Dove

- Você tem certeza? - meu pai pergunta.

- Tenho e não tenho - digo pegando uma das minhas malas.

Já faz duas semanas que eu resolvi aceitar o emprego. Jonathan, o dono da agência me ligou no dia seguinte que confirmei para conversar comigo. Ele fez uma entrevista via Skype e disse que eu sou bem qualificada para o trabalho. Me explicou também que eu já terei uma moradia pronta e com tudo pago pela empresa, o salário acima do compatível, benefícios como auxílio médico, férias a cada seis meses, fins de semana livres e outras coisas mais. Agora, duas semanas depois estou me preparando pra ir embora. Eu pego o avião amanhã e a ansiedade está a mil por hora.

- Trouxe umas roupas suas que estavam lá em casa. - Sofia diz entrando no quarto.

- Obrigada!

- Quer alguma ajuda? - ela pergunta e sinto uma pontada de tristeza na voz dela.

- Se quiser ir colocando minhas tralhas na caixa, pode colocar. - digo e ela sussurra um 'ok'.

- Dove - meu pai me chama pra um canto - É impressão minha ou a Sofia está quieta demais?

- Percebi isso também - digo a olhando enquanto ela pega meus livros.

- Ela vai sentir sua falta.

- Eu sei. - sorrio fraco - E eu a dela. Mas isso não quer dizer que não vou ter contato com ela. Vou manter contato todos os dias com vocês dois.

- Eu espero mesmo - ele diz e abraço sua cintura. - Por sinal, seu passaporte chegou, está lá na cozinha.

- Ok eu vou lá pegar.

Desço até a cozinha, deixando meu pai e a Sofia no quarto colocando minhas coisas nas caixas. Vou até o balcão e vejo meu passaporte e confiro pra ver se está tudo certo. Enquanto termino de verificar, meu celular vibra com uma mensagem do Chris.

Mensagem de Amorzinho❤😍

(Foto)

Gatinho😍😍
Tá fazendo oq?

Vc tem q falar gostoso não gatinho, ou melhor, gostosão.
Esperando vc mandar uma foto.

Convencido Hahaha

(Foto)

Gatinha❤❤.
Vc tá Bem?

Gatinha não. Gostosa.
Estou. Pensativa mas estou.

Isso é mesmo. Tá vendo eu falei.
Pensativa com oq?

Haha ..falou pq eu disse.
Nada importante.
Meu passaporte chegou hj.


Aaaahhh.
Já sei aonde tá sua cabecinha agora.
Ñ tá pensando em desistir ñ Neh?

Não, já tá td certo.
Vou mandar minhas coisas hj.

Q bom.
Ñ quero q vc desista.

Mas se eu desistisse, seria por uma boa causa.

E se vc desistir, a boa causa te deixa.

Kkkkk ñ precisa exagerar.

Precisa sim.
Eu sei q vc ñ quer deixar seu pai, a Sofia e eu pq sei q sou importante tbm, mas corre um pouco atrás da sua carreira. Sabe q vou tá aqui te esperando e te apoiando.

Convencido neh meu amor kkk
Eu sei. Obg!
Onde vc tá agora?

Esperando os atrasildos pra pegarmos o avião.

Vão pra onde agora?

Voltar pra Miami.
Por sinal, os meninos estão bravos cmg.

Kkkkk Pq?

Pq eu fiquei demorando pra contar pra eles q vc vai se mudar, já q vc pediu pra não contar de uma vez.
Eu contei e eles me xingaram até kkkkk

Kkkkkkkkkkkkkkkk
Eu queria ter visto.
E a sua mãe?

Oq tem?

Ela disse alguma coisa?

Não. Ela nem fala mais nada.

Milagre!!!!

Depois da patata q dei nela quando vc saiu da casa dela, ñ é nem de admirar.

Mas vcs estão Bem?

Sim, estamos.

Q bom.
Chris eu tenho q ir. Tenho q terminar de arrumar minhas coisas.

A Sofia ta aí?

No quarto com meu pai arrumando minhas coisas.

Foi seguro deixar ela sozinha num quarto com seu pai?

Vou tirar a prova disso agora.

