☆《 MY CHOICES 》☆

☆《 Anya Bennett 》☆

Três dias.  
Foi o tempo que levamos para transformar o trailer do Dale de casa em depósito. Comida trancada e segura; afinal, no fim do mundo, até a honestidade é uma coisa rara. Eu sabia que ninguém ali era ladrão — exceto pelo Merle. Ali estava escrito na testa dele: “MINHAS MÃOS SÃO LEVES, CUIDADO COMIGO.”  

Mas o apocalipse trazia à tona o lado mais sombrio das pessoas, e o medo da morte podia ser o impulso para alguém fazer algo estúpido, como roubar comida do nosso estoque. Conhecendo Shane Walsh como eu conhecia, se alguém bancasse o idiota de pegar algo escondido, a coisa ia ficar feia. Melhor prevenir do que remediar.  

No começo, aquilo era só uma bagunça — latas empilhadas, pacotes de pão amassados e cereais misturados com biscoitos. Mas, modéstia à parte, eu e as meninas mandamos bem. Agora, com as prateleiras improvisadas que Shane e Glenn montaram, os armários e a mesa organizados, as coisas finalmente faziam algum sentido.

Olhei para os números e anotações da minha prancheta, sentindo que, pela primeira vez, alguma coisa naquele inferno de apocalipse estava sob controle.

Até quando? Eu não sabia e, sendo sincera, não estava a fim de pagar para ver.

O ar ali dentro começava a me sufocar, pesado como o peso do mundo. Poeira e metal queimavam minhas narinas, e as latas refletiam a luz fraca que entrava pela pequena janela, onde a cortina bege voava com a brisa. Mas eu não reclamava. Ficar ali dentro, isolada com as meninas, era melhor do que enfrentar o caos do lado de fora.

Apertei a prancheta em mãos, conferindo mais uma vez as anotações. Meus dedos estavam manchados de azul pela caneta que usei quase até o fim.

— Certo, terminamos aqui... depois de três cansativos e intermináveis dias trabalhando nisso.

Lauren, com aquele jeito quietinho e tímido, escorou-se ao meu lado, cruzando os braços. Seus olhos castanhos deslizaram pela nossa organização com orgulho. A morena suspirou cansada antes de completar minha fala.

— Temos comida suficiente para quase um mês completo.

— Isso é, se racionarmos exatamente como o combinado. — Amelia interrompeu, batendo o lápis contra a prancheta dela. — Três latas para o almoço, três para o jantar. Nada mais que isso. As porções por pessoa têm de ser para matar a fome, e não encher a barriga até transbordar.

— Concordo. — Amy afirmou, balançando a cabeça para jogar os fios loiros do cabelo para trás dos ombros.

— E os cafés da manhã? — perguntei, sem tirar meus olhos das prateleiras onde deixamos os pães, bolachas e cereais. Eu já sabia como tínhamos dividido tudo, mas repassar era importante, tanto para mim quanto para as meninas. Ouvir de novo ajudava a reforçar o plano.

— Torradas, pães, biscoitos e cereais. Porções divididas igualmente. — Lauren respondeu, apontando para uma prateleira no canto, onde os pacotes estavam empilhados em uma arrumação totalmente metódica, liderada por ela.

A garota era perfeccionista, e nos poucos dias em que tínhamos nos aproximado e trabalhado juntas sob o seu comando, eu aprendi algo: NÃO BATA DE FRENTE COM LAUREN E SUA MANIA DE ORGANIZAÇÃO, OU A TERCEIRA GUERRA MUNDIAL ACONTECERIA.

Ao mesmo tempo em que estávamos ali, tagarelando como matracas, o silêncio recaía sobre nós, mais pesado do que as próprias caixas que carregávamos até então. Ficamos ali, as quatro paradas, observando nosso trabalho finalizado, o ruído das nossas respirações se misturando. Foi apenas um momento, rápido e simples, mas que pareceu se arrastar por décadas, sufocante, chegando a desgastar a gente. Foi então que Lauren quebrou aquele silêncio ruim, com a voz baixa, quase um sussurro.

— Quando foi que chegamos até aqui?

