Capítulo 10 - Eu encontrei a luz no fim do túnel

Eu estava tão perdida na época

Mas com uma ajudinha do meu amigo

Eu encontrei a luz no fim do túnel

Lily Allen

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A primeira noite com Ethan foi perfeita. Dormir ao seu lado era ótimo, mas dormir ao seu lado após gozar algumas vezes, era melhor ainda. Assim que acordamos, levamos Nicholas ao aeroporto enquanto aproveitamos para ir ao "Shopping center" em Lihue para comprar novas roupas para Ethan.

— Você não acha que vou usar isso, não é? — ele reclamou de uma das camisas que eu havia escolhido.

— Por que não? — Eu perguntei despreocupada — você está no Hawaii, deve ter uma camisa havaiana.

— Eu não vou usar algo tão estampado e colorido — ele insistiu me devolvendo a peça com uma careta, enquanto o vendedor nos observava com curiosidade.

— Eu vou querer aquela azul — eu apontei para o vendedor, devolvendo a camisa de antes.

— Ainda é estampada — Ethan reclamou.

— Você já venceu uma grande batalha aqui, Roberts. Fique com o que conseguir — eu o avisei.

— Você escolheu todas as minhas roupas — ele revirou os olhos.

— Você trouxe apenas roupas sociais para o Hawaii — eu o provoquei enquanto o vendedor empacotava tudo — Você acha que eu o deixaria escolher? Eu não confio no seu julgamento.

— Você não confia? — ele ergueu uma sobrancelha — isso é..

— Vamos pagar e ir encontrar o Nick, Mio Caro — eu o interrompi.

Ethan me seguiu em silêncio, pagando as roupas e permanecendo ao meu lado, fazendo com que eu estranhasse seu comportamento.

— O que foi? — Eu questionei, o arrastando até uma lanchonete do shopping, decidida a matar o tempo tomando algum suco para aplacar um pouco o calor.

Nicholas poderia esperar por mais alguns minutos.

— Nada, apenas estava pensando — ele deu de ombros.

— No que? — eu fiz nosso pedido ao rapaz que veio atender nossa mesa.

— Eu estou tentando entender toda essa dinâmica, Dess. E talvez eu precise de ajuda — ele admitiu, me observando com uma expressão séria.

— Pode falar, eu te ajudo a entender — eu garanti, achando graça de sua expressão.

— Olha, eu não quero te ofender nem nada do tipo — ele começou.

— Não vai ofender, pode perguntar — eu garanti

— O que acontece entre você e o Bryce? — ele perguntou, olhando em meus olhos.

Eu franzi o cenho, estranhando sua pergunta. Onde ele quer chegar com isso?

— Entre Bryce e eu?
Ele é a assombração que se apossou da minha casa, pensei que já tivéssemos esclarecido isso.

— Sim, mas...

Eu arregalei os olhos ao compreender o real sentido de sua pergunta. Ele enlouqueceu!?

— Ohh isso? Não, ele.. ele é.. — eu passei a gaguejar, me sentindo desconcertada por ele ter aquele tipo de pensamento.

Porque ele pensaria isso? Nós passamos essa imagem?

— Dess, eu não estou aqui para te julgar — ele desviou o olhar — eu apenas não quero me envolver em algo desse tipo.. Não é como se você devesse alguma satisfação para mim, mas eu não gosto de dividir, e...

— Não tem nada sendo dividido! — eu elevei um pouco a voz — Ethan, isso é ridículo, Nicholas é meu amigo e... Credo, seria nojento, ele é... Olha, seria praticamente incesto!

— Dess, vocês dois têm tatuagens combinando em um lugar pouco usual. Ele escolhe as suas tatuagens — Ethan ergueu uma sobrancelha.

— E eu escolho as dele. Isso não significa que nós temos algum envolvimento romântico! — eu afirmei — isso significa que Nicholas é a minha vadia, no máximo!

— Ele é a sua vadia? — Ethan parece ter achado graça enquanto o garçom  trazia nosso pedido.

