Capítulo 06 - Venha comigo para o meu planeta

 
   Ei, não consigo tirar você da minha cabeça

Onde você está? Se importa se eu me intrometer?

Estou fora deste mundo, venha

comigo para o meu planeta

Trazer você para o meu nível,

acha que consegue aguentar?

Nelly Furtado

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— Está pronta? — Eu me virei, terminando de vestir minha calça.

Dess já tinha se vestido e estava penteando os cabelos com os dedos em frente ao espelho. Eu observei mais uma vez aquela mulher ali, ainda me sentindo um pouco atordoado pelo o que havia acontecido.

Não que eu nunca tivesse feito algo assim antes, mas Dess... Dess era diferente das garotas que eu costumava encontrar em Boston. Toda aquela vivacidade e espontaneidade que ela exibia estava me cativando a cada momento que eu passava ao seu lado. Talvez esquecê-la não fosse uma tarefa tão fácil quando eu voltasse a minha vida normal.

— Quando você estiver, Sr publicitário — Ela sorriu enquanto eu me abaixava ao lado da cama, pegando sua calcinha de renda jogada no chão.

— Não está esquecendo de nada? — Eu me aproximei envolvendo sua cintura, com a calcinha em mãos.

— Mahalo¹ — Ela piscou, enlaçando meu pescoço me prendendo em um de seus beijos sedutores.

Eu desci minhas mãos para suas coxas antes de subir para sua bunda por baixo do tecido do vestido, apertando sua carne tenra me esquecendo de vez a calcinha, soltando-a no chão no processo.

— Tem certeza que não quer pedir serviço de quarto? — ela sussurrou em meu ouvido.

— Restaurante, Destiny — Eu neguei me afastando — Estamos indo ao restaurante.

Ela gargalhou seguindo até a porta, essa mulher ainda vai me matar!

Nós saímos juntos do quarto, e eu logo assumi uma postura mais profissional. O que pensariam se me vissem em um encontro romântico durante uma viagem de trabalho?

— Reassumiu a postura de publicitário viciado em trabalho — Dess me provocou enquanto íamos até o elevador — Pensei que demoraria até amanhã pelo menos.

— Eu ainda estou aqui a trabalho, Destiny — Eu coloquei minha mão em suas costas, a guiando para dentro do elevador, sentindo sua pele macia.

— Então você pretende fingir o que? Que esse é um jantar de negócios? — Ela ergueu ambas as sobrancelhas em um olhar questionador enquanto as portas se fechavam.

—  Claro que não estamos em um jantar de negócios, Dess — Eu me encostei na parede do elevador

— Não? Eu não posso fingir ser sua assistente sexy? — Ela zombou — Nós podemos falar sobre coisas entediantes, e fingir que nossa relação é estritamente profissional.

— Você quer ser minha assistente? — Eu aproveitei o confinamento do elevador para puxá-la para meus braços — e como você seria como minha assistente?

— Simples, pra começar eu deveria estar vestida com uma roupa conservadora — Ela mordeu o lábio com uma expressão pensativa antes de sorrir.

— Algo mais? — Questionei correndo meu nariz por seu pescoço, aspirando seu perfume — O que você faria em um jantar de negócios?

— Depende — Ela fechou os olhos respirando fundo.

— Do que? — Eu mordisquei seu pescoço.

— Meu jantar de negócios seria com você? — Ela abriu os olhos, prendendo a língua entre os dentes enquanto sorria.

A porta do elevador se abriu, fazendo com que nos afastássemos a uma distância aceitável. Nós fomos até o restaurante em silêncio e logo conseguimos uma mesa. O garçom anotou nossos pedidos, nos deixando à vontade para nos conhecermos um pouco melhor.

— Então Dess, Você disse que frequentava a universidade em Springfield — Eu decidi descobrir um pouco mais sobre ela.

— Sim — Ela começou a brincar com um talher que estava na mesa — estava realizando o sonho de minha mãe, cursando a pré-Law².