Virei o rosto para encará-la. Ela se sentou em um canto e ficou mexendo em uma etiqueta descolada de uma das latas.

— Como assim? — Amy perguntou, franzindo o rosto.

— Quando caminhamos para isso? — Lauren insistiu, olhando de uma para a outra. — Morte, destruição, sobrevivência…

— Pergunta difícil. — Dei de ombros, apoiando a prancheta contra a cintura.

Amelia escorregou pela lataria do trailer até estar sentada no chão, puxou os joelhos para perto do peito, encarando o chão como se as respostas estivessem ali.

— Sinto falta dos meus pais. Do Rick…

— Onde eles estão? — Amy perguntou, hesitante.

Amelia suspirou pesado, mas respondeu de imediato, usando a única palavra que resumia o que toda a sua família era.

— Mortos.

O silêncio voltou, pesando toneladas; mãos pareciam esmagar o peito, e a palavra "morte" ultimamente se fazia mais presente que qualquer outra. Lauren passou a mão pelos cabelos escuros, o olhar perdido em algum ponto além da janela. Quando falou, a voz dela soou mais baixa, rouca:

— Também perdi minha família. Meu marido... meu bebê... Eles foram devorados. Ficamos cercados quando tentávamos sair da cidade; não deu tempo… fomos encurralados e eu só corri… fugi enquanto o choro do meu bebê e os gritos do meu marido iam morrendo junto com eles.

Minha garganta se fechou. Não era a primeira vez que ouvia algo assim. Como alguém carrega esse tipo de dor?

— Meu Deus... que horror. — Minha voz saiu mais suave do que planejava, e me odiei por soar tão... impotente. — Eu sinto muito, Lauren.

— Eu sou um monstro… eu só corri… devia ter ficado, devia ter tentado salvá-los. — Choramingou, os olhos marejados de lágrimas pesadas.

— Ei, não fica assim. — Amy foi a primeira a se mover e tocar com carinho o braço de Lauren, que estava cruzado sobre os seios.

Eu segui o movimento, colocando a prancheta de lado e estendendo o braço para o meio do pequeno círculo que formamos. Amelia se pos em pé e se aproximou também, e, de repente, estávamos todas ali, segurando umas às outras como se aquilo pudesse aliviar a dor das minhas amigas.

— Você fez o que tinha de fazer; caso contrário, não estaria aqui também. — Tentei confortá-la. — Sei que dói, mas você é jovem e tem toda uma vida pela frente. Sem contar que tem a gente agora; vamos enfrentar tudo isso juntas.

O que antes era apenas um círculo de mãos tocando em Lauren tornou-se um abraço apertado e coletivo, arrancando risos baixos e fungadas de narizes das meninas.

Enquanto as outras se afastaram, permaneci no lugar por mais um momento, sem tirar a mão do braço de Lauren. Olhei para as prateleiras, para as latas e pacotes alinhados, e senti um misto cruel de ironia e rancor invadir meu peito. Organizávamos comida, fazíamos listas, criávamos planos... como se isso pudesse nos proteger de toda a merda que viria.

Cada uma delas carrega uma dor que poderia quebrar qualquer pessoa. E eu aqui, reclamando da minha mãe, dos olhares da Lori... como se isso fosse um problema de verdade. Analisando a dor delas, chegava a ser mesquinho da minha parte. Era como reclamar da chuva enquanto o mundo pegava fogo.

Respirei fundo e finalmente me afastei, apertando a prancheta contra o peito. Não era hora para esse tipo de pensamento. Precisávamos seguir em frente, não porque queríamos, mas porque não tínhamos outra escolha.

☆《▪︎▪︎▪︎》☆

Fiquei ali no trailer com as meninas por mais algum tempo, apenas jogando conversa fora. Lauren, com sua mania de arrumação e perfeccionismo, desceu todos os pacotes de biscoito e reorganizou tudo de novo. Amy ficou reclamando que quase não havia ninguém da nossa idade no acampamento, e o que tinha, que no caso era Glenn, não fazia o tipo dela. Amélia não parava de falar de Daryl; não sei quando, nem como ou por que, mas minha amiga tinha criado uma fissura pelo caipira idiota e fedido.