Eu fechei os olhos, respirando fundo tentando colocar minha mente em ordem antes de voltar àquele assunto.

— Olha, eu vou ser sincera com você, e se um dia isso sair daqui eu vou negar e vou te matar — eu comecei — Eu adoro o Nicholas, ele cuida de mim em todos os sentidos possíveis, ele me irrita,  apoia minhas ideias malucas, e quando eu decidi vir para o Hawaii, apesar de reclamar para todos de sua presença, eu me senti aliviada. Eu sabia que não seria tão ruim se ele estivesse comigo. Mas eu nunca pensei nele de forma romântica, de jeito nenhum! E ele é o namorado da minha melhor amiga.

— Eu não quis ofender — ele avisou — apenas... A maneira como vocês se comportam um com o outro é diferente do que eu estou acostumado.

— Você não ofendeu — eu garanti, brincando com o canudo no copo de suco à minha frente — e não precisa se preocupar, como eu disse, não terá nada sendo dividido. Para todos os efeitos, nós estamos juntos pelo próximo mês.

Ethan me observou, me deixando um pouco desconfortável com seu olhar. Será que ele não acredita no que eu disse? Qual é, ele namora a Mandy!

E ELE É O NICHOLAS!

— Eu ainda não entendo — ele comentou — por que você fez tudo isso?

— Fiz o que? — eu o encarei.

— Largou tudo, veio para o Hawaii. Por que?

— Nós já falamos sobre isso, eu não queria ser advogada.

— E então um dia magicamente você acordou e pensou "o que poderia deixar minha vida mais interessante?",  decidiu arrumar as malas com o seu amigo e vir para o Hawaii? — Ele ergueu a sobrancelha —  difícil acreditar.

— Eu queria uma aventura — eu murmurei — não tem nada demais nisso, tem?

— Vai me dizer que não teve nenhum motivo para fazer você vir para o Hawaii?

— O que você está tentando fazer? — Eu balbuciei, desviando o olhar para meu copo de suco.

— Tentando conhecer você — ele deu de ombros.

— Você já me conhece Ethan — Eu murmurei — por que está fazendo essas perguntas?

— Por que você não quer me contar o real motivo de você ter vindo para o Hawaii? — ele retornou a pergunta.

Minha mente vagou por um momento para meus últimos dias no campus, as fofocas, insinuações, o momento em que Nicholas e eu fomos chamados no gabinete do Sr Jones, e depois o caso foi levado à reitoria.

— E então? — ele insistiu.

— Nicholas está nos esperando — Eu me levantei de mau humor, deixando me suco quase intocado na mesa.

— Você percebe o quanto é hipócrita o fato de você querer saber tudo sobre mim e se recusar a responder uma simples pergunta? — Ethan revirou os olhos enquanto eu pagava a conta.

— Sua pergunta já foi respondida — eu murmurei saindo da lanchonete.

— Não é o que parece...

Eu o ignorei, indo até o carro, entrando no lado do passageiro. Ethan ficou confuso antes de ir até o lado do motorista. Ele fechou a porta atrás de si, passando a me encarar com expectativa.

— O que foi? — eu questionei mal humorada.

— Você espera que eu faça uma ligação direta no carro ou algo assim? — ele perguntou.

— Desculpe — eu lhe entreguei as chaves do carro, cruzando os braços e passando a olhar pela janela.

Eu me arrependo pelo o que eu e o Bryce fizemos? Não exatamente, o babaca mereceu... Mas o motivo que nos levou a fazer aquilo não é algo que eu me orgulhe e queira compartilhar. Ainda mais com alguém como Ethan.

Ele nunca compreenderia o que eu fiz.

— Sinto muito se te ofendi — ele pediu, refazendo o caminho até o aeroporto — não foi minha intenção.

— Não ofendeu — eu garanti, me sentindo mal pela forma como o tratei.

— Se é algo que você não quer contar, é só falar — ele retrucou — mas não finja que não existe nada.

