☆《 NO MORE GAMES》☆

☆《 Shane Walsh 》☆

Quanto tempo havia se passado? Para ser honesto, eu não fazia a porra da ideia. Mas, olhando para o estado daquela despensa que começava a esvaziar, diria que dava para chutar um mês... talvez mais, talvez menos.

Viver ali, no meio daquela gente, todo mundo espremido em barracas, sem privacidade e sem um pingo de segurança, estava acabando comigo. Cada dia que passava parecia mais difícil segurar a porra do meu pavio. Qualquer coisinha já me deixava à beira de um surto. Mas sabe o que mais me irritava? Parecia que só eu estava puto com tudo aquilo. O resto? Seguia rindo, vivendo, como se fosse só uma fase, como se isso fosse passar logo.

Idiotas.

A gente sabia que não ia passar. Eu sabia. Toda vez que ligava o rádio e ouvia aquele chiado maldito, era só mais um lembrete: não tinha governo, não tinha polícia, não tinha resgate.

Era cada um por si. Eu já tinha entendido isso desde o bombardeio em Atlanta. Mas eles não. Ainda achavam que o exército ia aparecer como um cavaleiro num conto de fadas. A esperança deles era tão estúpida que chegava a ser engraçada... se não fosse tão irritante.

Bom, pelo menos os zumbis ainda não tinham encontrado a gente ali. Mas isso também era questão de tempo, e eu sabia disso. O problema é que não sabia se aquele bando estava pronto para enfrentar o que vinha. A maioria nunca tinha encarado essas coisas de perto. Não de verdade. E, francamente? Quando chegasse a hora, eu tinha dúvidas se conseguiríamos segurar a barra.

Tudo aquilo era uma loucura, uma grande merda que parecia ter sido despejada sobre nós de um helicóptero. Caía direto na cabeça, sem aviso, espalhando o caos. E, como se não bastasse, tinha ela... Anya. Aquela garota estava mexendo com a minha cabeça de um jeito que eu não sabia lidar. Não era pra ser assim, não era pra eu me sentir tão... preso nela. Eu nem era desse tipo, caramba. Mas, por mais que eu tentasse manter a distância, parecia que ela sempre estava ali. Perto. Demais.

Esses dias, sonhei com ela. Porra. Não era um sonho qualquer. Ela estava nua, de quatro pra mim, com aquela bunda que me fazia perder o foco arrebitada. Acordei num pulo, o coração disparado, o pau duro como o de um moleque de quinze anos. Desde então, toda vez que eu olhava pra ela, aquela imagem voltava e fazia o sangue ferver nas veias.

Ela sabia. Eu via isso no jeito que me olhava, como quem desafia, como quem quer ver até onde pode ir sem tocar no fogo. Era aquele sorriso de canto, o olhar que demorava um segundo a mais antes de desviar. Anya estava jogando comigo, e eu... eu queria jogar de volta.

Queria ela, pra caralho. E sabia que ela me queria também.

Mas querer não bastava. Não ali, não agora. Eu precisava manter o controle. Precisava ser mais esperto do que isso. Tinha muita coisa para dar conta, assuntos mais importantes que precisavam da minha atenção; o meu tesão acumulado era algo que poderia esperar.

Eu tinha acordado com um mau humor do caralho. Os mosquitos não me deixaram em paz a noite toda; mal tinha conseguido pregar o olho. O sol estava quente de um jeito que parecia ser única e exclusivamente para me irritar.

Ainda era de manhã e eu podia sentir as gotas de suor escorrendo pela minha costa e grudando a camiseta preta na minha pele. A única coisa pior do que aquele calor, que parecia ser soprado pelo próprio Satanás, era a dispensa quase vazia. Precisávamos sair, arriscar, tentar. Qualquer coisa era melhor do que esperar a fome fazer a escolha por nós — ou a morte.

Apontei para o ponto circulado no mapa aberto sobre a carroceria da picape de Daryl e disse:

— Acho que o ideal seria irmos primeiro até as cidades pequenas, bairros, vilas, fazendas. O povo estava indo para Atlanta. Esses lugares estarão vazios.

— Concordo, mas não sabemos como estão as estradas. Pode ser arriscado. — Glenn rebateu, cruzando os braços e me encarando.

