Capítulo 12 - Eu estarei lá por você
Eu estarei lá por você (quando a chuva começar a cair)
Eu estarei lá por você (como estive antes)
Eu estarei lá por você (porque você esteve lá por mim também)
The Rembrandts
—————————————————————————————————————————————————————————————
— Não acredito que terminamos — Débora suspirou enquanto nós nos trocamos ao fim do expediente.
Ela tinha nos conseguido vagas de garçonete em um Luau semanal em Lihue e eu me sentia esgotada. Creio que de certa forma os dias em casa me desacostumaram daquela rotina, mas eu não poderia me dar ao luxo de curtir todos os dias ao lado de Ethan, eu ainda preciso do dinheiro.
— Eu não vejo a hora de voltar para casa — eu suspirei aliviada — deixar Ethan com o Nick não me agradou na última vez.
— Qual o problema? Pensei que estivessem se dando bem — ela me olhou confusa enquanto soltava seus cabelos antes presos por um lenço.
— Estão se dando bem até demais — eu murmurei — Nicholas está adorando contar cada história idiota sobre mim.
— Pensei que ele estivesse ocupada com a namorada — Débora comentou despreocupada, fechando o zíper na parte de trás de minha blusa.
— Não está tão ocupado quanto eu imaginei que estaria — eu respondi pensativa.
Talvez os dois estejam com problemas.
— E como as coisas estão funcionando com a casa tão cheia? — ela perguntou, colocando sua bolsa no ombro.
— Melhores do que eu esperava — admiti — Ethan está mais disposto.
Eu fui para fora do vestiário, ansiosa por voltar de uma vez para Ethan.
— Tenho certeza que você tem uma maneira única de deixá-lo disposto — ela gargalhou me acompanhando.
— Eu apenas utilizo os recursos que minha genética me proporcionou — eu zombei caminhando em direção ao estacionamento.
— Tenho certeza que sim — ela balançou a cabeça com um sorriso no rosto, diminuindo um pouco o passo para que eu pudesse acompanhá-la sem esforço — Na verdade, eu fiquei surpresa de você ter aceitado vir trabalhar esses dias.
— Porque a surpresa? Eu ainda preciso pagar minhas contas e comer — eu retruquei enquanto procurava a chave do carro dentro da bolsa.
Ela parou ao lado do carro, se encostando nele enquanto eu revirava a bolsa. Eu preciso de um chaveiro maior!
— Eu só pensei que você seguiria o exemplo do Nick e aproveitaria a companhia — ela se explicou enquanto eu encontrava a maldita chave e destravava o carro, entrando em seguida.
— Ele só está parado porque teve a sorte de não arrumar nada esses dias — eu expliquei enquanto ela entrava no lado do passageiro — mas não podemos nos dar ao luxo de recusar trabalho.
— Ele sabe disso? — ela franziu o cenho.
— Como assim? É claro que sabe!
Eu a encarei esperando que ela voltasse a falar, mas Débora passou a observar a paisagem do lado de fora, como se nós não estivéssemos no meio de uma conversa.
— Debbie, por que você fez essa pergunta? — eu a olhei desconfiada.
— Tinha uma vaga masculina nesse luau, mas ele recusou — ela mordeu o lábio inferior.
— Ele recusou!? — e exclamei irritada.
Eu vou matar esse desgraçado, o que ele está pensando? Que eu vou trabalhar por todo mundo enquanto ele fica aproveitando as férias gratuitas na minha casa?
— Não exatamente — ela tentou desconversar — talvez ele queira trabalhar só para o Tim agora...
— Debbie, o que ele te falou? Eu quero saber as palavras exatas.
— Eu não falei com ele — ela retrucou, me fazendo revirar os olhos.
Típico dela, querer protegê-lo depois de tudo! Ela poderia apenas não se afetar por aqueles olhos azuis?
— Déborah Nicoletti você vai me contar agora o que aquele projeto de Hippie te falou — eu ergui a voz, arrancando uma risada de minha amiga.
Por que ela está rindo? Eu estou falando sério!
— Debbie, é sério — eu não pude resistir, apesar de tentar segurar a risada.
— Eu não falei com ele — ela insistiu — a namorada dele atendeu o celular.
— Mandy? — eu arregalei os olhos.
— Sim, ela me disse que ele estava de férias aproveitando o tempo com ela — ela voltou a olhar para fora.
