Primeiro Ato


"...
— Não se preocupe, o intuito é te ajudar! - Afirmou o homem de cabelos grisalhos e terno preto.

— Você sabe que corre o risco de eu me matar lá dentro, não sabe? — Indagou a garota de pele pálida e cabelos pretos.

— Sim, eu sei... você não tem nada a perder, aliás, não ter nada a perder é um dos motivos por estar aqui.

— Se isso acontecer você perde tudo o que conquistou e ainda vai preso, por que correr esse risco?

— Por que eu também não tenho nada a perder..."

Este foi um trecho do desenrolar de uma conversa entre uma garota e o Sr. Carlos Figueiredo de Andrade, um empresário muito rico e também o mais novo dono de uma pequena emissora de TV aberta, a quase falida GNOTV.

Já no início da presidência na emissora, Carlos criou um programa chamado "?"; sim, simplesmente um ponto de interrogação, dirigido pelo próprio Carlos. Um programa onde repórteres entrevistavam e acompanhavam pessoas que tinham algum conhecido ou parente desaparecido. Além de mostrar o desespero e a preocupação das pessoas que não sabiam o paradeiro de quem quer que seja, indiretamente também denunciava a negligência policial que muitas vezes fazia pouco caso, fazendo com que os próprios familiares e amigos tomassem alguma atitude para encontrar a pessoa desaparecida.

O programa gerou uma audiência significativa e até ajudou algumas famílias a encontrar algum parente, seja ele morto ou vivo. Mesmo com o sucesso expressivo o programa durou 2 semanas, sem nenhum aviso prévio ou motivo aparente, ele parou de passar. Os telespectadores que tinham a intenção de ver o programa viram apenas uma pequena vinheta anunciando um novo programa, mostrando um fundo escuro com vários números em branco do 100 ao 1 indo e sumindo ao fundo da tela em ordem decrescente, dando destaque do 1 ao 5 antes do nome do programa aparecer em letras grandes e amarelas "ÚLTIMA CHANCE", seguido também da data de estreia, 12/10 às 19:00PM, o início da noite de um Domingo.

A vinheta se repetiu durante horas e se a intenção era chamar a atenção, conseguiu. Nas redes sociais só se falava sobre isso, muita gente ficou ansiosa e intrigada, pois além do anúncio, mais nenhum programa da emissora foi transmitido até o dia e hora tão esperados, dia 12/10 às 19:00PM.

Após 2 dias do anúncio, chega o grande dia, a audiência lá em cima e os ponteiros dos relógios fiéis ao horário que a vinheta mostrou, era a hora do Show. O programa se inicia e a abertura do programa era a mesma vinheta já vista antes, mas após o nome do programa "ULTIMA CHANCE" em amarelo há um corte de cena, onde os telespectadores são levados a conhecerem três pessoas com máscaras ninjas pretas e de couro, presas com uma trava e um cadeado, os impedindo de tira-las, todos com macacões brancos que cobriam dos pulsos aos  pés envoltos por botas pretas. Pareciam ter acabado de acordar, estavam assustados e meio desnorteados, como se estivessem se recuperando de uma forte ressaca, um encarando o outro tentando entender o que de fato estava acontecendo.

"Sejam todos bem vindos ao reality show ÚLTIMA CHANCE" e com essa voz robótica todos ali entenderam o que estava acontecendo, talvez não de fato, pois obviamente tudo era bem estranho; aquelas roupas, o lugar, as máscaras...

Notaram que suas roupas estavam numeradas do 1 ao 3, mesma numeração que havia em quatro portas com uma luz vermelha a cima de cada uma, rapidamente todos procuraram alguma coisa que podia estar em seus bolsos mas nada foi encontrado.

— Eu nem ao menos aceitei... — disse o participante número 2, em tom baixo mas escutado por todos.

— Como assim não aceitou? — perplexo, pergunta o participante número 1.

Todos direcionam seus olhares para o número 1, ele fica assustado, pois os olhares indicam que nenhum dos outros participantes haviam aceito participar do programa.

— O que aconteceu depois que você aceitou? — perguntou a participante número 3.

— Carlos me disse que entraria em contato, então eu me levantei para ir embora, quando me virei eu senti algo espetando meu pescoço e apaguei. — Ao abaixar a cabeça continuou com o relato. — Depois disso só me lembro de pequenos flashes de estar em uma cama e um incomodo na garganta.

— Aconteceu o mesmo comigo, mas eu também não havia aceitado. — o participante número 2 se pronunciou. — Acho que o convite foi só uma isca para nos atrair, aceitando ou não a gente já faria parte disso, é como se tivéssemos sidos sequestrados.

— Olhem pra cima. — falou a participante 3. — Há câmeras, talvez seja mesmo um reality show, ou o tal Carlos Figueiredo é um doente que colocou a gente em algum jogo macabro onde a gente vai matar um ao outro.

— Talvez tenhamos algo em comum, por isso as máscaras, de alguma forma a gente se conhece ou já se viu antes, eu acho que...

— Calma aí, cara. — a participante número 3 interrompe o número 1. — Eu estava brincando quando disse "jogo macabro", quer saber o que todos temos em comum aqui!? Todos temos uma vida de merda e não temos nada a perder. — respirou profundamente antes de continuar. — E não me perguntem como eu sei disso, reflitam vocês mesmos, quem teria interesse em escutar a proposta de um homem rico desconhecido com um convite pra um programa com o nome "Última Chance"?

— Bom, independente do que seja isso, parados nunca vamos descobrir. — disse o número 2 ao olhar para luz a cima das portas que antes era vermelha ficar verde.

Obviamente estavam todos assustados, a curta conversa que tiveram não ajudou muito e tudo que Carlos havia dito a cada um aparentemente não fazia sentido, tudo o que os participantes podem fazer é abrir as portas correspondentes ao número em suas roupas, e é exatamente o que fazem agora, cada um caminha em direção de sua porta, deixando um clima duvidoso do que estaria por vir entre eles e entre os telespectadores.

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