Tudo bem, vai. Daryl Dixon era lindo, mas chato pra caralho. Parecia ser complicado demais, um quebra-cabeça gigantesco que, pelo visto, a Grimes estava disposta a desembaralhar e montar — NOS DOIS SENTIDOS. Eu e Lauren, por outro lado, ficamos em silêncio, apenas rindo das coisas que elas falavam. Um certo sorriso prepotente voltava toda hora na minha cabeça. Eu estava tentando evitar Shane Walsh. Nos últimos três dias, passei fugindo dele, de ficar sozinha, de conversar. Mas não conseguia fugir do seu olhar. E pra minha desgraça, como se seu corpo fosse um imã, também atraia o meu para si.

Desde a reunião e a nossa pequena provocação, eu senti que devia recuar um passo. Não sabia ao certo por que, mas me afastei; quer dizer… tentei me afastar. Shane era do tipo de cara perigoso, não digo perigoso por maldade, mas perigoso para o coração. Ele tem cara de ser aquele que te deixa de quatro, rendida como uma cadelinha, e depois mete o pé grandão na sua bunda. E sofrer por macho em pleno apocalipse zumbi é uma coisa da qual eu não estou muito afim.

Despedindo-me das meninas, estava saindo do trailer com a prancheta presa nos braços. Tinha de levar as anotações para o Walsh conferir e iria aproveitar que, naquele horário, ele estaria fazendo a ronda junto de T-Dog e Glenn. Mas, antes mesmo de pisar no último degrau, meus olhos captaram o xerife mandão parado bem ali do lado, encostado na lateral do trailer.

Braços cruzados, os bíceps marcando a camiseta que parecia ter sido feita sob medida para ele — ou, talvez, contra as leis da física. A malha esticava a cada movimento, como se quisesse ceder à pressão dos músculos. O peitoral, sempre estufado, dava a ele uma postura de autoridade que ele sabia muito bem usar a seu favor. E, claro, o sorriso. Aquele meio sorriso de canto, confiante, que me fazia querer tanto socá-lo quanto beijá-lo. Merda… Shane parecia ainda mais bonito do que da última vez que o tinha visto de perto.

Ele era uma mistura perigosa de charme bruto e força calculada, e minha atenção sempre parecia gravitar para ele, mesmo quando eu tentava resistir. Mesmo quando eu tentava fugir.

Talvez fugir não fosse a solução.

Deixei um suspiro pesado escapar quando pisei no último degrau da escada, que rangeu com o peso dos meus pés sobre ele. Shane tombou a cabeça de lado, suas orbes castanhas deslizando milimetricamente por todo o meu corpo; seu olhar queimou minha pele, e uma pressão forte surgiu em meu ventre.

— Como estão as coisas por aqui?

— Tudo certo. — Respondi sem erguer muito o olhar, passando os olhos na lista rabiscada da prancheta, que estendi em seguida na direção dele, explicando: — Eu estava indo agora mesmo atrás de você pra te mostrar as anotações e dizer que terminamos de protocolar tudo.

Shane observou rapidamente as letras e números e, com um murmúrio qualquer, disse:

— Confio em você… confio em vocês, sei que fizeram um bom trabalho.

— Não vai nem conferir? — insisti, ainda com a prancheta estendida na direção dele, estreitando os olhos na sua direção. Descendo finalmente do último degrau, nossa diferença de altura ficou visível; Shane parecia um predador pairando sobre mim.

— Não… sei que está tudo certo.

Ele se curvou lentamente na minha direção, suas mãos foram com cuidado nas laterais da prancheta. Shane a retirou da minha mão, deixando-a sobre o último degrau, com o sorriso ficando mais pronunciado. Antes que eu pudesse retrucar, ele foi para trás do trailer e voltou com uma sacola, que estendeu na minha direção. Um saco de balas coloridas e duas caixas de bombons.

— O que é isso? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.  

— Doces não são sobrevivência. — Shane deu de ombros. — Pode ficar pra você.  

Dei uma risada curta, sem muito humor.  

— Não, obrigada. Guarde pra outra pessoa.

