🐍 08 | ㅤㅤTRUTH OR DARE?
CAPÍTULO OITO, VERDADE OU DESAFIO?
LOS ANGELES, CALIFÓRNIA
─ Verdade ou desafio?
Aquela estava sendo a melhor festa do pijama na visão de Padma, mesmo que tivesse participado somente daquela, em toda sua curta vida. Já haviam assistido diversos filmes de terror clássicos que a tailandesa nunca havia visto, comeram o famoso taco de macarrão e odiaram por Victor, acidentalmente, ter colocado açúcar invés do sal na massa; e devoraram os cookies que haviam feito ─ e que a massa não tinha ficado tão duvidosa assim. Parecia comestível.
Agora, com grande parte das luzes apagadas, estavam deitados no centro do porão. Tinha alguns snacks esparramados ao lado dos jovens, mas o verdadeiro foco dos olhos já sonolentos era a garrafa cheia de Jack Daniels que praticamente brilhava, mostrando sua qualidade e originalidade.
─ Ainda acho que seu pai vai nos m-matar. ─ Victor comenta temeroso, ajustando o óculos de grau no rosto só de imaginar algo dando errado.
Andrezza deu de ombros.
─ Papai tem whiskys mais caros.
─ Não fuja da pergunta! ─ Poppy interrompe o burburinho, apontando na direção do adolescente com um pedaço do chocolate que aos poucos ameaçava derreter. ─ Verdade ou desafio, Vic?
Ele resmunga igual criança birrenta.
─ Verdade.
─ Sem graça! ─ Poppy dá a língua, mas força uma expressão séria para pensar numa pergunta. Ela apoia o queixo na mão, enquanto semicerrava o olhar na direção de Victor que, agora, parecia bastante desconfortável. ─ Se você pudesse beijar alguém daqui, quem seria?
Andrezza, Valentina e Padma arregalam os olhos quase instantaneamente, tentando de todas as formas não berrarem com um momento que elas sonhavam em acontecer.
Victor, por outro lado, engasgou de tão nervoso que estava, ajustando novamente os malditos óculos enquanto tentava fugir urgentemente de todos os olhares que estava recebendo naquela roda. Ele parecia apavorado.
─ Isso não é justo, Poppy! ─ Ele acusa, passando o olhar por Valentina que comia um punhado de batatinhas com expressão de tédio absoluto. ─ Quer saber? Eu vou pular.
─ Nada disso! ─ Andrezza arremessa uma almofada na direção do adolescente que ao menos tem tempo de desviar ─ Você vai responder sim!
─ Eu odeio minha vida… ─ Ele resmunga, já arrependido de não ter dormido há horas atrás ─ T-ta, que seja. Eu acho que seria…
De repente, silêncio. Para Padma, aqueles foram os dez segundos mais tensos de toda sua vida. Ninguém emitia um som, exceto Valentina, que continuava a devorar suas batatinhas.
─ Poppy!
Mais uma vez, os olhos das três garotas triplicaram de tamanho. Definitivamente, pareciam muito surpresas.
─ EU? ─ A morena aponta para si mesma após engasgar com a própria saliva. ─ Tá de brincadeira com a minha cara, Victor?
─ V-você perguntou, eu respondi! ─ Ele tenta se livrar do foco o mais rápido possível, enrolando um cobertor felpudo ao redor do corpo.
─ M-mas…
─ Vai Poppy, sua vez. ─ Valentina interrompeu o momento e Victor agradeceu aos céus por aquilo. A adolescente enfia mais um punhado de batatinhas na boca ─ Andrezza pergunta.
─ Verdade ou desafio?
Mesmo em choque com a resposta que Victor havia lhe dado, ela chacoalha a cabeça para sair do transe, passando a encarar Andrezza.
─ Desafio, óbvio!
A loira sorri, trocando olhares sugestivos com Padma e Valentina.
─ Eu te desafio a beber uma dose.
─ Tá maluca, Andy? ─ Poppy arregalou os olhos.
─ Tá com medinho, é? ─ A loira cruza os braços, a provocação pegando em cheio o ego da amiga. Poppy muda a expressão na mesma hora, sentindo-se desafiada.
─ Me dê essa garrafa! ─ É a única coisa que ela diz, debruçando-se até pegar a garrafa de vidro e despejar uma generosa quantidade no pequeno copo. Em questão de segundos, a cacheada virou a dose de uma vez, sentindo o líquido descer queimando por sua garganta.