— Simples assim? — eu respirei fundo — por que você não pediu para falar com ele?
— Eu pedi, mas ela insistiu que ele não tinha tempo para nenhuma amiga — ela contou timidamente — e que eu não precisava me preocupar em arrumar mais serviços para ele porque ele conseguia se virar sem minha ajuda.
Eu absorvi aquela história por alguns momentos antes de me manifestar. Mandy perdeu o juízo de vez? Ela está mesmo agindo de maneira tão absurda só por ciúmes?
— Eu sinto muito, eu juro que ela não é nenhuma surtada — eu respirei fundo — ela apenas está sentindo um pouco de ciúmes desde que chegou.
— Não foi grande coisa — ela mentiu.
Eu sei bem o quanto ela se importa com Nicholas.
— Ela só precisa te conhecer melhor — eu garanti, estacionando na frente da casa dela — nós podemos marcar alguma coisa.
— Eu não acho que seja uma boa ideia — ela mordeu o lábio inferior.
— Déborah, facilita um pouco — eu suspirei — o que você vai fazer hoje a noite?
— Vou encontrar alguns amigos na Hanamaulu — ela explicou, saindo do carro.
— Ótimo, eu encontro vocês lá — eu avisei, não dando opções a ela.
Enquanto dirigia de volta para casa eu pensei no que Déborah me contou. O que Mandy esperava? Que Nicholas se afastaria de todas as garotas só por que ela não está por perto? Isso não faz sentido algum!
Eu decidi deixar aquilo de lado. Talvez eu possa convencê-la a parar de agir feito uma louca hoje a noite. Ela precisa apenas se soltar e lembrar como ela costumava ser leve e divertida. Ela está no Hawaii, a faculdade devia ser a última coisa em sua mente agora, e ela está sempre estudando ou falando com um de seus colegas!
Estacionei o carro, sentindo o cansaço me abater. Se não fosse a atual situação eu rejeitaria a ideia de sair a noite, mas Mandy parece precisar disso e eu vou poder dormir até mais tarde amanhã. Entrei na casa estranhando a sala vazia e segui fui para a cozinha, onde um barulho me atraiu para a varanda.
— De verdade? Não, eu vou aguardar você retornar — Ethan estava falando ao celular, de costas para a porta encostado em um dos pilares — eu estarei pronto, não será um problema.
Com quem ele está falando?
— Não, eu que agradeço — ele se virou em minha direção, sorrindo ao me ver parada ali na porta.
Eu corei ligeiramente por ter sido apanhada o espiando, mas logo disfarcei meu embaraço indo até Ethan, me esticando para enlaçar seu pescoço com meus braços.
— Oi — eu sussurrei antes de depositar um beijo rápido em seus lábios.
— Sim, ela chegou — ele envolveu minha cintura, impedindo que eu me afastasse — eu vou desligar.
— Quem era? — eu questionei, sorrindo diante de seu bom humor, enquanto Ethan jogava o celular em cima de uma das cadeiras.
— Isaac — ele explicou, descendo os lábios para meu pescoço — eu tenho boas notícias.
Eu fechei os olhos sentindo meu corpo relaxar sob seus lábios que percorriam a pele de meu pescoço, momentaneamente me esquecendo de perguntar o motivo de sua felicidade.
— Quais são as notícias? — eu me lembrei de questionar ainda com os olhos fechados.
— Isaac. tem conversado com o pai — ele desceu ambas as mãos envolvendo minha bunda — ele disse que tem a chance de eu conseguir meu emprego de volta.
Eu me afastei para olhar em seus olhos, sentindo um sorriso sincero começar a surgir em meu rosto apenas para morrer em seguida. Sim, era uma notícia maravilhosa e eu deveria me sentir feliz por ele; Mas isso significa sua partida. Sei que sempre soube que ele iria embora, mas não pensei que seria tão rápido.
— O que foi? — ele franziu o cenho ao notar minha confusão.
— Nada, isso é incrível — eu trouxe o sorriso de volta, me recriminando por meus pensamentos anteriores — o que ele disse?
— Ele explicou tudo o que aconteceu ao pai, disse que a agência não pode abrir mão de mim por conta de um episódio isolado — ele narrou com entusiasmo — e então, o Sr Zelner disse que fará uma reunião com os diretores para decidir meu destino.
