🐍 00 | ㅤㅤTHE PROLOGUE
PRÓLOGO, 000.
TAILÂNDIA, BANGKOK.
PADMA MADEE-KIM RARAMENTE FICAVA nervosa. Sua personalidade se sobressaia em qualquer ambiente, mostrando o quão segura de si ela era. Ombros sempre retos, mãos entrelaçadas, e um olhar carregado de confiança; a mesma confiança pela qual era reconhecida na movimentada rua de Chinatown.
Mas, naquele momento, Padma Madee-Kim parecia muito nervosa. Ao contrário do que na maioria dos dias, seu corpo praticamente tremia de tanta ansiedade e medo do seu futuro. Não havia, ali, a mesma expressão usual de sempre, que costumava indicar que sabia onde estava, ou o que estava fazendo.
Naquele momento, havia insegurança, e, no fundo, arrependimento de suas ações, embora saiba o porquê de ter adotado a medida de segurança ── e muito violenta ── que a levou até ali, o Tribunal de Bangkok. Nunca pensou que visitaria aquele local, principalmente naquelas condições.
Embora tremesse dos pés a cabeça, tensa demais para realizar qualquer movimento, seus olhos decidem varrer silenciosamente o corredor lotado de pessoas preocupadas, servidores públicos, policiais e sua família. Era um caos, aos poucos deixando-a cada vez mais nervosa, talvez pela quantidade de vozes se sobressaindo toda hora uma por cima da outra, criando um clima um tanto quanto tenso e confuso na cabeça da adolescente de quinze anos.
Do lado esquerdo, aquele que não deve ser citado, a fuzilava numa falha tentativa de lhe impor medo. Padma sentiu a fúria somente de passar seu olhar por ele numa curta fração de segundos. Se estivessem a sós, com certeza ele iria ignorar todas as regras e códigos penais somente para lhe dar uma baita surra. Ela treme só de imaginar, sacudindo a cabeça para espantar a cena pavorosa.
Já do lado direito, estava sua família. Seus pais murmuravam de forma quase inaudível sobre questões que ela tinha muita curiosidade para ouvir. Suspeitava que fossem lamúrias cheias de preocupação, já que seu futuro agora estava comprometido. Faltava apenas descobrir a que nível.
Já seu avô era uma incógnita total. Não havia esboçado reação nenhuma desde o momento que chegaram lá ── a quase cinco longas e torturante horas atrás. No fundo tentava adivinhar o que ele estava pensando, mas somente de encará-lo já era motivo para que uma grande placa luminosa escrita "culpada" surgisse em sua cabeça. Era quase um gatilho. Não aguentaria, ou melhor, não ousaria observá-lo tão cedo.
Interrompendo de forma abrupta sua linha de pensamentos, a porta da sala ao lado se abre e de lá surge uma figura que Padma já conhecia. A secretária responsável por aquela audiência. Analisando rapidamente todos presentes, ela diz na lata:
── O juiz chegou ao veredito.
Seu tronco se ergue na hora, sentindo a tensão pairando no ar pela curta e significativa frase. Ela pensa em se levantar, mas não consegue inicialmente ao sentir fraqueza nas pernas, e seu pai parece perceber a ação já que aperta levemente o ombro da filha caçula, encorajando-a a enfrentar a situação com bravura. Somente aí se põe de pé, pronta para seguir para dentro da sala de audiência se não fosse pela figura do que não deve ser mencionado passando em sua frente, querendo exclusividade até mesmo naquele momento tão cruel.
Atrás dele, Padma não consegue ignorar o olhar que o advogado de defesa contratado e os pais do maldito jogam em cima de si, fazendo com que se sentisse completamente vulnerável e nua na presença deles. Ela odiava aqueles olhares que costumavam esbanjar tudo, menos empatia pelas pessoas. Tinha certeza que se recusaram a digerir o real motivo pelo qual estavam ali, e no fundo aquele pensamento gerava um certo apavoro em Padma.