O pequeno grupo explodiu em risadas e gritos de animação ao ver a careta que Poppy esboçou. Victor, que até então estava mais do que concentrado em sua tarefa de enterrar-se no chão, finalmente soltou uma risadinha divertida pela situação um tanto quanto caótica.
─ Isso! ─ Ela aponta para a garrafa ─ É HORRÍVEL!
─ É isso que dá querer ser a corajosa do grupo, Poppy ─ Valentina provoca, amassando o pacote de batatinhas agora vazio.
─ Nunca mais me peçam para beber esse troço. Me desafiem, sei lá, pegar um carro e atropelar o Falcão do que isso.
─ Isso é um sonho de todos, não um desafio. Acho que só estamos esperando para ver quem faz primeiro. ─ Padma se atreveu a comentar num tom divertido, passando o olhar para a garrafa de plástico posicionada no centro da rodinha que Valentina havia acabado de girar.
─ Verdade ou desafio, Pami?
─ O que?
Somente quando Andrezza aponta para o centro da rodinha, que ela percebe que a maldita ponta da garrafa estava parada em sua direção. Ela engole em seco.
─ Verdade…?
Valentina semicerra o olhar, buscando cegamente por outro pacote de salgadinhos.
─ Você tem crush em alguém?
Padma franze o cenho.
─ O que é “crush”?
Os jovens se entreolham, Andrezza que é rápida na explicação.
─ Crush é tipo… como se você gostasse de alguém.
Valentina aproveitou a breve explicação para abrir mais um saco de batatinhas. Poppy olhava-a de forma indignada, e seu principal pensamento era como Valentina poderia ser um poço sem fundo de vez em quando.
─ Você gosta de alguém? ─ A adolescente indaga novamente, mudando a pergunta para ser mais direta.
Ar falta nos pulmões da tailandesa.
─ Não! ─ Quase grita. ─ Quero dizer… não. Eu não conheço ninguém.
─ Tem certeza?
Padma engole em seco de novo.
Ela não gostava de ninguém, ou era isso que estava tentando afirmar para os amigos ─ talvez para si mesma ─ como forma de espantar todos aqueles olhares curiosos que caíram sobre si após sua reação repentina. Parecia que sabiam de algo, e no fundo Padma se apavorou porque nem ela sabia de algo. Ela não gostava de ninguém. Afirmou novamente.
Padma Madee-Kim não sabia exatamente como era gostar de alguém. Nunca teve amores de verão, nunca trocou cartinhas de amor, nunca deu bitoquinhas e nem experimentou a sensação gostosa de borboletas no estômago. Havia um espaço em branco na sua vida quando o assunto era relações e afetos.
Porém, mesmo que todas essas informações estivessem bastante nítidas em sua cabeça, seu coração errou uma batida quando a silhueta de Robby surgiu em seus pensamentos. Por que estava pensando nele? O conhecia há pouquíssimos dias e nem faria sentido ter algo. Robby e Padma eram de mundos diferentes, estavam em momentos diferentes.
─ Minha vez. ─ Fugindo completamente do olhar expressivo de Andrezza, a adolescente finalmente gira a garrafa, caindo exatamente em Valentina. Ela gargalha, mas ergue o rosto para iniciar o jogo ─ Verdade ou desafio?
─ Hmm… ─ com a boca cheia de snacks, Valentina reflete ─ Verdade.
─ Nossa, vocês são sem graça. ─ Poppy reclama fazendo biquinho ─ Ninguém escolhe desafio. Isso aqui deveria se chamar jogo das verdades, então!
─ Xiu! ─ Valentina joga uma batata na amiga.
─ Qual foi a coisa mais estúpida que você já fez e ninguém aqui sabe?
A adolescente finalmente deixa o pacote de lado, apoiando-se nos cotovelos enquanto buscava em sua mente alguma história constrangedora o bastante para entreter os outros jovens já sonolentos. Um sorriso surge em seus lábios.
─ Tá, se liguem. Quando eu tinha quatorze anos, vi na internet uma espécie de ritual para atrair “boas energias” durante uma semana de provas. Só que eu acabei derrubando sal pelo quarto todo graças ao ventilador que fiz o favor de deixar ligado. O resultado foi: minha mãe achou que eu estava cheirando cocaína. Quase fui parar no juizado de melhores, mas depois de fazer ela provar a droga do sal, ela percebeu que não tinha uma filha drogada.
O grupinho caiu na risada após o relato, Andrezza rolava no chão de tanto gargalhar e Poppy batia as mãos no carpete.
