☆《THE END OR THE BEGINNING OF EVIL?》☆
☆《▪︎Anya Bennett▪︎》☆
Não sabia até que ponto iria sustentar toda aquela coragem. O ultimato a Shane foi necessário? Sim. Já estava cansada daquela coisa de troca de olhares e nada de ação. Eu não era de ferro.
Eu o queria. Droga… eu o queria muito.
Não sei quando nem como aquela coisa idiota de olhar mais do que o necessário havia se transformado em algo quase obsessivo, a ponto de eu cogitar dar um tiro na oferecida da Andrea.
Talvez aquilo tudo estivesse chegando a um nível perigoso. Mas não tinha o que fazer. As palavras da minha mãe ainda rondavam minha cabeça como um fantasma: “Homens como Shane Walsh não escolhem garotas como você, querida.” Eu queria mais era que mamãe e Lori fossem se foder bem longe de mim.
Eu aguentei muito, muito mais do que o necessário, e ainda fui simpática. Essa poderia ser uma ótima frase para ser cravada na minha lápide, caso eu chegue a ter uma.
Eu não queria mais me preocupar com a opinião delas — sobre como me vestir ou como me portar na frente de todo mundo. Para ser bem sincera, talvez nem exista mais "sociedade", e nós sejamos os últimos sobreviventes. Por que, então, perder o resto da vida tentando ser a filha de Suzi Bennett ou a irmã de Lori Grimes? Eu só queria aproveitar o que restava, sem carregar aquele peso.
Sentei-me em um dos troncos ao redor da fogueira apagada, puxando a barra do meu short jeans que subiu um pouco quando me ajeitei. Vi Carl e Sophia se aproximando com seus cadernos e livros, prontos para mais uma aula improvisada. Essa tarefa já era minha: cuidar das crianças e ensiná-las como se nada tivesse mudado, como se um dia elas fossem voltar para a escola. Pelo menos, era isso que as mães deles acreditavam.
Eu não. Eu sabia que não era assim que as coisas funcionavam. Ser realista era uma necessidade agora. Ou aprendíamos a sobreviver nesse mundo novo, ou morreríamos tentando.
Você acha que minha mãe ficou feliz e orgulhosa por eu contribuir com o acampamento, seja cuidando das crianças ou ajudando a Lauren com a despensa? Tá bom… vai nessa. Ela fez questão de soltar uma pérola do tipo: “Pelo menos o dinheiro que seu pai gastou na sua faculdade, que você nem terminou, vai servir pra alguma coisa. Eduque essas crianças para que elas voltem sabendo algo pra escola.”
Sério… dá vontade de me enforcar com uma coisa dessas.
Às vezes, penso em juntar umas coisas na mochila e sumir sem avisar ninguém. Ou, sei lá, me jogar pra uma daquelas coisas lá fora. Apesar de que a primeira — e última — que eu vi foi na porta da minha casa.
Mas aí eu respiro fundo e lembro: elas me infernizaram a vida inteira. Acho que chegou a minha hora de retribuir a gentileza, não acham?
Carl parou diante de mim, abraçado ao livro e ao caderno como se carregasse artefatos sagrados. Sempre tão meticuloso, tão certinho. Dava vontade de bagunçar só para ver como ele reagiria. Minha irmã era tão chata, tão metódica, que começava a deixar meu sobrinho paranoico com essas coisas. As primeiras semanas no acampamento foram fodas; Carl não queria sair da barraca só para não se sujar. Agora ele já estava mais solto, mas, ainda assim, qualquer sensação de sujeirinha no seu corpo fazia com que ele corresse para trocar de roupa ou tomar banho.
— Acho que pegamos tudo, tia.
Lancei um olhar meio cético para ele e Sophia. A dupla parecia animada demais para um dia de "aula". Aqueles dois pestinhas estavam armando algo.
— Tá, então sentem-se aqui e vamos ver até onde vocês sabem. — Respondi, jogando o cabelo para trás e apontando para as cadeiras de praia que peguei com Dale.
Sophia, sempre tão direta quanto a mãe dela não era, inclinou a cabeça de lado, ajeitou a tiara na cabeça e soltou, sem rodeios:
— Não era pra você ensinar a gente?
Olhei para ela com um sorriso enviesado. Ah, claro. A pequena inquisitora já estava trabalhando. Eu gostava de ver sua personalidade forte tomando conta, se aflorando. Sophia tinha tudo para ser o completo oposto da sua mãe.
— Tecnicamente? Sim. Mas... garotinha, senta aí e me mostra até onde vocês foram.
Eles obedeceram, mas não sem antes me lançar aquele olhar de quem sabia mais do que eu. Abriram os livros e começaram a folhear. Carl encontrou a página primeiro.
— Frações.
Ah, ótimo. Frações. Justo o tema que eu tinha evitado a vida inteira, até mais do que as brigas com a minha mãe. Não, espera… também não é pra tanto; prefiro resolver esse livro todinho só de frações do que ficar com minha mãe cinco minutos no mesmo ambiente.
— Eu sou péssima com isso, mas vamos tentar — admiti, cruzando os braços e lançando um olhar suspeito para o livro.
Sophia não deixou barato, claro.
— A tia Suzi disse que você fez faculdade e que sabia de tudo.