Kkkkk.
Vai lá.

Bjos

Bjos.

(..)

Terminei de arrumar minhas coisas no começo da tarde e já fui com meu pai no aeroporto envia-las pra Shangai. A empresa está arcando com tudo então não me incomodei em ir ao aeroporto antes.

- Que tal fazermos alguma coisa entre pai e filha antes de ir embora? - meu pai pergunta quando entramos no carro pra ir embora.

- Pai, filha e Sofia né? - Sofia pergunta.

- Desculpa Sofi, mas eu queria passar mais um tempinho com esse coroa aqui. - ela fecha a cara - Por que não dorme lá em casa hoje? - pergunto e ela abre um sorriso - Podemos ver algum filme.

- Claro, estarei lá.

Ela diz e meu pai dá partida no carro. Deixamos Sofia em casa e nós voltamos para a nossa.

- O que vamos fazer? - pergunto.

- Pensei em irmos naquela pista de patinação no gelo que te levava quando era criança - ele diz e abro um sorriso de orelha a orelha.

- Então vamos. - digo - Podemos almoçar lá.

Troco de blusa, colocando uma de manga cumprida e saímos de casa. Meu pai liga o rádio e coloca um cartão de memória que tem nossas músicas favoritas. Como a pista de patinação é bem longe da minha casa, vamos ter tempo de sobra pra ouvir. A primeira da nossa lista é The Police - Every Breath You Take; a segunda é Elvis Presley - Can't Help Falling In Love com uma pegada mais romântica e nessa meu pai sempre deixa que eu cante sozinha, porque diz que ela fica bem na minha voz.

(..)

Demoramos uma hora pra chegarmos à pista e ela está lotada. Patinamos um pouco e agora estamos sentados comendo um lanche.

- O sabor do lanche daqui não mudou nada - digo com a boca cheia e meu pai faz cara de nojo e ri em seguida.

- Não é tão educado falar de boca cheia sabia? - ele diz.

- Eu sei - digo mastigando ainda - Mas isso tá tão bom, melhor do que antes ainda. - digo e ele morde um pedaço do lanche.

- Pior que é verdade - ele diz de boca cheia e dou risada.

Meu pai faz papel de mãe e de melhor amigo. Eu sempre me senti a vontade pra contar sobre meus problemas a ele, que escuta com atenção e me ajuda a fazer a escolha certa. A primeira ajuda dele que eu não tenho mesmo como agradecer é por ter me adotado e se tornado minha família. Se cheguei até aqui, eu tenho que agradecer primeiramente a ele, mesmo não sabendo como, porque o que ele fez pra mim não tem preço.

- Você vai poder vir pra cá de férias? - ele pergunta depois de uns minutos.

- Quando eu pegar férias sim - digo tomando um pouco do refrigerante - Acho que não vou ver a hora de vir pra cá.

- Eu também. A casa vai ficar vazia com você morando longe - ele diz.

- Se chamar a Sofia pra morar com você ela vai na hora - brinco.

- Deus me livre ter aquela garota no meu pé - ele diz e solto uma gargalhada.

- Melhor chamar a Megan mesmo - digo.

- Megan e eu não estamos prontos pra morarmos juntos ainda Dove - ele diz e limpa o canto da boca - O nosso relacionamento é recente, não sei nem como vai ser daqui pra frente.

- Vai dar certo. - digo - Eu gostaria que ela fosse minha madrasta, eu gosto dela.

- Quem sabe - ele diz e assinto.

- Vamos patinar de novo? - pergunto e ele arregala os olhos.

- Já acabou? - assinto - Olha o tamanho do lanche Dove - ele ri - Comeu inteiro foi?

- É que estava tão bom - digo passando a mão na barriga.

- Entendi porque você e o Vélez se dão bem apesar de tudo.

- Claro, o que nos mantem juntos é a comida, pode ter certeza - dou risada. - Vai vamos. - levanto e estendo a mão pra ele.

- Eu estou velho pra ficar patinando toda hora.

- Velho pra namorar ninguém tá né? - digo e ele franze a testa - Desnecessário né?