— Ok, eu prefiro não falar — eu respirei fundo.

— Não vamos falar sobre isso então — ele deu de ombros, parando o carro no estacionamento do aeroporto antes de se virar para mim.

Eu me inclinei, o pegando de surpresa ao capturar seus lábios em um beijo rápido. Eu não devia tê-lo tratado daquela maneira.

— De verdade, me desculpe se fui grossa — eu pedi ao me afastar um pouco.

Ethan voltou a me beijar, com um pouco mais de intensidade. Sua mão subiu pela minha coxa exposta pelo short jeans que eu usava. Eu precisava manter em mente que estávamos em plena luz do dia em um local movimentado.

Felizmente o toque do meu celular acabou nos interrompendo, fazendo com que eu me afastasse quando estava prestes a subir em seu colo.

— Nós estamos no estacionamento, Bryce — eu respirei fundo — Mandy já desembarcou?

— Sim, estamos indo — ele informou antes de desligar.

— Chegaram — eu  me senti um pouco ansiosa com a presença de minha amiga.

O que Mandy falaria de toda essa situação? Ela vai gostar do Ethan? Ele vai gostar dela? Espero que isso não dificulte nossa convivência.

Eu saí do carro, me encostando na lateral, Ethan fez o mesmo, parando ao meu lado.

— Essa sua amiga. Como ela é? — Ethan questionou, observando a movimentação do estacionamento.

— Ela parece minha mãe presa no corpo de uma mulher jovem e bonita — brinquei.

— Ela é mais séria então?

— Sim, é estranho. Quando éramos adolescentes, nós costumávamos compartilhar ideias malucas, mas depois que fomos para a faculdade.

— Tudo mudou?

— Ela estava... Está levando a sério a história de se tornar advogada — eu expliquei — e ela notou que eu não estava.

— Porque você sequer entrou na Law-school se não queria ser advogada? — Ethan franziu o cenho.

— Pensei que minha mãe ficaria feliz com isso — Eu passei a observar meus pés — Mas ela me disse que eu desistiria antes da metade do curso. Talvez ela seja vidente.

— Ou talvez te conheça — ele retrucou.

— Isso não a impediu de ficar furiosa quando eu desisti — eu suspirei  — nossa conversa não foi agradável.

— E você não acha que ao invés de tentar se tornar advogada e impressionar sua mãe, você não deveria ter feito algo que você gosta?

— Eu tinha que ter uma profissão — eu expliquei o óbvio.

— Não pensou em procurar uma profissão que você gostasse? — ele ergueu a sobrancelha

— E quem é que gosta do que trabalha? — Eu gargalhei, me sentindo sem graça.

Ok, eu não fazia a mínima ideia do que eu queria fazer, e minha única saída foi tentar irritar meus pais.

— Eu gosto do que eu faço — ele deu de ombros — não escolheria fazer qualquer outra coisa.

Eu o encarei sem saber como responder aquilo. Como ele pode  gostar do trabalho dele? Isso não faz o menor sentido!

— E seu pai? — ele continuou — queria que você fosse advogada?

— Meu pai não se importa com isso — eu murmurei, voltando a desviar o olhar — Eu posso muito bem viver apenas de festas, e ele me sustentará, contanto que eu não o embarace.

— Você não parece disposta a aceitar isso — ele comentou observando o céu.

— Eu sou capaz de conseguir meu próprio dinheiro — eu retruquei — Apesar de tudo, eu sou capaz, eu apenas preciso...

Voltei a me calar, sem ter certeza de como poderia terminar aquela frase sem me expor. A voz de Mandy nos trouxe de volta à realidade. Eu me virei a tempo de ver a garota se aproximando ao lado de Nicholas.

— Dess.

Mandy estava bem arrumada, nem parecia que tinha acabado de passar tanto tempo em um avião. Seu rosto delicado, cabelos negros e olhos levemente puxados, que herdou da mãe, me avaliaram com saudade antes de me abraçar.