Eu ri pelo nariz. É claro que Suzi teria falado algo assim. Minha mãe tinha um talento especial para transformar qualquer coisa que eu fizesse em obrigação eterna. Cursei jornalismo, e nem foi o período completo. Modesta parte sabia das coisas? Sim, mas agora, porque minha mãe tinha dito que eu deveria, não… deveria não… eu tinha a obrigação de ensinar física quântica.
— Eu fiz jornalismo, Soso. Não matemática, nem química, nem numerologia. — Respondi, apoiando o cotovelo no joelho e descansando o queixo na mão. — Lauren é que é boa com essas coisas. Mas, como hoje sou eu que estou com vocês, vamos ver se dou conta.
Carl olhou de relance para o lado do acampamento, o que já era um sinal de que vinha algo suspeito.
— O tio Shane é bom em matemática. Ele já me ajudou várias vezes quando a mãe e o pai não conseguiam. Por que não chama ele, tia?
Ah, sim, claro, óbvio. Vamos invocar o santo tio Shane como solução universal.
Por um instante, segui o olhar de Carl e vi Shane ao longe, perto dos carros. Ele estava com Daryl ajudando Glenn, T-Dog e Dale com algumas coisas para a próxima saída. Pelo que ouvi das conversas, eles iriam fazer um reconhecimento das estradas para, então, iniciar uma nova busca. Nossa despensa estava bem organizada, mas já começava a ficar vazia.
Shane parecia concentrado demais, com os braços esticados apoiados no carro, o corpo levemente curvado, os músculos saltados, deixando a manga da camiseta toda esticada. Meu Deus, que homem! E, como se sentisse meu olhar, ele levantou a cabeça e acenou. Meu estômago deu um salto tão bobo, e borboletinhas idiotas começaram a voar em seu interior. Pela primeira vez, naquele últimos dias, não me importei; apenas senti.
— Porque o tio Shane tá ocupado, bem ali. — Apontei para ele, tentando soar casual. Deus me livre dessas crianças perceberem qualquer coisa, ou será que já perceberam? — Qual é, galera? Vocês não confiam na tia Anya?
Eles riram. Sophia até tentou disfarçar, escondendo o rosto no livro, mas falhou miseravelmente.
— Sim, confiamos. — Responderam quase em uníssono, ainda rindo.
— Então vamos lá. — Peguei o livro de Sophia e fingi que estava analisando seriamente a página. Assim que vi o título da lição, senti um peso no peito e uma zonzeira na cabeça; aquilo era um inferno! — Soma de frações. — Repeti, devolvendo o livro para ela como se fosse uma bomba prestes a explodir. — Senhor Jesus, talvez eu chame o Shane.
Eles caíram na gargalhada de novo, e, por um momento, o mundo caótico desapareceu; havia algo reconfortante em ouvi-los rir. Crianças… elas não merecem a realidade que nos cerca.
Sophia leu a questão em voz alta, e eu juro que tentei entender. De verdade. Expliquei do meu jeito — ou o que eu achava que era meu jeito —, e os dois tentaram resolver. Mas, quanto mais eles mexiam naquilo, mais parecia que estávamos invocando alguma maldição matemática ancestral.
Peguei o livro outra vez, estreitei os olhos para as palavras e tentei me concentrar. Era só uma questão simples... certo? Li devagar, com toda a paciência que eu não tinha. Estava quase, quase conseguindo resolver aquele amontoado irritante de números, quando a voz de Carl gritou por Shane.
Minha concentração escorreu pelo ralo. Eu estava tão perto! Ou talvez não. Talvez eu só estivesse fingindo para mim mesma que era capaz de domar aquele monstro de frações. Quem sabe Shane fosse mesmo a resposta?
— Tio Shane — o pequeno traidor colocou uma das mãos ao redor da boca e gritou.
Shane terminou de carregar o carro, bateu a porta do bagageiro com força e fez sinal para Carl esperar. Glenn ligou o motor e, em poucos segundos, o trio desapareceu pela trilha poeirenta que levava da pedreira até a rodovia.
Quando ele e Daryl voltaram, vinham andando no mesmo ritmo despreocupado de sempre. Shane parou perto de nós, sustentando o peso do corpo em uma perna só, com as mãos firmes na cintura. Primeiro, ele olhou para Carl e Sophia, mas não demorou muito até seus olhos encontrarem os meus. Era aquele olhar típico dele, cheio de algo que eu nunca conseguia decifrar totalmente: confiança? Curiosidade? Mas, pela primeira vez, senti ver algo diferente cintilando em seus olhos: DECISÃO.
Já Daryl... Daryl era outra história. Ele não parava quieto nem por um segundo, trocando o peso de um pé para o outro, como se o chão de terra batido estivesse quente demais para ele. O lenço vermelho pendurado no bolso balançava junto.
— Cadê a Amélia? — O caçador perguntou.
Indiquei o automóvel logo atrás de nós com o queixo.
— No trailer do Dale com a Lauren e a Amy.
Daryl acenou positivamente e caminhou até lá. O xerife parado logo ali ainda nos analisava; com um meio sorriso no rosto, tombou a cabeça de lado e perguntou:
— Por que me chamou, Carl?
— A tia Anya é ruim com matemática, pode ajudar a gente?
Estreitei meus olhos na direção do meu sobrinho traíra, e ele riu baixinho.
Shane se abaixou, pegou o livro que estava sobre as pernas de Carl e veio se sentar ao meu lado. Havia mais troncos disponíveis, mas parece que o senhor xerife fujão começava a ficar cansado de fugir também.