Eu olhei para o mapa aberto sobre a carroceria, as marcas rabiscadas nele parecendo mais promessas quebradas do que soluções. Endireitei a coluna, cruzei os braços e olhei para o coreano de lado, mas foi Daryl quem respondeu primeiro, balançando a cabeça em negação enquanto ajeitava a crossbow sobre o ombro.

— Arriscado vai ser ficar aqui e acabar sem comida. Não fiquem contando com minha caça. Às vezes dá sorte, às vezes não.

— Eu sei disso, mas estou dizendo que seria interessante primeiro fazermos o reconhecimento dos caminhos até os locais que queremos ir. Se deixarmos as estradas desimpedidas, as chances de uma busca bem-sucedida triplicam — explicou Glenn, o dedo traçando um possível caminho no mapa.

Dale, que observava em silêncio até então, assentiu devagar e ajeitou o chapéu.

— O garoto tem razão. Uma dupla, talvez um trio, pode dar conta disso.

Passei a mão na cabeça, sentindo o suor escorrer pela nuca. Era o tipo de ideia que fazia sentido no papel, mas não na prática. Pra falar a verdade, na prática parecia ser morte certa.

— Beleza, suponhamos que a gente faça isso. Não dá pra saber que, enquanto vocês voltam, o grupo da busca não encontre a estrada bloqueada de novo, por zumbis ou qualquer outra merda.

— São riscos, Shane. Riscos que temos que correr agora.

Franzi a testa, testando ele.

— Você iria? Lideraria isso?

— Eu vou. Levo o T-Dog e o Daryl comigo.

— Não, o Daryl não. Preciso dele aqui, caçando. Não posso permitir que leve ele. — Respondi antes que ele pudesse concluir.
— Eu vou. — Dale se ofereceu, como se a proposta de Glenn fosse algo tão simples quanto trocar o óleo do velho trailer ou ajustar aquele chapéu de pescador sobre sua cabeça.

Virei para ele, falando mais baixo, porém mais firme.

— É perigoso, Dale.

O senhor arqueou as sobrancelhas, desafiador.

— Por quê? Só porque eu sou velho?

— Exatamente por isso. — Acabei rindo sem querer.

— Deixa, o velhote aí sabe se cuidar. É mais saudável que eu e o Merle juntos. — Daryl soltou, dando uma risada curta e jogando uma das mãos no ar enquanto falava.

Não falei mais nada, apenas fiz um aceno na direção de Glenn, que logo entendeu como um pedido para que continuasse as explicações do que ele tinha em mente. Mas, antes mesmo que ele pudesse abrir a boca e começar as explicações sobre rotas e afins, meus olhos acabaram parando em outra coisa, outra pessoa.

Anya saiu da barraca com Amélia, erguendo os braços para cima numa espreguiçada que fez a regata subir só o suficiente para mostrar a barriga lisa e aquele maldito piercing brilhando no sol. Porra… golpe baixo, Anya. Golpe muito baixo.

Ela tinha aquela beleza que não era só de olhar — era de sentir, como um soco no peito. Irritante pra caramba, porque eu não queria sentir isso, mas não tinha como escapar. Era mais forte que eu.

O jeito como ela andava, como mexia a cabeça e falava qualquer coisa para Amélia, tudo nela parecia chamar minha atenção. Quadris balançando na medida certa, sorriso de canto que aparecia sem esforço, e aquele olhar que pegava a luz como se o sol fosse dela. Eu estava ferrado. Desde o primeiro dia. E quanto mais eu tentava ignorar, mais ela parecia se infiltrar.

Dale pigarreou ao nosso lado, mas não olhei para ele; eu estava ocupado demais com uma visão muito melhor do que a cara enrugada de Dale.

— Ei! Seus dois marmanjos… estão olhando o quê?

— Nada! — Eu e Daryl respondemos ao mesmo tempo, quase sincronizados.

Glenn começou a rir, balançando a cabeça.

— Vocês dois estão parecendo cachorros vira-latas de rua, olhando os de raça desfilando com suas comidas.

— Cala a boca, China. — Daryl rebateu, rápido e irritado.

Eu ri de canto, tentando recuperar a compostura.

— Isso aí, quietinho, japa.

— É coreano, gente! Qual a dificuldade de entender? — Glenn retrucou, revirando os olhos.

Levantei a mão, encerrando a conversa.