— E porque você desistiu?

— Como eu disse, era o sonho da minha mãe, não o meu — Ela desconversou.

— E qual é o seu sonho?

— Eu ainda estou tentando descobrir, eu acho que é disso que se trata todos esses empregos.

— Seu sonho é ser garçonete? — Eu franzi o cenho.

— Pode ser — Ela riu — Eu era uma ótima garota hooters³ quando estava em Springfield.

— Você era uma garota hooters? — eu não pude evitar de acompanhar sua risada.

— Durou apenas um mês — Ela explicou — Quando minha mãe descobriu que eu estava trabalhando no Hooters ao invés de me dedicar totalmente à faculdade, ela ficou furiosa, acho que ela entrou no primeiro avião que conseguiu e no dia seguinte estava lá. Foi um dos maiores sermões que recebi na vida.

— Você precisava trabalhar?

— Não, isso irritou meu pai também, ele garantiu que me mandava dinheiro o suficiente para que eu não precisasse trabalhar, principalmente em um lugar daqueles.

— Um lugar daqueles?

— Ele odiava me imaginar servindo mesas.

— E não é o que você faz agora? — eu franzi o cenho.

— Eles não estão mais me mandando dinheiro, então eu preciso me virar — Ela deu de ombros. — É diferente.

O garçom chegou com nossas entradas fazendo com que Destiny se distraísse com seu prato. Ela tinha um bom apetite para uma garota tão pequena.

— Se você não queria ser advogada, porque não escolheu outro curso?

— No começo, eu queria fazer algo como educação física, algo nesse estilo — Ela desviou sua atenção do prato por tempo o suficiente para me responder — Mas minha mãe insistia que eu me tornasse advogada, então larguei tudo e vim para o Hawaii.

— E o Bryce?

— Ele só não quer fazer muita coisa da vida, eu acho — Ela bocejou — Ele cozinha bem, mas nunca procurou se profissionalizar nisso, eu acho um desperdício.

— Você fotografa bem — Eu apontei.

Ela estava criticando o amigo, sendo que está fazendo exatamente a mesma coisa.

— O que isso quer dizer? — Ela franziu o cenho.

— Nunca pensou em...

— Você vive há quanto tempo em Boston, Ethan? — Dess mudou de assunto.

— Desde que ingressei na Boston University — Expliquei, ignorando a súbita mudança de assunto.

— E onde você vivia antes disso? — Ela não permitiu que eu voltasse ao assunto anterior.

— Springfield com minha família. Nós crescemos lá.

— Apenas você, sua mãe e sua irmã? — Ela prosseguiu por aquele caminho.

— Eu tenho outra irmã, ela é mais velha, e se mudou para a Flórida quando se casou — expliquei.

— Como é o nome dela?

— Caroline, a outra se chama Valerie — Eu prossegui — Ela estuda na universidade de Springfield.

— Valerie? eu não conheci nenhuma Valerie — Dess respondeu pensativa — O que ela estuda?

— Pedagogia.

— Talvez Mandy a conheça — Ela declarou.

— Quem é Mandy?

— A namorada do Bryce, ela nos visitará em alguns dias. Se você ficar, pode convidar sua irmã.

— Isso não vai acontecer — Eu lhe avisei — Além disso, ela não aceitaria.

— Ela está de férias, quem não aceitaria vir ao Hawaii? — Destiny me desafiou, fazendo o desconforto tomar conta de mim.

— Faz alguns meses desde que conversamos pela última vez — Eu murmurei — Seria estranho se eu ligasse e a convidasse para vir ao Hawaii.

— Alguns meses? Você brigou com a sua irmã? — Dess franziu o cenho, bebericando um pouco de sua taça de vinho.

— Não, não brigamos, eu apenas... não sei, eu me afastei.

— Só tem tempo para o trabalho, não é, Mio caro? — Dess deu um sorriso triste, desviando o olhar.

