❛ 001 ─── TORMENTA ❜

𝐂APÍTULO 01 ─── TORMENTA
❛ Eu sobrevivi a tudo, mas temo não conseguir sobreviver a mim mesmo. ❜

─── Cynthia Chapman.


























˓ 𝐂ontinente de Ulthos,
𝐕alinor 102 d.C. ˒


Haelena nunca foi uma criança inclinada à convivência em grandes grupos. Desde muito pequena, sua personalidade tranquila e introspectiva a fazia buscar a solidão, um espaço onde pudesse encontrar paz e equilíbrio. O barulho e as risadas de outras crianças a incomodavam mais do que traziam alegria, e ela preferia se refugiar em jardins, corredores silenciosos e no aconchego da companhia de sua mãe, irmão e primo. ━━ As pessoas que mais amava.

Os habitantes de Valinor logo perceberam o comportamento peculiar da jovem princesa. Ela era cortês com os empregados, mas mantinha uma distância que fazia muitos deles a considerarem enigmática. As crianças da fortaleza, no entanto, não eram tão compreensivas. Para elas, Haelena era "estranha", sempre perdida em pensamentos ou entretida com algo que escapava ao entendimento comum. No entanto, isso nunca a incomodou. Ela vivia bem assim, com sua família e seu dragão.

Meraxes, o dragão que muitos consideravam aterrorizante, era, para Haelena, uma figura de conforto e segurança. Com suas escamas reluzentes e olhos que pareciam enxergar a alma, ele exalava poder e majestade. Os habitantes de Valinor o observavam à distância, fascinados e assustados, mas para a jovem princesa, ele era um amigo especial.

Meraxes sempre parecia saber onde ela estava. Não importava se ela estava escondida em uma clareira distante ou no alto de uma das torres da fortaleza, ele a encontrava. Esse comportamento criava em Haelena a sensação de que ele se importava com ela, que a compreendia de uma forma que mais ninguém podia.

Apesar do laço entre eles, Haelena era raramente vista montando no dragão. Enquanto outros nobres e cavaleiros ostentavam suas montarias como símbolos de poder e controle, Haelena fazia o oposto. Nunca quis subjugá-lo com celas ou correntes, acreditando que Meraxes era um espírito livre e deveria permanecer assim.

Ela preferia observá-lo voar sozinho, cortando os céus como uma força da natureza. Enquanto isso, passava seus dias entre as árvores, bordando, estudando os pequenos insetos que tanto fascinavam, ou na companhia de sua mãe e irmão. Para os servos da fortaleza, essas eram cenas comuns. Mas, para Haelena, eram momentos que carregavam um significado profundo.

Naquela tarde, Haelena estava sentada em um canto do jardim, com uma pequena aranha repousando em sua palma. Ela a observava atentamente, inclinando a cabeça de leve, como se tentasse decifrar os segredos daquela criatura.

━━ Tem cinco pernas… ━━ Murmurou, sua voz delicada e quase inaudível. ━━ É fêmea.

Seu irmão mais velho, Rhaemon, estava próximo, distraído. Sentado em uma pedra, ele girava uma adaga entre os dedos, deixando que o movimento repetitivo ocupasse seus pensamentos. Ao ouvir as palavras da irmã, ele levantou os olhos e respondeu com um leve sorriso:

━━ Perdeu uma perna, mas ainda está viva. Deve ser uma guerreira forte.

Haelena permaneceu em silêncio, inclinando a cabeça para observar melhor o pequeno inseto. Seus olhos violetas estavam fixos na aranha, e sua expressão, como sempre, era inexpressiva, quase etérea.

Rhaemon a conhecia bem. Sabia que, nesses momentos de concentração intensa, algo mais estava acontecendo. Ele observou enquanto a irmã parecia perder o contato com o presente, seus olhos se fixando em algo invisível.

De repente, Haelena congelou.

