flores do atlântico.
E do oceano se restou a lágrima
O rosto manchado pela história dos navios, dos canaviais
Nasceu Áurea
Simplesmente escrita
Filha do abandono
O pai e mãe a deixaram no orfanato, bateram na porta, avisaram seu nome, mas não a queriam realmente
Áurea se criou olhando a violência de perto
Vendo que sua cor nadava na margem
Ela não quis olhar para aquilo.
Gostava mesmo era de passear no terreiro
Bater o tambor no ritmo do coração que não se saciava
Ela passava as horas olhando os murais coloridos.
Entendia muito bem Assis e Alves
Mas a professora falou que só deveria aprender ler o suficiente para assinar o próprio nome, nada além disso era preciso.
Ela não se contentou com pouco.
Queria mais
Quis ir para a universidade
Pública porém não publicava
"Qual teu sobrenome?" O reitor perguntou
"Silva" ela respondeu
Só temos vaga para faxineira
Ela aceitou, não tinha emprego
O salário era uma mixaria mas consiguia pagar suas aulas
O professor e os colegas fingiam sua invisibilidade
Sua existência
Olhavam para ela de cima.
Ela salgava a sala de aula com sua lágrimas de oceano
Pensava em ir embora
Mas logo se arrependia e voltava a limpar
Sua mágoas eram curadas na batida do tambor
Era sexta, era dia de reunião
Ela começou a dançar
E começaram as pedras, os paus, a gritaria
O incêndio se alastrou pelo local
Ela gritou
Ela sussurrou
Ela não resistiu
Ela se tornou estatística.
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