Na Tailândia acontecem todos os tipos de crime inimagináveis de se pensar, entretanto poucos sabem da existência porque a maioria são cometidos pela área de alta sociedade. Dinheiro é capaz de silenciar qualquer vítima, independente do crime cometido. Então, ela já esperava pelo pior. Já sabia, no fundo, o que lhe aguardava dentro daquela sala.
Padma mal se acomoda na cadeira quando o juiz bate o pequeno martelinho na mesa.
── Eu tenho um veredito final. ── Ar falta nos pulmões da adolescente ── Padma Madee-Kim é condenada pelo acidente de Shiva Somjai.
Uma bola de neve se forma em sua garganta ao mesmo tempo que um arrepio percorre dos pés a cabeça. Mesmo não encarando a família Somjai, Padma conseguia sentir perfeitamente o ar de contentamento que eles tinham ao escutar a sentença proferida pelo juiz. Era exatamente a frase que queriam ouvir desde o fatídico acidente, quando Shiva choramingou para todos os veículos de mídia do país o que a primogênita escolhida da família Madee-Kim, havia feito com ele.
Mesmo não sendo o melhor momento, a tailandesa tinha uma certa dose de humor guardada atrás dos pensamentos perturbadores sobre o caso. Bem, Shiva tinha praticamente dezenove anos de idade e apanhou feio para uma pirralha de apenas quinze. 'Se eu fosse ele, teria vergonha de denunciar à polícia que levou uma surra de uma menor de idade', o pensamento vaga brevemente e some quando percebe o juiz dar continuidade à fala.
── Por ser menor de idade, Padma é sentenciada a três anos de reformatório e dezesseis meses de serviço comunitário ── O juíz larga os papéis que segurava na mesa, passando a encarar a figura miúda da jovem ── Mas, a sentença pode ser revertida com o acordo que a família Shiva irá sugerir. Se aprovado e firmado por assinaturas não somente de Padma, mas também dos responsáveis, o reformatório não será preciso. Apenas o cumprimento do acordo.
Padma pisca seus olhos um tanto quanto confusa, procurando brevemente alguma explicação por parte de seu advogado, mas ele apenas continua quieto, sinalizando para que a família de políticos sugerissem o 'acordo'. Ela se ajeita na cadeira desconfortavelmente, aderindo ao silêncio.
── Bem ── o advogado de defesa assume uma postura arrogante, tentando esconder aquele maldito sorrisinho de vitória, como se a causa fosse ganha independente do acordo. O pensamento fez o estômago de Padma embrulhar ──, a família Somjai pede o banimento permanente de Padma Madee-Kim em todas as competições de Muay Thai aqui da Tailândia. Meus clientes temem que outros jovens possam se tornar vítimas de Padma, da mesma forma, e talvez pior, que ele foi.
Os olhos de Padma, que já se encontravam lacrimejados sem perceber, triplicam de tamanho quando ela escuta a frase proferida como se não fosse absolutamente nada. Sua frequência cardíaca diminui de forma brusca principalmente porque a corrente de oxigênio dentro de seus pulmões é interrompida abruptamente, com a sensação semelhante de ter recebido um chute no meio do estômago. O choro que segurava para não sair, estava a um passo de ser liberado, mesmo que não quisesse dar o gostinho de fraqueza para aqueles que não mereciam uma mísera gota de suas lágrimas. Seus lábios se apertam.
Aquele dia era o dia de sua derrota. A derrota que nunca havia sentido antes dentro dos ringues, frente a frente com os melhores lutadores do mundo, estava sentindo naquele momento enquanto encarava o sorriso maldoso que Shiva Somjai carregava, mesmo que quem estivesse sobre uma cadeira de rodas, era ele. A maior vontade de Padma era terminar o que havia começado naquele dia, num beco insalubre perto de Chinatown, mas Shiva arranjou outra forma de sair por cima numa situação que ela não tinha culpa.
