Capítulo 02 - Meti Na Cabeça Que Você Seria Meu Um Dia
Meti na cabeça, que você seria meu um dia
Você sabe que eu preciso de você,
por isso não se afaste
Porque, no final do dia
Eu vou ficar bem
Ainda vou rezar para que mude de ideia
Eu vou ficar bem
Porque você vai aparecer
eventualmente
Timeflies
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Eu observei Ethan parado em frente ao hotel pelo retrovisor do carro e não pude conter um sorriso. Ele era uma pessoa diferente do que eu estava acostumada, tão sério e fechado. Meu completo oposto.
Eu me sentia bem cansada quando embarquei naquele avião, mas a recente discussão com minha mãe sobre como eu estava desperdiçando a minha vida e que eu me arrependeria por nunca ter feito nada de útil enquanto era jovem, me manteve desperta o suficiente para perturbar o desconhecido ao meu lado.
Claro que sua beleza me chamou atenção logo de cara, mas o fato dele parecer tão decidido a se manter em silêncio me instigou a obrigá-lo a falar algo, e sua voz me instigou a obrigá-lo a continuar falando mais tarde.
Não demorei para chegar em casa, sentindo o cansaço de toda aquela viagem me abater. Era sempre assim quando visitava minha mãe, nosso tempo era dividido entre matar as saudades e tentar me convencer a mudar minhas atitudes ou eu nunca chegaria a lugar nenhum na vida.
Bem, eu ainda não sei o que eu quero da minha vida, então eu gasto o meu tempo tentando descobrir. Aos dezoito anos eu me mudei da casa de minha mãe na Pennsylvania para o campus da Universidade em Springfield, Massachusetts, abandonei a universidade dois anos depois para me mudar para o Hawaii, onde Vito tem uma casa, e tenho vivido da forma mais independente que consigo.
Sim, a casa que eu vivo pertence ao meu pai e foi ele quem me deu o meu carro, mas eu me sustento com meu trabalho.
Arrastei minhas malas com certa dificuldade da garagem até a entrada da casa, eu a destranquei acendendo a luz em seguida, observando se tudo estava no lugar. A primeira vez que estive aqui com Vito, achei um completo exagero a decoração do lugar, repleta de itens típicos do Hawaii, mas depois de seis meses vivendo na ilha passei a considerar a casa bem acolhedora.
Deixei minhas malas ao lado da porta e fui até a cozinha para guardar os doces que obriguei Ethan a me pagar, estranhando o fato da porta que levava até a varanda estar aberta e a luz acesa. Eu apaguei a luz após olhar em volta, dando de ombros antes de fechar a porta.
- Você não vai me deixar dormir do lado de fora, não é? - Uma voz veio da rede ali estendida, me arrancando um grito assustado.
- Nicholas!! - Eu exclamei quando o rapaz se levantou da rede - Você quer me matar de susto?
- Foi mal, acabei cochilando - Ele se espreguiçou - Que horas são? parece ser tarde.
- O que você está fazendo aqui? - Eu reclamei, voltando para a cozinha.
- Eu não queria te deixar sozinha ao voltar pra casa - Ele sorriu de forma inocente - É perigoso, sabe, e você demorou bastante.
- Tão perigoso que você estava dormindo na varanda - Eu revirei os olhos - Porque você está aqui de verdade?
- Já falei...
- Nicholas, o que aconteceu com a minha comida? - Eu respirei fundo ao abrir a geladeira e encontrá-la vazia.
- Iria estragar até você voltar - Nick deu de ombros.
- Nicholas, você tem vindo até minha casa, usado a chave reserva e comido a minha comida? - Eu acusei.
- Isso seria absurdo, Destie - Ele revirou os olhos.
- Nicholas - Eu o encarei irritada.
- Eu fui despejado e estou morando na sua casa na última semana - ele explicou como se fosse a coisa mais natural do universo.
- Você está morando aqui!? - elevei a voz - Você não espera continuar, não é?
- Você perdeu a parte em que eu disse que fui despejado? - o rapaz revirou os olhos
- Porque você foi despejado? - cruzei os braços.
- Eu atrasei o aluguel - Ele bocejou.
- Outra vez?
- Eu não consegui tantos trabalhos esse mês.