— Tá bom. Vai arrumar suas coisas, conversa com o T-Dog e amanhã vocês partem.

— Você nem ouviu o que eu acabei de dizer. — Glenn reclamou, cruzando os braços.

— Claro que ouvi. — Afirmei, fazendo uma careta orgulhoso.

— O que foi então?

Olhei para ele, erguendo uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, meus olhos se desviaram novamente para Anya, agora de costas, desaparecendo entre as árvores.

— Muitas coisas... — Resmunguei, mais para mim do que para ele.

A conversa continuou, mas eu não conseguia me concentrar em mais nada. Anya estava lá, dominando minha mente. Eu me forcei a voltar para a realidade, mas a sensação de estar completamente fora de controle não passava. Quando a conversa finalmente acabou, eu ainda estava preso com os pensamentos nela, nas imagens que não saíam da minha cabeça. E eu sabia que isso só ia piorar.

Precisava tomar uma atitude, ou iria acabar enlouquecendo.

☆《▪︎▪︎▪︎》☆

— Elas precisam aprender a atirar. — Murmurei, cortando o silêncio desconfortável que se estabeleceu entre mim e Daryl. Segurava minha Glock carregada, ativando e desativando a trava de segurança com o polegar, uma mania difícil de largar.

A tarde estava mais quente do que aquela manhã, e o reflexo nas pequenas ondulações do riacho parecia mais com reflexos da luz em uma lâmina. O som da água correndo e quebrando contra a margem do rio e as grandes pedras ao fundo era quase relaxante… quase.

Daryl e eu estávamos em um ponto mais alto, de onde dava para ver tudo. As mulheres lavavam roupas lá embaixo, rindo como se o mundo ainda fosse um lugar seguro. Eu sabia que não era, e Daryl também.

Daryl olhou para mim de canto de olho, enquanto terminava de ajeitar uma flecha na ponteira da sua crossbow.

— Tá na hora mesmo. Vai ser mais seguro pra todo mundo. E não vão precisar de nós pra tudo.

— Se eu der umas aulas, você ajuda? — perguntei.

Daryl riu de leve, um som curto e seco.

— Achei que você não gostava de mim o suficiente pra isso.

Suspirei, encarando a água que corria lá embaixo. Não era fácil engolir o orgulho, mas fazia parte. Estava errado sobre Daryl, mas não sobre Merle Dixon; aquele cara era um merdinha, e eu o queria longe, bem longe.

— Tá, eu admito. Errei sobre você. Pensei que fosse igual ao Merle. Isso não foi justo contigo.

O Dixon mais novo ficou quieto por um instante, ainda me olhando de lado, a cabeça levemente inclinada pra frente, como se me avaliasse e ponderasse sobre minhas palavras. Ele ajeitou a crossbow nas costas, o silêncio ficando pesado entre nós. Então, finalmente, Daryl falou:

— Não sou ele. Nunca fui.

— Eu sei — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia. Dei um passo à frente, olhando no fundo dos olhos do Dixon. — Essas pessoas… Elas pensam que vai haver um amanhã igual ao que vivíamos, mas eu e você sabemos que nada nunca mais vai ser como era antes. Preciso de ajuda para fazer isso aqui funcionar… E, levando em consideração que eu não sou de pedir ajuda para ninguém, estar lhe dizendo essas coisas diz muito sobre o que penso a respeito de você.

Ele assentiu devagar e, em um movimento rápido, tirou um cigarro e um isqueiro do bolso traseiro da calça. Fez um casulo com uma das mãos e triscou o isqueiro algumas vezes, até uma pequena chama ser criada na ponteira do objeto. Daryl tragou uma vez, soltando a fumaça pelo canto da boca, sem ao menos tirar o cigarro dos lábios.

— De boa… tamo junto.

E aquele era o máximo que eu conseguiria de um Dixon.

Ia encerrar a conversa, mas um som vindo lá de baixo chamou nossa atenção. Anya e Amélia estavam na água, molhadas até os joelhos, rindo como se nada mais importasse. Amélia jogou água em Anya, e ela revidou, aquele sorriso brilhando mais que o sol refletido no riacho.

Engoli em seco. Olhei para Anya por mais tempo do que devia. O cabelo preso de qualquer jeito, os fios caindo no rosto, grudados na pele suada. Tinha algo nela que fazia tudo parecer... menos podre. Ela era diferente.

