❥ CAPÍTULO DOIS
Uma dor forte atinge minha cabeça ao abrir os meus olhos e por instinto levo a ponta dos meus dedos até a têmpora, massageando-a na esperança que a dor diminua; um ato estúpido e falho.
Sinto um sabor amargo em minha boca e um revirar no estômago, todo o meu corpo se arrepia em um terrível mal estar. Gemo, voltando a fechar os olhos.
Nunca me senti tão mal em toda a minha vida.
Não consigo segurar essa sensação por muito mais tempo e me levanto rapidamente da cama me sentindo zonza por isso, a náusea aumentando. Corro em direção ao banheiro, me ajoelhando diante do vaso sanitário e o gosto amargo da bebida de ontem volta ainda mais intensamente pela minha garganta. Gorfo tudo incessantemente e meu estômago dói. Nesse momento juro a mim mesma para nunca mais ingerir bebida alcoólica.
Me levanto juntando o pouco de dignidade que ainda me resta, caminho em direção ao espelho que há no banheiro de azulejos escuros.
— Azulejos escuros?! — Exclamo sozinha, me dando conta de meus pensamentos. Meu apartamento não tem banheiro de azulejos escuros, eles são brancos comuns.
Onde estou? Olho para baixo e noto que ainda estou usando meu vestido de noiva arruinado. Saio do banheiro a passos rápidos, meus olhos observam todo o cômodo em que eu acordei. Os móveis e a decoração são todos em preto e branco, há vários quadros pendurados nas paredes, todos de bandas de rock. Definitivamente não é o meu quarto.
Caminho pela saída do quarto, estou em território desconhecido e sem meu celular. Meus passos são lentos e silenciosos, tenho medo do que posso encontrar ao descer as escadas, mesmo assim respiro fundo e desço degrau por degrau. Ao chegar no final da escada meu estômago ronca ao sentir o cheiro de um delicioso café da manhã, sinto o cheiro de panquecas quentinhas e de café feito na hora, então sigo em passos silenciosos até a cozinha.
Sou surpreendida pelo que meus olhos veem: Jack, o barman de ontem a noite está usando um avental, seus cabelos estão perfeitamente desarrumados e ele parece bastante concentrado ao jogar uma calda de mel sobre as panquecas.
— Bom dia. — Falo em um sussurro. — Aposto que te causei um enorme incômodo essa noite.
— Bom dia, Noiva Cadáver. — Jack diz, sorrindo. — Minhas costas doem, não estou acostumado a dormir no sofá, mas não chamaria isso de enorme incômodo, de longe existem coisas piores. Como está a cabeça?
— Doendo muito. — Me aproximo da mesa e puxo a cadeira, me sentando logo em seguida.
— Quer uma dose de Whisky no seu café? — Jack ri.
Sinto meu estômago revirar com a simples menção do álcool e faço uma careta enjoada.
— Não, obrigada, pode ser puro. — Falo, esperando que ele me sirva e assim ele o faz, em seguida se senta em minha frente.
Comemos o café da manhã em silêncio, hora ou outra me pego admirando os lindos traços de seu rosto. Jack é um homem muito atraente e cozinha muito bem.
— Essas panquecas estão incríveis. Onde aprendeu a cozinhar?
— Antes de ser barman fiquei anos trabalhando em um restaurante, lavando louça. — Ele piscou. — E acabei por me envolver com uma das chefes de cozinha, ela era muito boa com as panelas e no final do expediente me ensinava uma receita ou outra, porém me encontrei mesmo fazendo drinks. E você, o que faz para viver?
— Eu vendo joias em uma loja no centro da cidade, nada muito badalado ou divertido como o seu trabalho. — Digo, levando mais um pedaço de panqueca à boca. — Deus, isso está divino.
Ele ri e leva as mãos até o cabelo, percebo que é uma mania que ele tem, o que o deixa sexy sem ao menos perceber. Eu deveria estar triste e reclusa, mas por que estou percebendo tantos detalhes de outro homem?
