Capítulo 5

Ao receber a quente e confortável luz do sol em meu quarto, desbrucei-me na janela, olhando para a paisagem diurna de toda a aldeia, esperando assim que Haruki retornasse.
Virei-me para trás e então estiquei meus braços para cima juntamente com um bocejo aliviado, feito isso, caminhei em direção a porta, por fim deixando o quarto e indo em direção á cozinha, aonde estara havendo o café da manhã.
Eu me aproximei da mesa, me sentando em meu lugar de costume. Meu pai tomava uma xícara de chá enquanto olhava para mim.
Antes que eu alcance meu pires, ele pergunta:

-- Esteve com lorde Yoshida ontem a noite? - Meu pai questiona enquanto olha fixamente em meus olhos.

-- Eu saí para dar uma volta, acabei o encontrando no caminho de volta. - Eu o respondo. - Acho que ele estava bêbado, o cheiro de saquê era muito forte vindo dele.

-- Lorde Yoshida bêbado? Não venha com essa história. - Ele permeneceu. - Ele me disse que você o menosprezou nas ruas.

-- Eu não fiz isso. Eu estava me defendendo contra as palavras afiadas dele. - Enruguei o nariz como forma de desgosto.

-- S/N, entenda. Eu já falei com você sobre isso. - Ele abaixa o tom de voz, como se estivesse cochichando calmamente. - Lorde Uchiyama não se passa de uma ilusão. Ele apenas veio de mãos vazias e saiu com o coração puro e nobre de uma duquesa idiota.

-- Duquesa? Idiota? - Meu sangue começou a ferver, realmente ele ama tocar nesse assunto. - Quer que eu fale a verdade?! Tudo bem! - Eu me levantei. - Eu não deixaria um podre como o Yoshida tirar minha virgindade! Como posso me casar com um narcista que não faz nada além de me assediar e me rebaixar? Ele mal olha para meus olhos, nunca procurou saber nada sobre mim, ele só quer o meu corpo para se orgulhar e aumentar o status fodido da família dele!

-- Meça suas palavras, S/N! - Ele se levantou, se esguiando enraivecido.

-- Você só quer que Yoshida seja meu esposo pelos bens materiais da família dele! Você só pensa em si mesmo, se ele parece ser um marido tão bom assim, case-se com ele você. - Eu disse, dando um ponto final na discussão, ao menos para a parte do meu pai. - Você não pode ao menos ser feliz ao me ver feliz? Eu sei que é loucura eu decidir me casar com alguém que só tive por uma noite, mas eu preciso do seu apoio para isso tudo der certo.

Eu suspiro pesado, com um olhar frustrado enquanto meu pai se senta novamente, tentando se recompor.

-- Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Eu falei. - Apenas deixe que eu escolha minhas decisões. Não quero ter que depender de você pra tudo.

-- Tudo bem, tudo bem. Tenho uma condição. - Ele me olha, com o indicador levantado. - Eu permito o casamento se o Haruki retornar dentro de dez segundos.

-- O que?! Isso é impossível! - Eu disse, surpresa.

-- Ele não é bom? Deve cumprir suas prome- Meu pai foi interrompido quando Hinata apareceu na porta da cozinha.

-- Lorde Mori, lorde Haruki está de volta, por vontade própria, ele exige sua permissão para ver Lady S/N. - Hinata diz, obedecendo os comandos de etiqueta.

Eu sorrio alegremente enquanto meu coração acelera quando ela disse isso. Meu pai estava incrédulo, cobrindo seu rosto com as mãos, derrotado.

-- Convide-o para entrar. - Meu pai diz.

Corro para a entrada principal, desequilibrando Hinata acidentalmente que por pouco não foi ao chão. Virando alguns cômodos, finalmente vi a imensa porta de entrada, e lá estava ele, admirando o belo jardim da mansão enquanto a brisa suave do vento ao amanhecer balançava seus longos cabelos.
Ele olhou para mim antes que eu possa pular em seu colo, que por muito pouco não me deixou cair, me segurando em um abraço apertado e caloroso.

-- Você voltou mesmo! - Eu disse, ainda sem acreditar que ele estava ali, na minha frente como de dias atrás.

-- Por que não voltaria? Não foi isso que eu te prometi. - Ele sorriu levemente, aparentemente zombando do meu sorriso de orelha a orelha.

-- Eu não acredito, eu senti sua falta! - Eu disse, apertando-o mais ainda.

-- Eu digo o mesmo, Lady S/N. - Ele disse de maneira tão calma como a de antes enquanto delizava suas unhas grandes atrás de minha orelha, prendendo uma mecha de cabelo que acabou caindo em meu rosto. - A senhorita fica mais radiante ainda na luz do sol, acho que ele é generoso com você.