— Não é disso que se trata.

— Você conversa com a sua mãe, pelo menos? — Ela me desafiou.

— Eu não vou falar sobre isso com uma desconhecida — Eu murmurei, me irritando um pouco por sua intromissão.

— Desculpe, não queria tocar em uma ferida — Ela pareceu um pouco atordoada.

Nós comemos em silêncio enquanto eu me repreendia por ter soado tão áspero, preciso encontrar um assunto para quebrar esse clima que ficou entre nós.

— Você pode escolher a sobremesa por mim — Eu sugeri — Não costumo pedir sobremesas.

— Fala sério — Ela voltou a sorrir — Tem como você ser mais entediante? Como não costuma pedir sobremesa? Eu aceito me casar com qualquer um por uma sobremesa.

— Não é necessário se casar com ninguém dessa vez, eu posso pagar — a provoquei — o que você escolhe?

— Se estivéssemos no Duke's, com certeza seria a torta Hula — ela comentou — Mas aqui...

— O que é uma torta hula?

— Você não comeu a torta hula no Duke's? Você não tem idéia do que perdeu — Ela suspirou — mas aqui, podemos comer uma torta de chocolate com coco.

Eu fiz o pedido enquanto Dess me explicava como era a torta Hula, me mostrando o quanto ela gostava da sobremesa.

— Nós poderíamos ter ido ao Duke's se você tivesse falado que gostava tanto.

— Quem sabe em uma próxima vez — Ela sorriu — O que você achou do dia ao meu lado?

— Foi diferente — Admiti — Eu gostei de passar um tempo com você.

— Você sentirá minha falta quando acordar sozinho amanhã — Ela me provocou.

— Eu vou seguir minha vida, Dess. Tenho muito o que fazer.

— Quer saber como será o seu dia amanhã? — Ela propôs — Eu posso adivinhar.

— Pensei que você não fosse vidente.

— Eu sou boa em ler as pessoas — Ela deu de ombros — Você é fácil de ler.

— Sou? — Ergui uma sobrancelha, duvidando um pouco daquilo — me surpreenda então.

— Amanhã você vai acordar, checar seu celular, ver que não tem nada interessante — Ela começou — Então você vai checar seus emails, também não encontrará nada lá...

Não pude conter meu sorriso diante de seus pensamentos.

— Você vai sair do quarto, trabalhar, aguentar a Willow. Ficar entediado — ela ofereceu um sorriso lateral, olhando em meus olhos  — E então você pensará em mim.

— E você com certeza estará onde eu menos espero — decidi entrar em seu jogo

— Não dessa vez, Mio Caro — Ela negou — A não ser que você apareça em minha casa.

— Você não virá amanhã? — Me senti um pouco desapontado.

No fim, esperava encontrá-la todos os dias que estivesse aqui.

— Sentirá minha falta? — seu sorriso aumentou.

Eu me limitei a sorrir, deixando que o silêncio voltasse a tomar conta, até que o garçom retornou com nossas tortas. Dess gemeu audivelmente ao provar o pequeno pedaço da sobremesa, atraindo a atenção de um casal em uma mesa próxima a nossa.

— Isso é delicioso — Ela suspirou de olhos fechados.

— Você não pode estar gostando tanto — Eu a provoquei.

— Eu estou adorando — Ela voltou a gemer com a colher de sobremesa ainda na boca.

A mulher da mesa ao lado cutucou seu companheiro, que tinha voltado a olhar para  Dess.

— Você está atraindo atenção — Eu provei um pedaço da torta.

Ela  tem mesmo um ótimo gosto para doces.

— Te incomoda? — Ela me provocou lambendo a colher — Você não parecia incomodado mais cedo.

— Apenas chama atenção — eu apontei — caso você não tenha percebido, é uma mulher bonita.

— Sim, eu sei — Ela se inclinou, pegando um pedaço da minha torta antes de colocar na boca e suspirar, mantendo os olhos fechados.