Nicholas era um garçom que trabalhava como freelancer. Nós nos conhecemos na universidade, e assim como eu, ele não estava feliz com o rumo que sua vida estava tomando. Quando avisei aos meus amigos minha decisão de me mudar para o Hawaii ele deu um jeito de se incluir, apesar dos meus protestos, e dos protestos de Mandy, sua namorada, que gostaria que ele se formasse.
- Como não conseguiu? Nós estamos em plena temporada! - Eu respondi com certa exasperação seguindo em direção às escadas.
- Não é tão fácil quanto você imagina, o Marriott's não está me arrumando serviço nenhum desde aquele incidente - Ele murmurou me acompanhando.
- O incidente? Você se refere ao dia em que você derrubou sopa quente em um dos acionistas do hotel por ele ter te chamado de desinteressado? - Eu revirei os olhos.
- Eu não tinha como saber que ele era um dos acionistas. - Ele garantiu - Você tem sorte, no St Regis eles te adoram.
- Eu conquistei as pessoas certas com o meu charme estonteante - Eu ofereci um sorriso a ele.
- Você poderia conseguir algo para mim.
- Consiga com o seu charme estonteante - Eu revirei os olhos, abrindo a porta do quarto - E é bom conseguir logo, não pense que vai morar aqui de graça, eu quero minha geladeira cheia de novo.
- Considere feito, Destie - Ele piscou.
- E não me chame de Destie, sabe que odeio esse apelido idiota - Eu murmurei antes de fechar a porta do quarto.
Apesar de toda a exaustão, eu consegui tomar uma ducha rápida antes de me deitar. Eu poderia dizer que perdi longas horas pensando no publicitário que conheci mais cedo, mas isso seria mentira, eu adormeci assim que encostei minha cabeça no travesseiro.
Com sorte me chamariam para cobrir a folga de alguém no hotel, e eu conseguiria vê-lo mais uma vez antes que ele partisse.
Eu esperava dormir até mais tarde no dia seguinte, mas o toque do meu celular me despertou pela manhã. Eu observei a foto de Tim, um de meus contatos no St Regis, estampada na tela do aparelho.
- Tim - Bocejei me sentando na cama.
- Me diz que você não tem nada programado para hoje - sua voz soou suplicante.
- O que você tem pra mim? - Eu me espreguicei.
- Preciso que você esteja aqui em meia hora - ele pediu.
- Meia hora, você enlouqueceu? - Eu me levantei da cama indo para o banheiro - Eu não consigo ficar apresentável em meia hora.
- Você já acorda apresentável, Dess - Ouvi um sorriso em sua voz.
- Seu bajulador barato - Murmurei - O que eu tenho que fazer?
- Eu te vejo em meia hora - Ele se despediu.
Ótimo, eu tenho que me arrumar em dez minutos e correr para o hotel, quem sabe eu consiga encontrar Ethan por ali, dependendo do tipo de trabalho que Tim tem para mim hoje.
Me lembrei das fotos da noite anterior, peguei minha câmera dentro da bolsa e a conectei com a impressora fotográfica portátil, imprimindo as duas fotos do homem enquanto me arrumava para sair.
- Merda, nem me falaram o que vou fazer - Eu murmurei me enfiando em um curto vestido azul de alcinhas.
Eu peguei minha bolsa, coloquei a câmera, as fotos e meu celular antes de sair.
- Onde você está indo? - Nicholas perguntou enquanto eu descia as escadas correndo.
- Eu tenho um trabalho, vou tentar conseguir alguma coisa pra você - Eu gritei em resposta - Não se esqueça que eu quero minha comida de volta.
- Ok ok - o ouvi murmurar enquanto passava pela porta da frente.
Ultrapassei um pouco o limite de velocidade, mas cheguei ao hotel no tempo estipulado. Eu me dirigi até o saguão, pronta para ir até a área reservada para funcionários, mas Tim me interceptou no meio do caminho.
- Graças a Deus você chegou - Ele suspirou aliviado, segurando meu braço e me levando até os elevadores.
- O que está acontecendo? - Eu franzi o cenho.
- Eu te garanto quinhentos dólares pelo dia de hoje - Ele murmurou subindo até o quarto andar.
- Quinhentos dólares? - Eu arregalei os olhos.
