Capítulo 5

Todos os anos meus tios faziam uma festa cheia de decorações infantis para minhas duas primas, Cristina e Carolina. Minha tia mesmo era quem fazia a decoração, tendo minha mãe como maior ajudante. As duas eram professoras de crianças, então dá pra imaginar o que conseguiam fazer com um pouco de EVA e cola quente. Cada ano era uma temática diferente, o que sempre achávamos muito divertido. Chegávamos cedo ao local, normalmente em casa mesmo, e ficávamos pelo pátio brincando, especialmente nos aniversários da Cá, que era no final de novembro, quando já estava quente o bastante.

Como meus irmãos tinham seis e dez anos a mais do que eu, assim como Cristina, que tinha quatro anos de diferença, eu sempre acabava sozinho. Não que isso me incomodasse. Me aproveitando do fato de ser pequeno, naquela festinha de cinco anos de minha prima mais nova, eu então com um ano a mais, passei uma boa parte do tempo me escondendo dos adultos e roubando da mesa já arrumada os salgadinhos e docinhos que conseguisse alcançar com algum esforço. Quando minha mãe ou tia conseguiam me ver, levava alguns esporros; quando não conseguiam, enchia minha boca de comida sem me importar com toda a arrumação ou com me enturmar com as outras crianças.

Apesar de não parecer, sempre fui um garotinho franzino. Minha mãe achava que era magro demais e me enchia de suplemementos que me enchiam de fome, o que explicava porque estava sempre atrás de comida. Meu pai inclusive costumava dizer que eu tinha as pernas ocas, pois ninguém sabia para onde ia tudo o que ingeria.

Além de magrelo, meus cabelos também nunca ficavam arrumados, porque, sendo crespos, minha mãe achava bonitinho deixá-los compridos e ao natural, ainda que eu odiasse que os penteasse toda vez que precisávamos sair. No dia, porém, havia tomado banho e estava com os fios cheios de creme para pentear, por isso os cachos se mantinham estáveis e no lugar.

Eu estava perto da parede da garagem, atrás da mesa de presentes, quando vi que mais um convidado havia chegado. Carolina chamara algumas de suas coleguinhas de escola e imaginei que pudesse ser uma delas, já que não as conhecia. Uma mulher alta e loira trazia consigo pela mão uma pequena menina com cabelos muito claros, mais que os meus, cortados nos ombros, muito lisos. Usava um vestido cor-de-rosa e um tope da mesma cor na cabeça.

Imediatamente me lembrei da boneca que meus pais haviam dado a Carolina naquela mesma manhã. Era igualzinha, exceto pelo fato de ser real.

Não consegui mais tirar os olhos dela. Era como se o brinquedo tivesse se tornado humano, como Pinóquio ou Toy Story. Achei a ideia engraçada e passei a acompanhar de longe as brincadeiras das duas meninas, correndo por todo o pátio com outras crianças, sem querer me aproximar. Até esqueci dos brigadeiros em minhas mãos.

Só percebi a presença de minha mãe ao meu lado, me encarando, quando ela disse:

— Por que não vai brincar com a Cá, Ique?

Elevei minha cabeça para conseguir olhá-la, sem responder.

— Você tá há horas olhando as meninas. Vamos, meu amor, aproveita!

Eu apenas pisquei e voltei a baixar a cabeça para observar as crianças, que agora faziam uma rodinha em volta de Carolina. A menina que parecia uma boneca ria e se divertia de mãos dadas com as outras enquanto eu continuava no mesmo lugar.

Minha mãe parecia não achar nada estranho o fato de que me recusava a falar sempre que possível, então apenas se distanciou para continuar a fazer o que quer que estivesse fazendo antes. O problema é que não foi apenas ela a perceber o quanto eu parecia um psicopata stalker naquela tarde ensolarada. Em pouco tempo tinha em minha companhia meu irmão Gustavo. Ele me deu uma sacudida pelos ombros, como insistia em fazer sempre que me via. Hoje me pergunto se ele achava que eu era um brinquedinho que pudesse fazer comigo o que bem entendesse.

Guto tinha os cabelos um pouco mais escuros, mas cortados bem curtos, de forma que não precisava se preocupar com penteá-los toda hora. Estava então com doze anos e uns bons trinta ou quarenta centímetro a mais de altura, sem contar que sempre fora muito forte, diferente de mim, o que provavelmente era o motivo pelo qual sempre esperava pelo pior quando se aproximava. Além disso, ele não tinha a menor noção de seu tamanho, assim que sempre acabava me machucando de alguma maneira.

Depois de fazer com que quase vomitasse de tanto me balançar, o ouvi dizer, divertindo-se com minha cara:

— O que você tanto olha pra lá?