— Eu não acredito que estou aqui — ela suspirou se afastando — não acredito que vocês me convenceram a vir.

— Nós só te convidamos — Eu afirmei.

— Umas mil vezes até que eu aceitasse — ela retrucou antes de notar Ethan ao meu lado — Desculpe, eu sou Amanda Clint.

— Ethan Roberts — ele respondeu.

— Quem é ele? — Mandy sussurrou para mim.

— Essa será uma história muito divertida — Nicholas gargalhou — Explique quem é ele, Destiny.

— Ethan é meu.. — eu alternei o olhar entre ele e Mandy — ele é meu novo namorado.

— Namorado? Você não me contou sobre nenhum namorado — Ela nos olhou desconfiada enquanto Ethan passava o braço por meus ombros  — É um prazer conhecê-lo, Ethan.

— O prazer é meu — ele garantiu.

— Podemos ir? — Eu os interrompi — Mio Caro, você já sabe o caminho de casa? Você pode dirigir.

— Claro — Ele franziu o cenho, apesar de não me contrariar.

Nós logo nos acomodamos no carro e ouvimos Mandy encher o ambiente com histórias sobre todos nossos antigos amigos e sua viagem até ali. Aquilo me acalmou por enquanto, já que eu não pretendia tocar no assunto "Ethan" logo de cara.

Assim que chegamos em casa, Nicholas foi apresentar o lugar para Mandy enquanto eu ajudava Ethan a levar as roupas novas para o quarto.

— Ela parece ser uma boa pessoa — Ethan comentou enquanto guardava tudo no armário.

— Sim, ela é — eu garanti.

— Você parece tensa — ele comentou, se aproximando.

— Eu não sei como explicar para Mandy sobre o que está acontecendo entre nós — eu admiti — É difícil encontrar as palavras certas, ela já desaprova tantas coisas em minha vida.

— Pensei que você não se importasse — ele envolveu minha cintura — faz o que sente vontade, não é?

— Vamos descer, Ethan — Eu ofereci um sorriso fraco, decidindo parar de fugir de minha amiga.

— Está preparada para o sermão que vocês vem me prometendo? — Ele questionou, parecendo  se divertir com a situação.

— Você está? — Eu ergui uma sobrancelha enquanto descia as escadas.

— O que eu não consigo entender é porque tem uma panqueca na gaveta de talheres, Nicholas! — ouvimos a voz de Mandy antes de chegar ao fim da escada.

— Talvez essa seja a gaveta de panquecas — ele retrucou.

— Essa foi a coisa mais ridícula que alguém já me falou! — Mandy exclamou.

— Vocês guardaram uma panqueca na gaveta? — Ethan sussurrou confuso.

— Eu não sei ao certo — eu franzi o cenho — existem muitos motivos para ela ter ido parar lá.

— Me dê no mínimo um motivo plausível — ele pediu, observando  Mandy segurando a panqueca, enquanto Nicholas afirmava que não era nada demais.

— Hey, o que vocês acham de ir à praia? — Eu sugeri, interrompendo a discussão dos dois e fugindo de Ethan.

Aquilo chamou a atenção do casal que passou a nos encarar.

— Dess, eu estou cansada agora. Nós podemos ir amanhã? — Mandy pediu.

— Sem problemas — Eu garanti antes de me virar para Ethan — e você, Mio Caro?

— Eu preferia conhecer essa cidade — ele deu de ombros.

— Está mais para vilarejo, mas tudo bem — eu brinquei, segurando sua mão, o levando para fora — Vamos conhecer Kapaa.

Nós caminhamos pelo vilarejo enquanto eu o apresentava aos vizinhos, antes de o levar até o centro de Kapaa. Era uma verdadeira cidade do interior, mas o que esperar de uma ilha que sequer era a principal do estado? Não é como se estivéssemos em Honolulu.