O jardim, o som das folhas ao vento e até a presença de Rhaemon desapareceram. Em sua mente, uma imagem tomou forma: um trono feito de espadas, afiado e brilhante, que exalava uma aura opressora. No entanto, o brilho metálico logo deu lugar a algo mais sinistro. Um líquido vermelho e espesso, semelhante a sangue, começou a escorrer pelas lâminas, formando poças aos pés do trono.

━━ Sangue no ferro. ━━ Murmurou ela, sem tirar os olhos da aranha em sua mão.

Rhaemon se levantou imediatamente, percebendo que algo estava errado. Aproximou-se dela com cautela e tocou-lhe o ombro com delicadeza.

━━ Haelena? ━━ Chamou, sua voz cheia de preocupação.

O toque fez com que Haelena piscasse, como se estivesse voltando de um sonho profundo. Ela olhou para o irmão, mas sua expressão permanecia tranquila, quase indiferente.

━━ O que foi desta vez? ━━ Perguntou ele, sabendo que era frequente a irmã ter momentos como aquele.

Haelena desviou o olhar para o horizonte, suas mãos ainda segurando a pequena aranha.

━━ O trono corta, mas o sangue o cobre. ━━ Disse ela, sua voz serena, como se estivesse narrando algo inevitável.

Rhaemon prendeu a respiração ao ouvir as palavras. Apesar de sua aparência confiante e imponente, ele sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Sabia que as visões de Haelena nunca eram triviais.

━━ Venha. ━━ Disse ele, estendendo a mão para a irmã.

Haelena entendeu o comando sem necessidade de mais explicações. Guardou cuidadosamente a aranha em uma pequena caixa de madeira que sempre carregava consigo e segurou a mão de Rhaemon. Juntos, caminharam em direção à fortaleza.

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Enquanto atravessava os corredores do castelo, Rhaemon estava inquieto.

O trono corta, mas o sangue o cobre.

As palavras da irmã ecoavam em sua mente. Ele sabia que precisava contar à mãe o que ouvira. Daella sempre parecia entender os enigmas de Haelena de uma forma que ele não conseguia.

Quando chegou aos aposentos da mãe, os guardas abriram as portas com rapidez, anunciando sua chegada:

━━ O rei, Rhaemon Velyndar.

Daella, que estava sentada à janela bordando, ergueu os olhos ao ouvir o anúncio. Sua expressão tranquila mudou imediatamente ao ver o rosto do filho.

━━ Rhaemon. ━━ Chamou, aproximando-se rapidamente. ━━ O que houve?

Ela colocou a mão no ombro do filho, guiando-o até a beira da cama. Sua preocupação era evidente; conhecia bem Rhaemon e sabia que algo o estava perturbando profundamente.

━━ É Haelena novamente… ━━ Começou ele, com a voz baixa.

Ao ouvir o nome da filha, Daella sentiu o coração apertar.

━━ O que foi desta vez? ━━ Perguntou, tentando manter a calma.

━━ Ela disse algo… Mas foi diferente desta vez. ━━ Respondeu Rhaemon. ━━ Disse: “O trono corta, mas o sangue o cobre.”

Daella franziu o cenho, pensativa. Levantou-se e começou a caminhar de um lado para o outro, tentando processar as palavras da filha.

━━ Foi apenas isso? ━━ Perguntou ela, finalmente.

━━ Sim, mas é o suficiente para nos preocuparmos. ━━ Respondeu Rhaemon.

Daella suspirou e parou de caminhar. Virou-se para o filho, sua expressão agora carregada de preocupação.

━━ Não temos tempo para desvendar tudo agora… Recebi uma mensagem de Jaehaerys. ━━ Disse ela, com pesar.

Rhaemon estreitou os olhos, desconfiado.

━━ O que ele quer?

━━ Ele exige que Haelena vá para Porto Real antes da próxima lua. ━━ Respondeu Daella, sua voz entristecida.

O silêncio caiu sobre o aposento, pesado como uma tempestade prestes a se formar.

━━ Mas ela deveria ficar aqui até completar oito anos! ━━ Protestou Rhaemon, indignado.