— Sério que não sabe resolver uma simples soma de fração? — Shane provocou. Seu rosto estava tão perto do meu que eu podia sentir o ar quente que saía da sua boca e das suas narinas.
— Se for ficar me zoando, vou embora.
— To brincando! Dona encrenca.
— Dona encrenca? — Ergui uma das sobrancelhas, questionando aquele apelidinho idiota.
— Sim… mexer com você é encrenca na certa… Andrea que o diga.
— Aquela loira azeda não perde por esperar. — Ameacei, lambendo os lábios bem devagar.
Observei Shane acompanhar a pontinha da minha língua com os olhos, um sorriso malicioso moldando seus lábios.
— Vou te dar umas aulas particulares de tiro. Você segura a arma errado.
— E você vai me mostrar como segura a pistola?
— Com certeza… — afirmou, cheio de segundas intenções.
— Vocês são namorados? — A voz delicada e curiosa de Sophia nos fez virar a cabeça na sua direção simultaneamente, respondendo em uníssono.
— Não! Claro que não.
— Óbvio que não. — Garanti, apenas para que não restasse dúvidas.
— Vocês se olham como se estivessem apaixonados. — Carl acrescentou com aquele tom de quem faz a descoberta do ano.
— E o que você sabe disso, garoto? — questionei, cruzando os braços.
— Papai olhava assim pra mamãe — explicou. — Eu achava bonito.
— Eu não gosto do jeito que meu pai olha pra mim e nem pra minha mãe — Sophia confessou.
No instante em que Sophia soltou aquelas palavras, um arrepio cortou minha espinha como uma navalha, descendo até o estômago e se enrolando ali como uma pedra gelada. Meu coração disparou, e, por um segundo, senti como se o mundo tivesse parado. Inclinei o corpo para frente, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos unidas, como se fosse rezar — coisa que eu nunca fazia, nem quando ia à igreja com meus pais. Minha atenção estava completamente fixa na garotinha de cabelos loiros e faixa cor-de-rosa, que agora fingia estar mais interessada em rabiscar o livro do que no que acabara de dizer.
O silêncio parecia mais alto do que o habitual. Do tipo que sufoca, que pesa na cabeça e te deixa desnorteado.
Shane, ao meu lado, fechou o livro de Carl com tanta força que o som me fez pular. Ele o devolveu sem olhar diretamente para o menino, ajustou a calça sobre as coxas e inclinou-se para frente, imitando minha postura. Sua respiração veio pesada, carregada de uma mistura de raiva e ódio… Sei que ambos são quase a mesma coisa, mas era exatamente essa mistura que o músculo do seu maxilar travado indicava que borbulhava dentro do meu xarife.
— De que jeito ele olha pra você, Sophia?
— Ah, deixa pra lá… Eu acho que minha mãe tá me chamando.
A garotinha levantou apressada, meio desnorteada, com as bochechas ruborizadas, não se sabe se de vergonha ou medo. Andou de um lado para o outro, confusa. Shane segurou o pulso da menina, fazendo-a parar no lugar e encarar o Walsh.
— Sophia… — ele respirou, esfregando o rosto com a mão livre, sorriu nervoso e, então, mudou o tom, tentando soar mais calmo. — Conta pra mim… como é esse olhar do seu pai?
A garotinha me lançou um olhar que nem precisava de palavras. Era quase um grito por socorro, e meu estômago deu um nó ainda pior do que já estava. Não... Ele não podia. Aquele maldito não podia ter feito o que eu já temia desde o dia em que pus os olhos nele. Bater na Carol já era coisa de covarde, mas... molestar a própria filha? Deus, eu ia arrancar o pau dele com as minhas próprias mãos.
Respirei fundo, mas meu coração estava martelando tanto que parecia querer escapar do peito. Eu precisava manter a calma. Não por ele, Ed, eu queria mais que tivesse uma morte lenta, mas por ela, Sophia. Peguei os livros com cuidado e os entreguei para Carl, que me olhou confuso, mas não disse nada. Fiz um gesto suave com as mãos para Sophia, chamando-a, que hesitou, encolhendo os ombros, como se carregasse o peso do mundo nas costas a muito tempo.
— Vem cá, meu amor.
Depois de alguns segundos, ela se aproximou devagar. Apoiei as mãos nas suas axilas e levantei-a com cuidado, sentindo como ela parecia leve demais, como se estivesse desaparecendo aos poucos. Coloquei-a no meu colo e passei os dedos pelo alto da sua cabeça, tentando transmitir alguma segurança, mesmo que eu mesma estivesse tremendo de raiva.
— Sabe que pode confiar na gente, não é, Soso?
— Eu sei… é só que… minha mãe vai apanhar de novo se eu contar…
— Não vai, não. — A voz grossa de Shane cortou o pequeno espaço entre ele e a garotinha. — Garanto pra você que não vai acontecer mais nada disso.
— Mesmo?
— Com certeza, Sophia — afirmou, chegando mais perto de nós. O calor do seu corpo transmitia uma segurança gostosa.
Carl soltou os livros no chão e correu para o colo de Shane. Ficamos os quatro ali, pertinho um do outro, como se nos protegêssemos de algo.
— Ele… — Sophia começou, a voz tão baixa e trêmula que mal dava para ouvir. — Ele bebe, muito mesmo… e aí ele briga com minha mãe, sabe… porque ele vai pra bater em mim, mas ela me defende, ela não deixa. Eu já falei pra ela parar, pra ela deixar ele me bater, porque aí… ele não vai bater nela.
