🐍 09 | ㅤㅤFAREWELLS

CAPÍTULO NOVE, DESPEDIDAS
LOS ANGELES, CALIFÓRNIA

Você parece feliz hoje.

Embora tenha curtido ao máximo o final de semana ao lado dos melhores amigos, infelizmente Padma teve de voltar a sua rotina habitual de sempre. Ela higienizava o balcão da cafeteria enquanto cantarolava alguma música chiclete de ritmo viciante quando a voz de Tory Nichols a fez parar no lugar. Seus olhos reviraram sutilmente. 

─ Até que sim, mas não é da sua conta. ─ Respondeu grossa, espirrando mais um pouco de álcool e voltando a espalhar com ajuda da pequena flanela de tons claros. 

─ Sempre tão educada, Padma. Por isso eu amo falar com você. 

─ Caso queira ─ ela abre um sorriso ─ Posso ser pior. Acredite. 

A relação de Padma e Tory era complicada. Durante o trabalho, quase sempre trocavam farpas e provocações que, felizmente, eram apenas palavras na visão da tailandesa. Ela nunca entendeu o porquê da loira encher o seu saco, mas no fundo cogitava que era coisa do Cobra Kai, já que os babacas insistiam em pegar no seu pé mesmo sem ter feito nada plausível para receber aquela atenção. 

Aquela competição acirrada que as duas tinham para saber quem terminava com a última palavra, nunca poderia avançar para um outro nível. Não dentro da cafeteria, onde qualquer deslize seria motivo o suficiente para perderem seus empregos. E nenhuma das duas queria aquilo. 

Tory estava prestes a retrucar quando outra garçonete surgiu pela porta da frente com uma expressão confusa. 

─ Padma? ─ A adolescente para sua tarefa, se virando para a direção do chamado ─ Encontrei esse bilhete com seu nome lá na frente. 

─ Bilhete? ─ ela murmurou um agradecimento para a mulher, lançando um último olhar ácido para Tory antes de se afastar para os fundos da loja. Suas mãos tremiam de ansiedade para saber o que havia escrito no papelzinho amassado. Ela o abre afoita, quase sentindo ar escapar de seus pulmões. 

Preciso falar com você. Me encontra embaixo do píer, perto do mar. E destrua esse papel, não quero que tenha problemas”.

Era Robby. Ele não havia sido preso. Uma chama de esperança se acendeu no peito da jovem. Será que ele estava bem? Alguém havia o machucado? Eram dúvidas que se recusaram a deixar sua mente. Precisava ver com os próprios olhos se ele estava realmente bem, inteiro. 

Justamente naquele dia, as horas se passaram mais lentas que o costume, e Padma odiou a sensação de se tornar refém dos ponteiros do relógio que não queriam ajudá-la. Tentou ocupar o tempo lavando pratos e xícaras, limpando mesas, conversando com clientes e contando e recontando o estoque. Não havia mais nada a se fazer. 

Beirando as seis horas da noite, Padma praticamente correu até o vestiário para se trocar. Tory olhou-a curiosa, querendo saber o porquê da tailandesa se mostrar tão afobada desde o momento que recebera tal bilhete, mas não se importou. Pegou a mochila e foi embora, deixando para trás a adolescente que faltava pouco para não surtar. 

Padma estava quase deixando a loja quando o gerente a chamou. Um xingamento inaudível escapou de seus lábios. Ela se vira para ele com um sorriso extremamente falso para manter as aparências. 

─ Me chamou? ─ Embora tentasse prestar atenção, toda hora seu olhar caía para o lado de fora da cafeteria, onde Robby provavelmente lhe esperava. 

─ Amanhã o Joshua vai precisar sair mais cedo. A maioria das entregas dos doces serão feitas por ele, pela manhã, mas vão restar cinco encomendas pela tarde. Se importa de entregar duas delas? Tory fará as outras. 

Padma não prestou atenção em nenhuma palavra. 

─ Sim, sim. 

─ Ótimo, até amanhã! 

Então ela praticamente correu. Tentou não chamar atenção de ninguém, já que naquela hora da noite os turistas começavam a encher a ponte, e pareceu dar certo. Ninguém queria saber de uma adolescente afoita. Estavam preocupados demais em tirar fotos para guardar de recordação. 

Padma quase caiu ao descer as escadas, e riu sozinha pelo próprio erro. Não se reconheceu naquele momento, estava dominada por uma sensação que não conhecia muito bem. O que aquilo deveria significar? Por que estava tão ansiosa para ver a figura de Robby? Não importava, ela continuou correndo como se sua vida dependesse daquilo. 