- E amanhã à noite teremos um luau e é folga da Mahina, se você puder cobri-la - Ele explicou.
- Ok, eu tenho um amigo que está precisando de alguns lances também. - Eu murmurei quando as portas do elevador abriram - Mas o que eu tenho que fazer hoje? Eu já falei que não arrumo quarto de ninguém.
- Você não será uma camareira - Ele revirou os olhos enquanto seguia apressado pelo corredor.
- Mas irei trabalhar o dia todo? - Ergui uma sobrancelha - O que você está me escondendo, Tim?
- Dess, esse hóspede é muito importante - Ele passou a sussurrar parando na frente de uma porta - Se você fizer isso para me ajudar, eu vou ficar te devendo uma.
- Depende do que você quer que eu faça - Eu imitei seu tom.
- O Sr Dick pode te explicar melhor - Ele me ofereceu um sorriso sem graça antes de tocar a campainha.
- Dick? Que tipo de nome de merda é esse? - Eu zombei.
- Desti... Aloha Sr Dick - Ele sorriu quando um senhor de cabelos brancos abriu a porta.
- Finalmente vocês chegaram - Ele me mediu - Essa é a garota?
- Sr Dick, essa é Destiny De Angelis - Ele me apresentou.
- Aloha - Eu o cumprimentei, me sentindo um pouco desconfortável ao sentir o olhar do homem.
- Ela não é perfeita? - Tim sorriu.
- Eu irei preparar tudo - Ele deu de ombros voltando para dentro do quarto, me deixando ali confusa.
- Preparar tudo? O que está acontecendo? - Eu sussurrei para Tim.
- O Sr Dick sempre passa as férias aqui, ele gasta muito dinheiro e é um dos nossos clientes mais antigos - Tim murmurou - Ele precisa de uma acompanhante e..
- Acompanhante? Você perdeu o juízo? - Eu arregalei os olhos, sentindo o ódio tomar conta de mim.
que ele pensa que eu sou!?
- Dess, ele acabou de se casar e..
- Que a esposa dele o acompanhe então, eu estou fora daqui - Eu rosnei.
- É ela? - Uma voz feminina me impediu de partir, uma garota que parecia ter a minha idade apareceu, carregando um garotinho que não devia ter mais de três anos no colo.
- Sim, é ela... - Tim sorriu.
- Aqui está - Ela me estendeu o menino, que eu aceitei instintivamente.
O que está acontecendo?
- Desculpe? - Eu pisquei atordoada.
- Aqui está a bolsa - O senhor Dick retornou com uma bolsa infantil na mão, me estendendo em seguida.
- Eu quero que o Danny participe de atividades diversas, o protetor solar que ele precisa usar está dentro da bolsa - Ela começou a explicar - lá você também encontrará a lista de restrições alimentares dele.
- Restrições? - Eu me sentia cada vez mais perdida enquanto o menino em meu colo me observava com curiosidade.
- Ele deve almoçar às onze e meia e eu o quero de volta às três da tarde - Ela prosseguiu.
- Quatro - O senhor informou.
- Certo, às Quatro da tarde - Ela deu de ombros - Ele gosta da piscina, mas não quero que fique o tempo todo lá.
- A srtª De Angelis cuidará muito bem do pequeno Danny, srª Dick - Tim bajulou - Ela é uma especialista nisso, a melhor que nós temos.
Espera, eu sou?
Eu olhei em dúvida para o garoto, estava pronta para devolvê-lo para a mãe quando ela simplesmente voltou para dentro do quarto, fechando a porta sem sequer se despedir.
- O que acabou de acontecer? - Eu virei para Tim.
- Você acompanhará o pequeno Danny por algumas horas - Tim sorriu me levando em direção ao elevador.
- Babá? Você me transformou em uma babá? - Eu elevei a voz quando as portas se fecharam, ignorando o menino que me observava em silêncio.
- Dess, por favor. É a primeira vez que o Sr Dick traz a nova esposa, e eles precisam aproveitar um tempo juntos, coisa que não será possível com um bebê - Tim explicou.
- Por que não o deixam na área infantil como todo mundo? - Eu murmurei.
- A Srª Dick acha que não cuidariam bem dele por serem muitas crianças, então pediu por uma acompanhante em tempo integral - Ele me explicou.