Eu expliquei a Ethan onde ficavam as melhores cachoeiras e praias, fazendo planos de levá-lo para conhecer cada lugar durante a semana. Ethan parecia mais calmo do que no dia anterior, mais relaxado, apesar de eu conseguir notar uma sombra de preocupação em seus escuros olhos castanhos.

— O que achou? — Eu questionei enquanto caminhávamos para casa ao pôr do sol.

— É bonito, mas.

— Mas? — Eu o encarei confusa.

Ele tem alguma dúvida sobre esse lugar ser bonito?

— O que você está fazendo aqui, Dess? — ele questionou em um tom sério.

— Do que você está falando? Eu moro aqui — eu respondi em dúvida.

— Dess, as pessoas que vivem aqui, em sua maioria o fazem por não ter opções — ele parou de andar quando estávamos na entrada que levaria a minha casa — ou por não conhecer nada além dessa vida. Mas você cresceu fora daqui, o que você está fazendo?

— Ethan, esse lugar é perfeito, quem não gostaria...

— Sim, é um paraíso, eu não posso negar. Mas para passar uma semana, quem sabe um mês — ele apontou — Não para viver da forma como você vive.

Aquilo me pegou de surpresa. Eu franzi o cenho enquanto analisava suas palavras. O que ele quis dizer com "viver da forma como eu vivo?"

Ok, talvez eu devesse tentar conseguir uma profissão. Sim, às vezes eu penso nisso, mas eu não faço a mínima ideia de por onde começar.

— Vamos entrar? — ele chamou minha atenção, me tirando de meu devaneio.

— Vamos — eu sorri, apesar de minha mente ainda estar dando voltas.

Nós dois voltamos para a casa, encontrando o andar de baixo vazio. Mandy e Nicholas estavam aproveitando o tempo juntos, então decidi me encarregar do jantar, preparando um pouco de espaguete enquanto Ethan me contava como era sua rotina em Boston, e sobre sua amizade com Isaac.

Mandy e Nicholas desceram apenas quando o jantar já estava pronto, fazendo com que eu esquecesse o que Ethan tinha me dito antes. Por algum motivo, a forma dele falar me incomodou. Eu não quero que ele pense que eu não tenho responsabilidade, ou algo assim.

— Há quanto tempo vocês se conhecem? — Mandy nos perguntou sob o olhar divertido de Nicholas, que esperava ansioso para ver sua reação quando descobrisse o que estava acontecendo.

— Alguns dias — eu respondi de maneira vaga.

— Você mora aqui perto, Ethan? — ela prosseguiu.

— Essa é uma ótima pergunta, princesa — Nicholas abriu seu melhor sorriso irônico.

— Eu moro em Boston — Ethan respondeu, parecendo um pouco desconfortável.

— Boston? E como vocês se conheceram? — Mandy franziu o cenho — Você está hospedado em algum hotel aqui?

— Essa é a melhor parte, Mandy — Nicholas me provocou — Conte a ela, Dess.

— Ethan está... bem.. essa é uma história engraçada — eu dei uma risada nervosa, recebendo um olhar curioso de Ethan.

— Eu vou te ajudar, Destie — Nicholas segurou minha mão por cima da mesa, fazendo com que eu sentisse vontade de socá-lo — Ethan está vivendo conosco, Mandy. Não é divertido!?

Um silêncio recaiu sobre a mesa enquanto aguardávamos Mandy absorver a informação, revezando o olhar chocado entre nós três.

— Espera, isso quer dizer que... Vocês estão vivendo juntos? — Ela  recuperou a voz.

— Mais ou menos — eu mordi o lábio — é quase isso.

— Com exceção de que é exatamente isso — Nicholas prosseguiu — Dess está morando com alguém que ela conheceu há uma semana!

— Nick, você não está ajudando — Eu cantarolei, me sentindo um pouco nervosa.

— E quem disse que eu quero ajudar?

— Eu estava hospedado em um hotel, mas tive alguns problemas e Dess me convidou para ficar aqui pelo próximo mês —Ethan explicou com calma.

