Capítulo 20 - Seu sorriso sarcástico por trás do vidro

  Molduras de fotos do passado

Seus sorrisinho sarcástico por trás do vidro

Este museu, cheio de cinzas

Uma vez animado, agora uma pavor

Isto costumava ser um parque de diversão

Mas agora está cheio de palhaços maléficos

Está na hora de começar a contagem regressiva

Eu vou queimar tudo, tudo, tudo

Pink

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Eu me movi com preguiça, sentindo os lençóis macios da cama de Ethan me envolvendo. Um sorriso instantâneo brotou em meu rosto ao me lembrar da noite anterior. Após sentir a falta dele em minha cama por meses, eu finalmente o tive para mim e dessa vez não o deixaria escapar tão fácil.

Me virei em sua direção observando seu sono sereno, por um momento pensei em despertá-lo, mas então algo melhor me ocorreu. Um café da manhã, nada tão elaborado, apenas um pouco de ovos e Bacon. Nada que colocasse o apartamento em risco.

Eu apanhei a calcinha ao pé da cama antes de pegar a camisa dele no meio do caminho, a vestindo enquanto descia as escadas. Eu observei seu apartamento com calma, não era nada parecido com a casa de Vito no Hawaii, mas traduzia bem a personalidade de Ethan, eu podia enxergá-lo em cada detalhe daquele lugar.

Eu abri a porta da geladeira, imaginando o que poderia fazer, mas antes que pudesse começar o som da campainha me interrompeu. Eu não queria que Ethan acordasse então fui até a porta da frente,  pensando se seria ou não adequado atender vestindo apenas sua camisa. Minha decisão foi tomada assim que olhei pelo olho mágico, eu bufei antes de abrir a porta e encarar meu pai.

— Eu sinto muito Sr rober.. — um homem, que aparentava ser o porteiro surgiu em meu campo de visão, se calando ao me ver.

— O que você está fazendo aqui, pai? — Eu murmurei, ignorando o olhar chocado que recebi.

— Já que minha filha perdeu o meu discurso na noite passada por decidir que transar com o ex namorado era mais importante, ela está sentenciada a passar o dia com os pais e fingir que se importa — ele avisou em um tom sério — se vista, eu prefiro não pensar em como essa camisa foi parar em você.

— O senhor disse que ela era menor de idade e que chamaria a polícia — o porteiro gaguejou.

— Sim, ele mente para conseguir o que quer — eu revirei os olhos — e o que você quer dizer com "passar o dia com seus pais"?

— Você pode ir Roger — meu pai avisou o porteiro.

— É Daniel...

— Que seja...

— E eu não posso deixá-lo aqui sem a aprovação do Sr Roberts — Ele respondeu em um tom firme enquanto avaliava minhas pernas, fazendo com que eu revirasse os olhos.

— Sim, o Roberts vai adorar saber que você ficou aqui de olho na garota dele — Meu pai o encarou, fazendo com que ele desviasse o olhar desconcertado — por falar nisso, onde ele está?

— Dormindo. Mas eu quero saber que história é essa de passar o dia com seus pais? — eu insisti.

— Dormindo com todo esse barulho que estamos fazendo? — Meu pai arqueou as sobrancelhas — O que você fez com ele ontem? Sugou sua energia vital?

— Você acabou de me chamar de demônio? — eu cruzei os braços.

— Sr De angelis... — o pobre porteiro implorou.

— Se vista e me encontre em cinco minutos lá embaixo, sua mãe está te esperando na sua irmandade — Meu pai avisou antes de se virar para Daniel — Vamos Richard.

— É Daniel — eu o ouvi protestar enquanto voltava para o interior do apartamento e fechava a porta atrás de mim.

Cinco minutos para me vestir e sair? E que história é essa de encontrar minha mãe? Eu fui até perto da janela onde meu vestido estava jogado, o peguei do chão antes de subir até o quarto, eu estava disposta a despertar Ethan, mas ele parecia tão sereno ali que decidi deixá-lo dormir. Seria melhor que ele não tivesse que lidar com meus pais no momento.