Senti a mão grande e forte de Shane apertar meu braço. Segurei Sophia mais apertada e, com o braço que era segurado por Shane, passei por cima das perninhas de Carl e busquei apoio no joelho do Walsh.
— Tem mais alguma coisa, Sophia? Que seu pai que você não gosta? — Shane perguntou, chegando ainda mais perto, a respiração quente saindo pelas suas narinas como a de um búfalo bravo.
— Sim…
— O que? — Acariciei suas costas devagar; a menina me olhou com os olhos marejados.
— As vezes que ele bate na minha mãe até ela desmaiar, ele… ele me arrasta pro meu quarto e… — A garotinha hesitou, balançando a cabeça em negação, visivelmente envergonhada.
— E o que, Sophia? Fala, pelo amor de Deus!
— Ele fica passando a mão em mim… Eu… — Sophia começou a falar, mas sua voz falhou no meio do caminho. Ela se virou apressada, alternando o olhar entre mim e Shane, como se procurasse em nós alguma forma de segurança. Uma única lágrima desceu por seu rosto, solitária e pesada, carregando tudo o que ela parecia não conseguir dizer. — Eu não gosto, tia! Eu juro que não gosto! Eu peço pra ele parar, falo que machuca, que é ruim, mas ele não para.
Minha respiração ficou presa na garganta.
— Ele diz que paga minha comida, minhas roupas… — continuou Sophia, a voz embargada e trêmula. — Diz que tem o direito de fazer o que quiser comigo e com a minha mãe.
Ela fez uma pausa, apertando os olhos com tanta força que quase parecia tentar apagar as memórias na marra.
— Um dia… — Sophia engoliu em seco, sua voz agora apenas um sussurro. — Ele falou que era pra eu chupar… Eu não queria. Eu nem sabia o que era pra chupar, mas… mas eu senti que tinha a ver com aquelas coisas que ele faz… as coisas que eu odeio. Eu falei que não. Disse que, se ele tentasse, eu ia gritar. Aí… ele me bateu. — Sophia hesitou, as palavras parecendo pesar toneladas. — Me bateu até eu desmaiar, igual faz com a minha mãe. Depois disso, fiquei uma semana sem ir pra escola…
— Meu Deus… — Shane rosnou, empurrando Carl do seu colo. Carl saiu em um salto rápido e ficou ali parado, sem saber exatamente o que fazer. Shane, por sua vez, andava de um lado para o outro, esfregando as mãos no rosto. Se fosse possível ver, diria que fumaça saía da sua cabeça e dos seus músculos.
Quando Shane parou diante de mim, o silêncio foi como uma bomba-relógio que ninguém sabia como desarmar. Seus olhos cravaram-se nos meus, e o que eu vi lá não era só raiva — era algo primitivo, cru, o tipo de fúria que faz você perder o controle, agir por impulso, sem pensar direito. Se eu não conhecesse Shane como conheço, talvez tivesse dado um passo para trás, porque aquele olhar poderia muito bem partir pedra ao meio.
Meus dedos formigavam, como se minha própria raiva precisasse de espaço para escapar. E, ainda assim, o pior não era o medo do que Shane faria. Era o fato de que, no fundo, eu queria que ele fizesse.
Shane era a tempestade que eu queria ver cair em cima daquele monstro de uma vez por todas. Ed não era só uma ameaça para Carol e Sophia; ele era um lembrete vivo de tudo o que há de mais podre neste mundo. Minha visão ficou borrada, tingida de vermelho, e, por um segundo, me perguntei se o ódio podia mesmo ser transmitido como uma corrente elétrica entre duas pessoas. Porque eu estava sentindo aquela sede de justiça fluindo viva entre mim e Shane.
— Vou matar aquele desgraçado! Vou bater tanto na cara dele até a cabeça dele explodir! — Shane rugiu, e o som fez meu coração pular no peito como se estivesse tentando escapar.
Eu não disse nada. Não precisava. Ele sabia, assim como eu, que eu estava com ele nessa.
— Não, tio! Por favor! Não faz nada! Ele vai bater na minha mãe depois! Por favor… por favor!! — Sophia se desesperou, saltando do meu colo e correndo para Shane, abraçando-o pela cintura.
O ex-xerife hesitou, apertando a boca em uma linha fina enquanto me olhava e depois abraçava Sophia.
— Ei, Soso! — chamei enquanto me levantava e me aproximava dela e de Shane. Toquei seu ombro com cuidado, e ela abriu os olhos que estavam fechados bem apertados e me olhou. Carl correu pra mim, me abraçando de lado, os olhos arregalados na direção da amiga. — Não vamos fazer nada, entendeu?
— Como não, Anya? Tá maluca? — Shane praticamente rugiu.
Ignorei a explosão dele. Não porque eu não ligasse, mas porque tinha algo mais urgente para resolver. Meu foco estava na pequena Peletier.
— Não vamos fazer nada com seu pai, mas, se você quiser, e se sua mãe concordar, podemos tirar vocês de perto dele. E nunca mais… eu disse, nunca mais aquele homem vai tocar em vocês duas de novo. Você gostaria disso, Sophia?
Por um instante, a menina ficou lá, segurando o choro como se isso fosse uma fraqueza; seus lábios tremiam bem devagar. Então, quase num sussurro, respondeu:
— Sim… gostaria.