— Parece que algumas pessoas ainda sabem se divertir — Daryl comentou, com um meio sorriso.

— Elas fazem tudo parecer mais... — Fiz uma pausa, procurando as palavras.

— Fácil? Real?

— É, isso. — Concordei, travando a Glock antes de guardá-la na cintura.

Cruzei os braços e continuei observando. Era minha função estar atento. Normal ficar de olho em uma delas mais que nas outras, certo?

— Você tava encarando a Amélia mais cedo. — Falei, sem tirar os olhos do que me interessava.

— E você, a Anya.

— Amélia é irmã do meu melhor amigo. É como se fosse minha própria irmã. — Inclinei o corpo para trás, olhando para ele de lado. — Então, Dixon, tome cuidado com essas mãos de caçador.

Daryl deu uma última tragada no cigarro, o final quase queimando os dedos.

— Falou o xerife que não tira os olhos da mocinha.

— Estou cuidando do grupo. Não dá para cuidar sem olhar, não é?

Ele só riu baixo, como se soubesse mais do que devia. E, talvez, soubesse mesmo.

Antes que eu pudesse responder, senti um olhar pesado sobre mim. Andrea tinha se aproximado da ponteira do pequeno penhasco. Ela deu um giro sugestivo em torno de si mesma, amarrou os cabelos em um coque desajeitado e, quando se virou para nós, abriu alguns botões da camisa, deixando o decote à mostra. Quando sorriu, aquele tipo de sorriso que ela achava que funcionava, era impossível não notar a intenção clara ali.

Mas, em vez de sentir qualquer coisa que ela devia estar tentando provocar, o que veio foi apenas um aperto no peito. Eu a encarei, sério, sem sorrir de volta.

Olhei para Anya de novo. Andrea era bonita, disso eu sabia. Todo mundo ali sabia. Mas era o tipo de beleza que queimava rápido, que não deixava calor depois. Um fogo que iluminava, mas não aquecia. Anya, por outro lado… me queimava sem nem ao menos estar perto. Ela não precisava de artifícios, nem de gestos ensaiados. Só de estar ali, daquele jeito dela, fazia tudo parecer mais fácil, mais certo. Como se ela fosse algo que eu nem sabia que precisava até encontrar.

Daryl limpou a garganta ao meu lado, trazendo minha atenção de volta.

— E então, Shane? O que a gente vai fazer?

Eu sabia que o Dixon não estava falando das aulas de tiro. Mas não admiti. Mudei de assunto, fui covarde.

Tirei a Glock da cintura outra vez, destravei, engatilhei e mirei. Apertando-a na mão, prendi o pensamento antes que escapasse ainda mais. Respirei fundo, deixando a tensão sair com o ar.

— Vamos ensinar elas a lutar. Mas do jeito certo.

E com isso, deixei a Andrea e qualquer coisa que ela achava que podia significar para trás. Concentrei-me no que realmente importava.

☆《▪︎▪︎▪︎》☆

Estávamos na parte mais afastada do acampamento, cercados por árvores altas que dançavam com o vento. O cenário era perfeito para o que Daryl e eu tínhamos planejado: ensinar o grupo a se defender. O som de tiros ecoava pelos troncos, e o cheiro de pólvora começava a se misturar ao ar quente. Mas, mesmo com todo aquele ruído, meu foco não estava nos alvos ou no que Lori dizia. Meu foco era, como sempre, em Anya.

Ela estava ao lado de Amélia, um pouco afastada, como se preferisse observar de longe. Era o tipo dela, sempre tentando parecer indiferente, mas eu sabia que ela prestava atenção. Sempre prestava.

— Olha, a primeira coisa que você precisa saber: segure a arma direito. Não é difícil, mas tem que fazer certo. A pegada tem que ser firme, mas sem exagero. — Movi minhas mãos, segurando a arma com precisão, mostrando para todo mundo como a coisa devia ser feita. — A mão dominante vai no punho da arma, a outra fica mais para frente, no trilho ou no guarda-mão. Seus dedos não podem estar perto do gatilho até que você esteja pronto para atirar. A arma não vai fazer nada se você não apertar o gatilho. Então, não precisa ter medo.

Minha voz soava calma, quase paciente, mas por dentro eu me perguntava quantas delas realmente estavam absorvendo aquilo.