— Ethan, isso é mesmo maravilhoso — eu aumentei um pouco meu sorriso ao constatar que sua partida não seria imediata.
Eu poderia aproveitar sua companhia por um pouco mais de tempo.
Eu voltei a beijá-lo com mais vontade, sentindo suas mãos apertarem minha bunda me estimulando a pegar impulso para enlaçar sua cintura. Como sempre, aquele beijo se tornou insuficiente para aplacar o desejo que eu sentia por ele naquele momento. Eu sentia como se tivesse que aproveitar cada mísero segundo ao seu lado, pois ele poderia partir a qualquer momento.
Ethan passou a se mover comigo no colo, se debruçando depois de poucos passos e eu senti o tecido da rede em minhas costas. Ele tentou se afastar, mas eu o puxei, fazendo com que ele deitasse na rede comigo antes de voltar a beijá-lo.
Ele subiu a mão pela pele da minha barriga erguendo minha blusa no processo antes de quebrar o beijo e olhar em direção a porta da varanda.
— Nicholas e Mandy estão na sala — ele comentou antes de respirar fundo.
— Então seremos silenciosos na nossa comemoração — eu propus puxando seu rosto de volta.
Aquilo pareceu ser o bastante para convencê-lo, Ethan refez o caminho até envolver meu seio com sua mão, o massageando enquanto abafava um gemido meu com seu beijo.
Eu me movi, conseguindo ficar parcialmente por cima de Ethan.
Estava claro que eu não poderia fazer muita coisa com ele ali ou acabaríamos no chão.
Ele puxou meu rosto de volta para o seu, me prendendo mais uma vez em um beijo incrível enquanto eu descia minha mão por seu corpo, abrindo cada um dos botões de sua camisa.
Nossas línguas dançavam juntas em um ritmo sensual, suas mãos passeavam pelo meu corpo de maneira quase displicente enquanto a minha continuava fazendo seu caminho até atingir seu objetivo.
— Dess, o que... — Ethan ofegou ao notar que eu tinha aberto sua calça e já envolvia seu membro com minha mão.
— Silêncio — eu sussurrei com os lábios ainda encostados no seu — estamos comemorando.
Eu observei as feições de Ethan enquanto subia e descia minha mão em seu pênis, aumentando a pressão e o ritmo que empregava sobre seu órgão a cada suspiro extasiado que ele soltava. O homem mantinha os olhos fechados e a boca entreaberta em uma expressão de puro prazer, e eu estava adorando assistir aquilo, saber que eu era o motivo de seu orgasmo.
Sim, ele partiria dali alguns dias, mas antes que ele parta eu vou garantir que ele jamais me esqueça. Da mesma forma que eu não o esquecerei.
Algumas gotas de suor brotaram em sua testa, e eu pude notar que ele estava próximo do orgasmo. Diminuí o ritmo de minha mão, afrouxando um pouco a pressão antes de voltar a apertar, engolindo o gemido que começou a sair de seus lábios com minha boca enquanto seu sêmen escorria por minha mão.
— Onde você aprendeu isso? — Ele falou ofegante assim que separei nossos lábios.
— Você acreditaria se eu falasse que foi no colégio católico que estudei? — eu pisquei um olho para ele, recebendo um riso espontâneo em troca enquanto arrumava a roupa.
— O que você está fazendo comigo, Angel? — Ele questionou, mordiscando meu pescoço.
— Angel? — eu sorri diante do apelido.
Ele piscou para mim, fazendo meu coração bater mais forte.
— O que você acha de terminarmos essa brincadeira no quarto?
Ele se levantou, me pegando no colo em seguida antes de entrar na casa. Nicholas e Mandy estavam na sala assistindo algum filme, alheios à nossa atividade de momentos atrás.
— Ela perdeu a capacidade de andar? — Nicholas perguntou despreocupado.
— Ainda não, mas é uma possibilidade — eu cantarolei enquanto Ethan seguia em direção à escada.
— Informação demais, Dess — Mandy reclamou.
— Hey, se arrumem, vamos encontrar alguns amigos na Hanamaulu à noite — eu gritei por sobre o ombro de Ethan.
Ethan se empolgou com a comemoração. Eu não perdi a capacidade de andar, como brinquei com Nicholas, mas me sentia exausta deitada ao lado de Ethan na cama. Perto da hora de ir para a praia eu estava tentada a ficar em casa dormindo, mas me convenci a me arrastar da cama e tomar um bom banho frio para despertar e encontrar os outros.