Eu me vesti o mais depressa que pude, apanhando as joias no criado mudo e os sapatos perto da cama antes de ir encontrar meu pai. Ele me esperava na portaria do prédio e me lançou um olhar descontente assim que saí do elevador, ele tinha me esperado por quase quinze minutos, mas o que ele queria? Não era tão fácil entrar naquele vestido sem ajuda.

Eu senti a rajada de ar frio me atingir assim que as portas do elevador se abriram, eu devia ter vestido o casaco de Ethan, mas com sorte meu pai me emprestaria o dele.

— Pensei que teria que subir para tirá-la da cama do Roberts — ele murmurou indicando a porta do prédio com a cabeça — Vamos, vou te levar para casa.. Foi bom te conhecer, Marcus.

— É Daniel — o homem suspirou sendo ignorado por meu pai.

— Eu preciso buscar minha mala.

— Está no carro — ele me interrompeu enquanto me guiava até a saída.

— Obrigada — eu murmurei pensando no que ele falara antes.

Minha mãe está mesmo me esperando na casa da irmandade? Ela vai me dar um belo sermão por conta do sumiço de ontem.

Um homem abriu a porta para que eu me acomodasse no banco traseiro da Mercedes que estava estacionada na frente do prédio, eu entrei pegando minha bolsa que estava no banco e verificando se o meu pai não havia esquecido nada no hotel, foi quando eu encontrei o álbum. Ethan provavelmente não ficaria feliz com minha ausência, mas se eu pudesse deixar algum tipo de recado a ele.

— Espera um pouco, pai — eu pedi abrindo a porta do carro.

— Onde você vai? — Ele questionou descontente.

— Eu esqueci de dar algo a Ethan — Eu expliquei estremecendo por conta da temperatura — Me empresta sua caneta?

— Pensei que estivesse aqui exatamente porque você deu mais do que deveria a ele — meu pai murmurou, enquanto me estendia o objeto.

— O que!? Não é nada disso! — Eu bufei ao sair do veículo.

Caminhei até onde Daniel e o outro porteiro estavam e pedi um papel para que pudesse escrever um bilhete. Assim que finalizei fiz com que me prometesse que entregaria nas mãos de Ethan o mais depressa possível, Daniel parecia estar ansioso em se ver livre de mim e de meu pai e acabou concordando logo.

— Podemos ir? — Meu pai me encarou assim que eu me acomodei a seu lado no veículo.

— Sim, eu não quero deixar Hellen esperando — eu suspirei enquanto o motorista nos colocava em movimento.

— Eu posso ter mentido para você sobre isso — meu pai comentou com naturalidade.

Eu o encarei por alguns instantes me sentindo frustrada. Ele mentiu sobre a presença de minha mãe? Ele sabe o quanto significaria para mim se ela tivesse vindo!

— Você mentiu? Por que!?

— Basicamente foi a maneira mais rápida que eu encontrei para fazer você se vestir, para que Chuck parasse de observá-la — Ele bocejou enquanto brincava com um de seus anéis.

— Chuck? O nome dele é Daniel!

— Que seja — meu pai deu de ombros.

— Ok, você vai me levar de volta, eu vou esperar Ethan acordar como uma pessoa normal — eu respirei fundo.

— Já disse, você tem um compromisso com seus pais hoje. Sua mãe...

— Você acabou de dizer que mentiu sobre a vinda dela!

— Não, eu menti sobre o fato dela estar te esperando em casa. Na verdade ela ainda está no hotel — ele explicou.

— Então ela veio mesmo? — Eu mordi o lábio inferior.

— É claro que sim, foi sua primeira exposição.

— Você a convidou? — eu questionei desconfiada.

— Você acha que eu perderia a oportunidade de mostrar para sua mãe que eu estava certo e ela errada sobre você? — Um sorriso que eu conhecia bem iluminou o rosto de meu pai — Isso é uma coisa rara e eu preciso aproveitar quando acontece.

Eu o avaliei rapidamente antes de arregalar os olhos. Sim, eu conhecia aquela expressão, eu já tinha visto uma dúzia de vezes quando ainda éramos uma família e meu pai vencia uma discussão.