Lori era rápida, sempre foi. Anya parecia superinteressada, mas Andrea tinha um olhar que me deixava impaciente, como se estivesse aqui mais para me observar do que para aprender. E Suzi... bem, não era por mal, mas dona Suzi era exatamente o tipo de pessoa que eu não queria com uma arma na mão.

Mas, ainda assim, seguimos. TODOS ALI PRECISAVAM, AO MENOS, SABER MIRAR, APERTAR O GATILHO E MATAR ALGUMA COISA.

Daryl se aproximou, calado, ajustando sua arma. Quando ele começou a falar, percebi o quanto as garotas o encaravam, especialmente Amélia. Ela parecia hipnotizada, mas não pelo que ele dizia — os olhos dela estavam fixos nos músculos do caçador enquanto ele movia os braços.

— Agora, o recuo. Toda arma vai ter um pouco disso. Quando você atira, ela empurra pra trás. Se você não segurar direito, vai perder o controle e pode até machucar a mão. A chave aqui é não deixar a arma pular dos seus dedos. Mantenha o braço firme, ombro relaxado e sempre dê um pequeno ajuste se a arma começar a desviar — explicou, com aquele tom tranquilo, mas autoritário, que fazia até eu parar pra ouvir.

Explicamos sobre o restante dos mecanismos, a posição e demais aspectos, como a trava e o pente da arma, e seguimos para a aula prática.

O som seco do disparo cortou o ar, ecoando entre as árvores ao nosso redor. Observei enquanto Lori abaixava a arma, os olhos fixos no alvo, e um sorriso satisfeito surgia em seu rosto. O tiro havia acertado em cheio, quase no centro do alvo, e era impossível não notar o orgulho que ela sentia por ter conseguido. Balancei a cabeça de leve, avaliando a cena. Ela parecia confortável demais com a arma, algo que, se eu fosse sincero, não esperava. Cruzei os braços devagar, deixando um meio sorriso escapar antes de comentar:

— Muito bem, Lori... acertou o alvo de primeira.

— Rick tinha me ensinado algumas coisas.

Rick. Fiquei pensativo por um segundo, o rosto do meu melhor amigo invadindo minha mente. Ri baixinho, deixando o nome do meu irmão pairar entre nós.

— Claro... como não pensei que o xerife da cidade ensinaria a esposa a atirar?

— Não! — Lori corrigiu, balançando a cabeça. — Ele não ensinou exatamente. Ele só explicou. É que eu aprendo rápido, e você e o Daryl explicam muito bem.

Do lado, Anya murmurou algo para Amélia. Não era preciso ser um gênio para saber que era sobre mim, talvez sobre Lori.

— Disse algo, Anya? — perguntei, estreitando os olhos e fixando meu olhar nela.

Ela levantou uma sobrancelha, o rosto moldado pela ironia.

— Eu? Não... tô quietinha aqui, conversando com a Mélia.

Anya sabia me provocar.

Era quase como um jogo entre nós. Apesar de sentir que a garota andava me evitando, quando estávamos próximos, juntos, no mesmo ambiente, era quase impossível ignorar aquela coisa entre nós. Mas sabe o que me deixava mais inquieto? Era o quanto eu gostava disso.

Engoli em seco e balancei a cabeça, desviando o olhar antes que perdesse o controle.

— Vem, é sua vez — chamei, balançando a cabeça na direção dos alvos.

Anya deu alguns passos para frente. Seu andar era sempre confiante, desafiador. Peguei a arma e a estendi para ela, sentindo a tensão crescer ainda mais dentro de mim quando nossas mãos se tocaram por um breve segundo.

— Afasta mais os pés — instrui, batendo de leve na lateral da perna dela. — Vai te dar melhor sustentação.

Ela fez como eu disse, mas havia algo errado na forma como ela se movia. Seus ombros estavam rígidos, os braços tensos. Não ia funcionar assim. Me aproximei por trás, sem pensar muito, apenas agindo no automático. Toquei seus ombros, meus dedos encontrando a pele quente através do tecido fino da blusa.

Eu não devia ter feito aquilo… foi a pior escolha da minha vida…

— Relaxa, garota. Esses ombros estão muito tensos — murmurei, quase sem perceber o tom rouco da minha própria voz.