- Um pouco - ele diz e se levanta - Tá bom, vamos.

Ficamos horas patinando até cansarmos e irmos pra casa. Sofia ainda iria lá à noite e preciso recuperar minhas energias.

(..)

- CHEGUEI MEU POVO - Sofia entra na sala gritando e meu a fica encarando - Oi Josh.

- Oi Sofia - ele diz - Me chama de senhor Duhamel mesmo. - quase cuspo a agua e começo a rir.

- Achei que não gostasse que chamasse você de 'senhor' - ela diz se sentando do lado dele.

- Você é exceção - ele dá um sorriso amarelo e me acabo de rir.

- Oi pra você também Sofia - digo rindo.

- Ah, oi Dove - ela diz, mas volta à atenção para o meu pai - Tenho dó de você Josh - ela diz o nome do meu pai e ele revira os olhos - Vai ficar morando aqui sozinho.

- Sofia nem continua essa frase - digo - Vamos subir e colocar o filme, porque só assim você para de dar em cima do meu pai. - pego o braço dela e a puxo.

Subimos no quarto e escolhemos um filme de terror. Sofia e eu somos apaixonadas em terror e ele se tornou tão querido que não nos assustamos mais.

Sentamos na cama e Sofia coloca a cabeça no meu ombro.

- Eu vou sentir falta de assistir um filme de terror com você - ela diz depois de uns minutos.

- Eu também - concordo. - Mas eu vou voltar logo pra visitar vocês.

- É. Daqui seis meses - ela diz e solta uma risada fraca. - Dove me desculpa por ficar colocando lenha na fogueira com respeito a você e o Chris.

- Tá tudo bem - digo - Eu sei que você ficou brava com ele também.

- Tão brava que no dia que aconteceu aquilo, eu fiz uma coisa e não te contei.

- O que? - pergunto.

- Eu meio que dei um tapa na cara do Chris na frente do hotel. - ela diz e abro a boca arregalando os olhos também. Fico alguns segundos assim até começar a gargalhar.

- Você não existe Sofia - digo e a abraço - Você é doida.

- Espera - ela diz - Não ficou brava?

- Claro que não. Eu ia fazer a mesma coisa, mas eu estava tão nervosa que nem pensei nisso. - ela ri - Então, obrigada.

- Precisando pode me chamar. Vai ser um prazer dar mais uns tapas naquele rosto e no de qualquer um - ela diz e me abraça de novo.

(..)

Já estou no aeroporto pra fazer o check-in. Meu voo é as onze e tive que chegar com pelo menos uma hora e meia de antecedência.

Deixo meu check-in feito, recebo meu cartão de embarque e pedem pra que eu espere até chamarem pelo meu voo.

Me sento no meio do meu pai e da Sofia e deito a cabeça no ombro dele e fecho os olhos. Eu estou tão ansiosa que não dormi direito à noite.

- Eu me esqueci de te falar - meu pai diz - Tem uma surpresa pra você.

- Que surpresa? - pergunto se olhos fechados.

- Umas pessoas vieram se despedir de você. - ele diz e olho pra ele, que mantém o olhar fixo pra frente. Olha na direção que ele está olhando e vejo cinco pessoas extremamente conhecidas vindo na nossa direção.

- Fala sério? - digo sorrindo e me levantando - Não acredito que vocês vieram. - digo abraçando Joel.

- Lógico que íamos vir. - ele diz - Acha mesmo que eu ia ficar sem me despedir do meu desodorante.

- Engraçadinho - digo e abraço o resto dos meninos, mas fico com o braço na cintura do Chris. - Estou feliz em ver vocês. Não imaginei que viriam.

- Pois é. A nossa volta a Miami na verdade foi aqui - Chris diz.

- É. A gente soube esconder bem de você - meu pai diz e Sofia sorri.

- Vocês sabiam? - pergunto.

- Claro que sabiam - Richard diz - Pedimos pra Sofia arrumar um hotel perto do aeroporto pra gente. - ele solta uma piscada pra Sofia e ela sorri.

- Quase matamos o Christopher quando ele disse que você ia se mudar e que ele que pediu pra você aceitar esse trabalho - Erick diz.