— Nada – menti, algo que fui aperfeiçoando com os anos para todas as vezes em que me sentia desconfortável.

Não queria que ele usasse minha distração como uma nova forma de me aborrecer.

— Que nada o quê, seu bobalhão! – falou, rindo e me apertando com um só braço. Quem via de longe acharia que nos dávamos muito bem. – Tô vendo há horas que você tá encarando aquela loirinha lá.

Não respondi, apenas arregalei os olhos, o que confirmava sua desconfiança.

— Achou ela bonita, foi?

Inclinei minha cabeça para cima para fitar seus olhos castanhos e assenti, sem saber que minha afirmativa poderia ser também minha desgraça. Era novo e imaturo demais para perceber o que estava fazendo.

— E por que não vai lá se apresentar? – ele quis saber.

Balancei minha cabeça para os lados, morrendo de vergonha dessa possibilidade. Se havia algo que abominava era ter que falar com estranhos.

Com aquela ideia pré-concebida de que meninos e meninas deviam mostrar seus sentimentos fingindo ignorar o outro ou, pelo contrário, atormentando o outro, recebi o seguinte conselho de meu irmão:

— Sabe o que eu acho, Ique? Que você deveria ir até lá e, sei lá, fazer alguma maldadezinha com ela. Só pra ela te notar, entende? Isso sempre funciona. Pelo menos comigo sempre deu certo.

Ainda tenho dúvidas sobre ele realmente acreditar nessa ideia naquela época ou se fosse parte de sua personalidade ruim tentando mais uma vez me fazer de idiota somente por ser mais novo. De qualquer forma, ainda levaria anos para compreender que era apenas uma pecinha em seus jogos de manipulação, então acreditei em cada palavra como se fosse uma verdade incontestável.

Esperei até depois do parabéns, quando as crianças saíram correndo para mais uma brincadeira, dessa vez no fundo do quintal, onde havia alguns brinquedos de pracinha. Todos fingiam em alguma história qualquer em que a tal menininha loira era uma das filhas do casal, composto por Carolina e Cristina. Me aproximei aos poucos, para não chamar atenção de ninguém. Fiquei ao redor do grupo de seis, como se também fizesse parte da atuação. Nenhum deles pareceu se importar e em instantes Carolina falava comigo como se estivesse ali desde o início, pedindo que fizesse isso ou aquilo, como parte da história.

A menininha também não se importou com minha entrada na brincadeira. Além de bonita, era simpática e sorridente, e eu estava cada vez mais envolvido, me divertindo, embora por fora pouco transparecesse. Passei um tempo bolando o que fazer para chamar a atenção dela até que ela se sentou no balanço e eu tive a grande e estúpida ideia. Plantei-me atrás, em suas costas, e, quando menos esperava, sem mais nem menos, empurrei-a do assento. Sem estar esperando por aquilo, ao invés de só ir para frente, a menina acabou se desequilibrando e caindo de joelhos na pedra áspera, arranhando sua pele.

Em silêncio, observei-a começar a chorar e Cristina ir ajudá-la a se levantar, sem nem me encarar. Queria ir até ela e dizer que havia sido sem querer, ainda que não fosse. Não havia sido minha intenção machucá-la. No entanto, para isso, precisaria me desculpar, ou seja, precisaria abrir a boca e pronunciar as palavras, algo que simplesmente não conseguia fazer.

Ao longe vi Gustavo rindo de minha cara, mas não achei que fosse por isso. Assim, comecei a rir com ele, pensando que era o que devia fazer.

Imaginei que tudo isso passaria ou que nunca mais fosse encontrá-la, mas aquele foi só o início de muitos outros mal-entendidos que teríamos no futuro. Ir até sua casa e acabar dormindo ao seu lado parecia apenas mais uma das milhares de situações em que fizera tudo errado.

Voltei naquela manhã para o apartamento que dividia com meu melhor amigo sem nem imaginar como poderia ter chegado até onde chegamos. Do jeito que Andressa me detestava, a ideia de ela ter aceitado transar comigo parecia absurda. Mesmo sem lembranças de toda aquela noite, havia uma leve sensação dentro de minha mente, algo guardado bem fundo em meu inconsciente, que me dizia que eu não era o único culpado. Havia um sentimento de que ela me provocara, que flertara comigo por horas e me dera todos os motivos para crer que estava interessada.

A ideia parecia muito maluca para ser verdade, afinal, foram anos me odiando e me lançando olhares mortais. Contudo, ela continuou rondando meus pensamentos por dias, até que despertei de um sonho pra lá de confuso. Me sentia um pouco tonto, flutuando, como se houvesse bebido muito. Tudo estava enevoado e escuro. Sabia que não era real o que acontecia, mas era como se já tivesse acontecido antes.