— Pai, minha mãe fez uma reserva no hotel?

— Ela não precisa de uma — Ele deu de ombros.

— Pai, me diz que vocês não estão tentando mais uma vez — eu gemi em desgosto.

— Você sabe o que dizem, a sétima vez é a da sorte — ele piscou para mim.

Não, aquele inferno de novo não!

— Sorte? Pai, se vocês já se separaram seis vezes isso deve significar algo! — Eu tentei ser razoável.

— Eu agradeço sua preocupação, garotinha. Mas dessa vez não tem como dar errado. Eu vou me mudar de volta para os Estados Unidos graças a essa nova joalheria, nós não vamos nos casar como fizemos das últimas vezes. Seremos um feliz casal divorciado — ele me explicou seu plano.

— Esse almoço será um pesadelo — eu murmurei.

— Eu já te falei que você adquiriu um belo sotaque Havaiano? — ele me provocou.

— Não tente mudar de assunto, o que mais vocês planejam? — eu murmurei.

— Sua mãe ficará até o próximo fim de semana, pensei que poderíamos passar o natal juntos.

— Tudo bem, vocês ficarão no hotel ou eu vou para a Pensilvânia?

— Talvez no hotel. Ainda estamos pensando.

Nós chegamos à casa sede da Sigma Kappa, o lugar onde estava vivendo nos últimos três meses. Grande parte de minhas "irmãs" tinham viajado para passar as festas com a própria família, mas algumas ainda rondavam pela casa.

— Onde está minha mala? — eu questionei.

— No porta malas, o Sr Preston cuidará disso — ele indicou o motorista que já saia do carro — Eu volto para te buscar em duas horas, esteja pronta.

Após apanhar minha mala, eu fui
para meu quarto na casa, sendo bem sucedida em evitar encontrar qualquer uma das garotas que viviam ali.

Eu escolhi a roupa que usaria no almoço com meus pais enquanto sonhava com a noite anterior.

Eu havia esquecido qual era a sensação de acordar ao lado de Ethan e não pretendia permitir que aquilo voltasse a se repetir. Obviamente as coisas estão longes de estarem certas entre nós dois, mas nós encontraremos uma maneira de fazer aquilo funcionar. Eu não podia mais negar o que sentia por ele, não podia mais falar a todos que tinha superado quando estava claro que não.

Tomei banho, me vesti e comecei a pentear meus cabelos antes de ser interrompida pelo toque de meu celular.

— Estava procurando por mim, Mio Caro? — eu sorri ao atender.

— Não, a mulher que eu estou procurando deveria estar na minha cama — ele respondeu em um tom leve — Você poderia ter me acordado antes de ir.

— De forma alguma eu permitiria que você conhecesse meu pai naquele estado — eu zombei.

— Eu já o conheci...

— Não como meu namorado — eu retruquei — não seria um bom momento para conhecê-lo.

Eu mordi o lábio inferior ao chamá-lo de "namorado". Eu me sentia estranha com toda aquela situação, apesar de tudo o que aconteceu nós não conseguimos conversar sobre nossa relação. Nós ainda temos muita coisa para resolver antes que possamos falar que estamos namorando.

— Eu vou ter que conhecê-lo em algum momento — ele devolveu — mas agora, estou mais preocupado em saber quando vou te ver outra vez, você não pretende desaparecer, não é?

— Eu não vou a lugar nenhum, Sr publicitário — eu garanti — e eu estarei de férias pelas próximas três semanas, nós podemos aproveitar esse tempo.

Eu ouvi algumas vozes femininas soando ao fundo da chamada, despertando minha curiosidade. Ele estava acompanhado?

— Dess, preciso desligar, cheguei na casa de minha mãe e minha irmã veio há pouco da Flórida — ele me explicou.

Ele está com a família? Isso é um bom sinal, certo? Eu tenho tanto a perguntar a ele quando enfim tivermos nosso tempo.

— Até depois, Ethan — eu me despedi ainda sorrindo.