A sensação da pele dela sob minhas mãos era suficiente para fazer meu coração acelerar, batendo como um louco, correndo desesperado na direção de algo. Massageei a área com cuidado, sentindo cada pequena parte do seu ombro. Meu peito quase roçou nas costas dela, e o calor que emanava do seu corpo parecia me atingir mais do que deveria.

Minhas células pegaram fogo no mesmo instante, senti-me borbulhar por dentro; o cheiro gostoso que vinha do cabelo dela quase me embriagava, e, por um segundo, não cometi a loucura de meter o nariz no pescoço dela e dar uma cheirada com gosto na sua pele.

Anya prendeu a respiração, e, por um instante, achei que ia fugir. Mas então, inclinou levemente a cabeça para trás, nossos rostos ficaram mais próximos, meu lábio quase tocou sua bochecha e Anya sussurrou, a voz baixa e cheia de algo que eu não conseguia decifrar, mexendo o quadril de leve de um lado pro outro. Roçando aquela bunda gostosa em mim.

— Fica difícil com você aí atrás, Shane. Sai daí, por favor.

Porra! Não… não acredito… eu tava ficando de pau duro? Desgraçada.

— Você que não tá facilitando pra mim, menina.

— Me desculpe, xerife Walsh, eu sou uma garota má. — Sussurrou bem baixinho, quase inaudível.

Filha da puta! Respirei fundo e apertei mais os dedos em seu ombro. Anya arfou e observei suas mãos tremerem.

— Só depois de você arrumar esses ombros — respondi, tentando parecer tranquilo, mas minha garganta estava seca; sentia meu coração batendo dentro das minhas bolas.

Anya suspirou e, aos poucos, os músculos dos ombros começaram a relaxar. Dei um passo para trás, forçando um riso baixo, tentando disfarçar o quanto aquilo mexia comigo. Não ajudava nada o fato de Lori e Suzi estarem ali, me observando com aqueles olhares semicerrados. Respirei fundo e me afastei, lutando para manter a compostura — e esconder aquela reação idiota.

Eu precisava de um antídoto imediato. Algo que me arrancasse daquele turbilhão que Anya provocava em mim. Minha avó pelada? Isso. Horrível o suficiente para me distrair. Consegui acalmar o sangue nas veias, mas sabia que estava por um fio.

Anya se posicionou, levantando a arma com a calma de quem sabia o que estava fazendo. Permaneci em silêncio, observando como o sol delineava o rosto dela, como cada movimento parecia tão natural, tão gracioso. Ela era linda. Linda pra caralho.

Antes que eu pudesse me perder mais nesses pensamentos, Andrea apareceu, trazendo-me de volta à realidade.

— Ótimo trabalho, Shane — murmurou enquanto sorria, inclinando-se levemente, roçando os seios no meu braço.

Eu só consegui suspirar, cansado antes mesmo de responder. Andrea vinha se metendo demais no meu caminho, queria ser vista a qualquer custo, e aquilo estava começando a me irritar. Talvez, se eu a comesse logo, ela me deixaria em paz.

Eu murmurei qualquer coisa como resposta, cruzei os braços e virei o rosto para falar com Daryl.

Foi então que veio o tiro.

O som agudo preencheu o espaço e, por um segundo, todos congelaram. O projétil passou rente ao pé de Andrea, cortando o mato que crescia alto até os tornozelos e espirrando terra para os lados. Andrea pulou para trás com um grito, os olhos arregalados na direção de Anya.

— Você tá maluca, sua idiota?! Quase me acertou!

Anya abaixou a arma devagar, mas seus olhos estavam fixos em Andrea, queimando de raiva.

— O quase foi uma pena, eu errei o alvo — ironizou, a voz fria como gelo, um sorrisinho forçado na boca.

— Querida! O que foi isso? — Lori perguntou enquanto se aproximava, parecendo mais chocada do que irritada.

— Pelo amor de Deus, Anya, nem pra atirar você serve? — Suzi também se aproximou, sussurrando as palavras com desprezo.

Ela disse tão baixo que mais ninguém ali devia ter ouvido, mas Anya ouviu; eu soube porque ela trincou o maxilar no mesmo instante. Eu também tinha ouvido, e aquela fala escrota fez meu sangue ferver.