Meu olhar se prendeu no movimento que sua respiração causava em seu peito, fazendo com que a imagem dela nua em minha cama estampasse minha mente.

— Algum problema, Ethan? — Sua mão subiu por minha coxa, fazendo com que eu soltasse uma pequena risada nervosa.

O que ela pensa que está fazendo no meio do restaurante?

— Destiny.

— O que foi? — Ela sorriu de forma inocente.

— Se continuar com isso eu não deixarei que você vá embora — Eu respirei fundo fechando os olhos ao sentir sua subir a mão mais uma vez por minha coxa.

— Eu posso dormir aqui, se você quiser — Ela propôs — Não acho que precisaria de um pijama.

— Dess — Eu ofeguei quando sua mão se aproximou demais de minha crescente ereção.

— Ou eu posso ir para minha casa. Eu deixo minha calcinha de presente pra você — Ela piscou, me lembrando da peça íntima jogada no chão do meu quarto. Ela nunca a vestiu.

Eu chamei a atenção do garçom, dando o número do meu quarto para que ele colocasse aquele jantar na conta, enquanto Dess se levantava com um sorriso vitorioso.

Ela  está acostumada a conseguir tudo o que quer. Com o mínimo esforço ela me desarmava, me fazendo seguir seus planos malucos. Ainda mais agora, depois de conhecer todo o seu potencial. Eu tenho sorte de partir em dois dias, ou correria o sério risco de me apaixonar por essa mulher.

Destiny seguiu na frente enquanto saímos do restaurante que ficava no segundo andar do hotel, para nossa sorte o elevador estava parado no andar. Assim que as portas se fecharam minha mão alcançou sua   nuca, enredando meus dedos por seus cabelos e inclinando seu rosto em minha direção antes de tomar sua boca. Eu a encurralei em uma das paredes, descendo minha mão até sua bunda, enquanto Dess se agarrava em minha camisa, puxando-me em sua direção.

Eu me afastei dela apenas quando as portas se abriram em nosso andar, se alguém estivesse vendo as imagens da câmera de segurança do elevador, com certeza poderia se divertir, mas aquilo não era importante no momento.

— Roberts, aí está você — A voz de Willow me surpreendeu assim que saí do elevador — Eu não te vi o dia inteiro e...

Dess saiu em seguida, fazendo com que a mulher se calasse, nos observando com confusão.

— Senhorita... desculpe, esqueci seu nome — Ela balbuciou — O que está fazendo aqui? Está trabalhando?

Dess me encarou com diversão enquanto eu me sentia um pouco sem graça. Eu podia ver a porta do meu quarto a poucos passos de distância, ela não poderia ter saído do quarto dela um pouco depois? Ou seguido para o outro lado?

— Pode me chamar de Dess — Ela sorriu — E eu definitivamente não faço esse tipo de serviço.

Ela se inclinou, apanhando o cartão de acesso do quarto dentro do bolso de minha camisa, beijando meu rosto antes de se afastar.

— Eu te espero no quarto, Ethan — Dess cantarolou, passando por Willow, indo até a porta.

— Nós conversamos amanhã — eu não dei espaço para que ela falasse qualquer coisa — Boa noite.

A porta nem tinha se fechado por completo antes que eu entrasse, Destiny tinha dados poucos passos dentro do quarto quando eu a alcancei, fechando a porta atrás de mim.

— Pensei que você aproveitaria a companhia dela — ela me provocou me olhando por sobre o ombro.

Em um movimento a prensei de costas para mim contra a parede, ouvindo-a ofegar enquanto subia minhas mãos por suas coxas, erguendo seu vestido com elas.

— Sem chances, eu tenho planos para você — eu mordisquei o lóbulo de sua orelha, recebendo um pequeno gemido em troca.

— Eu espero que sim — Ela sorriu com a respiração ainda descompassada.