Quando seus pés tocaram a areia fofa, Padma olhou à sua volta, à procura da silhueta do adolescente. Estava escuro, apenas as luzes do playground do píer iluminavam o local. O mar, hoje não tão agitado, refletia aquela luminosidade colorida e aconchegante na opinião de Padma. Foi aí que ela o viu. Ele estava todo coberto, usava o capuz de sua blusa de frio, e suas mãos estavam nos bolsos, protegendo o próprio corpo da brisa gélida. Ela respirou fundo, seus primeiros passos foram lentos, um pouco temerosos para saber se era realmente Robby. 

Mas quando ele se virou, parecendo perceber de longe a presença de Padma, ela começou a andar mais rápido. 

Keene não soube dizer em palavras o alívio que sentiu ao ver a silhueta de Padma correndo em sua direção. Até esqueceu-se do porquê estava ali, esqueceu-se do intuito daquela conversa que ele não queria ter, mas sabia que era necessário. Seus braços se abriram, e em segundos, Padma já estava se aconchegando neles, com a respiração alterada. Ela o agarrou com força, temendo que a figura dele fosse apenas uma neblina causada pela maré. Mas não, ele retribuiu. Ele era real. Era Robby em carne e osso. 

Achei que tinham pego você. ─ Ela admite baixinho, ainda agarrada a ele. 

─ Pra sua sorte, eu sou muito bom em disfarces. ─ Robby brinca, gostando bastante daquele abraço. 

─ É sério ─ sua voz sai carregada de preocupação ─ Não brinca com isso. 

─ Ei, eu tô bem, ok? Nada me aconteceu. 

Padma tomou uma certa distância para encará-lo de corpo inteiro. Não havia presença de machucados, e nem um mísero fio de cabelo fora do lugar. Se estava realmente a salvo, por onde andava? Robby sumiu por mais de uma semana. Ela pensou em fazer a pergunta, mas ele foi ainda mais rápido, segurando os braços dela. para que Padma focasse somente nele. 

─ Reforçaram a segurança do píer. Acredito que seja por conta do ação de graças e natal. Não me pegaram, mas tá sendo difícil transitar por aqui sem ser visto ─ Ele lamenta, já sentindo um bolo no pé da garganta ─ A verdade é que eu… 

Ele hesita, não tendo coragem de continuar. 

Você vai embora. 

Embora não fosse o melhor momento do mundo para se pensar naquilo, era inegável o quão Padma e Robby estranhamente andavam em sincronia, quase conectados. Completavam suas frases, compartilhavam da mesma linha de pensamentos e até mesmo de sentimentos que, sozinhos, não eram tão poderosos quanto juntos. Eram uma só alma. 

─ Eu decidi pedir ajuda da minha mãe ─ ele admite, quase como se fosse um segredo que ninguém poderia escutar. Ninguém, exceto Padma ─ Eu tô cansado de fugir. 

O coração de Padma se acertou. No fundo, ela sabia que aquilo era a coisa certa a se fazer. Se Robby continuasse se arriscando a ir vê-la, era questão de tempo até ser pego pelos policiais. 

─ Então… isso é um adeus, serial killer? 

Ele riu do apelido que recebeu da adolescente no dia que se conheceram. Mesmo com o clima melancólico, o senso de humor ainda predominava em Padma. 

─ Eu adoraria lhe dar prioridade, garota da faquinha de plástico. Mas, policiais podem ser um pouco mais durões ─ eles riram ─ Vai ficar bem sem mim? 

─ Eu sou durona, Rob. 

─ Eu não duvido disso. 

Eles aderem o silêncio, mantendo contato visual que aquecia seus corações em meio à brisa gélida. Não sabiam o que dizer,  palavras não eram necessárias para complementar aquele cenário único que haviam criado. Somente o silêncio, o som das ondas se chocando no fundo, o burburinho de pessoas aproveitando suas vidas despreocupadamente enquanto duas almas fadadas ao fracasso, sofriam com a dor da separação. 

Antes que dissessem algo, Padma olha curiosa quando o rapaz tira do bolso do moletom o que deveria ser um… colar de borboleta. Seu colar de borboleta, que havia perdido no dia que se conheceram. 