— E você aceitou? — Mandy ergueu a voz — Vocês perderam mesmo o juízo, isso foi a gota d'água, Dess!

— Mandy, não é grande coisa — eu comecei.

— Sabia que ela surtaria — Nicholas gargalhou.

— Surtar? Vocês é que estão surtados por sequer se colocar nessa situação — Ela prosseguiu — e de todas as merdas irresponsáveis que ela já fez, essa foi a pior que você já apoiou, Nicholas!

— Hey, o que eu tenho a ver com a história? — Ele exclamou — ela que está vivendo com alguém que ela nem conhece.

Eu respirei fundo tentando manter a calma. Nós poderíamos resolver aquilo de maneira sensata, ela apenas precisa se acalmar.

— É sempre a mesma história, ela faz as piores escolhas possíveis e você apoia.

— Eu vou... — Ethan começou incerto.

— Não — eu segurei sua mão. — Mandy, isso aqui é diferente, ok? Você não entende.

— O fato de você sempre fazer besteira? Não, eu não entendo mesmo! — ela retrucou irritada — Foi a mesma coisa quando você decidiu trabalhar no Hooters, você tomou uma decisão idiota e ele te apoiou.

— Eu não apoiei — Nicholas se defendeu.

— Você a acompanhou na seleção, Nicholas — Mandy o cortou — e então, veio aquela história da festa do Greg.

— Eu estava me divertindo — eu me defendi — e isso aconteceu há décadas.

— Steve Miller foi parar no hospital depois que vocês organizaram uma espécie de clube da luta durante a festa — Mandy me encarou.

— Não é como se alguém tivesse obrigado ele a lutar — eu cruzei os braços, ignorando o olhar de Ethan sobre mim.

— Nicholas bateu no Tobias nessa festa! — Mandy exclamou.

— Ele era um idiota — eu ergui a voz me sentindo irritada.

— Só porque terminou com você?

— Não, Mandy, porque ele traiu ela — Nicholas respirou fundo enquanto eu encarava minha amiga com raiva.

Eu posso ter me precipitado ao convidar Ethan para morar conosco? Sim, eu reconheço isso. Mas isso não significa que eu só cometi erros na minha vida!

— Ela não teria nem começado um relacionamento com ele se ela me ouvisse — Mandy se levantou — Da mesma maneira que eu avisei sobre o Sr Jones, vocês não teriam sido expulsos se ela tivesse ficado longe dele!

— Mandy, já chega — Nick avisou enquanto eu a encarava sem palavras.

Ela vai jogar isso na minha cara?  Expor essa história para Ethan?

Eu me limitei a me levantar e sair da cozinha, fechando a porta da varanda atrás de mim, dando a volta para chegar à garagem, apenas para então perceber que tinha deixado as chaves do carro dentro da casa.

A última coisa que eu queria era voltar naquele momento, fazendo com que eu passasse a caminhar em direção a estrada ao ouvir os passos de alguém se aproximando.

— Dess, espera — Ethan me chamou enquanto eu me afastava.

Eu parei de andar passando a observar as primeiras estrelas que surgiram no céu, me sentindo um pouco desnorteada. Pra onde eu iria? O que eu faria? Ethan não devia ter ouvido tudo aquilo.

— Ethan, sinto muito — eu pedi — acho que está na cara que eu faço muitas coisas impensadas.

— Vamos, não foi grande coisa — ele pediu — sua amiga sente muito por ter falado aquelas coisas.

— Você não entende — eu suspirei voltando a olhar para a estrada, querendo me afastar dali.

Se ele soubesse o que aconteceu, tudo o que as últimas palavras dela significavam.

— Então me conte — ele pediu — eu quero entender. Você foi expulsa da faculdade?

— Não, eu não quero falar sobre isso — eu neguei — eu quero ficar sozinha.

— Você mesmo me disse que falar faz bem — ele insistiu, segurando minha mão, impedindo que eu me afastasse — as coisas que você fala não valem para você mesmo?