~**~

Pela primeira vez desde que cheguei no Hawaii eu dormi realmente bem, não que eu não estivesse dormindo ou algo assim. Apenas estava tão preocupado com a festa que aconteceria na noite seguinte, que não conseguia descansar de verdade. Pelo menos até essa noite. A luz do sol em meu rosto  me despertou pela manhã me confundindo, eu pensei que tivesse fechado a cortina ontem.

Eu me virei na cama em busca do calor corporal de Dess apenas para encontrá-la vazia. O quarto estava mergulhado no mais absoluto silêncio.

Onde ela foi?

Ainda desnorteado, me sentei na cama olhando em direção ao banheiro, a porta aberta revelava que ela não estava ali. Suas roupas, sua bolsa, tudo havia sumido...

Alcancei meu celular na mesa de cabeceira  para verificar o horário. Sete da manhã. Nós ficamos acordados até tarde, pensei que ela dormiria mais.

Ela partiu sem sequer se despedir.

Provavelmente foi a última vez que a vi, hoje à noite teremos a festa e amanhã à tarde voltarei a Boston.

Eu me inclinei para depositar  o celular na mesa de cabeceira, me deparando com uma foto ali. Peguei a fotografia em minha mão, franzindo o cenho antes de sorrir. Era a foto que ela tirou de mim no avião lendo o livro. Eu virei a foto observando sua caligrafia ali.

"Não pude te acordar e não foi por falta de tentativas...

Espero te ver outra vez, Sr sono pesado. Boa sorte na festa hoje..."

Um número de telefone estava marcado ali também, eu não hesitei antes de adicioná-la à minha agenda no celular. Eu repassei alguns momentos do dia anterior em minha mente, pensando em como Destiny me fez sentir um pouco mais leve. Isso não acontecia nem quando eu e Isaac saíamos para beber após o expediente, ou quando eu ia a algum encontro. Geralmente eu me divertia naquele momento e esquecia em seguida, voltando a pensar em todos os problemas que me rodeavam.

De repente a vida que ela levava ali não parecia tão sem sentido.

Isaac.

Depois de ontem, eu preciso conversar com ele, garantir que está tudo bem e eu ainda tenho meu emprego. Não que ele fosse se importar com o fato de eu estar acompanhado, eu não estava em horário de trabalho, e ele mesmo garantiu que eu deveria me divertir.

Isaac e eu fizemos faculdade juntos, a família dele era dona da agência de publicidade, e quando nos formamos ele já tinha seu emprego garantido, e para minha sorte ele conseguiu uma vaga de estágio para mim. Quando ele conseguiu sua própria equipe,  deu um jeito de me incluir nela e temos nos acertado desde então.

Eu liguei para Isaac, aguardando  enquanto a ligação era completada.

— Ethan, não esperava ter notícias suas tão cedo — Isaac zombou.

— Isaac, sobre ontem...

— Ela era gostosa? — ele me provocou — Tinha uma bela voz. Destiny, não é?

— Você não faz ideia — Eu suspirei, me lembrando mais uma vez da noite anterior.

— Como ela é? — Ele insistiu

— Morena, cabelos compridos, olhos verdes, descendente de italianos — Eu expliquei sem saber o que mais falar para ele.

— Descendente de italianos?

— O pai...

— Ela fala italiano? — Ele se interessou, me deixando um pouco desconfortável.

— Sim, ela fala.

— Porque você sempre consegue encontrar as melhores? — Isaac reclamou — Uma havaiana italiana e sedutora.

— Ela não é Havaiana — Eu corrigi. — E eu não te liguei pra te falar da Dess.

— Ahhh sim, quer saber se ainda tem seu emprego? — Ele gargalhou — Apenas faça com que tudo dê certo na festa de hoje.

— Eu já tenho tudo planejado, me reunirei com Willow mais tarde para resolver os últimos detalhes — garanti.

— Qualquer problema me avise, eu preciso ir — Ele se despediu.

— Nós conversamos mais tarde.