Com muito custo, eu saí de seu colo a tempo antes que meu pai apareça na porta, com um olhar assustado em direção ao Haruki. Eu os entreolhei, percebendo o desconforto de Haruki ao receber os olhos de meu pai.
Notei o homem segurando a espada em sua bainha, com a mão trêmula.

-- Saia de perto da minha filha, aberração! - Meu pai exclama ao Haruki, tentado levantar a espada como forma de me "defender".

-- Pai, abaixa essa espada! - Eu digo, abrindo meus braços em frente ao esbranquiçado.

-- Seu demônio, s-seu monstro! - Meu pai se enroscava nas palavras.

-- Vamos com calma, Lord Mori. - Haruki diz de forma gentil e paciente. - Me chamo Haruki Uchiyama, é um prazer conhecê-lo.

-- S/N, saia de perto dele! Não está vendo?! - Meu pai recua quando Haruki dá um passo a diante. - É um kitsune!

-- Kitsune? - Eu pergunto.

-- Oh, sim. Muitos me confundem com um kitsune por não ter melaninas no meu corpo. - Haruki solta uma risada suave, levemente ousada. - Eu vim de uma geração de albinos.

-- Com essas manchas no rosto? Não, você não me engana! - Meu pai tenta afirmar sua espada enquanto suas mãos tremem.

-- São cicatrizes. Eu as ganhei quando criança, normalmente elas quase cobriam meu rosto e são totalmente assimétricas. - Ele desliza seus dedos em sua bochecha.

-- Pai, já chega, você não pode acusar as pessoas assim! - Eu digo, cruzando os braços.

Meu pai suspira pesado antes de devolver a espada a bainha.

-- Eu estou de olho em você, Lorde Uchiyama. - Ele nos entreolha antes de sair com passos pesados.

-- Bom dia para o senhor também, Lorde Mori. - Ele acenou calmamente para meu pai.

-- Me desculpa por isso, meu pai é implicante de natureza. - Eu disse um tanto nervosa. Ele era tão misterioso, não dava para saber o que ele estava sentindo.

-- Não se preocupe. Eu frequentemente sou confundido com Kitsunes por várias pessoas. - Ele sorriu em minha direção.

-- Você realmente se parece com uma. - Eu concordo. - Não sei o porquê, sua energia é como o de uma kitsune.

-- Já esteve perto de uma antes, senhorita? - Ele me pergunta, fitando meus olhos esperando uma resposta.

-- Não tenho certeza se era uma kitsune, mas eu me encontrei com uma raposa esses dias. - Então passei a explicar. - Ela tinha o pelo branquinho, olhos amarelos e algumas listras no rosto e em suas orelhas. Até se parece com você.

-- Tome cuidado, senhorita. - Ele se esguia, cochichando em meu ouvido. - Raposas podem ser bem travessas com humanos.

-- Oh, eu... Eu já ouvi falar disso antes. - Eu acabei tropeçando em minhas palavras. - Venha, vamos entrar.

Ele curvou levemente sua cabeça em agradecimento, então me acompanhou para dentro da mansão, deixando seus sapatos junto aos meus na entrada.
Estava um dia bem quente, então eu o levei para o jardim da mansão, aonde era mais refrescante pelas diversas árvores que faziam sombra por lá. Ele ficou fascinado com as cores do lugar, era realmente muito colorido com as várias flores que compõem o jardim.
Eu caminho ao seu lado em direção ao pomar.

-- É realmente muito bonito, senhorita. - Ele disse, parecendo olhar hipnotizado pelas flores.

-- É sim. Geralmente sou eu quem as cultivo, não gosto de deixar esse tipo de trabalho para os empregados. - Eu digo enquanto tento me aproximar dele.

-- Você tem as mãos boas, sendo assim. Eu também sou um grande fã de flores. - Ele diz, tentando olhar para mim, porém as flores ao seu redor pareciam tão tentadoras.

-- Acho que já deu pra ver isso. - Eu disse, tirando um sorriso divertido dele. - Pode apreciá-las o quanto quiser.

-- Eu agradeço. - Ele disse, por fim dando um pouco de seu olhar às flores enquanto caminha lentamente ao meu lado.

Enquanto ele estava distraído, percebi as várias camadas de roupa que ele usava. Como ele conseguia ficar com todas elas nesse calor?
Nós chegamos até uma árvore aonde havia um pequeno tecido estendido sobre a grama, eu havia o colocado lá já faz um tempo.
Me sentei no pano no gramado verde, convidando Haruki para ficar ao meu lado. Ele precisava descansar, aparentemente teve uma longa viagem até aqui com seu cavalo.
Ele se sentou, assim dando um longo suspiro aliviado. Não tive vergonha de perguntar:

-- Você não está com calor com todas essas roupas? - Eu disse de maneira inocente. - Você pode tirar algumas camadas se quiser, está realmente muito calor.