— Se você se surpreende com uma simples panqueca, querida, imagino qual será sua reação ao experimentar o meu famoso risoto de camarão.
— Isso é um convite? — Pergunto, olhando no fundo de seus olhos.
Ele parece se divertir com a minha pergunta.
— Depende. Você recusaria se fosse? Eu odiaria ser rejeitado. — Seu tom de voz é leve.
— Eu te conheci ontem, no pior dia da minha vida, dormi na sua casa... não está acontecendo tudo muito rápido?
— Eu não ia deixar uma dama alcoolizada ir embora sozinha no meio da madrugada, eu sou um homem com virtudes. E ao acontecer muito rápido... — Ele dá uma pausa e me lança um sorriso. — Não sei do que está falando, somos amigos tomando café da manhã e talvez planejando um almoço ou um jantar amigável.
— Lembro de você ter dito que esperou a noite toda para me beijar. — Falo, sem pensar. O rosto de Jack atinge um tom avermelhado... ele está com vergonha?
— Você quem quis me beijar primeiro. — Rebate.
— Talvez eu queria beijá-lo agora.
— Não, você não quer, Jane. — Sua voz é séria. — É só carência por ter sido rejeitada.
Meu peito dói. Essas palavras me atingem com força e me trazem de volta para a realidade, Richard havia me rejeitado após cinco anos de namoro. Richard havia me abandonado no altar. Eu estive me embriagando com o primeiro homem que vi após ele e ainda dormi em sua casa. Essas palavras foram um tapa em minha cara. Sinto os meus olhos marejarem, mas seguro as lágrimas.
— Desculpa, eu não queria ter falado isso. Estou defendendo o meu coração. — Jack suspira. — Eu não posso me apaixonar por uma mulher que acabou de ter um relacionamento rompido. Isso é um caminho direto para o hospício.
— Você é maluco?! — Estou gritando com Jack em sua própria cozinha, lágrimas rolam pelo meu rosto. — Nos conhecemos ontem! Não corre risco algum de acontecer uma paixão tão rápida assim!
— Você realmente não conhece o poder que tem, Jane. No momento em que te vi, com os olhos manchados de pretos, vestida de véu e grinalda, eu soube que era o fim. Ali, eu soube que a paixão é avassaladora, eu te vi e te quis. — Minhas mãos estão geladas, meu estômago está todo revirado, minha cabeça está latejando. Eu não sei mais o que dizer ou o que sentir, na cozinha apenas a voz de Jack se faz presente. — Te quis não é bem o verbo correto, eu te quero e isso é louco, é insano demais. Só de olhar para você, para esse vestido, sei que você é dessas que planeja as coisas detalhe por detalhe, mas veja bem onde tudo isso te levou.
Permaneço em silêncio em frente aqueles olhos escuros. É tudo recente, eu ainda amo o Richard, mas não nego a atração que senti ao observá-lo ontem a noite. Isso é muito louco e não estou preparada para enfrentar essa montanha russa de sentimentos agora.
Jack se levanta da cadeira e por instinto eu faço o mesmo, e é ele que cessa a distância entre nós colocando uma de suas mãos em meu rosto. A ponta de seus dedos é gelada, ele está nervoso assim como eu.
— Fala alguma coisa, querida. — Seu hálito é quente em meu rosto. Eu não tenho força para pronunciar nenhuma palavra sequer. Jack vendo que eu não diria nada, depositou um selinho longo em meus lábios. — Acho melhor acabarmos por aqui. Você não pode e eu também não devo me envolver mais do que isso.
— Você é pirado. — Minha voz sai em um sussurro, as mãos de Jack ainda continuam ao meu redor.
Me afasto um pouco relutante de seu toque e caminho em direção a saída do apartamento, dou uma última olhada para o homem na cozinha. Jack tem seus olhos fixos no chão, seus cabelos castanhos caem para frente do seu rosto, camuflando o olhar perdido.
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