Deus, como eu queria pegar aquela garota no colo e prometer que nada mais de ruim ia acontecer com ela. Mas promessas assim são perigosas, especialmente no mundo em que vivemos. Então fiz a única coisa que estava ao meu alcance: agir.
— Tá bom… — Respirei fundo, controlando a raiva que ainda borbulhava por dentro. — Então agora vai com Carl. Fica com ele na barraca da minha irmã. E, olha só, nada de contar pra ninguém sobre a nossa conversa. Entendeu?
Ela assentiu, os olhos ainda brilhando com lágrimas. Carluco, meu bebê lindinho, se aproximou dela, limpou o rosto da amiga com cuidado e a puxou para um abraço. Ele não disse nada, e não precisava. Às vezes, um gesto simples é tudo o que alguém precisa.
Foi ali que vi que meu menininho estava se tornando um grande homem.
Ficamos observando os dois caminharem juntos, sumindo pela trilha entre as árvores. Sophia parecia tão pequena ao lado dele, tão frágil. Meu coração pesava, mas também estava mergulhado em determinação. Faria o que fosse necessário para proteger aquela garota.
— Não vou ficar parado. — A voz de Shane cortou o silêncio. Ele coçava o queixo com os dedos, a testa brilhando de suor. O ódio que fervilhava dentro das suas veias era quase palpável.
— Eu sei. — Suspirei, virando para ele. — Não estou pedindo para você não fazer nada. Só me dá um tempo. Deixa eu tirar a garota e a mãe dela de perto daquela bosta primeiro. Depois você faz o que quiser. Mata ele com um tiro, queima a barraca com ele dentro, sei lá… seja criativo.
Shane piscou, como se não tivesse certeza se eu estava falando sério ou brincando.
— Tá falando sério? — Ele me encarou.
— Tô falando sério. — Respondi, cruzando os braços. Meu tom era firme, mas minha cabeça estava uma bagunça. No fundo, eu sabia que aquilo podia acabar muito mal. Mas, se fosse para proteger Sophia e Carol, eu estava disposta a arriscar.
Shane ia matar aquele desgraçado e, sinceramente, eu estava completamente fechada com o xerife Walsh nessa. Ed merecia cada soco, cada chute, cada mísero segundo de dor que Shane tivesse a oferecer.
Daryl apareceu do nada, como sempre, com aquele olhar meio desconfiado.
— O que tá acontecendo? — perguntou, a voz grave cortando.
Eu e Shane viramos a cabeça ao mesmo tempo. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Amélia veio correndo na minha direção, quase me derrubando com o impacto do abraço.
— Dixon, precisamos conversar. Vamos ali, rapidinho... — Shane falou, já começando a andar, esperando que Daryl o seguisse.
Daryl lançou aquele olhar estreito para mim, o típico "tem algo que você não está me contando", e depois para Shane, antes de segui-lo. Eles desapareceram entre as árvores que levavam até o riacho, deixando um rastro de tensão no ar.
Amélia me segurou pelos ombros, os olhos arregalados e cheios de perguntas, mas que ainda não tinham entendido a gravidade do que acontecia e do que estava prestes a acontecer.
— Amiga, vai acontecer algo grande?
— Vai, amiga... um assassinato.
E eu esperava que fosse bem sangrento.
☆《▪︎▪︎▪︎》☆
— Não… a Sophia não sabe do que fala… ela… ela sonhou com essas coisas, ela…
Carol andava de um lado para o outro dentro da barraca, os dedos cravados nos cabelos curtos, como se quisesse arrancá-los. Não era descaso; isso ficou bem claro. Era medo. Aquele tipo de medo que gruda na pele, no olhar, que faz a voz sair quebrada e os ombros desmoronarem. E tudo isso por causa de um merdinha que deveria ter virado comida de zumbi no primeiro dia desse apocalipse.
O sol estava morrendo no horizonte quando finalmente caminhei até a barraca dos Peletier. Minha cabeça ainda pulsava por causa da conversa de mais cedo. Foi difícil acalmar Shane; quer dizer… a palavra "difícil" nem arranha a superfície do que foi mantê-lo na linha até conseguir conversar com Carol.
Shane Walsh era uma tempestade ambulante, os olhos cuspindo fogo como se fossem dois vulcões em erupção, os músculos tensionados prontos para explodir. Ele parecia uma dinamite com o pavio quase no fim e, sinceramente, eu não sabia se admirava isso ou se me preocupava mais. Talvez as duas coisas.
Sophia passou o dia todo na barraca de Lori, escondida com Carl e Amélia. Depois que expliquei para Amélia o que aquela garotinha e sua mãe viviam, ela concordou em ajudar sem nem pensar duas vezes. Amélia era assim, uma espécie de anjo da guarda que não precisava de asas, mas que sabia usar um taco de beisebol quando necessário.
Eu não tinha muito tempo. Não dava para sentar e convencer Carol com calma; Ed não era o tipo de homem que nos dava esse luxo. Depois do almoço, fiquei plantada quase em frente à barraca deles, fingindo que organizava umas latas, mas de olho em cada movimento dele. Parecia uma sentinela, vigiando, esperando a chance perfeita.
Quando ele finalmente saiu, indo em direção ao riacho com aquele andar pesado e arrogante, eu soube que era minha única oportunidade. Carol hesitava até para me olhar, como se a sombra dele estivesse colada nela e na lona daquela barraca, até mesmo à distância.