— Calma, pessoal — intervi, tentando manter a voz firme. — Tá tudo certo, ninguém se machucou — afirmei, e me virei para Anya, gesticulando com uma das mãos na direção dela. — Só se concentra mais. Tem que estar totalmente focada no seu alvo.

— Se fosse um zumbi, você tava fodida — Daryl comentou, sem levantar o olhar, conferindo o pente da sua arma.

— Quer saber? — Anya explodiu. — Vá você e seu zumbi pra casa do caralho! — rosnou na direção de Daryl. Depois, virou-se para mim e jogou a arma contra meu peito com mais força do que deveria, me lançando um olhar que fez algo dentro de mim quase tremer. — E você, procure um motel da próxima vez!

Anya saiu pisando firme, deixando um silêncio desconfortável no lugar. Não esperei por permissão. Entreguei a arma para Daryl e segui atrás dela, ignorando os murmúrios de Dona Suzi, Lori e Amélia que vinham de trás.

Cheguei à barraca dela chamando por seu nome, mas tudo o que recebi foi um dedo do meio erguido, me mandando direto para o inferno. Ela entrou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, deixando a aba da barraca balançar com o movimento brusco.

— Anya! Ei! — Fui atrás sem pensar, o sangue ainda fervendo. Entrei na barraca antes que ela pudesse sequer tentar me expulsar.

Ela estava no fundo, de costas, os ombros ainda tensos, mas não de nervosismo. Era raiva pura, quase palpável.

— Vai embora, Shane!

— Não. Você vai me ouvir. — Cruzei o espaço estreito em dois passos, minha mão segurando seu braço com firmeza, mas sem machucar. Virei-a para mim, o movimento mais impetuoso do que eu pretendia.

Nossos olhos se encontraram, e o ar dentro daquela barraca pareceu sumir. Anya estava tão próxima que eu conseguia sentir o calor que emanava dela, o perfume fraco misturado ao suor do dia quente. Seus lábios estavam a centímetros dos meus, e eu podia jurar que, se me inclinasse só um pouco, sentiria o gosto daquele desafio que ela sempre jogava na minha cara.

— Que porra foi aquela? Qual é o caralho do seu problema? — Minha voz saiu rouca, carregada de frustração, desejo e algo que eu não queria nomear.

Anya não piscou. Não se moveu. Apenas soltou as palavras como se fossem uma espada afiada.

— Você, Shane. Você é meu problema.

Fiquei imóvel por um instante, tentando processar o peso daquelas palavras. Mas o que realmente me desarmou foi o olhar dela. A intensidade daqueles olhos me queimava, uma mistura de raiva e algo que parecia mais perigoso. Algo que me puxava direto para o abismo, tão errado quanto inevitável.

— Então parece que estamos com o mesmo problema, garota.

Anya ergueu o queixo, desafiadora, os lábios se curvando em um sorriso ácido.

— É mesmo? Então resolve, Shane. Quero ver você resolver.

O desafio estava ali, no olhar, na proximidade que parecia cada vez menor entre nós. Meu coração martelava no peito, e tudo em mim gritava para que eu recuasse. Para que eu dissesse algo racional, algo que encerrasse aquela discussão antes que saísse do controle.

Mas não havia controle ali. Não mais.

Minha mão ainda estava no braço dela, e meus dedos apertaram de leve sua pele, como se isso fosse nos manter ancorados no chão, racionais. Meu olhar desceu por um instante até seus lábios, que estavam tão próximos que eu pude sentir o calor da sua respiração.

— Por que você faz isso? — perguntei, analisando com cuidado seus traços. — Por que sempre me provoca, Anya?

Ela deu uma risada curta, seca, sem humor.

— Porque é fácil. Porque você cai toda vez. E você… Você que sempre começa. Por que eu cansei de fugir, cansei dessa merda toda!

Meu sangue ferveu, mas não de raiva. Era outra coisa. Algo muito pior, algo que eu não podia controlar. Minha mão subiu pelo braço dela até seu ombro, bem devagar, deixando um rastro de fogo por onde passava, os dedos roçando sua pele. Eu vi o instante exato em que ela ficou tensa, os lábios entreabertos, mas não recuou.

— E se eu parar de fugir também? — dei mais um passo à frente.