Assim que me vesti de maneira apresentável, sai do quarto à procura de Willow. Não tive dificuldade em encontrá-la. Ela não me fez nenhuma pergunta sobre a noite anterior, e eu não senti necessidade de me explicar. Aquela era minha vida pessoal e eu não estava em horário de expediente.

Willow parecia muito irritada durante o dia, e não tentou puxar qualquer assunto que não fosse ligado diretamente ao lançamento da bebida.

Ao contrário do que Dess previu no jantar de ontem, eu não tive tempo para ficar entediado, os preparativos para aquela festa tomaram todo o meu tempo livre, mas ela não saia de meus pensamentos. Tentei ligar no número que ela deixou durante o almoço, mas não obtive resposta.

Ao fim da tarde eu retornei ao meu quarto para me arrumar para o evento, fazendo mais uma tentativa de falar com Dess.

Porque ela me passou seu número se ignora minhas chamadas?

Fui até o bar do hotel onde seria realizado o evento. Tudo parecia perfeitamente no lugar, o hotel havia selecionado alguns de seus melhores hóspedes para o evento, algumas garçonetes distribuíam pequenos canapés e os coquetéis preparados com a Deep Ocean, enquanto o ator que contratamos se preparava para fazer a apresentação da bebida.

— Eu quero ela fora — ouvi Willow reclamar com Timothy — ela não é adequada!

— Mas eu não vejo problema algum com...

— Todas estão com o cabelo preso! — Ela exclamou — Ela não pode ser diferente.

Do que ela está falando?

— Eu providenciarei que ela prenda o cabelo — Timothy garantiu se afastando.

— O que está errado? — Eu questionei.

— Uma garçonete, não se preocupe, eu resolvo isso — Ela murmurou — Vá falar com o representante da revista Imbibe.

— Se há algum problema...

— Eu já resolvi, Roberts — Ela me fitou — eu estou cuidando desses detalhes, agora o Sr Winston precisa de um pouco de atenção.

Eu segui suas instruções, procurando o homem, eu o encontrei conversando com algumas pessoas e decidi esperar até que ele estivesse sozinho. Tentei me afastar, quase esbarrando em uma garçonete no processo.

— Descul... Ethan — Dess sorriu ao me ver.

— Dess, o que você está fazendo aqui? — não pude conter um pequeno sorriso com a surpresa.

Ela carregava uma bandeja com alguns coquetéis, vestia a mesma calça social preta e camisa florida de todas as garçonetes e estava com o cabelo preso em um coque improvisado com o que parecia ser um hashi.

— Tim me ligou — Ela explicou — Débora não pode trabalhar e ele precisou de alguém.

— E você está aqui — eu completei.

— Sinto muito não te atender antes, eu estava dormindo — Ela mordeu o lábio.

— Como sabe que fui eu quem te ligou?

— Eu não costumo passar meu telefone para muitas pessoas, Ethan — Ela riu antes de se focar em um ponto atrás de mim — Eu preciso continuar trabalhando, aceita um coquetel?

— Não, obrigado — eu me virei em busca do que quer que tenha prendido sua atenção, encontrando Willow nos encarando do outro lado do salão — está tudo...

Eu voltei a me virar em direção a Dess, mas ela tinha se afastado se misturando aos hóspedes, distribuindo sorrisos e coquetéis.

O que foi isso?

Acabei deixando aquele assunto de lado quando o ator que faria a apresentação da bebida me procurou para esclarecer alguns pontos, nós saímos do bar para que pudéssemos conversar com mais privacidade e quando retornei ao bar busquei Dess em meio a multidão, não a encontrando entre as garotas que distribuíam as bebidas.

Entrei em um corredor que levava à cozinha, interrompendo meu trajeto ao encontrá-la ao lado de Timothy e Willow. Dess mantinha a cabeça erguida, enquanto Willow a encarava com Raiva, e Timothy parecia tentar apaziguar qualquer que fosse a situação.