Nós fomos a pé até a praia que fica a pouco mais de um quilômetro de distância. Mandy estava curiosa para saber o que faríamos em uma praia à noite, então não rejeitou o convite. Ethan manteve o bom humor de antes, me contagiando por vê-lo tão feliz.
Assim que chegamos à praia, o pequeno grupo já tinha acendido uma grande fogueira e mais algumas tochas tiki que foram deixadas na praia depois de um luau, iluminando o lugar o suficiente para deixar o ambiente agradável.
Déborah estava acompanhada de mais três amigos, eles tinham levado um pouco de comida e cervejas, e logo juntamos o que levamos, começando nosso próprio luau particular. Mandy se afastou ao ser apresentada à garota, fazendo com que Nicholas também se distanciasse.
— E então, o que achou dela?
Eu parei ao lado de Deborah, que estava observando Mandy e Nicholas ao longe, enquanto Ethan conversava com os outros rapazes, e por incrível que pareça, estavam se dando bem.
— Você quer mesmo saber? — ela fez uma careta.
— Ela só precisa se enturmar um pouco — eu mordi o lábio, um pouco desconcertada pela atitude de minha amiga.
— E como ela fará isso se não sai do celular? — Ela zombou — Ela mal olha para o Nick, e os dois estão conversando, ou pelo menos ele está tentando falar com ela.
Eu observei o casal, constatando que ela estava certa. Será possível que Mandy mudou tanto assim em seis meses?
— Dess, você sabe jogar vôlei? — Ethan se aproximou, me surpreendendo com a pergunta.
— Claro, Porque?
— Nalu e os rapazes trouxeram uma rede e uma bola — Débora esclareceu — Você joga, Ethan?
— Joguei um pouco na faculdade — ele sorriu.
Sério? Ele está mesmo disposto a jogar vôlei com pessoas que ele acabou de conhecer em uma praia à noite? Eu não pude evitar meu sorriso de iluminar meu rosto com aquela situação.
— Vamos formar duplas — eu declarei.
Obviamente eu fiz par com Ethan, jogando contra Nalu e Josh, os amigos de Débora enquanto o resto nos assistia. Ethan se mostrou um excelente jogador, nós vencemos a partida, enfrentando Débora e Maron em seguida. Mandy se recusou a participar das partidas, se limitando a ficar sentada ao lado de Nicholas, observando enquanto todos se divertiam. Ela pelo menos aceitou uma cerveja para passar o tempo.
Nós todos fizemos uma pausa para recuperar o fôlego e nos juntamos aos dois, bebendo as cervejas restantes e dividindo alguns sanduíches que Nicholas preparou a tarde.
— Vocês precisavam ver, Dess e eu entramos correndo na sala segundos antes do professor — Nicholas estava finalmente se divertindo contando uma de nossas historias da faculdade — nós fingimos que estávamos lá como todos os outros, prontos para fazer a prova.
— Nós não percebemos que quase atropelamos o velho enquanto corríamos para chegar a tempo — eu admiti — Mas felizmente ele não pode nos impedir de realizar o teste, apesar de dificultar um pouco o meu lado.
— Porque? — Ethan perguntou com curiosidade sentado ao meu lado com o braço ao meu redor.
Nós éramos o casal perfeito ali. Eu me sentia bem com a sua presença, melhor do que qualquer cara com quem eu já tivesse me relacionado. Eu não queria me afastar dele, mas a ligação de Isaac retornou à minha mente fazendo com que minha alegria morresse.
Ele iria embora, mais cedo ou mais tarde. Eu não devia me apegar tanto.
— Por que? Ela estava indo fazer uma prova de Sociologia jurídica vestida como uma garota Hooters — Mandy revirou os olhos, fazendo Ethan se engasgar com a cerveja — Eu não sei como te deixaram entrar no prédio!
— Você já viu ela correndo? — Nicholas gargalhou — ela é rápida.
— Você não pensou em se trocar antes de sair do serviço? — Ethan questionou assim que recuperou o fôlego.
— Eu sequer me lembrava da prova — eu expliquei — na verdade, eu quase fui demitida, porque apenas avisei minha gerente que estava saindo aos gritos no meio do restaurante.
— Você estava mesmo comprometida — Nicholas zombou.