- É. Mais um pouco você escutava no jornal sobre as nossas prisões - Zabdiel diz e todos riem.

- Quando você volta? - Joel pergunta.

- Minhas férias são a cada seis meses. Então daqui seis meses vocês podem voltar aqui pra Nova Jersey que vão me ver.

- Com certeza vamos voltar aqui - Richard diz.

Os meninos ficaram conversando com meu pai e a Sofia. Chris sussurra no meu ouvido dizendo que queria conversar comigo.

- Licença gente - ele diz e os meninos começam a nos zoar quando nos afastamos.

Vamos até o vidro e ficamos olhando os aviões em silêncio. Suspiro ao pensar que daqui alguns minutos eu vou ir embora.

- Quero dar uma coisa pra você - Chris diz depois de alguns minutos.

- O que?

- Vira - ele pede e eu me viro. Depois de alguns segundos o sinto passar alguma coisa no meu pescoço e prende. Olho e é um colar prata, simples e com um coração.

- É lindo - sorrio olhando o pingente.

- Eu tenho o meu também - ele puxa a corrente de dentro da camisa e mostra o dele com uma placa e uma parte faltando com formato de coração.

- Obrigada - sorrio e dou um beijo nele. Mas não dura muito porque os meninos começam a gritar fazendo com que todos olhem pra nós. E nós, claro, começamos a rir e a primeira vez em muito tempo, vejo o Chris vermelho de vergonha.

- Quer parar ou continuar? - ele pergunta.

- Me diz você. Você que tá um pimentão.

- Sério? - assinto - Nem notei - ele sorri e me beija de novo e nem nos importamos com os meninos gritando.

Paramos de nos beijar assim que escutamos a primeira chamada do meu voo.

- Acho melhor você ir se despedir deles. - Chris diz e assinto.

- Boa viagem coisinha - Zabdiel diz quando o abraço.

- Vê se não se esquece da gente lá tá? - Erick diz enquanto me abraça.

- Claro que não - digo sorrindo.

- Boa viagem pessoa, se cuida - Richard diz.

- Pode deixar - digo o abraçando.

- Acho que depois de anos, vou soltar alguma lagrima - Joel diz quando vou abraçar ele e damos risada.

- Joelito - digo.

- Se cuida Dove - ele diz - Se precisar pode chamar a gente.

- Com certeza vou chamar - digo. - Amigaaa - digo abraçando Sofia que já está limpando as lágrimas.

- Se cuida sua anta. Vou sentir saudade - ela diz e dou risada.

Na hora de abraçar meu pai, não digo nada e ele também não. E nessa hora eu deixo minhas lágrimas surgirem.

- Boa viagem querida - ele diz e beija minha testa. Ficamos mais alguns minutos abraçados escuto a última chamada. - Acho melhor você ir.

Assinto e me despeço de modo geral deles, pego minha mochila e vou até o portão de embarque. Apresento o cartão, respiro fundo e antes sair olho pra trás e sou tchau pra eles.

Ando pelos túneis pensando no que vou deixar aqui e o arrependimento como a bater. Quando chego ao pátio dos aviões, olho pra cima e vejo todos olhando pra baixo. Entro no avião, procuro meu assento e coloco minha mochila no bagageiro. Me sento e fico batendo os pés sem parar.

- O que eu estou fazendo? - pergunto a mim mesma e respiro fundo.

- Senhorita queira se sentar, por favor - a aeromoça diz ao ver levantar e abrir o bagageiro. - Já vamos decolar.

- Desculpa moça, mas eu não posso ir - digo e saio de perto atraindo olhares de muita gente.

Desço do avião rápido antes de fecharem a porta e a escada e saio andando rápido pelo pátio. Olho pra cima e não vejo ninguém.

- Espera moço não fecha - digo pra um rapaz que ia fechar a porta do túnel do portão de embarque. - Obrigada.

Agradeço e entro no túnel. Entro novamente no aeroporto, mas não acho nenhum dos meninos, nem Sofia e nem meu pai. Saio de dentro do aeroporto e fico procurando eles, mas nada. Então resolvo pegar um táxi.

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