— É melhor mandá-la para casa! — Willow rosnou — Ela não sabe nem servir as bebidas.

— Eu não tenho culpa se as pessoas não estão interessadas — Dess a desafiou — Ou você espera que eu as imobilize e as force a beber?

— Dess querida, você não está ajudando — Timothy suspirou.

— Eu estou fazendo o meu trabalho — Dess exclamou — eu não sei o que ela quer.

— O que está acontecendo? — Eu interrompi as duas.

— Roberts, eu cuido disso — Willow garantiu

— Eu fiz uma pergunta — insisti

— Ela está me culpando porque estão preferindo os canapés — Dess se virou em minha direção.

— Eu estou culpando a sua incompetência — Willow afirmou.

— Por favor, se acalme — Timothy pediu.

— Dess, volte a servir as pessoas — Eu pedi.

— Eu quero que ela vá embora — Willow se virou para Timothy.

— Willow, está quase na hora da apresentação. Vamos — Eu coloquei minha mão nas costas de Willow, a guiando de volta para o bar.

Apesar de encarar Dess com uma expressão irritada, ela se deixou ser conduzida sem dificuldades.

Qual o problema dela?

A mulher se afastou de mim, me deixando livre para ir até o Sr Winston, que finalmente estava desacompanhado. Eu passei alguns minutos preso em uma conversa com ele, explicando com detalhes as características da marca que seria lançada em breve. Carlo, o ator logo se posicionou para iniciar sua apresentação.

Dess continuou servindo as pessoas, até que seguiu em direção à cozinha quando Carlo começou a falar. Ele logo atraiu a atenção do homem ao meu lado, enquanto minha atenção estava presa em Dess, de forma que logo notei quando Willow foi em sua direção.

Destiny parecia distraída quando a mulher se colocou em seu caminho, não conseguindo evitar o encontro. A garota derramou uma das taças que ainda continham bebida em Willow, que começou uma discussão ali mesmo, apesar de manter o tom baixo para não atrair atenção.

Dess, tinha depositado a bandeja em um aparador, e mantinha os braços cruzados em uma postura defensiva enquanto Willow falava.

Eu respirei fundo seguindo em direção às duas, aquilo já estava se tornando cansativo.

— Você fez de propósito! — Willow Rosnou.

— Não, eu não fiz, não tenho culpa se você entrou na minha frente — ela se defendeu.

Eu pude notar Timothy se aproximando com o mesmo ar cansado que eu deveria estar exibindo.

— Senhoritas... — Ele começou

— Isso não teria acontecido se você tivesse mandado essa vadiazinha para casa desde o começo — Willow se virou para o homem — Ela  não consegue fazer esse trabalho.

— Eu não consigo? Ninguém quis provar a droga da bebida que você vende e a culpa é minha? — Dess acabou elevando um pouco a voz, me colocando em estado de alerta.

— Dess, por favor — Eu pedi.

— Claro, Dess — Willow desdenhou,  imitando meu tom — Você se vende tão fácil Roberts. Ela está estragando tudo e você não consegue enxergar isso.

— Willow, é o suficiente — Eu soltei em um tom ríspido — Nós estamos no meio do evento.

— Dess, vá se trocar — Timothy pediu — É melhor você ir para casa...

— Eu vou receber por isso, certo? — Ela se virou para o homem — Eu não trabalho de graça.

— Eu vou te pagar a quantia justa.

— O justo é o que combinamos — Ela estreitou os olhos — Eu fiz minha parte, não tenho culpa da loucura dessa mulher.

— Eu é que não tenho culpa da sua incompetência.

— Dess, não vamos discutir isso aqui — Timothy avisou — Vá se trocar e eu te encontro e...

— Finalmente — Willow suspirou aliviada.

— Tim, eu preciso do dinheiro, eu tenho que me sustentar aqui — Ela exclamou, ignorando a mulher.