— Você só lembrou que era prova porque eu te liguei perguntando onde você estava — Mandy encarou o namorado.
— E ele estava no restaurante, comendo chicken wings às minhas custas — Eu provoquei recebendo um olhar descontente da minha amiga.
Ethan me puxou para junto de seu corpo, beijando minha cabeça e acariciando meu braço enquanto Mandy continuava me encarando.
— Eu já te falei que ela está com ciúmes — Ethan sussurrou, e pela primeira vez eu tive que dar razão a ele.
Desde quando isso acontece? Ela nunca pareceu se importar com a nossa amizade antes.
Aquele pequeno gesto de carinho por parte do Ethan parece ter despertado o interesse de Nicholas, que me lançou um olhar questionador, alheio ao ciúmes de sua namorada.
Nós continuamos bebendo e compartilhando algumas histórias antigas, até que uma brisa fria começou a soprar, me fazendo estremecer de leve. Mandy tinha se afastado de todos para atender uma chamada, e aquilo estava chateando Nicholas.
— Por favor, você tem que nos contar mais uma história sobre a Dess — Déborah pediu enquanto secava algumas lágrimas rindo.
— Sobre mim? Vocês perceberam que ele sempre faz parte das histórias idiotas? — eu apontei um pouco indignada.
— Sim você está certa Dess, se eu estivesse fazendo algo idiota, você estava envolvida — ele gargalhou me obrigando a jogar um punhado de areia em sua direção.
Nosso momento acabou sendo interrompido pelo riso de Mandy ao telefone, fazendo o humor de Nicholas cair.
— Dess, você pode pedir pra sua amiga esquecer a droga da faculdade por cinco minutos e aproveitar o momento agradável?
Eu me levantei indo até Mandy, que estava se afastando ainda mais do grupo enquanto conversava com uma de suas amigas da faculdade. Eu juro que não entendo o que ela vê naquelas pessoas, para mim são todos tão entediantes.
— Eu preciso desligar, estou com Dess e Nicholas em uma praia — Mandy explicava para a pessoa.
Eu parei ali, esperando com paciência que ela encerrasse a chamada. Se ela não fizesse isso nos próximos vinte segundos, eu poderia tirar o celular dela e resolver por mim mesmo.
— Não, eu não planejo terminar com ele — ela respondeu, me pegando de surpresa.
Com quem ela está falando? É a Ava? Essa garota foi a pior coisa que Mandy poderia ter arrumado depois que Nicholas e eu partimos, e mesmo assim, ela insiste em agir como se a vaca fosse uma grande amiga.
— Ele não é nenhum perdedor, só está dando um tempo — ela retrucou — logo ele cairá em si e vai voltar para a faculdade.
Eu me aproximei em um movimento rápido e tirei o celular da mão dela.
— Se ser um perdedor significa não viver para agradar pessoas medíocres como você, então sim, ele é um perdedor — eu falei para a pessoa do outro lado, recebendo um olhar chocado de Mandy.
Mas se a vadia da Ava pensa que vai insultar o Bryce dessa forma.
— Quem é? — uma voz masculina perguntou me surpreendendo.
Definitivamente não estou falando com uma vadia!
— Eu que pergunto, quem está falando? — eu retruquei sem desgrudar o olhar de Mandy, que tinha perdido a cor.
— Brad.
— Brad! — Eu exclamei chocada.
— E quem...
Eu não aguardei que ele completasse a frase, apenas encerrei a chamada sem desgrudar o olhar de Mandy. Ela tinha muito a me explicar!
— Brad? — eu rosnei — por que aquele idiota estava falando mal de Nicholas para você?
— Dess, eu posso explicar — ela balbuciou.
— Melhor, me explique por que aquele idiota estava te ligando tão tarde?
— É complica..
— Melhor ainda, por que aquele idiota sequer tem o seu número? — Eu acabei erguendo um pouco a voz com minha irritação, aumentando o pânico no rosto da garota.
Ela me segurou pelo braço e me levou na direção oposta do nosso grupo.
— Dess é complicado — ela repetiu — eu e Brad...
— Você e Brad? Espera, que história é essa de "você e Brad"? Não existe nenhum você e Brad! — minha voz beirava ao desespero — Existe você e Nicholas!
— Ele me deixou lá sozinha! — ela admitiu algo que eu preferia não saber — O que você esperava?