Como…? ─ um sorrisinho surpreso surgiu nos lábios da garota. Ela o pega com cuidado, o objeto brilhando graças às luzes do parque de diversões logo acima deles. 

─ Naquele mesmo dia eu vim aqui embaixo. Pensei que o mar havia o levado para longe mas, para minha surpresa, estava preso na madeira ─ ele comenta meio sem jeito ─ Acho que o universo gosta bastante de você. 

─ Sabe… eu até pediria para que colocasse em mim, mas fique com ele ─ Robby piscou confuso ─ Me entregue quando nos vermos de novo, garoto problema. Sabe cumprir promessas? 

Se tinha uma das várias qualidades que o Lawrence gostava em Padma, era o quão positiva ela conseguia ser mesmo na situação que se encontravam. Era quase impossível que Robby conseguisse sair ileso de sua punição ─ e os dois acreditavam fielmente naquilo. Aquela despedida, aquele adeus doloroso, era um adeus que significava que não se veriam por um bom tempo. 

─ Garoto problema? ─ ele abriu um sorriso ladino ─ Apelido novo? 

─ Me promete que ficará bem? 

Padma tremeu quando ele deu um passo à frente. 

─ Prometo ─ ele encarou o pingente, logo depois a dona dele ─ Se você também prometer que ficará bem. 

─ Você sabe que sim. Eu sou a dona da faquinha de plástico, não se esqueça de minha incrível habilidade. ─ Ela morde os lábios, engolindo o choro que ameaçava sair ─ Até logo, Robby. 

─ Robby Keene. 

─ O que? 

─ Meu nome é Robby Keene. ─ Ela piscou surpresa. Não sabia o segundo nome do rapaz. Aquilo era um avanço, e Padma rezava para que evoluísse quando se encontrassem novamente. 

─ Padma Madee-Kim. ─ O adolescente sorri, guardando o nome no fundo de sua mente, para nunca se esquecer durante esses dias separados. Pareciam até mesmo um casal que nunca mais se veriam. 

Ela assistiu o Keene deixar um pequeno carinho em sua bochecha, e Padma segurou-se muito para não tombar sua cabeça e aproveitar aquele tipo de contato que nunca havia tido antes. Porém, o carinho cessou. Robby ofereceu um último sorriso a Padma e começou a arrastar os pés pela areia, afastando-se lentamente da garota que fez seus dias se tornarem menos piores. 

Ele não fazia a mínima ideia do que lhe aguardava, mas precisava urgentemente dar um jeito em toda aquela situação. Fugir já não era mais a opção, e com cabeça erguida ele foi atrás da mãe sabendo que poderia dar muito certo, mas também muitos errado. 

Ele foi sabendo que, talvez, nunca mais veria Padma. Mas ter aquele pingente consigo, um fio de esperança o guiava pelo estado da Califórnia. 

Suas almas ainda não estavam destinadas a ficarem juntas, mas no futuro? No futuro se uniriam como só uma. 

Quando já estava se preparando para dormir, o celular de Padma começou a apitar incansavelmente. De início quis apenas desligá-lo para ter uma boa noite de sono, mas resolveu dar uma chance para o chat de conversa de seus amigos que estava agitado. 

Ainda não entendendo o burburinho, seu dedo escorregou pelo touch, clicando no link que Valentine havia enviado. Seus olhos se arregalaram quando o vídeo de uma reportagem passou a ser reproduzido, mas isso nem era o foco principal, e sim o título da manchete. 

Torneio de Karatê cancelado: Muay Thai surge como nova arte marcial promissora e tem campeonato confirmado”.

─ Merda…

Padma não tinha boas expectativas com aquilo. Ela sentia que deveria se preparar para as próximas semanas, porque se antes os malucos já não largavam de seu pé, agora definitivamente deveria tomar cuidado por onde andava. 

─ OLÁ, IRMÃS! Capítulo curtinho porque agora tudo o que já estava dando errado, vai dar mais errado ainda 😁 o capítulo de amanhã é mais grandinho e o Miguel aparece!!!!!

─ Eu sei que na linha atemporal de Cobra Kai, tecnicamente o torneio é cancelado ainda no meio da temporada e o Robby é "solto" no final dela. Eu alterei as datas. Mas calma, tudo isso ainda vai acontecer na terceira temporada, mas em ordens diferentes que vocês verão, ok?

─ Fiz o casal se encontrar e já separei eles, favor não me matar, ok? No futuro eles serão um casal fofo. NO FUTURO. Aproveitem o caos por enquanto!

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