— É uma situação diferente, ok? — eu revirei os olhos — eu não preciso disso.

— Parece que precisa — ele ergueu a sobrancelha, fazendo a exasperação tomar conta de mim.

Porque ele não pode aceitar o que eu digo?

— Talvez seja melhor eu ir para um hotel — ele murmurou.

— Você está desistindo? — eu cruzei os braços, me irritando ainda mais com aquela situação.

— O que adianta eu ficar aqui, se você está vendendo um produto que  não acredita que funciona!?

— Você não sabe do que está falando — eu o acusei.

— Não sei? Você quer saber tudo sobre mim, mas quando eu faço qualquer pergunta que ultrapasse sua superfície, você se fecha — ele retrucou — Você quer passar a imagem de ser completamente honesta e aberta, mas nós sabemos que tem muito mais por trás de tudo isso. Porque você não quer deixar que eu te conheça?

— Porque isso faz eu me sentir exposta e desarmada! — eu exclamei.

— É assim que eu tenho me sentido desde que eu te conheci — ele me encarou com uma expressão séria — e de alguma forma você me convenceu que isso seria algo bom.

Eu respirei fundo, inclinando minha cabeça para olhar as estrelas. Ele tem razão, eu estou sendo hipócrita, eu não podia exigir que ele fizesse algo que eu me recuso a fazer.

— Vamos entrar — eu pedi desviando o olhar — eu não quero ter essa conversa aqui.

Ethan assentiu, me guiando de volta à casa. Nós subimos para o quarto, ignorando Nicholas e Mandy que estavam conversando na sala. Assim que chegamos, Ethan fechou a porta enquanto eu abria a janela me apoiando no peitoril, observando a escuridão do lado de fora.

— E então... Você foi expulsa da faculdade? — ele parou ao meu lado, imitando meu gesto.

— É uma droga, não é? — eu suspirei — tudo o que aconteceu foi uma droga.

Eu fechei os olhos sentindo sua mão afastar o cabelo do meu rosto, o colocando atrás de minha orelha.

— No início eu não estava tão desinteressada assim — eu comecei — eu me esforcei para me sair bem, mas aquelas matérias eram bem difíceis e cansativas, por mais que eu tirasse notas boas em muitas delas, em algumas eu era péssima.

— Então você queria ser advogada? — ele perguntou.

— Talvez, eu não sei bem. Com o tempo eu fui descobrindo que não era o que eu esperava — expliquei — Foi quando Nicholas e eu ficamos mais próximos, já que ele também tinha algumas dificuldades, e como você ouviu hoje, nós fazíamos muitas besteiras.

— Vocês eram adolescentes — Ethan comentou — adolescentes costumam fazer besteira.

— Nicholas apesar de namorar com Mandy, passava grande parte do tempo comigo. Ela nunca estava interessada em sair, só queria ficar estudando — eu prossegui — nós queríamos fazer os dois. Queríamos curtir a nossa recém liberdade, mas também queríamos estudar. Foi quando tudo começou a dar errado.

— Você não foi capaz de fazer as duas coisas? — Ethan voltou a olhar o céu.

— De certa forma, as coisas se complicaram quando eu cedi a uma queda que eu tinha por um dos professores — eu expliquei, sentindo meu rosto esquentar enquanto observava as estrelas — a matéria dele era uma das que eu estava me saindo mal, e eu pretendia trocar após as provas finais, já que não conseguiria ser aprovada.

— Uma queda por um professor? — A voz de Ethan soou divertida, eu não tive coragem de olhar em sua direção.

— Eu gostava de flertar com ele, Mandy sempre me repreendia. Ela avisava que aquilo acabaria me prejudicando em algum momento. Mas quando ele passou a corresponder, ficou difícil fugir — eu mordi o lábio — Ele não era casado, apesar de estar com mais de quarenta anos. Uma coisa levou à outra e... Bem, foi coisa de uma noite... Não significou grande coisa pra mim, eu só estava me divertindo, em breve ele nem seria mais o meu professor mesmo.