Após isso eu me concentrei em terminar de me arrumar, um motorista me buscou no horário combinado, me levando ao restaurante onde meu pai tinha reservado uma mesa. Assim que cheguei a maitrê me guiou até a mesa onde meus pais me aguardavam. Minha mãe estava acomodada ao lado de meu pai, presa em uma conversa íntima, eu não a via desde julho e estava ansiosa para saber o que ela achou da minha primeira exposição. Ela tinha seus fios castanhos soltos e usava um suéter ferrugem. Minha mãe mantinha sua beleza mesmo com o passar dos anos, não podia julgar meu pai por não conseguir se afastar totalmente.

Eu me juntei a eles na mesa, observando a mulher com apreensão, por um momento ela se limitou a retribuir meu olhar, fazendo com que eu me sentisse desconfortável. Ela deve estar furiosa por eu não estar presente na festa ontem.

— Olá, Dess. É bom finalmente te ver — ela me cumprimentou.

— Mãe, eu não sabia que você viria — eu mordi o lábio inferior enquanto meu pai ignorava nossa interação e fazia sinal para o garçom.

— Para o almoço? — ela perguntou confusa.

— Para o evento de ontem — eu esclareci.

— Você teria descoberto se estivesse no lugar que deveria estar,  e não fugindo de suas responsabilidades — ela declarou fazendo com que eu revirasse os olhos.

— Eu não estava fugindo de minhas responsabilidades, eu estava resolvendo algo importante para mim!

— Tudo bem, seu pai me contou sobre o rapaz — ela acabou cedendo ao suavizar seu olhar.

— Contou?

— É claro, eu tive que explicar o motivo de minha filha ter passado mal e feito o publicitário responsável pelo evento levá-la para casa sendo que estava hospedada no hotel — meu pai revirou os olhos.

— Você não contou isso para o Sr Zelner, não é? — Eu preocupei — isso poderia prejudicá-lo...

— Não se preocupe, eu já avisei o Sr Zelner que o Roberts é o publicitário responsável por qualquer coisa que envolva a mim ou minha família — meu pai afirmou antes de fazer o pedido ao garçom.

— O que você achou das fotos? — eu questionei minha mãe, me sentindo um pouco ansiosa por sua resposta.

— Devo assumir, Dess, que eu estava errada quando pensei que você não levaria isso à sério — minha mãe me encarou ao lado de meu pai — ver as fotos que você tirou ontem. Você está dando o seu melhor nisso.

Um sorriso espontâneo tomou conta de meu rosto, ela finalmente está aprovando algo que eu fiz? Isso está acontecendo mesmo?

— Você gostou mesmo?

— Não era o que eu esperava para você, Dess... Mas se é algo que vai te fazer seguir um rumo na vida, eu fico feliz que esteja fazendo — ela retribuiu o meu sorriso.

Eu pisquei atordoada ainda sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. Ela acha que estou fazendo um bom trabalho? O garçom chegou com nosso pedido, me dando um pouco de tempo para pensar em algo para falar.

Minha mãe se orgulha de algo que eu faço!

— Claro que eu também fico aliviada por sua vida finalmente estar tomando algum rumo, depois de tudo o que Amanda nos disse — ela suspirou atraindo minha atenção.

Eu imediatamente parei de cortar o medalhão de filet mignon que estava em meu prato, encarando minha mãe com uma expressão atordoada.

Amanda? Que história é essa de Amanda?

— Do que você está falando, Hellen? — meu pai externou meus pensamentos.

— Amanda está passando os últimos dias com os pais, e eu tive que saber por ela que vocês duas brigaram — Minha mãe comentou despreocupada enquanto se ocupava com seu prato — Você quer falar sobre isso?

— O que ela te falou? — eu estreitei os olhos.

— Dess, não importa o que ela me falou — minha mãe comentou enquanto meu pai nos observava com um olhar afiado — o que importa é que eu estou feliz que você tenha parado de cometer erros.

Eu fechei os olhos respirando fundo antes de soltar de vez os talheres. De repente eu não sentia mais fome.

— O que você quer dizer com isso? — eu a encarei.

— Ela apenas disse que está orgulhosa de você, Dess. Não faça grande caso — meu pai pediu.