- Você vai ficar me devendo um favor enorme - Eu murmurei - E pode ter certeza que eu vou cobrar.
- Sim, claro. Quanto ao seu amigo, pode trazê-lo com você no luau - Ele garantiu.
- Que fique claro que esse não é o favor - Eu avisei quando as portas se abriram - Eu quero poder comer e beber de graça hoje.
- Sem bebidas alcoólicas perto da criança - Ele me avisou saindo do elevador.
- Eu não beberia a essa hora - Revirei os olhos - Eu vou pra praia com o moleque. E eu tenho um favor para te pedir depois.
- Qualquer coisa que você quiser, Dess - Ele sorriu antes de se afastar.
Eu observei o menino em meu colo sem saber o que fazer com ele. Suponho que eu deva conversar com ele.
- Aloha Ragazzino¹ - Eu murmurei não obtendo resposta - Você deveria falar algo.
O menino continuou em silêncio.
- Você sabe falar, Danny? Quanto anos você tem?
Ele ergueu a mão me mostrando três dedos com certa dificuldade.
- Ótimo, você me entende, isso é um bom começo - Eu revirei os olhos enquanto caminhava até uma poltrona vazia no saguão do hotel.
Eu me sentei ali, colocando o menino no chão antes de me livrar da minha bolsa para pegar o protetor solar na dele.
- Eu devia ter feito Tim carregar minhas coisas - Eu murmurei lendo as instruções do protetor - Eu tenho que passar isso em você a cada duas horas? Sério?
Ele confirmou com a cabeça.
- Pelo menos você não é uma praga - Eu dei de ombros enquanto tirava a camisa do menino, o deixando apenas com a bermuda que usava, espalhando o protetor de forma adequada em sua pele.
Assim que terminei minha tarefa, eu peguei as duas bolsas, a mão do menino e o guiei com cuidado em direção a praia. Eu me sentei em uma espreguiçadeira e acomodei o menino que permanecia calado na minha frente.
- Vamos, você deve saber falar algo. Você sabe falar? - Eu questionei - Você precisa falar, porque eu não pretendo ficar presa por horas com alguém que não fala nada, já não basta o voo de ontem.
O menino continuou me observando sem abrir a boca.
- Oi... Você consegue dizer isso? Oooi - Eu repeti devagar, pegando um brinquedo de borracha em sua bolsa e aproximando de seu rosto.
O menino se limitou a pegar o brinquedo e se distrair com ele, aumentando minha frustração. Eu joguei meu corpo para trás, me deitando de uma forma desconfortável na espreguiçadeira, escondendo meu rosto com as mãos.
Ele não podia ser uma peste hiperativa como uma criança normal? Pelo menos eu teria o que fazer. Eu me endireitei alcançando a câmera em minha bolsa, Danny permanecia distraído com o brinquedo, o que me rendeu algumas boas fotos, mas logo o tédio voltou a me acometer.
- Será que esqueceram de me avisar alguma coisa sobre você, baixinho? - Eu o observei. - Por favor, fale comigo.
Silêncio.
- Tudo bem, pelo menos brinque na areia como uma criança normal - Eu murmurei, o tirando da espreguiçadeira - Vamos, pode comer um pouco também, eu não me importo.
Com sorte o toque do meu celular acabou atraindo minha atenção, me distraindo um pouco.
- Aloha Makua² - Eu sorri observando o menino.
- Eu já te falei que não é porque você está morando no Hawaii que precisa falar dessa forma - Vito reclamou.
- Faz tempo que você não me liga - Eu ignorei sua queixa.
- Eu apenas quero saber como foi sua viagem - Ele desconversou.
- Foi a mesma coisa de sempre.
- Ela tentou te convencer a voltar? - Ele perguntou.
- É claro que sim, fazer uma faculdade, ter um objetivo na vida - Eu sorri, olhando para o céu.
- Você não acha que ela pode ter razão? - Ele questionou depois de um momento em silêncio
- Ela te ligou, não foi? - Eu gemi - Qual é, achei que você me apoiasse nisso, Papà.
- Eu apoiava quando pensava que você queria passar alguns meses de férias no Hawaii - Ele murmurou - Ela me disse que você está passeando com cachorros em troca de dinheiro.
