🐍 07 | ㅤㅤSLUMBER PARTY
CAPÍTULO SETE, FESTA DO PIJAMA
LOS ANGELES, CALIFORNIA
Padma parecia um zumbi zanzando pelos corredores apertados da West Valley High School. Seus fios de cabelo estavam não muito bem penteados, e haviam enormes bolsas embaixo de seus olhos castanhos, evidenciando que suas noites de sono não pareciam tão boas assim. Um bocejo escapa de seus lábios; foi tempo o suficiente para que seus olhos se fechassem, e seu corpo colidisse com outro. Ela os abriu de supetão.
─ Finalmente te achei! ─ Andrezza tinha as mãos apoiadas na cintura. Ela usava roupas de cores vibrantes, os olhos da tailandesa chegaram a arder ─ Faz quase uns três dias que não te vejo direito, anda me evitando, hum?
─ O que? ─ Padma arregala os olhos ─ Claro que não, eu só… estava… cansada!?
Em partes, não era lá uma grande mentira. Padma estava sim exausta, havia decidido cobrir o turno de três colegas, e tudo isso para fugir da própria família e tentar espantar para longe duas informações que tentavam ofuscar todos seus outros pensamentos. O primeiro era, obviamente, Robby. Fazia quase três dias que não o via, e seu corpo chegava a tremer só de pensar na possibilidade dele ter sido pego pela polícia. Padma, todas as noites, antes de tentar dormir, olhava para a pequena sequência de fotos que havia tirado com o garoto no dia que ela “fugiu de casa”.
Além dessa preocupação que fazia seu coração bater que nem louco, a fala do sensei fracassado, Johnny Lawrence, infelizmente alugou um breve espaço em sua mente. Ao mesmo tempo que acreditava que todo o discurso havia sido apenas para tentar convencê-la de preencher as vagas no dojô fracassado dele, outra parte de si queria acreditar que ele poderia ajudar a lidar com a sensação de culpa que nunca a havia abandonado. Ele pareceu honesto, pelo menos quando o assunto tornou-se sobre decepções e culpas.
Eram muitas questões para se pensar, estava casada. Andrezza nota a feição fraca que Padma mostrava.
─ Ei… ─ Ela se aproxima da tailandesa, o suficiente para apertar de leve seu braço ─ Você está bem? ─ sua voz era serena.
─ Sim. ─ Tratou de balançar a cabeça com certa urgência, engasgando nas próprias palavras ─ Tá sendo meio corrido no café e, tô distraída com umas coisas. Não é nada de importante, você não precisa se preocupar comigo.
Para Andrezza, não importava se conhecia Padma há somente um mês. Já se considerava uma grande amiga da adolescente de cabelos loiros, então o discurso de “não se preocupar comigo”, certamente entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Uma ideia surgiu em sua cabecinha barulhenta e recheada de coisas aleatórias, abrindo um sorriso bastante sugestivo para Padma que, na hora, franziu as sobrancelhas não entendendo o que significava.
─ Eu tenho a solução para seu problema! ─ Exclamou sedenta, com a mesma expressão estranha de anterior, mas, de repente, um resquício de sobriedade cai sobre si e percebe que a frase saiu num sentido completamente conotativo. Suas mãos automaticamente passam a gesticular ─ Não é sexo, eu não faço essas coisas. Eu sou virgem, e… não! Eu não sou virgem, mas ARGH!
─ O que…
─ Uma noite do pijama, é isso o que eu ia sugerir! ─ Interrompe a fala de Padma ─ Esquece tudo o que eu disse, tá? É uma noite do pijama, e isso não é um pedido, e sim uma ordem!
Antes que Padma pudesse se manifestar por todo aquele momento um tanto quanto constrangedor, Andrezza sai correndo esbarrando em diversos adolescentes que lhe xingaram pela brutalidade. Ela coça a nuca, confusa por toda aquela interação repentina, mas desiste ao seguir caminho à quarta aula do dia: algebra. Quase dormiu de tanto tédio, já que a professora explicava de uma forma que parecia falar grego, mas felizmente se viu livre quando o sinal tocou.
Durante o trabalho, a esperança recusou-se a deixar seu corpo. Quando as aulas do dia acabaram, saiu em passos urgentes até o píer de Santa Mônica, com altas expectativas de que encontraria Robby no mesmo lugarzinho de sempre.
Mas ele não estava lá, de novo.
