capítulo 17
- O que está fazendo aqui?- franzi a testa exasperada.- Como conseguiu entrar aqui?
Ficamos nos encarando por alguns segundos, e seus olhos esverdeados brilhantes não escondiam a sensação de surpresa neles, assim como os meus.
- Sua avó me deu a cópia da chave caso... precisasse mexer em alguma coisa no meu jeep.
- Você não faz ideia do que mais ela te deu.- murmurei.
- O que foi que disse?- pergunta aleatoriamente, se sentando em um banco ao lado do veículo.
- Você ainda está com ele?- me refiro ao carro, passando as mãos na lataria emocionada.
- Algumas coisas não largam de mim, ou procuram não me deixar.
Sinto suas palavras me alfinetar como agulhas, rodando a chave no parafuso, para encaixar o pneu, de costas para mim.
Por conta disso, perdi totalmente o foco de suas costas largas, e pude perceber o quanto ele ficou mais forte nesses últimos anos, segurando as lágrimas que insistem em correr.
- Foi bom eu ter te encontrado aqui, ia mesmo te procurar.- falei tentando não demonstrar que percebi a intenção de suas palavras.- Minha avó deixou uma carta pra você... Acho que ela ia querer que você lesse.
- Engraçado você soar essas palavras agora.- se levanta e fica cara a cara comigo. De uma forma que mexeu com todos os meus sentidos dentro de mim.- Porque elas não fazem nenhum sentido pra você.
O vento que saía de suas palavras era frio. Seus olhos verdes tão intensos tinham perdido qualquer brilho. A forma dura como me olhou me quebrou inteira. O nó que se formou em minha garganta me impedia de respirar. Como se eu tivesse presa dentro de uma caixa prestes a morrer sufocada.
- E a propósito... Você está ainda mais bonita do que antes.- comentou saindo da garagem, sem olhar para mim.
De costas pra mim, Liam me deixou como se eu fosse ninguém... Uma completa estranha que ele não via há anos. Talvez seja o que eu realmente sou ou me tornei pra ele. Já que há anos não nos vemos... E pra ser sincera, achei que nunca mais nos veríamos de novo, até esse dia de hoje.
(...)
Após um bom banho gelado, esfriando esse choque térmico que meu corpo levou agora pouco, com muita indecisão resolvo ir até a casa de Liam. Com as mãos trêmulas bato em sua porta sendo recebida por uma criatura de cabelos longos e ondulados, castanho loiro, olhos verdes cintilantes, usando um short rosa pink com a parte da alça preta da calcinha do biquíni aparecendo, e um sutiã amarelo de amarrar nas costas, mascando um chiclete.
- Oi.- cumprimentei meio acanhada.
- Eu te conheço? - a garota estreitou os olhos esverdeados para mim, enrugando a testa branca.
- Talvez tenhamos nos visto há muitos anos atrás.- dei um sorrisinho tímido para ela.
- Sasha?- suas íris brilhantes se arregalaram parecendo que iam saltar das órbitas ao me reconhecer.
- Olá Nicole... Como vai?
- Eu não acredito que é você.- pulou contudo em cima de mim, num abraço caloroso... Diferentemente do seu irmão, que teve uma reação ao contrário do que eu esperava.
Mas o que eu estava esperando? Que ele tivesse esperado por mim todos esses anos, e me recebesse com festa? Nem eu esperei por ele, e acabei me casando. O que me faria pensar que ele teria feito ao contrário.
- O que faz aqui? Achei que nunca mais ia te ver.- se separa do abraço para nos olharmos novamente.
- Eu tive meus motivos para voltar.- abaixei a cabeça.
- Eu sinto muito.- segurou minhas mãos.- Eu estive no velório mais cedo, queria ter ficado mais tempo mas...- mordeu os lábios apreensiva.- Infelizmente não deu.
- Tudo bem, eu entendo.- abafei sua mão.- É... Nicole, onde está o teu irmão?- perguntei um pouco, receosa.- Minha avó deixou uma carta para ele, e ela gostaria que eu o entregasse e ele lesse.