Agora estava ali, petrificada em seu lugar, sendo consolada pelos seus pais que no fundo estavam desapontados com suas atitudes. Ela tinha plena noção que haviam confiado fielmente na sua versão da história, mas diante das condições do acordo, Padma já não tinha mais certeza se somente o amor era capaz de curar machucados abertos. O corte que havia feito no curso das coisas era profundo demais para se costurar com a linha do afeto.
── E a segunda cláusula... ── notando o clima melancólico da família Madee-Kim, o advogado dos Somjai adere á uma pausa um tanto quanto sarcástica e dramática para provocá-los, indiretamente dando a entender que ele quem mandava ali agora ── Os clientes pediram que o Phaya Nak Camp feche suas portas definitivamente na Tailândia.
Aquele era o verdadeiro golpe final, o soco que Padma estava apenas esperando para que fosse dado e desse um fim na sua reputação. Ela sente o peso dos olhares caindo por seus ombros já encolhidos, mas sente que não pode fazer nada para reverter. O acordo era um absurdo total, o legado de sua família gritava mais alto. Shiva não tinha o direito de mexer com os Madee-Kim dessa forma, seus pais nunca aprovariam aquilo. Seu avô nunca aprovaria aquilo.
Ele estava, inclusive, assistindo quieto no fundo da sala o andamento da audiência. Não tinha expressão alguma no rosto, então Padma não conseguia ler o que ele pensava.
── Se por acaso assinarmos o acordo... Padma não precisará ir para o reformatório... certo? ── A voz de sua mãe ecoa por um fio, trêmula e recheada de medo.
── Isso. O acordo irá substituir a pena.
Era tudo culpa dela.
Se não tivesse saído escondida de casa, nunca teria encontrado Shiva Somjai e nunca teria espancado o filho de políticos influentes do país. Por um erro unicamente seu, agora toda sua família estava à beira de pagar o preço gerado por péssimas ações. Toda ação tem uma reação, e embora tenha conhecimento daquele ditado dentro dos ringues em uma luta intensa, jamais tinha parado para pensar nele fora do ambiente de luta.
Toda sua vida se deu dentro de um ringue. Tirá-lo dessa forma tão brusca e maldosa, era um sinal de que Padma não sabia viver sem ele. Não poderia ser banida do Muay Thai.
Antes que fosse pedir para que cumprisse a pena no reformatório, a voz de seu avô a interrompe.
── Nós vamos assinar o acordo.
── O que? ── ela engasga ── Khuṇ pū̀, não...
── Se minha neta diz a verdade, eu confio na verdade dela. Não vamos mandar uma adolescente de quinze anos para o reformatório porque seu filho não sabe se defender. Logo vocês políticos que se dizem tão agentes da paz, vi hoje que se escondem atrás do dinheiro do público para mascarar seus crimes!
Padma parecia chocada demais para tentar impedir o mais velho. Seus pais até tentam apaziguar o clima pesado que havia se formado após a fala do ex-campeão mundial, mas foi inútil. Ela assiste Kian pegar uma caneta do bolso, tomar os documentos da mão do advogado e firmar sua assinatura lá. Restava apenas Padma. Seu avô estava a um passo de perder a academia de luta por erro de Padma.
Ela nega sem forças ao balançar a cabeça, finalmente deixando as lágrimas rolarem por suas bochechas. Não poderia fazer aquilo. Era cruel, e nada justo.
── Eu não posso acabar com o Phaya Nak... ── Padma sussurra.
O olhar quebrado de Padma foi o suficiente para que Kian finalmente demonstrasse alguma coisa, o fazendo se ajoelhar ao lado da neta e tentar oferecer um pequeno sorriso para dizer que estava tudo bem. Obviamente nada estava bem, Padma conseguia ter noção da situação absurda e difícil de contornar, mas ela permite ser abraçada pela figura que era sua maior inspiração.
Kian conseguia sentir que o maior peso de desapontamento do ambiente vinha da própria neta. Era semelhante a quebrar uma promessa de lealdade, e doía tanto porque os Madee-Kim utilizavam do dilema da lealdade. Um dilema que um deles acabou se quebrando, logo aquela que ele havia escolhido com tanta certeza para levar a frente o sobrenome da família.