Então tudo passou a se arrastar de forma lenta, e um tanto quanto desanimadora. O adolescente era responsável por alegrar seu dia, e se ele não estava lá, Padma não via motivos para abrir um sorriso sincero. Trabalhou ao máximo para espantá-lo da cabeça, mas era impossível. Se antes seus pensamentos se resumiam a “estar nos Estados Unidos não me agrada”, agora giravam em torno de um específico tema: “Robby, o rapaz que a impediu de se acomodar na culpa inerente”. Robby lhe mostrou que havia coisas legais para se aproveitar, e olhe que sua situação era pior que a de Padma.
Pelo resto da semana, a tailandesa obrigou-se a focar na escola. Suas notas em língua inglesa estavam péssimas, e não teve alternativas a não ser procurar ajuda de seus amigos. Victor era o mais nerd de todos, ajudou-a sem pestanejar, combinando encontros na biblioteca para ensinar Padma a estruturar a gramática da língua inglesa. Ela particularmente odiava mostrar tal sinal de fraqueza ─ em sua mente, pedir ajuda era um sinal de fraqueza ─ mas não via alternativas, se não, provavelmente reprovaria e seria ainda mais motivo de chacota em meio aos norte-americanos ridículos.
Naquele exato momento, havia acabado de fechar a apostila de inglês e seu olhar prontamente caiu para o guarda-roupas. Chegou o dia da festa do pijama. Padma não sabia exatamente como reagir àquela informação.
Desde nova, teve de abdicar de muitas coisas em sua vida para se tornar uma grande atleta de elite ─ e, consequentemente, uma dessas coisas era as amizades. Por onde andou, visitando outros camp de Muay Thai e até mesmo na escola, nunca teve um grupo fixo de amigos para fazer coisas simples, como por exemplo: sentar aos intervalos, ir ao shopping, tomar sorvete.
Padma nunca havia feito tais coisas. Padma, além do mais, nunca havia provado o sabor do prazer de fazer esses passeios. No dia que fugiu de casa acompanhada de Robby Keene, foi a primeira vez que provou churros. E não negou, a sensação foi ótima.
Kian costumava dizer que Padma precisava ser focada nos próprios objetivos. Assim como ele, e outros “escolhidos” da família tiveram de abdicar do lazer para serem campeões, a adolescente de dezesseis anos precisava fazer o mesmo. E fez, até certo ponto.
Estava tão imersa no turbilhão de pensamentos, que não percebeu quando alguns toques suaves foram dados em sua porta. Seu pescoço gira o suficiente para se deparar com a presença de Hansa, e na mesma hora seus olhos se arregalaram. Em relação à família, nada mudou. Padma continuava a mesma menina arisca de sempre, temerosa de estragar tudo novamente.
Seu desejo principal era tentar expulsar a irmã mais velha do quarto, assim como vinha fazendo há tempos, mas suas cordas vocais recusaram-se a funcionar. Então ficaram daquela forma, cada uma em um canto, encarando uma a outra como se fossem desconhecidas.
Hansa sonhava num dia que Padma acordasse e voltasse a falar consigo. Sempre foram coladas, compartilhavam segredos e apoiavam uma à outra. Após o incidente, Padma nunca mais foi a mesma.
Padma engole em seco, desviando o olhar de Hansa ao sentir constrangimento. Meio perdida, dá passos pequenos até o guarda-roupas não sabendo muito bem o que pegar para uma festa do pijama. A única coisa que tinha certeza que precisava levar, era obviamente o maldito pijama. Ela se xingou mentalmente, envergonhada da própria incapacidade de tentar ser uma adolescente normal.
─ Vai fugir?
A tailandesa se vira novamente para a irmã, segurando um ursinho de pelúcia.
─ Tenho uma… festadopijama.
Hansa achou adorável a forma como Padma se atropelou com as palavras, mostrando o quão perdida ela estava com aquele “evento”.
─ Festa do pijama? Me parece legal. ─ Ela sorri de leve, cruzando os braços enquanto se encostava na porta ─ Não achei que fosse sua praia esse tipo de coisa.
“Talvez porque eu sempre tenha sido privada”. Padma debate sozinha, esboçando caretas estranhas durante o processo. No fim ela dá de ombros, olhando para o ursinho de soslaio.
─ Não é minha praia. ─ Rebate rápido demais, mas morde os próprios lábios pela mentira. Se nunca nem havia ido numa festa do pijama, como poderia não gostar? ─ Na verdade, não sei. Talvez goste, talvez não.
─ Tá nervosa?
─ Claro que não. Por que estaria? ─ A resposta sai num tom levemente agressivo ao tentar mostrar indiferença. Mas o ursinho apertado contra o corpo, definitivamente mostrava o quão nervosa ela estava com aquilo tudo.