— Eu não estou fazendo grande caso, quero saber como eu parei de cometer erros — eu cruzei os braços.

— Você sabe, abandonou aquela loucura do Hawaii, voltou para a faculdade, arrumou um rapaz decente e descomprometido para se relacionar — ela deu de ombros — Você está mesmo se saindo muito bem.

Algo naquele discurso me incomodou, mesmo tendo o objetivo de me elogiar.

— Bem, eu conheci Ethan no Hawaii, e o convidei para morar comigo uma semana depois de conhecê-lo — eu apontei — ele me convenceu a voltar para a faculdade e tudo mais, então acho que a loucura do Hawaii teve alguma utilidade.

— Dess.. — meu pai suspirou.

— E quando ao fato dele ser descomprometido, isso sempre foi um pré requisito meu — eu o ignorei — eu sei que você está me elogiando, mas não está se saindo bem nisso.

— Bem, já que você está insistindo em me interpretar mal, você poderia parar de insultar minha inteligência — seu olhar se tornou duro — Eu estou aqui te elogiando por ter finalmente tomado uma boa decisão em sua vida, e você parece ter prazer em me mostrar seus erros, como se já não bastasse os anteriores.

— Meu Deus, você me elogia e eu tenho vontade de me esconder em um buraco — eu exclamei — você não consegue ver o que está errado?

— Nós podemos recomeçar? — Meu pai pediu.

— Você espera que eu ignore tudo o que você já fez só porque você tomou uma atitude acertada? — Ela me encarou.

— Por que você não me diz o que exatamente foi tudo o que eu já fiz? Você parece ter uma boa lista disso — eu rosnei em resposta.

— Talvez eu deva deixar vocês duas sozinhas por um momento — Vito começou a se levantar.

— Porque não começamos com o fato de você ter sido expulsa da faculdade por ter dormido com um professor? — ela elevou um pouco a voz.

— Você dormiu com quem? — Meu pai voltou a se sentar, me encarando com uma expressão nada feliz.

Eu abri e fechei a boca algumas vezes me sentindo desnorteada. Porque ela sabe disso? Mandy...

— O que ela te falou? Eu transei com ele por uma nota? Eu transei com o namorado dela? — eu fiz o possível para esconder a mágoa que sentia com uma atitude debochada.

Ela não tinha o direito de contar essas coisas para minha mãe ou para qualquer um que fosse. Eu nunca faria algo assim com ela, tanto que não contei para ninguém que ela traiu Nicholas, mas isso não parece tê-la impedido.

— Me diga você... — minha mãe manteve a expressão neutra enquanto me encarava.

— Sem problemas. Sim, eu me envolvi com um dos professores, mas ao contrário do que ela diz não foi em troca de uma nota. E eu nunca tive nada com Nicholas enquanto os dois estavam juntos e ela sabe bem disso — eu respirei fundo.

— Dess, ela nos disse que vocês fizeram uma tatuagem combinando na virilha — ela ergueu ambas as sobrancelhas me lançando um olhar irônico — Michelle nunca esteve tão decepcionada.

— Hellen, se a garota disse que não teve nada com ele.

— Quer saber, se você realmente me conhecesse você saberia que eu jamais faria algo assim. E com certeza Michelle ficaria ainda mais decepcionada se descobrisse que a vadia da filha dela terminou o namoro porque além de trair o Nick com um babaca qualquer da faculdade, ela ainda passava mais tempo no celular com esse mesmo babaca do que aproveitando as férias com a gente — eu me levantei ofendida, lançando o guardanapo que estava em meu colo de qualquer maneira em cima da mesa antes de pegar minha bolsa na cadeira ao lado.

Eu não pude continuar ali depois de ouvir aquilo. Tinha sido a gota d'agua, minha vontade naquele momento era torcer o pescoço de Amanda. Como ela pode inventar algo assim? Se ela inventou isso para minha mãe e a família dela, o que ela não deve ter falado para meus antigos colegas?

