Um Amor Em Marte - Parte 1


O céu de Marte era de um vermelho profundo, o solo árido e as dunas de poeira fina pareciam se mover como ondas sob o brilho das luas gêmeas. Ethan respirava com dificuldade, o capacete de sua roupa de exploração vibrava levemente com o esforço de seus pulmões. Ele estava sem fôlego, mas não pelo ambiente hostil. Era pela visão à sua frente. Entre as sombras, uma silhueta graciosa se movia. Não era um ser humano, mas uma figura feminina com traços suaves e olhos tão grandes e luminosos que pareciam conter as estrelas.

Ethan avistou Meera de longe, seus cabelos azulados caindo em ondas suaves por sobre os ombros. A luz esverdeada de seu planeta realçava o tom prateado de sua pele, refletindo a paisagem árida ao redor. Ao lado dela, ois soldados marcianos, com seus corpos robustos e armaduras brilhantes, mantinham-se em posição de guarda. Quando ela se aproximou, o vidro do capacete de Ethan emitiu um leve som ao ser tocado por sua voz abafada.

— Oi, Meera! — disse ele, com um sorriso hesitante, tentando romper a tensão no ar.

Ela não retribuiu o sorriso. Seu rosto, antes tão sereno, agora se fechava em uma expressão de pura determinação. Seus olhos violetas, geralmente suaves, se tornaram frios e distantes. Ela ergueu a mão com autoridade e ordenou em um tom firme:

— Guardas, prendam o terráqueo! Ele e seu povo invadiram nosso planeta com intenções de dominá-lo!

Ethan mal teve tempo de reagir. Os dois soldados avançaram com precisão, um de cada lado, agarrando seus braços com força. Eles tinham pele acinzentada e traços duros, com olhos opacos que não revelavam emoções. Suas mãos, revestidas de uma espécie de metal maleável, o seguravam firmemente, imobilizando-o.

— Meera, o que está fazendo?! — perguntou Ethan, com sua voz misturando surpresa e confusão, enquanto tentava se soltar em vão.

Ela o encarou, com seus lábios apertados e  respiração pesada.

— Eu te avisei... — bradou, sem esconder a raiva.  — ... que se você se aproximasse de mim novamente, eu te levaria à presença do meu pai!

O coração de Ethan acelerou, mas não era de medo. Era de frustração, de não conseguir entender o que estava acontecendo. Seu peito se apertava ao vê-la tão distante, tão fria.

— Não consigo ficar longe de você... — Ele confessou. Sua voz era trêmula de emoção. — ... É impossível!

Por um momento, Meera hesitou. Seus olhos revelaram algo mais, uma mistura de tristeza e arrependimento, mas ela rapidamente recuperou sua compostura.

— Pois aprenda!  — disse, com um tom mais duro do que pretendia. — Já conversamos sobre isso. Um amor entre um terráqueo e uma marciana é impossível! Não há futuro!

Ethan engoliu em seco, sentindo a dor dessas palavras, mas não desistiu.

— Seu pai fez sua cabeça, não foi? — insistiu ele, com raiva e desespero em sua voz.

Meera apertou os punhos, mas manteve-se firme.

— Eu escolhi a razão — respondeu ela, tentando mascarar a dor em sua voz. — Não vou causar um mal-estar entre meu pai e o meu povo. Agora, cale-se e pague o preço pela sua desobediência!

Eles se encararam por alguns segundos que pareceram uma eternidade. O vento levantava pequenas nuvens de poeira ao redor deles, enquanto o silêncio tomava conta. Apenas o som do próprio respirar de ambos, abafado pelos capacetes, quebrava o ar pesado entre eles.

De repente, Ethan, movido por um ímpeto incontrolável, se desvencilhou dos guardas. Com agilidade, surpreendeu os dois, aplicando golpes precisos com um punhal que trazia escondido, e os derrubou no chão. O choque nos olhos de Meera foi evidente. Ela deu um passo para trás, não acreditando no que acabara de ver.

— Não se aproxime de mim, terráqueo! — gritou ela, desta vez com um toque de medo nos olhos.

Ethan, ainda ofegante, encarou-a com intensidade.

— Meera... quer, por favor, me chamar pelo nome? — disse ele, com certa  mágoa voz.

Ela mordeu o lábio inferior, com as mãos trêmulas.

— Esse nosso conto de fadas acaba aqui. Foi bom enquanto durou... "Sihrasha!" — completou ela, usando a palavra em sua língua nativa para dizer adeus.

Ela se virou rapidamente e começou a correr. Suas pernas ágeis cortavam a areia avermelhada, levantando pequenas nuvens a cada passo. Ethan, sem hesitar, correu atrás dela. Seus passos pesados deixavam marcas profundas no solo macio. A areia fina chicoteava seus corpos, mas ele não podia deixá-la ir.

— Nem tente vir atrás de mim! — gritou ela por sobre o ombro, mas Ethan já estava decidido.

Ele a alcançou, abraçando-a por trás com força. Juntos, rolaram por um pequeno declive. A areia deslizava por baixo e sobre eles enquanto caíam. O mundo ao redor parecia desacelerar. O riso de Ethan ecoou pelo ar enquanto eles rolavam, até que finalmente pararam sob a sombra de uma pequena árvore, suas copas balançavam levemente com o vento.

Ethan, por cima de Meera, ainda estava ofegante. Ele fitou seus olhos, mesmo através do visor do capacete. Um misto de emoções passou entre eles. — raiva, frustração, e algo mais profundo, uma ligação que ambos sabiam ser impossível de romper.

— Ethan... — ela murmurou, quase como um sussurro.

Ele sorriu suavemente, acariciando o rosto de Meera, tentando alcançar algo mais além das barreiras físicas e emocionais que os separavam.

O silêncio ao redor era quebrado apenas pelo cantar do vento e o som abafado de suas respirações pesadas. Naquele momento, o mundo desapareceu, deixando apenas os dois, tão distantes e ao mesmo tempo tão próximos.

— Meera... — repetiu Ethan, com a voz carregada de sentimento.

Ela desviou o olhar, sentindo seu coração vacilar, mas sabia que o que estava prestes a acontecer seria inevitável.








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