- Meu irmão já não mora mais aqui já faz anos- ela estala os dedos.
- E onde é que ele tá?
- Porque você não entra e tomamos um café. Assim eu lhe conto tudo o que aconteceu por aqui nesses últimos anos.
- Eu não acredito no que eu tô vendo. Sasha?
Vejo Marvin aparecer atrás de Nicole, usando um calção vermelho e uma camisa branca. Aperto sua mão observando seu cabelo agora escuro meio bagunçado, o rosto barbudo, os bíceps amostra na camisa sem manga.
- É bom ver você também- o abraço sentindo sua força- Puxa, você cresceu hein- seguro em seus ombros brincalhona.
- Um pouquinho- ele coça a cabeça acanhado.
Nicole me puxou para dentro de sua casa, nos servindo uma deliciosa xícara de café enquanto me contava todas as novidades que aconteceram logo após a minha saída de Malibu.
Era incrível de ver, que apesar de todos esses anos, ela continuava a mesma, alegre, eufórica e sorridente. Diferente de seu irmão que mudou muito. O que causava em mim uma dor, desnecessária, no peito.
Fiquei feliz e surpresa ao saber que agora ela e Marvin estavam namorando, e que esse relacionamento começou desde o dia em que eu fui embora. Pelo menos uma coisa boa eu causei com minha partida.
No princípio Liam não concordou muito em ver seu melhor amigo e sua irmã namorando, mas logo depois tudo se resolveu e ele acabou aceitando.
- Eu vou deixar isso com você, pra você entregar a ele.
- Porque não entrega você mesma?- sorriu pra mim confiante.
- Não acho que seja uma boa ideia. Além do mais, como eu disse, acho que ele não gostou muito de me ver.
- Talvez as coisas sejam diferentes neste segundo encontro.- segurou minhas mãos.- Além do que, os dois estavam passando por momentos difíceis quando se reencontraram.
- Queria ter esse otimismo que você tem.- ri fraco.
- Ah, é porque eu sempre vejo o lado bom das coisas- sorrimos.
(...)
Peguei um táxi e segui com ele para o endereço que Nicole havia me dado. Meu coração apertava a cada minuto que eu me aproximava de sua casa. Desci do carro e fiquei apreciando um pouco a vista. A casa era linda, num alto de um morro em frente ao mar, coberta por árvores cheias.
Respirei profundamente apreensiva, e com as mãos trêmulas, bati na porta de madeira, da casa marrom claro, com o telhado de tijolinho. Bem rústica. De acordo com o que Nicole me contou, Liam havia se tornado instrutor de surf em Malibu. Após ganhar várias competições nacionais ao longo dos anos, decidiu se dedicar à carreira de ensinar e não praticar. Eu até cheguei a acompanhar suas competições por algum tempo, mas acabei desistindo e larguei pra lá quando percebi a dor que isso me causava.
Assim que a porta se abre, uma mulher de cabelos longos escuros, olhos castanhos claros, usando um vestido curto soltinho preto, aparece de repente. Seus olhos se estreitam para mim, assim como os meus tentando reconhecê-la. No fundo sinto que ela não me é estranha.
- Essa é... A casa do Liam Campbell?- pigarreio.
- E quem é que deseja falar com ele?- cruza os braços na frente do decote, quase revelando seus seios.
- Uma... Antiga conhecida dele.
A morena dá uma olhada discreta para trás de suas costas e diz.- Não, ele não está. Saiu... Quer deixar algum recado?
- Não obrigado, eu volto mais tarde.
Dei um tchau para a mulher e me virei para ir embora. Quem será aquela garota? Nicole não me disse nada que o irmão dela havia casado. Ou será que nem ela sabe? Ele não seria do tipo que esconde esse tipo de coisa dos outros.