— Carol, querida… — chamei, colocando-me no seu caminho. Não era o jeito mais delicado, mas a situação como um todo era urgente. Como vocês sabem, eu tinha pouco tempo. — Eu sei que está com medo.
Ela tentou desviar o olhar, mas eu não deixei. Inclinei-me ligeiramente para frente, forçando-a a parar e me encarar.
— Mas não precisa confessar nada, não precisa dizer uma palavra. Só me deixa te ajudar. Vamos arrumar suas coisas, as da Sophia… Deixa eu e o Shane cuidarmos de vocês. O Ed nunca mais vai ter poder sobre vocês duas.
— Não é tão simples assim… — murmurou Carol, a voz quase se perdendo no vento. Seus olhos brilharam com lágrimas que ela claramente tentava segurar, mas a verdade é que já estavam transbordando sem que ela fizesse qualquer esforço. — Ele ainda vai estar aqui. Quando vocês não estiverem vendo… ele… ele… Ele vai me pegar, e pior, vai pegar a Sophia!
Suas palavras começaram a se misturar com um choro contido, a respiração irregular, como se ela estivesse tentando engolir o pânico. Suas mãos tremiam, unidas à frente do rosto, quase como uma súplica silenciosa.
Meu coração apertou de um jeito que quase não conseguia respirar. Por um instante, a raiva me consumiu, mas não era hora de sentir isso; precisava me conter, precisava ser racional. Segurei em seus ombros com firmeza, apertando o suficiente para que ela sentisse que eu estava ali, que ela poderia desmoronar, que eu não a deixaria cair.
— Ei, olha pra mim. — Minha voz saiu firme, como uma promessa que eu estava prestes a fazer ao universo. Era uma promessa perigosa? Sim, mas eu daria minha vida para que se tornasse realidade. — Ele não vai mais tocar em vocês.
Carol ainda tentou desviar o olhar, mas a chacoalhei de leve, apenas o suficiente para fazê-la me encarar.
— Ed não vai pensar, nem cogitar chegar perto de vocês. Shane já montou uma barraca pra vocês, bem entre a minha e a dele. O Daryl e a Amélia trouxeram as deles para perto também. — Soltei o ar, percebendo que estava segurando a respiração. — Vamos cuidar de vocês, Carol. Eu juro. Todos nós vamos te proteger.
Disse aquilo olhando no fundo dos seus olhos, sustentando o peso do desespero que vi ali no fundo das suas íris. Não era só sobre Ed, não era só sobre hoje. Era sobre anos de medo, de submissão, de subjugo. Ela precisava acreditar em mim, porque, se não acreditasse… bem… eu teria de pensar em um plano B, e eu não tinha um plano B a não ser esperar Shane e Daryl dar cabo daquele cuzão.
Carol hesitou, mordendo o lábio como se estivesse tentando engolir as palavras antes que elas escapassem. Só que, dessa vez, não conseguiu. O choro veio alto, quebrado, do tipo que fazia o peito apertar e os olhos arderem de raiva. Eu odiava choro. Isso me fazia sentir impotente. E ouvir Carol desabar daquele jeito era a prova viva de que o mundo tinha ido para o inferno bem antes dos mortos começarem a andar.
O babaca que jurou amá-la? Espancava-a há sabe-se lá quanto tempo. E, como se não bastasse, ainda tinha o extra nojento de abusar da própria filha. Sério, se existisse justiça nesse mundo, ele estaria apodrecendo numa cela apertada com uns caras que fariam ele entender muito bem o significado de terror.
Mas não, Ed estava solto, por aí, como se fosse apenas mais um pai de família, e isso... isso fazia meu sangue ferver.
Quando as pernas dela cederam, eu nem pensei. Só estiquei os braços e a segurei antes que ela desabasse no chão. Carol tremia como se todo o sofrimento estivesse tentando criar rachaduras e escapar de uma vez só.
— Merda... — murmurei, sentindo aquele nó se formar na garganta.
Sentei-me no chão da barraca. Puxei Carol para perto, deixando que ela chorasse no meu ombro, enquanto minhas mãos desenhavam círculos lentos nas costas dela.
— Deixa sair, Carol — sussurrei. — Se tem algo que você precisa colocar pra fora, coloca agora.
Não sabia se ela estava desabafando ou só desmoronando. Talvez os dois. Mas, naquele momento, tudo o que eu podia fazer era estar ali. Porque, droga, ninguém deveria carregar aquilo sozinha.
O choro dela era mais do que lágrimas; era como se a alma de Carol estivesse caindo, pedaço por pedaço, enquanto ela se agarrava a um fio de coragem. Era a dor de uma mulher que tinha sobrevivido por pura força bruta, engolindo tudo calada. Quantas vezes ela deve ter encarado a morte, pensando que talvez fosse melhor assim, que, pelo menos, seria o fim do inferno que Ed transformou a vida dela?
Mas não seria o fim. Não enquanto eu estivesse aqui. Não enquanto Shane e Daryl respirassem o mesmo ar que ele. A gente ia dar um jeito nisso. Carol e Sophia iam ficar bem. Não importa o que precisasse acontecer.
Seu choro foi diminuindo, até virar só uns soluços baixos. Carol se levantou, a cabeça baixa, passou as mãos pelo rosto, como se quisesse apagar qualquer evidência de fraqueza. Quando olhou para mim de novo, o sorriso dela era pequeno, meio forçado, mas estava lá, ganhando força, renascendo.