-- Acho que não seria algo respeitoso com uma lady. Não em plena luz do dia. - Ele disse.

-- Se eu posso, você também pode. Vamos Haruki, você está passando calor que eu sei. - Eu insisto, antes de suspeitar que ele está com febre ou algo do tipo. - Falando nisso, me desculpa, eu esqueci de te oferecer algo.

-- Tudo bem, eu não quero nada por enquanto. - Ele disse gentilmente.

-- Mas você tem certeza que vai continuar com essas roupas pesadas? - Eu olhei para ele com frustração. - Você não está com febre, está?

-- Não precisa se preocupar comigo, senhorita. - Ele disse, e deu uma breve pausa antes de me dar um sorriso nervoso. - Mas já que você insiste, acho que vou tirar algumas peças.

Ele levou suas mãos à suas vestes, então despindo cuidadosamente algumas camadas, e também seu kimono, ficando somente com suas calças e uma segunda pele preta sem mangas e gola alta. Podia sentir seu perfume hipnotizante que vinha de suas roupas, era como se fossem flores naturais.
Após dobrar suas roupas, ele as coloca em um canto na grama, então tirando uma fita avermelhada de seu kimono já dobrado, e então amarrando seu cabelo num rabo de cavalo alto, deixando algumas mechas ao lado de sua franja caírem sobre seu peito. Ele estava realmente encantador assim.
Notei algumas argolas douradas em seu bíceps, aparentemente de origem africana.

-- Agora está bem melhor. - Eu disse, sorrindo aliviada. - Como você consegue ficar com todas essas roupas?

-- Eu me acostumei. Em meu templo não costuma fazer muito calor assim. - Ele diz.

-- Você tem um templo? - Eu o perguntei, realmente curiosa. - Como os dos monges?

-- É um santuário xintoísta. - Ele explica. - Fica nos altos de uma montanha distante daqui. Sou apenas eu lá.

-- Então você é um kami? - Eu o perguntei, zombando dele.

-- Alguns acreditam que eu seja. - Ele diz, sorrindo.

-- Isso é interessante. De fato você é diferente dos outros homens. - Eu o elogio.

-- Muito mais do que você possa imaginar, mademoiselle. - Ele diz, me dando uma piscadela. - Vamos falar de você.

-- Eu não sou muito interessante. Tudo que eu sou é o que todo mundo já sabe. - Eu digo um tanto nervosa.

-- Eu não vou invadir seu espaço. - Ele disse com um sorriso tranquilizador.

-- Você não está. - Eu respondi.

-- Então pode me mostrar seus lugares favoritos, o que acha? - Ele espera pela permissão.

-- Mas você não está muito cansado? - Voltei a me preocupar com ele.

-- Por que eu estaria? - Ele pergunta, como um convite. - Agora eu estou aqui, vamos aproveitar nosso tempo juntos.

-- Já que você diz, por que não? - Eu sorri alegremente antes de me levantar.

[...]

Eu guiei Haruki até um campo de girassóis. Eles tinham uma boa visão de cima do cavalo de Haruki.
Ele desceu do cavalo, assim estendendo sua mão para me apoiar a descer, e assim o fiz. Ele entregou uma fruta ao cavalo após fazê-lo ficar debaixo da sombra de uma árvore para descansar.
Notei Haruki mexendo no cesto de bambú ao lado da cela do cavalo. Ele a removeu juntamente ao cesto, e então as deixou debaixo da árvore. Ele abriu seu sexto, assim tirando um pequeno animal esbranquiçado.
Ele veio até mim com um coelho branco em seus braços.

-- Se importa se o Kiku nos acompanhar? - Ele me mostrou o mini lop esbranquiçado, levei minha mão para acriciá-lo.

-- Tudo bem. - Eu concordo enquanto sorrio para o rapaz.

-- Que ótimo. Podemos ir? - Ele pergunta, tentando esconder sua ansiedade.

-- Vamos sim, mas... Você não vai amarrar seu cavalo? - Eu pergunto, notando que não havia o prendido ali.

-- Não há necessidade, ele não vai sair dali. - Ele responde, olhando para o animal de pêlos negros.

-- Se você diz, vamos indo. - Eu segurei sua mão, levando-o para o campo de girassóis. Ele admirava a quantidade de amarelo do local enquanto andava comigo.

-- Aqui realmente há lugares maravilhosos. - Ele parecia se alegrar muito mais enquanto estava rodeado pela natureza.