Anya ficou imóvel, o sorriso dela desapareceu, os olhos fixos nos meus. Eletricidade pura saía dela e se ligava a mim, como se algo estivesse prestes a explodir. E talvez estivesse.

Por um segundo, acreditei que ela fosse dizer algo. Mas, em vez disso, ela também deu um passo à frente, diminuindo o espaço entre nós até que nossos corpos se colaram; os seios fartos e perfeitos dela roçaram em meu peitoral. Sua respiração ficou curta, entrecortada, e eu podia sentir seu calor, o cheiro, tudo que me puxava para aquele abismo onde não havia mais razão, onde meu controle já tinha ido para a casa do caralho.

— Então para, Shane. Para agora. — A voz dela era baixa, mas carregava aquele tom de desafio e deboche que fazia meu sangue ferver. — Vai ter coragem? Ou vai continuar suplicando com esse olhar de cachorro sem dono pra eu tomar uma atitude? Chega a ser hilário, sabia! Porque só de estar perto de mim há poucos minutos, seu pau ficou duro, louco pra me foder. Qual é, xerife Walsh? Vai continuar bancando o moralista? Porque eu já cansei desse joguinho barato de olhares. Tentei me afastar, mas não deu. A gente está sempre se esbarrando. Coincidência? Não. E quer saber a verdade? Você me quer, Shane, tanto quanto eu quero você. Agora, ou me come de uma vez, ou sai de cima. Porque da próxima vez, o tiro vai ser certeiro, só não sei se no pé daquela mocreia loira ou no seu.

— Garota… — murmurei, segurando-a firme, erguendo seu corpo até ela ficar na altura certa. Minhas palavras saíram baixas, roçando meus lábios contra os seus. — Sabe que criança que brinca com fogo faz xixi na cama e amanhece molhada, não sabe?

— Foda-se… eu amo acordar molhada. — A resposta veio tão rápida quanto a pontinha da língua, que deslizou pelos próprios lábios antes de tocar os meus. Provocadora.

Porra.

Eu estava fodido.

Senti como se a ponta da língua deslizando pela sua boca tivesse deslizado pela cabeça do meu pau; senti meu membro pulsar na calça em resposta, quase estourando o zíper do jeans.

Filha da puta de garota. Ela ia destruir minha sanidade.

Antes que eu pudesse reagir, ela escapou dos meus braços, me deixando ali, sozinho, com o pau mais duro do que pedra e a cabeça fervendo.

Eu ri baixo, passando a língua pelos dentes enquanto a observava se afastar. Aquela garota sabia exatamente o que estava fazendo.

Mas não se preocupe, Anya Bennett. Esse jogo ainda vai virar. E, quando virar, sou eu quem vai ditar as regras. E eu vou bater tanto na sua bunda que você não vai nem sentir mais as pernas.

— Desgraçada… Você me paga.

🍫🌶《▪︎ Meo deos!!! esses dois me deixam pingandoooo 🫦

🍫🌶《▪︎ Anya quase atirando na Andrea virou minha religião, te amo bb

🍫🌶《▪︎ Acho que agora vai em!! ain mete logo nela Shane 🫦

🍫🌶《▪︎ Não esqueçam dos meus votos e dos meus comentários em!!!! Eu amo os comentários de vocês, deixa a autora aqui super feliz e animadinha.

🍫🌶《▪︎ Feliz natal atrasado meus amores e um prospero ano novo, esse é o último capítulo do ano, vou tirar uma semaninha pra descanso. Espero ver vcs aqui em 2025.

Falar que 2024 foi um ano bem maluco, passei por tantas coisas, tantos desafios, e voltar a escrever foi uma surpresa muito boa (eu escrevo desde os meus 15 anos, parei aos 18 e voltei aos 29, isso mesmo, eu tenho 30 anos agora akakak) Eu sempre amei ler, os universos que os livros criam e proporcionam pra nós. Eu espero que vcs gostem dos que eu "criei" pra vocês. Nunca imaginei que uma fic do Shane Walsh fosse fazer tanto sucesso, e confesso que ver vocês desesperadas e pedindo por mais capítulos me deixa muito feliz. Sou grata por cada leitor e leitora que tira um tempinho pra lere minha história. É isso... continuem aqui comigo, pois vamos ter muitas histórias do universo de TWD em 2025 (talvez de outros universos tbm)

Com amor, mama Hana. ❤️🫡

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