─ Tina, isso explica MUITO sobre você. ─ A cacheada comenta, segurando a barriga de tanto rir. ─ Andy, falta só você.
A loira fecha a cara.
─ Não é justo, todos giraram a garrafa. Por que eu não?
─ Porque todo mundo já foi, besta. Estou morrendo de sono e posso jurar que estou ouvindo passarinhos cantando.
─ Tá, tá. ─ Rendida, ela ergue ambas as mãos. ─ Quero verdade e não estou nem aí se ninguém escolhe desafio.
Diferentemente de todas as outras perguntas, Valentina tinha um sorrisinho bastante assustador e sugestivo presente no rosto. Andrezza não gostou nadinha daquilo, parecendo saber exatamente o que lhe aguardava.
─ É verdade que você ainda gosta da Tory Nichols?
O queixo de Padma caiu em completo choque. Definitivamente, de tudo que havia escutado naquela noite, aquela havia sido a frase mais improvável de ser processada. A informação não conseguia permanecer na cabeça da tailandesa.
─ Valentina, sério? ─ Andrezza finalmente fala após um curto período de silêncio bastante sufocante. Seu tom de voz exaltou irritação pura.
Ela deu de ombros.
─ É só uma pergunta.
A loira pensa muito se deveria responder ou apenas acabar com aquele jogo de uma vez, confusa demais com a onda de pensamentos repentinos que resolveu invadir sua cabeça. No fundo, ela tinha noção que Valentina havia perguntado de propósito, mas não por maldade. Um suspiro escapa de seus lábios.
─ Não. ─ Ela cruza os braços. ─ Eu não gosto mais dela. Satisfeita?
─ Padma parece chocada. ─ Poppy aponta para a garota ─ Nem quando falei que colei a prova de geometria inteira ela ficou assim.
Eles estavam falando de Tory Nichols. Aquela Tory Nichols. A Tory Nichols do Cobra Kai, a adolescente de personalidade duvidosa e mais enxerida do que tudo no mundo ─ só não mais do que Sam LaRusso. Como Andrezza poderia ter gostado… dela?
─ Isso foi anos atrás. ─ A dona da casa tenta se justificar, parecendo ler perfeitamente cada pensamento da mente barulhenta de Padma. ─ Foi só uma fase, Pami. Uma fase bem… sombria, mas já passou.
Ou não.
─ Na época não tinha essas coisas de Cobra Kai e Miyagi-Do, antes que me julgue! ─ Ela diz com pressa, erguendo o indicador na direção de Padma ─ E não sei porque ainda estou falando sobre isso, meu deus…
Vendo de perto o surto da melhor amiga, Valentina sente uma pequena pontada de culpa por ter provocado uma legião de sentimentos que pensava que Andrezza já não sentia mais. De todos os assuntos proibidos que escondiam para evitar trazer à tona, Tory Nichols era o mais perigoso deles. Agora mais do que nunca, ela entendia o porquê.
─ São cinco da manhã, se eu não dormir agora juro por Deus que mato alguém ─ Valentina muda radicalmente o assunto, levantando um coro de risada dos amigos que antes pareciam completamente tensos com o clima. Eles assentiram, afofando os travesseiros e se jogaram em suas camas improvisadas enquanto conversavam sobre os planos do dia seguinte.
─ Ei, Pami ─ Padma, que desdobrava seu cobertor, levantou o olhar na direção de Andrezza que a encarava com expectativas ─ O que achou da sua primeira festa do pijama?
A tailandesa sorri tímida.
─ Foi a melhor da minha vida.
─ É assim que se fala ─ Poppy ergueu a mão, mostrando um joinha ─ Missão cumprida, agora posso dormir em paz sabendo que não traumatizamos a Pami. Confesso que foi muito difícil ─ De forma dramática, a adolescente passava a mão pela testa como se estivesse limpando suor acumulado. Padma riu com gosto, jogando a cabeça para trás.
─ Posso te fazer uma pergunta? Não quero soar invasiva.
Horas mais tarde, o sol quente de Los Angeles decidiu acordar os cinco adolescentes que dormiam feito pedra, exaustos da programação agitada que tiveram pela madrugada. Valentina foi a primeira a abrir os olhos, talvez movida pela fome que sentia. Seu próximo passo se resumiu a acordar cada um dos adormecidos ─ que, gentilmente, ela apelidou de ‘belas adormecidas’ ─ até finalmente ter a anfitriã da casa de pé.