ATENÇÃO +18: cenas descritivas de sexo

Eu me via bem atrás de uma loira seminua, na borda da cama, sem controle sobre meu corpo. Não era possível pensar em outra coisa que não fosse chegar logo ao clímax, ainda que parecesse cedo demais para tanto. Logo, senti que havia terminado, soltando um gemido baixo. Completamente fora de mim, em vez de me sentir constrangido por um fim tão rápido, comecei a rir.

— Foi mal – tentei me desculpar.

A loira virou o pescoço em minha direção, toda gostosa com a bunda empinada bem diante de mim. Só então entendi que era Andressa. Por um instante me assustei, imaginando que aquilo me levaria a um pesadelo, como em tantas outras vezes, mas não foi isso que se seguiu. Ela me encarou com uma expressão que demonstrava descontentamento, embora não parecesse irritada, mas sim divertida. O Henrique de verdade teria ficado acuado. O Henrique do sonho pouco se abalou, tendo apenas saído de dentro dela e se limpado com uns lencinhos que pegou em algum lugar.

Andressa se deixou cair no colchão logo em seguida, choramingando, chateada. Não estava brava, mas certamente não parecia saciada. Era como se estivesse tentando me manipular a continuar.

Vendo-a daquele jeito, deitada de bruços, quase nua não fosse pelo sutiã branco e calcinha fio-dental rosa, fez meu eu do sonho perceber que a noite ainda não havia terminado. Apoiei-me nos cotovelos e beijei primeiro sua panturrilha lisinha, fazendo-a se elevar um pouco para poder me observar. Ela tinha um sorriso absurdamente diabólico no rosto, contente por ser levada a sério.

Subi mais um pouco na cama, nu exceto pela camisa aberta e pelas meias, e beijei a parte de trás de seu joelho, o que ela pareceu gostar. Depois deixei alguns beijinhos e mordidas em sua coxa. Vi seu corpo se arrepiar e minha ereção começar a dar sinal outra vez. Com isso, envolvi seu traseiro com as duas mãos e ela riu. Passei os dedos pelas laterais de sua calcinha e a deslizei até seus pés, atirando-a no chão. Voltei e segui beijando toda a extensão de suas costas até chegar em seu pescoço, estando de joelhos sobre ela. Finalmente elevei o corpo só o suficiente para abrir o fecho do sutiã e Andressa resolveu se virar embaixo de mim, retirando a última peça para que pudesse admirá-la por completo.

Baixei minha cabeça até conseguir alcançar um de seus seios e ela arfou, gostando do contato de minha língua com sua pele. Enquanto eu sugava um mamilo e apertava o outro entre os dedos, senti Andressa enfiar as mãos por debaixo de minha camisa, na região de meus ombros e lentamente empurrar o tecido para baixo, enquanto arranhava minha pele de uma maneira perigosamente gostosa.

Levantei, apoiando-me nos joelhos, e retirei a camisa dos braços, jogando-a para trás. Ela encarava meu corpo com uma expressão libidinosa que me deixou ainda mais desperto. Senti minhas próprias mãos envolverem meu membro na vida real no mesmo momento em que fazia isso no sonho, me agachando sobre a mulher embaixo de meu corpo e deixando uma carreira de beijos de sua barriga até sua intimidade.

Ela abriu as pernas para que eu alcançasse suas terminações nervosas da melhor forma e arqueou as costas. E assim, enquanto me deixava o mais excitado possível para uma nova rodada de sexo, também a lambia e sugava, fazendo-a suplicar por mais.

Quando achei que estava quase terminando pela segunda vez, subi até sua boca para beijá-la e a penetrei lentamente até o fundo, segurando um de seus joelhos acima de minha cintura. Ela mordeu minha boca e riu ao mesmo tempo que apertava meus braços com os dedos enquanto eu estocava cada vez mais rápido e forte, conforme ela pedia, até que, enfim, gozei dentro dela assim como na minha cama.

Acordei, com o coração palpitando, ansioso, tendo apenas então me dado conta de que havia sido real. Não fora um sonho, mas uma lembrança. E, para piorar, eu ficaria muito tempo pensando não só no quanto parecia ter sido boa nossa noite de amor, mas no fato de que transara com Andressa não uma, mas duas vezes... sem camisinha. 

Caramba, sai de um momento fofo de infância para um sonho erótico e bem realista! Coisas de Henrique...

Acho que já dá pra notar pelos acontecimentos descritos até onde isso vai chegar, não é mesmo?

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