- Eu faço muito mais do que isso - Eu reclamei.
- Eu apoiei tudo isso, até desocupei a casa para você, Dess, mas se você quer viver uma vida de festas não poderia fazer isso em uma grande cidade ou vir morar em Milano comigo? - Ele sugeriu - Você não precisa trabalhar, apenas se forme em administração, e vamos seguir a vida.
- Eu estou seguindo minha vida, e estou feliz com a forma que as coisas estão - Eu apontei - Eu não preciso de um diploma.
- Um dia você vai herdar tudo o que eu tenho, não acha que deveria saber administrar?
- Eu cansei desse assunto - Eu o cortei.
- Tudo bem, me diga como foi o voo - Ele desistiu.
- Foi interessante, apesar de eu ter que ficar importunando um cara ao meu lado pra que ele não me deixasse falando sozinha - Eu reclamei.
- As pessoas nem sempre gostam de conversar com desconhecidos, Destiny.
- Pai, quem não gostaria de conversar comigo? - Não pude evitar de gargalhar antes de me lembrar do pequeno Danny que permanecia sentado no mesmo lugar que eu o coloquei antes.
- Tenho certeza que um homem acabaria criando algum interesse - Eu quase podia vê-lo revirar os olhos.
- Foi mais difícil do que eu esperava, e no fim só consegui descobrir o nome dele - Eu reclamei - O que foi um desperdício.
- Destiny, por mais que eu te ame, a sua vida sexual não me interessa nem um pouco, na verdade eu ainda prefiro imaginar que ela seja inexistente - Ele reclamou.
- Quando você vem me visitar, Papà? - Eu questionei, sentindo uma pontada de esperança começar a crescer em mim.
- No natal - Ele prometeu - Eu tenho alguns problemas pra resolver, estou atolado e..
- Nós estamos em Julho, Vito - Eu o cortei - Faltam meses para o natal!
- Você poderia vir me visitar, você sempre visita a sua mãe - Ele reclamou.
- Eu vou desligar, eu estou cuidando de um bebe hoje e ele precisa de mim - Eu o cortei - Aloha.
- Eu tentarei aparecer antes, Principessa. Apenas seja paciente com seu velho pai.
- Sempre fui - murmurei antes de encerrar a chamada.
Eu passei alguns momentos observando o menino enterrando o brinquedo na areia antes de decidir guardar meu celular e voltar para o hotel com ele.
- Ele sempre promete a mesma coisa - Eu confessei a Danny - Ele sempre vai aparecer no natal, ou na páscoa, ou no meu aniversário e no fim...
Recolhi suas coisas antes de pegá-lo no colo para me mover com mais agilidade. Nós tivemos uma manhã mais ou menos interessante, eu o levei em cada atração infantil disponível antes do almoço, e tentei arrancar uma palavra do menino de qualquer forma, mas foi tudo em vão.
Quando enfim nos sentamos no restaurante, eu me sentia exausta. Porque ele não fala comigo? Eu sou tão ruim com crianças?
Pelo menos está vivo!
Eu chequei sua lista de restrições alimentares antes de fazer seu pedido, será que ele sabe comer sozinho? Ou terei que alimentá-lo?
Assim que o garçom se afastou algo chamou minha atenção. Em uma mesa em um dos cantos mais escondidos do restaurante estava ele. Ethan.
Na noite anterior não pude apreciar de forma adequada sua beleza, mas agora... Aquele ar cansado havia desaparecido, dando lugar a uma expressão segura e determinada. Seus cabelos bem arrumados e seu terno, que parecia ter sido feito sob medida, fazia toda aquela curiosidade da noite anterior voltar a tomar conta de mim. Ele segurava um tipo de arquivo e lia com atenção o que quer que estivesse escrito ali, enquanto comia.
Ao me lembrar das fotos que imprimi mais cedo, abri minha bolsa depressa, pegando as duas, escolhendo por fim a que ele estava sorrindo.
- Eu sei que deveria deixá-lo em paz, mas eu não quero - Confidenciei ao pequeno Danny - Você entende?
Saquei uma caneta perdida de dentro da bolsa, escrevendo um pequeno bilhete atrás da fotografia.