— O que eu esperava? Que você fosse fiel, droga! Ele consegue fazer isso por você!
— Consegue? — ela cruzou os braços me lançando um olhar acusador — Consegue mesmo?
— O que você está insinuando, Mandy? Nicholas nunca sequer olhou para outra garota. Ele é louco por você, merda — eu resisti à minha vontade de jogar o celular na cabeça dela.
— Ele tem uma rosa tatuada na virilha, Dess — ela me acusou, me deixando boquiaberta — uma droga de uma rosa. Você sabe muito bem disso, você estava com ele!
— Ele é meu amigo, Mandy! — eu ergui a voz inconformada com a acusação — Você está sendo ridícula!
— E aquela Déborah? Ou devo chamá-la de Debbie? — ela ironizou — Você acha que eu não vejo como ela olha pra ele?
— E você vê como ele olha pra ela? — eu me aproximei — Não, você não vê! Porque ele só tem olhos para você! Pena que você não honre o compromisso.
— Você não pode me julgar — ela respirou fundo.
— Não posso?
— Você é a pessoa que convidou um cara qualquer para morar com você!
— Não coloque o Ethan nisso — eu rosnei — nós dois somos adultos e sabemos o que fazemos.
— Claro que sabem — ela desdenhou — Você nunca consegue pensar antes de tomar uma decisão e depois quer agir como se fosse superior.
— Você vai contar para ele — eu desisti daquela discussão devolvendo o celular a ela com nem um pouco de delicadeza.
— O que? Eu não posso…
— Se você não contar, eu conto! — Eu dei as costas, voltando para os outros.
Eu notei Ethan nos observando com o cenho franzido, mas o resto do grupo parecia entretido com alguma história que Débora estava contando. Eu olhei para trás vendo Mandy parada no mesmo lugar olhando para o céu, minha pretensão inicial era falar para Nicholas ir conversar com ela, eles deveriam resolver aquilo o mais depressa possível.
Mas como sempre, eu estou no lugar errado, na hora errada.
Conforme eu me abaixei ao lado do rapaz, Nick se espreguiçou, me acertando um soco certeiro no olho direito ao se esticar com os punhos cerrados. Aquilo chamou a atenção de todos, que logo correram para me socorrer quando eu caí no chão com a mão no olho atingido.
— Angel — Ethan foi o primeiro a reagir, sendo seguido por Nicholas que se ajoelhou ao meu lado.
— Dess eu não te vi, me perdoa — ele implorou enquanto eu sentia meu olho doer.
Ele me pegou mesmo de jeito.
— Não foi nada — eu garanti apesar da dor.
Eu me levantei com a ajuda de Ethan e ele me levou para perto de uma das tochas para avaliar o estrago. Aquilo acabou de vez com a noite, já que Ethan achou que seria melhor voltar para casa para que ele pudesse cuidar de mim de maneira adequada.
Mandy se manteve calada com caminho de volta, e Nicholas insistia em me pedir desculpas. Assim que chegamos, ela foi direto para o banho, e Ethan me deixou no sofá enquanto buscava gelo para colocar em meu olho.
Eu liguei a TV e deixei no primeiro canal que surgiu enquanto aguardava seu retorno. Ainda estava digerindo tudo o que tinha descoberto e me sentia nauseada apenas em pensar no que Mandy fez. Nicholas ficaria arrasado ao descobrir! E apesar da ameaça, eu não sei se seria capaz de contar algo assim para ele. Eu odiaria magoá-lo.
— O que está assistindo? — A voz do Bryce interrompeu meus pensamentos.
Ele se sentou ao meu lado esquerdo com uma bolsa de gelo nas mãos e passou o braço ao meu redor colocando o gelo em meu olho, me puxando para me deitar em seu peito.
— Seu cara pediu que eu agilizasse as coisas aqui — ele explicou — ele teve que atender uma chamada importante.
Aquilo fez meu coração disparar ao me lembrar que Isaac prometeu retornar a ligação. Será que foi tão rápido? Além de tudo eu vou ficar sem apoio em um momento tão delicado?
— Me desculpe, eu não te vi mesmo— Nicholas pediu beijando minha cabeça de forma fraternal.
— Eu já entendi nas primeiras mil vezes que você explicou, Nick. Não precisa repetir — eu zombei
Eu fechei o olho aproveitando o momento. Nicholas estava sempre presente para me ajudar quando eu precisava, e agora eu sabia de algo que iria devastá-lo.