─ Sabe que é normal sentir esse nervosismo, não é? Não precisa fingir indiferença. É a primeira vez dormindo fora de casa, é comum se sentir ansio…
─ Eu já disse que não estou. ─ Padma resmunga.
Hansa tomou coragem para entrar no quarto da adolescente, mantendo no rosto um sorriso leve para passar segurança à irmã mais nova. Ela se joga na cama bagunçada aproveitando para encarar as estrelas coladas no teto.
─ Acredita que nunca gostei de festa do pijama? Sempre achei que não combinava com meu estilo, mas… ─ ela se ajeita na cama, dessa vez capturando o olhar bastante surpreso que Padma tinha no rosto. ─ É bastante especial esse momento de compartilhar com outras pessoas algo que todos gostam. Ver filmes, pintar as unhas, contar fofocas. É um momento mais do que extraordinário.
Padma esboça uma careta. Odiava quando Hansa usava palavras difíceis do inglês porque raramente entendia.
─ Você não gosta de festa do pijama?
─ Não era meu forte. ─ A universitária deu de ombros, se divertindo bastante com cada olhar que Padma lhe dava. Era a primeira vez em tempos que conversavam… normalmente ─ Mas eu fazia esse esforço. São coisas pequenas que acabam fazendo toda a diferença.
A tailandesa morde o lábio inferior ao raciocinar cada palavrinha dita por Hansa. Uma parte de si queria ignorar tudo e gritar para que ela saísse de seu quarto, mas a outra lhe dizia para confiar nas palavras dela. Hansa sempre tinha razão, não é à toa sua inteligência.
─ Eu não sei como agir. ─ O desabafo escapa dos lábios de Padma sem que percebesse, passando os dedos pela pelúcia para tentar descontar aquela frustração interna. ─ Na escola eu tenho controle, mas… o que eu deveria fazer fora dela?
─ Padma… ─ Hansa se levanta, aproximando-se ainda mais da irmã ─ É só ser você mesma. Se não souber o que fazer, ria, escute e se divirta. Essas pessoas te convidaram porque te querem por perto. E não porque esperam que você seja perfeitinha.
Por uma curta fração de segundos, ela sente os olhos arderem, mas pisca rapidamente antes que a sensação pudesse evoluir para um possível choro.
─ Vou… tentar.
Hansa sorriu, virando-se para deixar o quarto.
─ Só… cuidado para não esquecer o carregador ─ ela para na porta ─ Nunca se sabe quando vai precisar de uma ligação de emergência para escapar da festa, certo?
Segurando com força o próprio travesseiro contra o corpo, Padma bateu na porta de Andrezza após muito pensar se deveria voltar para casa ou não. Os primeiros minutos foram silenciosos, a brisa levemente gélida de Los Angeles moveu seus fios loiros sobre os ombros já reclusos. Será que deveria estar ali?
Prestes a desistir pela milésima vez somente naqueles dez minutos, Padma recuou pronta para fugir. Porém, o som da maçaneta sendo girada com certa urgência a fez parar no lugar.
─ PADMA! ─ Andrezza se joga em seus braços e, por pouco, não caem na frente da casa. Um sorrisinho pequeno escapa dos seus lábios que antes adotavam intensa indecisão. ─ Eu sabia que viria!
Ela demorou por simplesmente não saber o que colocar na mochila para passar um dia fora. Padma força um sorrisinho sem graça.
─ Eu trouxe alguns doces. ─ A tailandesa ergue a sacola cheia de guloseimas que havia comprado naquele dia mais cedo. Os olhos de Andrezza brilharam. ─ Espero que sejam bons, não conheço algumas marcas que estão aqui…
─ Não precisava se incomodar, boba. Eu havia comprado um monte de coisas também ─ a loira comentou sorridente, bisbilhotando as embalagens coloridas ─ Vem, as meninas e o Victor já chegaram!
─ O Victor veio? ─ ela piscou surpresa, deixando os sapatos na entrada da casa por força do hábito.
─ Veio! ─ A animação de Andrezza era contagiante, mas seu sorriso vacilou por alguns segundos ao raciocinar a pergunta de Padma. ─ Tem algum problema pra você?
A tailandesa arregala os olhos.
─ Não, não, claro que não! ─ Gesticula rapidamente ─ Só fiquei surpresa mesmo.
Andrezza fazia um breve tour da casa para Padma que parecia bastante surpresa com o tamanho da residência. Não tinha noção que os pais da menina tinham uma condição financeira tão boa assim. Padma ouviu cada coisa que a loira disse, se esforçando mentalmente para tentar retribuir o mesmo nível de animação.