━━ Esse era o acordo inicial, mas Jaehaerys insiste que ela vá antes do oitavo dia de seu nome. ━━ Explicou Daella, tentando manter a firmeza na voz.

Ela segurou as mãos do filho, apertando-as com força.

━━ Não temos escolha. Mas prometo a você, Rhaemon, encontraremos uma maneira de protegê-la. ━━ Disse ela, olhando nos olhos do filho.

━━ E como faremos isso? ━━ Perguntou ele, desconfiado.

━━ Teremos que ter pessoas de confiança, tanto daqui quanto de Porto Real. ━━ Respondeu Daella, sua voz se tornando pensativa.

Rhaemon sabia que ela não diria mais nada naquele momento. Sua mãe era uma mulher de muitos segredos, e ele sabia que precisaria esperar para entender completamente seus planos.

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Enquanto isso, em seus aposentos, Haelena estava sentada no chão, cercada por almofadas macias. Com delicadeza, abriu sua caixa de borboletas e pegou uma com asas azuis brilhantes.

Segurando o inseto morto na palma da mão, observou-o com atenção, seus olhos violetas refletindo uma melancolia que parecia maior do que sua idade.

━━ Tenho medo de me tornar como você… ━━ Murmurou, a voz quase sumindo no silêncio do quarto. ━━ Apenas uma bela lembrança, morta e esquecida pelos outros.

Ela permaneceu assim por alguns minutos, perdida em seus próprios pensamentos. O silêncio era quebrado apenas pelo leve som do vento entrando pela janela.

Então, o ranger das portas a trouxe de volta.

━━ A rainha viúva, Daella Velyndar. ━━ Anunciou um guarda.

Daella entrou com passos calmos, seu rosto sereno, mas seus olhos carregados de preocupação. Ela se aproximou da filha e sentou-se ao seu lado, observando-a por um momento antes de falar.

━━ Haelena… ━━ Começou, mas foi interrompida.

━━ Eles querem que eu vá, não é?━━ Perguntou Haelena, sem desviar os olhos da borboleta em sua mão.

Daella piscou, surpresa, mas logo assentiu.

━━ Seu avô acha que é o melhor para você. ━━ Respondeu ela, com a voz baixa. ━━ Me perdoe, minha filha...

Haelena finalmente levantou os olhos para a mãe. Sua expressão era calma, mas havia algo nos olhos dela, algo que Daella não conseguia decifrar.

━━ Eu irei. ━━ Disse Haelena, sua voz firme, mas suave.

Daella franziu o cenho, surpresa com a resposta inesperada.

━━ O quê?

━━ Eu disse que irei. ━━ Repetiu a jovem princesa.

Daella segurou o rosto da filha entre as mãos, deixando um beijo suave em sua testa antes de abraça-la, seus olhos violetas agora marejados.

Naquele instante, Daella e Haelena compartilharam um silêncio pesado, ambas cientes de que o destino de Haelena estava além do controle de ambas.






























NOTAS

01: FELIZ NATAL! Capítulo um de Twin Flames em pleno 25 de dezembro, meu presente de natal para vocês!!! No próximo capítulo já teremos a primeira interação do Daemon e da Haelena, não se apressem por favor, uma boa história precisa ter um bom desenvolvimento! Digamos que esse capítulo foi apenas para dar introdução ao fato de que Haelena já está partindo para Westeros, então no próximo capítulo já teremos os Targaryen com a Haelena!

02: Estou disponível para responder a qualquer dúvida, então não se segurem e podem me questionar o que quiserem.

03: Se a escrita estiver muito confusa peço desculpas, recentemente ando tentando desenvolver melhor a minha escrita, então peço perdão se a escrita deste capítulo for diferente da escrita do prólogo e dos demais capítulos que virão! Sério, perdão se a escrita estiver ruim!!

04: Como sempre eu venho agradecer a todos que estão me apoiando, sejam curtindo, comentando, etc. Vocês me fazem mais forte!!! Agradeço a todos.

Beijos da Ellie!

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