma coisa que fez sentido.

— E... — Valentin solta um gemido frustrado por eu não estar contando o que ele quer saber. — Conta logo o que mais está rolando.

— Ela disse que eu tenho medo de enfrentar os meus pais.

— Grande surpresa. — Meu amigo revira os olhos.

— E se a Barbara se cansar? — Eu odeio o jeito que as palavras me fazem parecer fraco, mas a verdade é que não consegui parar de pensar nisso. Não tenho certeza do que Barbara sente, sei que ela não pretende ficar aqui para sempre. Quando ela perceber que merece coisa melhor, tenho certeza que ela não vai hesitar em dizer sim.

— Você devia dar o pouco de crédito para ela. Ela deu a impressão de que não queria continuar com isso?

— Não.

— Então por que você está pensando nisso?

Eu realmente não sei. Antes de Hilary dizer aquelas coisas eu não duvidei um segundo sequer de que Barbara estava tão contente quanto eu com a nossa relação. E então eu percebo que ontem à noite Hilary queria me deixar exatamente assim quando ela falou que gostaria de se divertir comigo.

— Ela é louca! — Eu exclamo depois de algum tempo, fazendo Valentin erguer as sobrancelhas. — A Hilary, ela é louca.

— E você também, meu amigo, mas não se preocupa porque existem formas de curar isso. — Valentin gargalha alto quando eu lanço meu dedo para ele.

A porta do café abre novamente e Mo entra marchando. Ele não parece satisfeito. Sinceramente, está mais irritado do que quando saiu, duas horas atrás. Eu pensei que ele estivesse indo para mais um dos encontros que Kristen armou para ele, mas vi as contas que ele tentou esconder dentro da pasta e logo percebi que era algum assunto sério.

Valentin acena, alheio a carranca no rosto de Mo, e eu penso em como ele pode notar tão pouco nas pessoas. Ele sempre foi assim, meio distraído, porém depois que começou a namorar Valentina ela só tem atenção para ela.

— O que aconteceu? — Valentin sussurra quando Mo vai para seu posto atrás do caixa.

— Ele está estressado porque o movimento tem caído diariamente.

— Mas nós estamos no verão. Esse lugar sempre enche nas férias.

— Não ultimamente. — Puxo um folheto do bolso de minha calça e passou para ele ler. — Depois que uma dessas cadeias internacionais abriu uma franquia no final da rua têm sido difícil manter a competição.

— Mas o café deles tem gosto de lama.

— Diz isso para o pessoal que vai até lá.

A mesa que estava ocupada por um casal vaga e eu deixo Valentin lendo o panfleto. Enquanto recolho a sujeira lembro-me do quanto esse lugar costumava ficar cheio cerca de um ano atrás. O único horário em que eu tinha paz era depois do café da manhã, a não ser por Valentin que aparecia aqui atrasado para a escola e pedindo por um copo grande de café preto. Mo era mais alegre naquela época e eu me preocupo que seu bom humor desapareça por completo até o fim do mês.

— Eu tive uma ideia! — Valentin exclama pouco se importando se está falando alto. Como não tem mais nenhum cliente, não me importo.

Olho na direção de Mo, que nem se esforça para tirar os olhos das contas que segura. Eu ofereci um empréstimo para ele pagar o que estava devendo, mas ele ficou mais irritado do que eu imaginei.

— Zander, você está com seus desenhos aqui?

— Estão na Sue. — Jogo as chaves do carro para ele. Valentin deixa o panfleto do concorrente em cima do balcão e se levanta.

Alguns minutos depois ele volta com uma pilha de papéis nos braços e um sorriso realmente assustador.

— O que você está fazendo? — Pergunto sem querer saber a resposta.

— Eu tenho a resposta para os seus problemas. — Ele se senta em uma das mesas, espalha as folhas sobre ela e me chama. — Quais você acha que mais combinam com o Java J?

— Os que eu fiz enquanto estava trabalhando. — Puxo algumas imagens e lhe entrego.

Valentin analisa cada uma delas por um tempo, enquanto eu fico de pé tentando imaginar o que ele está fazendo. Lembro-me do olhar fascinado de Barbara quando ela viu os mesmo desenhos. Ela pareceu gostar dos que Mo e Kristen apareceram, então eu os pego e também entrego para Valentin.

— Esse está bom. — Ele segura a sequência que fiz de Mo entrando no café com a aparência cansada, e logo depois saindo com uma roupa de super herói. Fiz aquilo para ser irônico, porque Mo sempre diz que precisa de sua dose diária de cafeína assim como os super heróis precisam de seus poderes para ser super.

— Valentin, o que você está fazendo?

— Eu preciso passar esse desenho para o computador. Você acha que eu consigo?

— Você pode tentar no escritório do Mo, acho que ele tem um scanner velho lá.

Observo-o subir a escada no fundo do café e desaparecer. Vinte minutos depois ele volta segurando um bloco de folhas.

— Mo? — Ele estala os dedos, fazendo Mo erguer o rosto. — Eu fiz isso para ajudar vocês na divulgação do Java J.

Meu chefe leva uma das folhas para perto do rosto e sorri. Eu me surpreendo, é o primeiro sorriso que ele dá em semanas. Com curiosidade, puxo uma das folhas para ver o que Valentin aprontou e também acabo rindo. Meu desenho está ilustrando uma propaganda do Java J que promete um café grátis para todos que gastarem mais de trinta dólares.

— Você acha que isso vai funcionar? — Mo não parece muito convencido.

— Sim. O Zander fez alguns desenhos para as propagandas do restaurante do meu tio. Ele não te contou?

— Não. Ele não conta muita coisa. — Mo se lamenta.

— Ele é bom nisso. Meu tio tentou convencer ele a cursar publicidade, mas ele não deu ouvidos. De qualquer jeito, eu garanto que isso vai dar certo. Se não, você pode me cobrar por cada um dos cafés grátis que eu prometi nesses panfletos.

— Pode ter certeza que eu vou, garoto. — Um pouco mais animado, Mo retira dois croissants da vitrine e nos passa. Ele serve um copo de café para cada um de nós e posso ver a animação em seus olhos.

Secretamente torço para que isso dê certo, porque eu odiaria ver Mo tendo que se desfazer do lugar que ele tanto ama. Foram anos de dedicação para o Java J ser o que é. Algumas vezes, quando ele está de bom humor, ele me conta histórias sobre como sua mulher sabia controlar esse lugar. Eu sei que esse café é mais do que um investimento para ele.    



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