∘C.33∘
Às vezes só um acontecimento drástico vai te fazer pensar em como a vida pode ser curta. Eu entendi isso após a notícia de Anita sobre meu pai. A vontade de jogar tudo no ar e fazer o que mais quero é a vontade que se passa nesse pensamento de a vida ser curta.
Foi isso que eu fiz, joguei tudo pro alto e aproveitei uma situação para sair daquele relacionamento, mesmo que eu soubesse que passaria por aquilo já que eu fui precipitada.
Já fazia uma ou duas semanas que eu não saía do quarto.
Drama ?
Poderia até ser, mas não é como se eu quisesse ficar no escuro. Algo me prendia lá dentro, algo que eu não sabia o que era. Eu só... não conseguia levantar daquela cama, não conseguia ficar tranquila ao ouvir a voz de alguém me chamando, era como se um pânico me consumisse ao ouvir ou só pensar nas pessoas me perguntando se estou bem, se preciso de algo, se quero alguma coisa.
Cara, eu não estou bem, meu pai faleceu, não tenho minha mãe... Posso ter a Anita e amigos, um... melhor amigo, mas não é a mesma coisa que ter pais, receber um amor paterno ou materno, sem contar que fui feita de trouxa pelo meu agora ex.
Eu encarava o teto como se fosse uma obra de arte, o analisava, cada ondulação mínima da massa-corrida por baixo da tinta, não passa despercebido. Fechei os olhos, ouvindo os sons dos pássaros que cantavam.
Pássaros... eu queria ser um... poder voar para longe quando necessário, deveria ser bom... até mesmo libertador.
Dois toques na porta me fizeram virar na cama cobrindo a cabeça, mas deixando o rosto à mostra, bem rápido.
— Hanie... — Era Ra-ra... fazia certo tempo que não ouvia sua voz — Eu sei...fui bruta com você e com a Anita... queria pedir desculpas, eu estava exaltada, você... viveu com o appa durante todos esses anos e.. não quis ir ao enterro de imediato... nem vê-lo uma última vez... eu... foi meio estranho. — Sua voz foi abaixando o tom até o final da frase — Por favor... saia deste quarto.. você quase não come.. não quero te ver doente.
Eu queria respondê-la, mas algo segurava minhas ações.
Fechei os olhos.
Seus passos para longe eram audíveis. Mordi os lábios em frustração, então meu celular vibrou, estiquei meu braço e o peguei. Desbloqueei-o, e vi duas mensagens de uma pessoa.
Jk- Seu almoço está no forno, levei Ra-ra no centro, e a Anita foi dispensada na semana
Jk- Estou preocupado, mas te entendo, não queria ver ninguém quando meu appa faleceu.
Desviei o olhar da mensagem para a outra notificação.
Jm- Por que não acredita?
Puxei bastante ar, o segurando por um tempo em meus pulmões, então levantei, soltando esse ar, fechei os olhos, caminhei até o guarda-roupas, e peguei uma roupa quente.
Vestida, com as pontas do cabelo presas, abri a porta do quarto saindo sorrateiramente, desci, comi e soltei meu corpo no sofá olhando as fotos na estante. Uma comigo e meu pai, outra eu, meu pai e minha mãe, outra com eu e Jungkook abraçados e rindo, meus pais juntos, e outra com a Anita, meus pais, eu e Jungkook em um piquenique. Mas nenhuma com Ra-ra.
Respirei fundo, como sempre, e me levantei, peguei a foto onde eu estava com Jungkook, seu sorriso, me fez sorrir, era algo automático. Fechei os olhos e o imaginei me abraçando, e aquilo me levou a lembranças, seu coração acelerado naquele dias de neve a 12 anos atrás, seu sorriso ao se comparar a um coelho no dia do campo, seu modo de imitar as pessoas. Então meus olhos se abriram.
Caminhei até a saída, coloquei um sapato e sai. Entrei no bosque sem pressa.
Tantas memórias boas, tantos sorrisos, tantas lágrimas... tudo nesse lugar.
Não faz muito tempo que eu havia enviado minha solicitação de vagas para algumas faculdades estrangeiras. Se fosse aceita, mudaria de país... Jungkook não sabia, ainda.
Quando fiz isso, eu só queria fazer tudo que desejasse sem peso na consciência, e até agora imaginava milhões de modos de contar a ele sobre isso.
— Sayonara no.. — Eu comecei a cantarolar a música que seria nossa despedida.
Meus olhos se fecharam e eu deixei a melodia me levar.
Quando percebi, estava girando pelo campo, me deitei no chão, observando as nuvens.
Como eu viveria sem o Jungkook em minha vida ?Tudo passou tão rápido, doze anos... como seria depois de quase treze anos juntos, se um seguisse um rumo diferente que o outro. Por que eu tinha medo de o perder ? De estar fazendo besteira com meu futuro ?
Meu coração acelerou, o pânico me cercou... óbvio que eu não iria ficar bem.
∘Pov's Jungkook∘
— Que tal esse ? —Ra-ra apontou.
— Não.. é muito extravagante.
— E esse ?
— Ela não gosta de coisas grandes.
— Jungkook, eu quero ajudar, mas você não está colaborando — cruzou os braços.
— Eu quero que seja perfeito —Contrai os lábios — Algo que marque nossa vida juntos.
— Você continua o menino romântico de sempre — Balançou a cabeça rindo.
Meus olhos foram direcionados a algo brilhante, pequeno, e delicado.. Conseguia visualizar Hana com ele.
— Eu quero esse aqui — Apontei.
— Vai ficar perfeito — Ra-ra sorriu
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