— Você me ajuda a tirar nossas coisas daqui?
— Claro que sim. Mas precisamos ser rápidas. Quando aquele desgraçado perceber o que está acontecendo, você e Sophia já têm que estar com a gente.
Começamos a arrumar as coisas de qualquer jeito; Carol e eu jogávamos as roupas e pequenos pertences em sacolas como se estivéssemos correndo contra o tempo. Havia algo diferente nela enquanto fazia isso: um riso leve escapava aqui e ali, como se, pela primeira vez, ela estivesse respirando ar puro depois de anos sufocada. Carol estava saindo das sombras, tentando encontrar uma versão esquecida de si mesma.
Mas é claro que Ed não deixaria isso barato.
Os gritos de Sophia nos atingiram como um soco no ouvido. Ela gritava para ele parar, implorando para que soltasse seu braço, que a estava machucando. Carol ficou paralisada, como uma estátua prestes a ceder, enquanto eu lutava para processar a raiva que começava a subir como veneno pelas minhas veias.
Ed entrou na barraca arrastando Sophia como se ela fosse um saco de batatas. Jogou a menina de lado com tanta brutalidade que a fez quicar no chão e gritar; em seguida, se encolheu no chão, choramingando e abraçando os próprios joelhos. Meu coração apertou ao olhar para ela. Carol me lançou um olhar de puro pavor.
E então Ed falou.
— Carol! — Seu grito foi cortante, carregado de uma autoridade patética que só um covarde como ele poderia reivindicar. A Peletier tremeu por inteira, as sacolas caíram de suas mãos e, por um segundo, tive que me segurar para não agarrá-lo pelo pescoço. — Então é essa vadia que anda enfiando besteiras na cabeça da menina?
O jeito como ele tombou a cabeça para o lado e me olhou… aquele olhar nojento, cheio de malícia barata. Era o tipo de olhar que fazia a pele da gente querer sair correndo do próprio corpo. Só pra não ficar perto nem sob o mesmo teto que aquele asqueroso.
Dei um passo à frente, ignorando o coração que batia com força o suficiente para me ensurdecer. Coloquei-me na frente de Carol, sentindo o peso da fúria crescendo em mim.
— Eu prefiro ser uma vadia, bem suja e bem sem vergonha, do que um porco pervertido como você, Ed. Estou tirando sua ex-esposa e sua ex-filha de perto de você. E espero, sinceramente, que você seja esperto o suficiente para se manter bem longe delas.
Parei por um momento, deixando as palavras pesarem no ar. Então acrescentei, baixando o tom de voz:
— Porque se você não for… você vai ser um homem morto.
Sua mão grande e gorda foi apertada em torno do meu pescoço, praticamente me erguendo do chão, rindo daquele jeito presunçoso.
— Tá me ameaçando?
— Não… — murmurei com dificuldade. — É um aviso…
Aquela risada nojenta do Ed foi a cereja do bolo do meu ódio. Ele cuspiu na minha cara. Cuspiu.
O cheiro era tão podre quanto a alma dele.
Fechei os olhos, segurando a respiração para não engolir aquilo nem por acidente. Quando dei por mim, já estava no chão, jogada como um saco de lixo. A dor do impacto era uma coisa; o ódio era outra. Porque, naquele momento, tudo que eu queria era arrancar a cara dele com as unhas e esfregar no chão até não sobrar nada, nenhum pedaço de pele para reconhecimento facial.
Ed foi direto para a Carol. O filho da puta caminhava como se fosse o dono do mundo, porque, né? Um covarde sempre se acha o maioral, o melhor, o poderoso. Pobre coitado, nem o diabo ia querer aquele merdinha no inferno.
Porém... até onde ele iria desta vez? Eu sabia que Ed batia na Carol e na Sophia, mas ver aquilo ali, ao vivo? Era diferente. Carol caiu com o primeiro soco, chorando, tremendo. Ela olhou para cima e o sangue escorreu da sua boca. Ed se curvou sobre ela e deu mais um soco, na barriga agora, fazendo a mais velha gemer de dor… DESGRAÇADO, EU MESMO IRIA MATÁ-LO.
Olhei para a entrada da barraca. Tinha gente lá. Minhas "queridas" mãe e irmã, Suzi e Lori, as campeãs da moral e dos bons costumes, só assistindo. Grande ajuda aquelas duas moralistas estavam dando, a plateia de uma tragédia. Era isso que elas aprendiam na igreja?
Havia mais alguns moradores do acampamento, todos murmurando coisas baixas, mas ninguém tinha coragem de agir. NINGUÉM!
Me virei para Sophia, que tremia, e falei baixo, ordenando:
— Corre, Sophia. Vai chamar o tio Shane e o tio Daryl. Agora.
— Mas... eu não sei onde eles estão! A minha mãe... ele vai matá-la!
A voz dela quebrou, amedrontada, o que me fez querer ainda mais quebrar aquele desgraçado no mesmo instante. Mas engoli a raiva, porque Sophia precisava ir.
— Eles devem estar perto da barraca nova. Rápido. Eu cuido da sua mãe. Vai!
Ela só assentiu, com lágrimas descendo pelo rosto avermelhado, e saiu correndo. Eu fiquei lá, sozinha, sentindo meu coração bater mais rápido do que o rugido do motor de um carro de corrida. Talvez eu morresse tentando. Mas uma coisa era certa: não ia ficar parada. Nunca fui boa nisso.