Quando chegaram no porão, Padma teve de segurar a risada ao presenciar uma cena um tanto quanto engraçada: Victor estava deitado em um dos vários colchões esparramados pelo chão. Em seus olhos haviam duas rodelas de pepino, assim como uma máscara branca que cobria completamente sua pele. Poppy estava ao lado dele, passando esmalte nas unhas do adolescente. O olhar dela se iluminou no exato momento em que viu a figura tímida de Padma.
─ Pami! ─ Victor tenta se mexer, mas Poppy é mais rápida em desferir um tapa em seu ombro, impedindo-o de fazer o que estava tentando ─ Você fica quieto, ainda não terminei.
Valentina surge com um pijama de capivara, tomando despreocupadamente um refrigerante de lata. Ela sorri ao ter vislumbre da tailandesa que parecia encantada com o nível de intimidade de todo mundo.
─ Pami, você chegou! ─ Elas se abraçam, Padma parecia deslocada, mas abraçou-a de volta. ─ Você gosta de tacos? Eu comprei uma massa porque queria experimentar tacos de macarrão que vi em icarly.
─ Me parece n-nojento. ─ Victor reclama ainda deitado no chão, mas ele ergue a mão para cumprimentar Padma. Bem, ele achava que estava cumprimentando-a, apontando para a direção contrária que ela se encontrava ─ Oi, Pami! Eu até levantaria se não estivesse sendo feito de refém.
─ Não estou te fazendo de refém. ─ Poppy se defende, fechando a cara. ─ Estou te fazendo de manequim. Nunca testei essa máscara e esses esmaltes antes.
─ Então você testa logo em mim?
─ Lógico. ─ Ela responde como se fosse óbvio.
Observando a dinâmica com um sorriso tímido brincando nos lábios, Padma sentiu alívio ao sentir-se pertencente daquele grupo. Todos pareciam à vontade, e mesmo que aquele momento fosse algo completamente novo para ela, algo dentro de si insistia para que confiasse no processo. Confiasse nas palavras sinceras que Hansa havia usado ao lhe aconselhar. Padma deveria ser ela mesma.
─ Se serve de consolo, você está ficando… alternativo. ─ Comenta, tentando soar divertida.
─ Viu? Até a Pami concorda! ─ Poppy respondeu com um sorriso travesso, abrindo outro esmalte com uma calma invejável.
Victor tentou resmungar algo, enquanto Valentina aproveitou para se jogar no sofá, com sua preciosa lata de refrigerante ainda em mãos.
─ Já participou de alguma festa do pijama antes, Pami? ─ Ela pergunta despreocupadamente, ignorando completamente o clima caótico como se fosse algo normal.
Padma morde os lábios de forma ligeira, apertando com força a borda da mochila. Seja você mesma, Padma.
─ É a minha primeira vez.
O porão se tornou silencioso de repente, os quatro amigos raciocinando o desabafo sereno e tímido que Padma acabara de fazer. A adolescente já estava se arrependendo quando Andrezza soltou um berro cheio de animação.
─ Mentira!? ─ Ela pulou no lugar, batendo palmas ansiosamente ─ Então hoje tem que ser perfeito! ─ A loira de vira para os outros jovens esparramados pelo chão ─ Não é, galera?
─ Correto! ─ Poppy respondeu, examinando as unhas de Victor com um olhar bastante sério. ─ Nada como a primeira vez. Vai ser incrível, Pami. Somos malucos, mas você não vai se arrepender!
Valentina se colocou de pé em cima do sofá. Padma adorou o pijama dela.
─ Missão importantíssima: fazer a primeira festa do pijama de Padma ser a melhor de todas!
Victor soltou um suspiro dramático.
─ Só por favor, não coloquem mais nenhuma c-comida no meu r-rosto.
Andrezza rolou os olhos, abrindo logo em seguida um sorrisinho acolhedor para a amiga. Ela a puxou até um armário onde continha diversos cobertores e travesseiros organizados.
─ Essa vai ser sua melhor noite nos Estados Unidos, Pami. Confie em mim!
E Padma confiou.
─ Irmãs, me deu a louca e escrevi cinco capítulos em menos de 48 horas. Minha cabeça tá pipocando pelo tanto de informação, babado! Acho que o ato um acaba no capítulo 15 ou 16, e logo iremos para o ato 2 que se passa na quarta e quinta temporada!
─ Se vocês me darem feedback, consigo voltar a publicar 2 capítulos por final de semana igual estava fazendo antes. O que acham? Interajam comigo <3
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