── E eu não posso te deixar ir para aquele lugar ── ele murmura, sentindo Padma o apertar um tanto quanto trêmula ── Estou disposto a desistir da academia por você, Padma. Eu faria quantas vezes fosse necessário.
── Vocês desistiram do legado da família porque a mimada da Padma não consegue dar conta de três anos presa na droga do reformatório?
Assinar o acordo foi uma tarefa difícil para Padma. Talvez mais difícil do que lidar com as expressões de desgosto que os Somjai lhe deram antes de sumir pelos corredores do tribunal. Seu coração já não existia mais, e comprovou a tese no caminho de volta para casa que havia sido um silêncio total, onde ninguém sabia exatamente o que dizer. Olhar para eles sim era uma tarefa árdua. Parecia que Padma usava uma faixa escrita "aberração", de tanta vergonha que sentia.
Quando chegaram em casa, a adolescente salta do carro ainda tensa, sendo recebida pelo olhar suspeito que seu irmão tinha no rosto. Não aguentaria lidar com Kai e sua maldade naquele momento, então a primeira coisa que fez foi correr e se trancar em seu quarto, derramando um tsunami de lágrimas culposas e arrependidas. Não demorou muito para que situassem o rapaz do assunto, portanto minutos depois ele já estava esmurrando sua porta.
── Saía daí, pirralha! ── ele berra, depositando socos e chutes na porta de madeira do quarto da caçula da casa. Padma estava encolhida na cama, agarrada ao seu travesseiro enquanto chorava. ── Você tem noção do que fez? Do que fez à nossa família? É tudo sua culpa, você não merece ser a escolhida.
── Kai. ── Kian murmurou em tom de aviso, estreitando um olhar rígido para o neto ── Olhe o tom.
── Tom? A pirralha conseguiu fechar sua academia e o senhor ainda a defende? ── ele cospe as palavras, enfurecido demais para medir suas palavras ── Eu disse que escolher ela era um tiro no próprio pé. E agora, olhe o que deu. Iremos falir vovô, e tudo isso porque Padma é uma mimada do cara...
Um tapa. Kai se cala na hora, levando a mão até a bochecha. Seus pais assistem de longe, não ousando interromper porque sabiam que ele estava errado, e precisava ser corrigido.
── Independente do que sua irmã tenha feito, respeito ainda é importante e não admito que você tente contrariar minhas decisões porque eu não me arrependo delas. Padma errou, mas errou tentando se defender, e não vai ser você que vai fazer com que ela se sinta mal.
Kai queria berrar de raiva. Sentia-se humilhado.
── E, mais uma vez, você me provou o porquê de eu não ter te escolhido. Diferente de você, sua irmã sabe lidar com o peso das consequências. Aprenda com ela, porque se não eu terei de ensinar de forma pior.
Aquela foi a noite que ficou marcado na mente conturbada de Padma, o fim de uma era intensa. Mas, com a possibilidade de um novo começo, bem longe da Tailândia.
─ Oie, tudo bem? Finalmente o prólogo de Twin Flame está entre nós. Estava bastante ansiosa para postar e mostrar a Padma para vocês. Ela é minha nova filha, traumatizada, claro. Não é personagem da bibi se não tiver um trauma na contaKKKKKKK
─ É curto esse capítulo, mas eu queria apenas mostrar o contexto de todo o início. Essa obra, como dito nos avisos, não segue à risca todos os acontecimentos da série. A história começa na terceira temporada, mas nem tudo reflete na vida da Padma porque ela não é do Cobra Kai, nem do Miyagi-Do. Ela é uma imigrante que vai ser jogada no meio dessa briguinha, e vai ter que se virar. Ela é de outra arte marcial, outras vivências, outros ensinamentos. Eu preciso inserir ela aos poucos.
─ Mesmo que a história tenha uma proposta diferente por não ter TANTAS cenas da série, espero que dêem uma chance porque acredito que a Padma pode surpreende-los.
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