Eu tinha certeza que meu rosto estava vermelho naquele momento. Eu não me orgulhava daquilo e o que aconteceu depois foi pior ainda. Ethan permaneceu calado enquanto eu continuava com o olhar fixo na escuridão à minha frente.

— Quando Mandy soube ela não entendeu. Ela me ausou de transar com ele em troca de uma nota — eu dei uma risada nervosa — como se eu usasse meu corpo para esse fim, eu não troco sexo por favores, ou dinheiro.

— Não foi o que você fez — Ethan garantiu.

— Não, não foi. Mas depois de alguns dias, tudo começou a desmoronar — Eu suspirei.

— O que aconteceu?

— Ele me deu a nota máxima — eu gemi em desgosto — eu com certeza seria reprovada naquela matéria e de repente... Eu me senti a pior coisa do mundo, nunca foi minha intenção ser aprovada dessa maneira.

eu respirei fundo tentando reunir o restante da história. Quanto antes terminasse aquilo, antes poderia descobrir se Ethan me despreza ou não.

— Foi quando as fofocas vieram, e depois os boatos — eu prossegui — não sei como descobriram, no começo eu nem notei que era de mim que estavam falando, e quando percebi, tudo já tinha tomado outras proporções.

— Que proporções? — ele questionou.

— As garotas da minha sala se afastaram de mim, e então, alguns outros professores se aproximaram — eu mordi meu lábio — primeiro eu recebi algumas indiretas e  quando um professor me fez uma proposta para aumentar minha nota que não estava boa, eu entendi o que estava acontecendo.

Eu notei Ethan apertar o peitoril da janela com essa informação. Eu precisava terminar logo com aquilo.

— Eu tentei conversar com o Sr Jones, expliquei o que estavam fazendo, eu só queria descobrir como alguém poderia saber o que aconteceu, mas ele garantiu aquilo que foi o resultado da minha escolha, que ele não poderia fazer nada para me ajudar. Ele disse que eu já tinha conseguido o que queria, e que eu não deveria o importunar com aquele assunto — eu mordi minha bochecha — A não ser, é claro, que eu precisasse que ele me desse outra boa nota.

Eu notei uma pequena movimentação de Ethan, mas ele não ousou interromper minha história.

— Eu fiquei péssima, e quando Nicholas soube o que estava acontecendo, ele decidiu que não deixaria barato — eu suspirei — após conversarmos um pouco, traçamos nosso plano de vingança.

— O que vocês fizeram? — senti sua mão envolvendo minha cintura.

— O Sr Jones tinha um carro. Um carro que ele adorava pra valer.

— Vocês destruíram o carro dele? — ele se aproximou, fazendo com que eu suspirasse ao sentir sua respiração próxima a minha orelha.

— Sim, fizemos um bom estrago na lataria e tudo mais — eu fechei os olhos — só não contávamos com as câmeras do estacionamento que tinham sido instaladas recentemente.

— Isso não parece ter sido bom — ouvi sua risada, me deixando um pouco mais confortável com o assunto.

— Não, ele levou o caso à reitoria, e no fim nós decidimos sair antes que fossemos expulsos — eu mordi o lábio.

Eu me afastei dele, cruzando os braços seguindo em direção a cama.

— Essa foi minha história Ethan, você queria saber, agora sabe — eu suspirei — eu não sou nenhum tipo de guru com as soluções perfeitas para a vida, sou apenas uma pessoa que cometeu inúmeros erros e decidiu parar de se importar, então...

— Não — ele envolveu minha cintura, se colocando atrás de mim antes de me puxar em direção ao seu corpo — você é uma garota um pouco perdida, sem saber que direção tomar no momento, apenas isso.

Eu descansei minha cabeça em seu peito, permitindo que seu calor me envolvesse. Certamente eu cometi muitos erros em minha vida, mas Ethan não está incluído entre eles.

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