Ele não soltou minha mão enquanto andamos pelo espaço amarelado. Até que ele me puxou para si, me girando com sua mão acima da minha cabeça, me trazendo para seu peito, roubando um beijo doce de meus lábios inesperadamente.

-- Uau, eu treinei muito para fazer isso com alguém. - Ele acabou deixando escapar uma breve risada, o que me fez rir junto a ele.

-- Você mandou bem. - Eu disse, tentando não pisar nos girassóis enquanto me abraçava a ele. - Sabe, atrás das árvores depois do campo de girassóis há uma cachoeira muito bonita. Posso te levar até lá?

-- Será um prazer. - Ele disse, animado para vê-la.

[...]

Chegando a cachoeira, notei sua expressão animada quando viu toda aquela água caindo de cima das grandes pedras que formavam a cachoeira. Eu me sentei à beira da Cachoeira, então comecei a despir minhas roupas. Havia pouca passagem de sol por lá devido às grandes copas de árvores.
Notei seu olhar de Haruki em mim, ele estava sorrindo para si mesmo antes de começar a tirar suas roupas também.
Ele pôs o animalzinho no gramado verde ao lado da Cachoeira.
Haruki entrou na água primeiro que eu, sei que a cachoeira costumava ser um pouco funda, por isso não me arriscava a sair de perto dos cantos enquanto Haruki me chamava para o meio junto a ele.

-- Ei, você pode acabar se machucando nessas pedras, vem pra cá. - Ele disse. Era tentador, mas não acho que eu conseguiria chegar até lá.

-- É melhor eu ficar por aqui mesmo. - Eu disse, suando frio enquanto ele se aproximava.

-- Venha, eu te seguro. - Ele me ofereceu sua mão, eu pensei duas vezes para segurá-la.

Assim, ele me levou para aonde meus pés não se encontravam com o chão, estava com medo que ele me soltasse lá, mas algo que diz que ele não faria isso.
Enquanto eu olhava para seus olhos, não percebi as pequenas ondas se colidindo contra minhas costas. Eu olhei para trás, me deparando do Kiku nadando em nossa direção. Eu me assustei quando vi o coelho todo encharcado chegando aos meus braços. Eu o segurei, então colocando-o entre mim e Haruki.

-- Não é perigoso deixá-lo molhado? - Eu perguntei, me referindo ao coelho.

-- Ele é acostumado a nadar comigo. Não se preocupe, ele não vai pegar uma hipotermia ou coisa do tipo. - Haruki diz, liberando o animal de nossos braços para que ele nade livremente ao nosso redor. - Eu agradeço a sua preocupação por mim e meus animais.

Ele disse ironicamente. Eu revirei os olhos enquanto voltava meus braços ao redor de seu pescoço. Podia sentir suas unhas contra minha bunda debaixo da água. Nós dois estávamos completamente nus, mas não era visto como uma forma maliciosa por nenhum de nós dois. Mas eu confesso que era difícil vê-lo assim novamente e não fazer nada.
Pretendo trazê-lo aqui mais vezes. Ao menos aqui somos nós dois e mais ninguém além de Kiku.

-- Não que seja da minha conta, mas eu percebi que você tem um ramo de cerejeira em um vaso na janela do seu quarto. - Ele diz. - Como a conseguiu se ainda não é época?

Como eu deveria responder a essa pergunta? O que ele vai fazer se saber que estou rezando para uma árvore que me promete um companheiro, que possivelmente não é ele? Não faria sentido ser o Haruki se ele apareceu em meu segundo dia de oração, mas com certeza não preciso de nenhum outro homem.
Pensei em uma resposta que não o deixe chateado.

-- É só uma decoração. - Eu respondi.

-- Oh, sim. Me parece muito realista, o artista é realmente talentoso. - Ele voltou a sorrir.

Senti o brilho de meu colar aumentando, parecia palpitar em sincronia a meus batimentos cardíacos, Haruki observa o pingente pulsante.

-- Não percebi que você estava o usando. - Ele disse, impressionado.

-- Ele é muito lindo, porém não o entendo as vezes. - Respondi, lembrando nas minhas experiências com esse colar. -- Podemos falar sobre ele no templo? Vamos aproveitar agora.

-- Com certeza. - Ele deu um selinho divertido em minha testa.

Eu e Haruki passamos o resto do dia juntos, indo para lugares diferentes aonde possamos aproveitar, e formar boas memórias em um lugar tão belo quanto ele.
Foi isso até que ao anoitecer, Eu e Haruki voltamos ao cavalo, e então ele devolveu as celas até as costas do animal. Então me ajudou a subir do animal que era realmente muito alto. Ele subiu atrás de mim enquanto segurava a corda do cabresto por baixo de meus braços, indiretamente segurando minha cintura enquanto Kiku se aconchegava em meu colo para o caminho da mansão.

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