Aquilo era injusto com ela, Destiny fez seu trabalho, e Willow a estava prejudicando de propósito. Talvez eu deva conversar com Timothy depois, eu posso me oferecer para pagar a diferença do valor que ela receberia.

— Dess, vamos — Ele insistiu.

— Talvez você deva passar mais uma noite no quarto do Sr Roberts — Willow ironizou — Tenho certeza que se você for boa, consegue arrancar um bom pagamento dele.

Eu a encarei atordoado, enquanto Dess se virava em sua direção com um olhar irritado. Ela parecia prestes a acertar a cabeça de Willow com a bandeja.

E quanto a Willow, o que ela pensa que está fazendo? Minha vida pessoal, o que Dess e eu fizemos, nada disso diz respeito a ela!

— Isso tudo é inveja porque não foi você quem passou a noite no quarto dele? — Destiny ofereceu um sorriso cínico à mulher.

— Dess — Eu respirei fundo, recebendo em troca um olhar que era uma mistura de incredulidade e diversão.

— Eu quero ela fora daqui, agora — Willow rosnou.

— Nós estamos indo — Timothy segurou o braço da garçonete, a guiando para longe, me deixando ali na companhia de Willow.

Eu encarei a mulher, tentando entender o que estava acontecendo ali. Desde o início dessa campanha eu recebi algumas indiretas e flertes da parte dela, mas nunca lhe dei abertura para que  tivesse a menor esperança de que algo acontecesse entre nós dois. Mas de forma alguma poderia permitir que ela agisse da maneira como agiu essa noite, prejudicando Dess dessa forma, a humilhando e as fazendo esse tipo de insinuações.

Ela passou dos limites.

— O que você pensa que está fazendo? — Eu rosnei.

— Eu? O que eu estou fazendo? — Ela elevou um pouco a voz — Eu estou tentando trabalhar, que é o que nós viemos fazer aqui, para início de conversa.

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer que está tudo dando errado, e a culpa é sua! — ela me acusou.

— Minha culpa?

— Sim, sua... Você deveria estar trabalhando ao invés de contratar prostitutas — Ela me encarou com desprezo.

— Destiny não é uma prostituta — Eu abaixei o tom, ao notar que estávamos atraindo mais atenção do que a explicação de Carlo — você não a conhece, não sabe nada sobre ela.

— Sei que você deixou seu trabalho de lado por uma transa — Ela voltou a me acusar.

— Eu fiz o meu trabalho, eu fiz a droga do meu trabalho muito bem — devolvi — Você não tem absolutamente nada para reclamar sobre isso.

— Então porque esse evento está sendo um verdadeiro fiasco?

— Provavelmente por causa dessa porcaria de rum. É a pior coisa que eu já tomei. — Eu elevei minha voz de maneira impensada.

Assim que o silêncio recaiu sobre o bar eu tive consciência do tamanho de meu erro, Willow estava sem palavras e Carlo decidiu que sua apresentação não era mais necessária.

___________________________________________

¹Mahalo — Obrigado em havaiano

² O Direito nos Estados Unidos é uma área de pós—graduação. Por isso, para estudá—lo, o estudante (tanto nacional quanto internacional) precisa obrigatoriamente de um bacharelado. Pre—Law  é um curso acadêmico introdutório à área de direito. Os interessados em cursar uma pós—graduação de direito nos Estados Unidos geralmente optam por um pré—Law por envolver disciplinas e atividades que os preparam para a pós graduação.

³A rede de restaurantes Hooters existe em mais de 400 cidades nos Estados Unidos e também em 27 países. Ela emprega aproximadamente 17.000 garotas, as famosas "Garotas Hooters". Elas são garçonetes e recepcionistas e são contratadas para promover a atmosfera divertida da empresa e promover o seu foco na sensualidade feminina. O emprego de uma "Garota Hooters" é um pouco diferente dos outros empregos nessa área. Por exemplo, elas usam um uniforme que a empresa considera ideal para transmitir a imagem da marca.

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