Eu saí do restaurante vestindo meu casaco enquanto caminhava apressada, segui sem uma direção exata por alguns minutos tentando em vão me acalmar até que me vi em Harbor Walk observando o rio parcialmente congelado, minhas mãos começaram a se tornar dormentes, me obrigando a buscar minhas luvas dentro da bolsa. Foi quando decidi colocar um fim àquilo, eu peguei meu celular discando o número que eu não pensei que fosse voltar a usar.

— Dess? — A voz de Mandy soou clara do outro lado da linha.

— Qual é o seu problema? — a pergunta saiu praticamente em um grito atraindo a atenção de alguns turistas que caminhavam por ali.

Eu os ignorei, andando na direção oposta a eles. Por conta do tempo frio o lugar estava relativamente deserto, me dando alguma privacidade.

— Porque você está gritando? — ela perguntou com calma.

— Você contou para minha mãe sobre o Sr Jones!? Você tem espalhado que eu roubei o Nicholas de você!

Eu me encostei em uma árvore tentando me acalmar um pouco.

— Eu não disse que você o roubou. Disse que nosso relacionamento terminou por sua culpa. Se não fosse por você, ele nunca teria tido coragem de sair de Springfield sem mim.

Eu fiquei boquiaberta por alguns instantes diante daquela acusação. Ela estava mesmo se eximindo de qualquer culpa? Ela se esqueceu que foi ela quem o traiu?

— Você sempre foi egoísta desse jeito? — eu murmurei — Que merda Mandy, foi você quem o traiu. Como isso pode ser minha culpa?

— Você só sabe apontar que eu o traí, mas como você acha que eu me senti ao descobrir que ele tinha arruinado o futuro dele pela minha melhor amiga? Ou quando ele decidiu se mudar para o outro lado do país com essa mesma amiga? Ou quando apareceu com uma maldita tatuagem.

— Ele fazia tudo por você! Como você não pode enxergar isso? — Eu voltei a elevar a voz — Você era tudo pra ele e jogou isso fora! Nós nunca nos vimos de forma romântica e você sabe disso!

— Eu não me importo — ela revidou com raiva — eu estou bem com o Jack, porque você está me ligando?

Eu decidi encerrar aquilo de vez, eu poderia gritar com ela o quanto eu quisesse, não mudaria nada. Ela tinha a mente feita.

— Na verdade nem eu sei porque eu te liguei. Não é como se você fosse contar a verdade para todos.

— A verdade — ela zombou — Dess, eu vou desligar. Eu espero que o Nicholas encontre alguém sem ambições como ele, já você parece ter sido  mudada pelo Roberts... Se você..

Eu senti a necessidade de mostrar a ela o quanto Nicholas estava melhor sem a presença dela na vida dele. Controlar minhas palavras se tornou uma tarefa praticamente impossível para mim. Eu queria feri-la da mesma forma que ela me feriu e eu sabia bem como tocar em sua ferida.

— Nicholas? Ele está ótimo com a Débora — eu a interrompi — Sabe, sobre uma coisa você tinha razão, ela  estava mesmo apenas esperando uma chance com ele, e ela não desperdiçou. Eu nunca o vi tão feliz... Nem quando estava bem com você em Springfield.

O silêncio foi minha única resposta, me fazendo sorrir, mas eu ainda não tinha terminado.

— E se você pensa que ele passou mais do que um dia sofrendo por você, sinto muito te desapontar, porque um dia depois ele estava na minha cama me falando o quanto eu era melhor que você em tudo — eu soltei de maneira impensada.

— Não me ligue mais — Sua resposta veio acompanhada de uma voz trêmula antes da chamada ser encerrada.

Eu segui até um banco desocupado desabando ali antes de fechar os olhos pensando no que tinha acabado de fazer. Mandy merecia ouvir aquelas coisas? talvez! Mas eu não me sentia nem um pouco melhor por ter falado tudo aquilo para ela.

E além de tudo, eu teria que contar a Ethan sobre Nicholas o mais depressa possível. Não seria difícil sua irmã ouvir algo na faculdade e ela já não gosta de mim.

— Mas que merda! — Eu exclamei frustrada — porque eu não posso ter um dia de paz!?

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