"Por favor, me diga que você trouxe algo além de roupas sociais. Nós estamos no Hawaii, pelo amor de Deus!!
Como eu disse, você deveria sorrir mais vezes. Combina mais com você, Sr Publicitário."
Eu chamei o garçom de volta, pedindo para que entregasse a foto para Ethan, sentindo a ansiedade começar a tomar conta de mim a cada passo que o rapaz dava, se aproximando da mesa.
- Isso foi uma loucura, não foi? - Eu sorri para Danny, com a chegada de nossos sucos.
- Sim - Ele permitiu pela primeira vez que eu ouvisse sua voz.
Eu o encarei atônita por alguns momentos, esquecendo o que tinha acabado de fazer. Depois de horas, ele finalmente falou comigo?
Ou estou alucinando pela solidão?
- Você fala! - Eu exclamei - Não acredito, o que mais você sabe falar?
Ele voltou a me encarar em silêncio, me dando vontade de gritar.
- Ok Danny, vamos treinar - Eu pedi com o máximo de paciência que encontrei - Fale Aloha.
Silêncio.
- Cazzo³! - Eu exclamei irritada.
Ele tinha que falar alguma coisa, qualquer coisa...
- Cazzo - Ele repetiu me observando.
Ok, qualquer coisa menos isso!
- Ahhh sabia, você fala! - Foi minha primeira reação - Mas você é um menino educado, não deve falar isso.
- Cazzo - Ele insistiu.
- Aloha - Eu tentei - Diga Aloha.
- Cazzo...
- Esquece essa palavra, Danny - Eu pedi.
- Cazzo...
- Então, quando você falou sobre pai ausente ontem, você estava se referindo ao pai do seu filho? - uma bela voz masculina surgiu atrás de mim.
- Hey, Sr Publicitário - Eu abri o meu melhor sorriso ao me virar e encontrá-lo em pé atrás de mim.
- Você está me seguindo? - Ele ergueu uma sobrancelha, fazendo com que eu prendesse a respiração por um segundo.
Ele tem ideia de como fica sexy fazendo isso?
- Eu sou inocente - Ofereci meu melhor sorriso.
- Cazzo - O menino repetiu, fazendo com que eu respirasse fundo.
- Danny, agora não - Eu pedi.
- Danny... - Ele observou o menino sem muita reação - E quanto a parte do inocente, eu duvido muito.
- Eu estou aqui trabalhando, Ethan - Meu sorriso aumentou ao notar seu olhar em meu decote, como permaneci sentada, ele tinha uma visão privilegiada daquela área. - Sinto lhe decepcionar.
- Trabalhando?
- Sim, conheça Danny - Eu apontei - Ou como eu gosto de chamá-lo, quinhentos dólares fáceis de hoje.
- Eu não entendi - Ele alternou o olhar entre nós dois parecendo confuso.
- Eu sou a babá dele hoje - Eu expliquei - Você quer sentar?
- Não - Ele franziu o cenho - Eu vou voltar para minha mesa, tenho trabalho a fazer.
- Ohh - Eu fiz um pequeno beicinho, me sentindo um pouco desapontada.
- Talvez você queira ficar com isso, já que gostou tanto do meu sorriso - Ele colocou a fotografia em cima da mesa antes de se afastar, me irritando um pouco com aquele gesto.
Ele pensa mesmo que vai fugir assim?
Nossa comida chegou e eu acabei me dividindo entre alimentar Danny e observar o homem sentado em sua mesa, fingindo estar concentrado em seu trabalho, apesar de seu olhar se encontrar com o meu de tempos em tempos.
Eu voltei a pegar a caneta complementando o bilhete de antes.
"Não se preocupe, eu posso imprimir uma cópia dessa foto. Quando você se cansar de ser tão rabugento e repelir qualquer um que se aproxima, perceberá que acabou sozinho, Ethan."
Eu peguei Danny no colo, fazendo questão de passar por sua mesa para sair do restaurante, sentindo seu olhar acompanhar meus movimentos. Eu deixei a foto novamente em sua mesa, oferecendo um sorriso a ele antes de sair.
Minha única tarefa agora é fazer esse menino falar alguma outra coisa.
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¹ menininho em italiano
² Olá pai em havaiano.
³ caralho em italiano
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