Retirei o canivete do bolso, sentindo o metal frio na palma da mão. Minhas pernas tremiam, não de medo, mas de pura adrenalina. Com um movimento rápido, abri a lâmina. Levantei devagar, cada músculo do meu corpo gritando como se estivesse pegando fogo. Era como se o inferno tivesse se mudado pra dentro de mim, e sinceramente? Eu estava pronta pra ser o diabo naquele momento.
Carol estava quase apagada. A boca dela se movia, mas nenhuma palavra saía. A cada segundo, o ódio dentro de mim crescia como uma onda, pronto para engolir e devastar tudo. Respirei fundo e dei um passo, depois outro. Não tinha plano, só aquele ódio queimando no meu peito. Peguei impulso, me joguei nas costas de Ed e enfiei meu braço no pescoço dele como se quisesse arrancar o ar com as próprias mãos.
Ele grunhiu e tentou me tirar de cima, mas eu não ia sair. Não ia permitir. Aquele desgraçado não ia tocar em mais ninguém. Nunca mais.
— Sua vadia desgraçada! — gritou. — Você me paga, sua maldita.
— Não, Ed, quem me paga é você… — murmurei perto do seu ouvido.
Ergui a mão com o canivete, apertando o cabo fino entre os dedos que tremiam. Não era medo, era raiva.
A lâmina foi direto em seu pescoço, não cortou de primeira. Merda! Tentei de novo, mais forte, mais rápido, com mais raiva. Furei e furei, até a dor nas minhas mãos ser só o reflexo do ódio, até o sangue dele começar a cobrir tudo: o rosto dele, minha mão, Carol, o chão da barraca. Não pensei, não raciocinei. Só continuei. Cada facada era por ela, pela mulher quase apagada caída no chão, uma resposta a tudo que ele fez e a tudo que ele foi.
O som do golpe cortando, a carne cedendo, o sangue jorrando, era tudo que eu ouvia. Não conseguia parar. Aquele maldito tinha que pagar; ele não ia sair impune. Eu não ia deixar.
Quando Ed perdeu a força nas pernas e parou de lutar, ele caiu para trás em cima de mim. Foi como se todo o peso do mundo tivesse caído sobre meus ombros. Ele ainda tremia, ainda tentava respirar, mas, depois de alguns segundos, não conseguiu mais. Pude sentir a vida se esvaindo dele enquanto o sangue aquecia minha pele e molhava minha roupa. Por fim, tudo ficou quieto. Não havia mais nada.
— Meu Deus, Anya! O que você fez?
A voz da minha mãe ecoou, mas eu nem olhei. Não estava nem aí para ela naquele momento. Não queria ver. Só queria continuar ali, sentindo meu coração batendo rápido demais, como se fosse pular para fora do meu peito.
— Anya! Você tirou uma vida!
Lori, claro, sempre com a moralzinha dela. Fui capaz de ouvir a voz dela no fundo da minha cabeça, mas não consegui me importar.
Passos se aproximaram, mas eu continuei ali.
O corpo de Ed foi retirado de cima de mim.
Então, senti mãos no meu rosto, me segurando, tocando meus cabelos como se eu fosse algo quebrado. Abri os olhos, e lá estava Shane, os olhos dele me percorrendo, me sondando, a agonia clara em seu rosto.
— Esse sangue é seu? Ele te machucou? — A voz dele quase saiu em um grito.
Daryl apareceu logo depois, se abaixando ao meu lado, me analisando com cuidado.
— Não. — A resposta saiu rouca, como se minha garganta tivesse sido rasgada. — Esse sangue é dele.
Shane não falou nada por um momento, só ficou ali, tentando entender o que tinha acontecido. Então, ele sussurrou, e pude sentir a tensão na voz dele.
— O que você fez, Anya?
Respirei fundo e confessei a coisa mais simples e lógica que passou pela minha cabeça.
— Ele ia matar a Carol. Então, eu o matei.
Observei o corpo do maldito virado de lado, sem vida. Eu tinha matado alguém… Nunca imaginei que fosse capaz de fazer tal coisa. Mas, tratando-se das circunstâncias e de quem era, não me arrependia. Com certeza, faria tudo de novo.
🍫🌶《▪︎ Oi oi meus beberes! como vcs estao? espero que estejam bem!!! Primeiro capítulo do ano postado com sucesso! Desculpem a demora, mas não taaaaoa simples escrever os capítulos, levo cerca de 3 dias pra conseguir concluir um cap de cerca de 5k de palavras. Fora as 2 revisões e a correção ortográfica e de pontuação.
🍫🌶《▪︎ Como foi a virada de ano de vcs???
🍫🌶《▪︎ Sei que vocês querem a metelancia logo, mas os acontecimentos desse capítulo vai ser o ponto chave pra aproximação final dos nossos divos.
🍫🌶《▪︎ Anya foi gigante aqui, não foi??? O que vcs acharam??
🍫🌶 《▪︎ Não esqueçam dos meus comentários em!!!! quem nao comentar bastante vai ficar sem namorado(a) pra sempre. E o voto tbm.
🍫🌶《▪︎ Como vocês podem perceber, não estou seguindo os acontecimentos da serie, então não se prendam a cronológica de lá, até pq, se eu fizesse tudo igual, qual sentido de escrever?? Eu amo criar e dar novos plots, então... se preparem! Muita coisa vai mudar!
Bjos Mama Hana. 🫶🏻
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