Após assaltarem metade da geladeira atrás de um café da manhã bastante reforçado, agora se reuniam no quintal. Andrezza havia uma enorme piscina, e foi de consenso geral que entrassem para apaziguar o clima tropical que os cercavam. Exceto por Padma, que estava sentada na espreguiçadeira observando-os com um sorriso no rosto. A loira sentou-se ao lado dela, e aderiram ao silêncio por alguns minutos até a tailandesa sentir uma vontade doida de perguntar algo à amiga.
─ Claro, o que?
Padma refletiu se deveria ou não fazer aquele tipo de pergunta já que daria a entender um certo sentido que ela não fazia a mínima vontade de explicar. Era apenas uma dúvida, mas uma dúvida muito importante que a fez pensar incansavelmente até finalmente cair no sono. Ela respira bem fundo, aproximando-se mais de Andrezza que franziu o cenho quando notou o ato.
─ Como é gostar de alguém?
Andrezza arregalou os olhos.
─ Você gos…
─ Não! ─ Padma praguejou baixinho quando a loira quase gritou aos sete ventos aquela maldita frase, mas fora mais rápida, puxando Andrezza para perto ─ Eu nunca gostei de alguém. Eu não sei como é… isso.
Mesmo desconfiada, Andrezza achou fofo a pergunta de Padma. Pelo pouco que a tailandesa já havia contado de sua vida ─ pouquíssimas coisas, de tão reservada que era ─ tinha uma breve hipótese que fora privada de muitas coisas, que iam desde comer doces altamente calóricos até saber se havia sentimentos por alguém. Sentia desejo de fazer várias e várias perguntas para Padma, mas sabia que se fizesse, a adolescente somente se fecharia mais e mais. Então, sorriu pela dúvida genuína. Se contentaria com ela, já estava orgulhosa de perceber que lentamente a estrangeira se soltava.
─ Quer sinceridade? ─ Perguntou com certo humor na voz, e mesmo estranhando um pouco, Padma balançou a cabeça. ─ É um saco.
─ O que?
Andrezza riu do olhar de confusão de Padma.
─ É sério ─ ela ajeitou uma mecha do cabelo encaracolado atrás da orelha ─ Gostar de alguém tem suas partes boas. Borboletas no estômago, sorriso bobinho no rosto e todas essas outras baboseiras que a galera fala. Mas, também é um saco porque é muito confuso. Você sente demais, pensa demais. E isso, às vezes, é muito cansativo. É terrível a sensação de desmaio que vem quando você vê aquela pessoa.
Padma, agora, parecia apavorada.
─ Então… é ruim?
─ E bom! ─ Andrezza acrescenta, dando de ombros ─ É tipo quando você quer entrar no mar num dia ensolarado e a água está super gelada. No início você se pergunta o porquê de estar se sujeitando áquela tortura psicológica, mas quando entra, se acostuma e não quer mais sair…entende?
Padma gargalhou baixinho, assentindo com a cabeça ao raciocinar as palavras bastante sinceras de Andrezza.
─ Parece complicado.
─ E é ─ A loira concorda ─ Mas é algo que você só entende o que sente quando acontece com você. Posso até te contar minha experiência mas, o que eu sinto, pode ser completamente diferente do que você sente ou vai sentir.
A tailandesa morde os lábios, aderindo ao silêncio para tentar reorganizar a cabeça com o feedback bastante confuso e sincero que Andrezza havia lhe dado. Era cedo para afirmar algo, muito cedo. Mas, sentia dúvidas de como classificar seus sentimentos em relação à Robby. Quando o via, parecia que um alívio imediato tomava conta de seu corpo, quase como uma anestesia. Era frustrante.
Será que ela estava começando sentir algo, ou era apenas entusiasmo de ter alguém que parecia não julgá-la quando todos ao seu redor faziam isso?
─ Eu achei importante desenvolver um pouco da amizade da Padma com o grupinho porque nos próximos capítulos as coisas vão ficar um pouco mais sérias. Finalmente os outros personagens de Cobra Kai passarão a ser inseridos, só que num contexto não muito legal assim.
─ Como eu mencionei nos avisos no capítulo de introdução da fanfic: esse primeiro ato é para inserir a Padma no contexto do karatê. Eu não posso simplesmente joga-la, eu preciso criar um contexto e fazer tudo se encaixar. Peço perdão se isso pode estar sendo mais chato que o normal, mas eu preciso fazer isso.
─ Nos vemos no próximo final de semana com os capítulos 9 e 10!
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