Eu deveria contar? Mandy deveria contar? Eu estou traindo a confiança dele por esperar que ela conte?
Mas que merda. No que ela me meteu?
— Toy Story? — ele zombou me fazendo abrir o olho para ver do que ele estava falando — está voltado à infância, Destie?
O filme estava começando e eu poderia bem trocar de canal, mas naquele momento, eu não queria nem me mover. Podia ser meu último momento em paz com ele.
— Eu gosto dessa música — eu comentei despreocupada me lembrando da ligação de Ethan — Quem ligou para Ethan?
— Uma mulher, eu acho — ele deu de ombros para meu alívio.
Provavelmente era apenas sua irmã. Eu ainda o terei por algum tempo.
— You've got a friend in me, You've got a friend in me (Você tem um amigo em mim, Você tem um amigo em mim! )— Eu comecei a cantarolar com o filme, ainda deitada no peito de Nicholas.
— O que você está fazendo? — ele me olhou com o canto do olho, achando graça da situação.
— Eu gosto da música, já disse — dei de ombros antes de prosseguir — And you're miles and miles from your nice warm bed, You just remember what your all pal said. Boy, you've got a friend in me (E você está a milhas e milhas da sua cama boa e quentinha, Lembre-se do que seu velho camarada disse. Garoto, você tem um amigo em mim!)
— Yeah, you've got a friend in me (Você tem um amigo em mim! ) — Nicholas se juntou a mim, me fazendo rir — You've got a friend in me, You got troubles, then I got 'em too. (Você tem um amigo em mim!
Você tem problemas, eu também)
— There isn't anything I wouldn't do for you, If we stick together we can see it through. 'Cause you've got a friend in me (Não há nada que eu não faria por você, Se continuarmos juntos, podemos atravessar tudo
Porque você tem um amigo em mim!) — Eu retomei a canção quando ele esqueceu o resto da letra.
Aquilo não podia ser mais adequado, eu sentia que eu estaria presente para apoiá-lo em qualquer situação, e sabia que ele também me apoiaria. Mesmo quando tudo ficasse difícil.
— Now some other folks might be a little bit smarter than I am ( Agora, outras pessoa podem Ser um pouco mais espertos do que eu) — Eu prossegui.
— Isso com certeza — ele gargalhou fazendo com que eu desse uma cotovelada em suas costelas — But none of them will ever love you the way I do. (Mas nenhum deles nunca vai te amar do mesmo jeito que eu)
— Just me and you, boy (Só eu e você, garoto!) — eu me juntei a ele para o último verso — And as the years go by Our friendship will never die. You're gonna see, it's our destiny. You've got a friend in me. You've got a friend in me. (E com o passar dos anos, Nossa amizade nunca vai morrer. Você vai ver, é o nosso destino.Você tem um amigo em mim! Você tem um amigo em mim!)
Nós rimos um pouco depois disso, mas logo o silêncio voltou a cair entre nós dois, e mais uma vez a dúvida se eu contava ou não o que descobri, tomou conta de minha mente.
— Então... Eu vi você e o Roberts hoje — ele começou — Vocês parecem estar se dando bem.
— Estamos — Eu admiti, me endireitando para olhá-lo — e eu sei o que você vai falar.
— Sim sim, eu não quero que você se machuque, blablabla — ele desdenhou.
— O que foi isso? — eu franzi o cenho.
— Dess, eu sei que eu disse pra você ter cuidado e não se expor tanto — ele respirou fundo — mas depois de ver vocês hoje, eu estou meio que feliz que você o tenha feito.
Eu olhei para a TV tentando entender as palavras dele, mas seu silêncio não durou tanto.
— Você está feliz com ele e merece aproveitar essa felicidade — ele explicou — Sei que será difícil quando ele partir, mas não sei... Talvez vocês encontrem uma forma. Você merece alguém que te trate bem como ele faz.
— Sabe Nick, isso seria fofo se não viesse de alguém que me deu um soco — eu dei um meio sorriso apenas para receber um sorriso completo em troca.
— Me desculpe, Dess. Minha irmã me ligou — Ethan avisou entrando na sala.
Nicholas se limitou a beijar minha testa antes de se levantar e entregar a bolsa de gelo a ele.
— É toda sua, Roberts.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top