Tirei os saltos do pé e fui caminhar na praia. Distraída com os meus pensamentos, chutando a areia, não percebi quando alguém esbarrou em mim, se lançando comigo com tudo no chão. Quando abri meus olhos, mirando a quem havia me derrubado, tudo em minha volta pareceu girar e em segundos parar, meu coração disparou acelerado, com seu rosto tocado pela luz do sol perto do meu, e seus olhos esverdeados vidrados em mim, da mesma forma que os meus castanhos não desgrudava de si. Pareceu que naquele instante ambos perdemos a forma de como se respirar, pois nossas respirações ficaram minuciosas, quase mudas, como se estivéssemos perplexos de nos encontrarmos ali naquele momento... Daquela maneira.
- Você está bem?- disse depois de longos segundos nessa posição, com ele em cima de mim.
- Estaria, se você não estivesse me esmagando.- o empurrei pra sair de cima de mim.
- Me desculpa... Eu sinto muito.
Se levanta estendendo a mão para que eu pudesse pegar, me ajudando a me levantar do chão também.
- O que você estava fazendo por aqui?
- Eu... Estava dando uma volta na praia.- respondi apertando a alça da bolsa.- E você?
- Eu vim dar uma corridinha na beira do mar.- coçou a cabeça contraído.- Gosto de fazer isso todos os dias. Achei que você tinha ido pra casa, depois do enterro da sua avó?- pôs a mão na testa, tampando o rosto dos raios quentes do sol.
- Eu ia.- suspendo a alça da bolsa caindo nos ombros.- Mas tive que ficar pra resolver algumas coisas.
- É....- enfiou as mãos no bolso, erguendo os pés pra cima e baixo.- Se não for incomodo, e nem parecer estranho, não gostaria de ir beber alguma coisa?
- Com você?- franzi as sobrancelhas com estranheza.- Não sei se é uma boa ideia.
- Eu sei, é que eu pensei que, talvez você quisesse alguém para conversar sobre tudo o que está acontecendo.
- Acho melhor em uma outra hora... Obrigada tchau. Eu já vou indo.
Apertei a alça da bolsa, e me virei dando as costas pra ele, saindo quase correndo da praia.
Entrei no primeiro táxi que apareceu, com o coração apertado, limpei as lágrimas que desciam pelo canto dos meus olhos.
Assim que cheguei em casa, fui direto pro banheiro tomar um banho. Permaneci no chão durante horas dentro do box, com a cabeça fervilhando de pensamentos aleatórios que me atordoou.
Quem será aquela mulher? Será que ela era namorada dele? De onde será que eu a conheço?
(...)
- Mamãe, a senhora tá aqui.- disse Âmbar ao entrar no quarto.
- Como foi seu almoço com sua avó?- sorri para ela enquanto penteava meu cabelo, observando-a pelo reflexo do espelho.
- Foi ótimo.- sacudiu os pés sentada na cama.- Almoçamos no Marine, e depois fomos à praia. O mar daqui é lindo, você precisa ver .
- É, eu sei... Adoro o mar daqui também.- rio tristonha.
- A gente precisa ir à praia juntas- bateu em meus ombros.
- Um outro dia.- segurei em sua mão.- Agora nós vamos dormir que eu estou cansada. O dia foi longo hoje.- me espreguicei levantando os braços pra cima e curvando a coluna para trás um pouco.
Coloquei Âmbar para dormir, como sempre fazia, apesar dela não ser mais uma criança, mas não nego que amo fazer isso, e me ajeitei ao lado dela na cama do quarto da vovó. É estranho dormir aqui. Sinto como se estivéssemos envolvidos com sua presença. Mas prefiro deixar pra lá e adormecer em um belo sono.
(...)
E aí meus amores. Como estão?
Gostaram do capítulo de hoje? O que acharam desse reencontro? Causou muito não é? Quem será essa mulher misteriosa na casa do Liam? Algum palpite? Digam aí, quero saber tudo o que se passa na cabecinha de vocês.
Não se esqueçam de votar se estiver gostando da história, e porque isso ajuda muito na divulgação também. E me deixa muito feliz, é claro, e animada, por saber que vocês estão gostando do meu trabalho.
Um grande beijo pra vocês, e até a próxima.
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