— Tô falando sério. — Ele deu um passo à frente, estendendo os doces um pouco mais. — Notei que tá fugindo de mim… pensei comigo mesmo: “será que fizemos algo de errado, Shane Walsh?” Então, se foi algo do tipo, me desculpa. — Ele balançou a sacola no ar. — Só pega.

Nossos olhos se encontraram, e foi como se todo o restante passasse a se mover em câmera lenta; tudo foi desacelerando, desaparecendo. Os olhos de Shane eram tão bonitos, quase uma força própria, uma entidade de poder e domínio. Eram tão intensos que pareciam penetrar a minha pele, vasculhar as minhas camadas, ver tudo que eu mostrava e, principalmente, o que eu batalhava pra esconder.

Meu coração batia rápido, quase descompassado. Foi muito difícil conseguir me desprender do magnetismo que me mantinha cativa a ele, formular uma frase ou qualquer coisa do tipo, mas, por fim, depois de muito sacrifício, consegui respirar fundo e dar um passo atrás.

— Você disse que não era pra ninguém esconder as coisas, e o líder acabou escondendo? — Cruzei os braços, sustentando o olhar e um sorriso desafiador.

Ele sorriu também, lento, sedutor.

— Guarda pro Carl, então.

— Por que você não dá pra Lori?

O sorriso dele desapareceu por um segundo, mas o que veio depois era ainda mais perigoso: algo mais intenso, direto, impossível de ignorar. Shane deu mais um passo, fechando a distância entre nós. Abri a boca involuntariamente, olhando seus lábios quando Shane deslizou a pontinha da língua por eles.

— Porque eu estou dando pra você, Anya.

Porra! Ele umedeceu os lábios, mas quem ficou molhada fui eu. Totalmente, alucinadamente, involuntariamente. Eu tremi, quase desmanchada, quase derretida. Devagar, estendi a mão e peguei a sacola. Nossos dedos se tocaram, e o calor da pele dele se irradiou pelo meu braço, me forçando a lembrar que, apesar de tudo, eu ainda era humana. Aquele maldito xerife me tinha nas mãos… não precisava de muito, nem demoraria muito. EU SERIA DELE.  

Shane percebeu. Claro que percebeu.  

— Obrigada. — Minha voz saiu mais baixa do que eu queria.  

Virei-me de costas e segui, a sacola firme nas mãos, a prancheta ficou lá, perdida no chão, e fui embora sem olhar para trás, embora cada célula do meu corpo estivesse ciente do olhar dele queimando em minhas costas. Aquele maldito xerife me desestabilizava, me deixava fora de órbita. Uma luz vermelha piscava dentro da minha mente, seguida por uma sirene incessante sinalizando: PERIGO.  

Shane Walsh... o tipo de problema que sabe exatamente o quanto é irresistível.

☆《▪︎▪︎▪︎》☆

A lona da barraca ainda estava quente por conta do sol, que bateu sobre ela durante todo o dia, tornando o espaço pequeno ainda mais abafado. Acabei de tomar banho no lago, o único momento do dia em que podia ficar em silêncio com meus próprios pensamentos, que me desligava por alguns minutos de tudo.

Vesti uma camiseta branca larga e me abaixei para pegar o shorts que estava jogado em um canto, quando ouvi o barulho do zíper sendo aberto bruscamente. Eu nem precisava me virar para ver quem era, já que ninguém mais invadia minha privacidade assim, a não ser minha mãe.  

— Credo, mãe! Podia pelo menos chamar antes de ir entrando assim? — Olhei para ela, segurando o short na mão, tentando esconder o quanto estava irritada ao vê-la.

Minha mãe, com seus cabelos brancos sempre perfeitamente alinhados e penteados, parou no meio da barraca e me analisou minuciosamente, como se fosse uma varredura completa pelo meu corpo. Dona Suzi suspirou, olhando minhas tatuagens outra vez com reprovação, e balançou a cabeça em negação antes de começar a falar:

— Meu Deus, Anya, nunca vou me acostumar com essas coisas desenhadas em você.

Revirei os olhos, puxando o short com um movimento rápido e ajustando a cintura.

— Não pedi para você se acostumar e gostar, está no meu corpo. Quem tem que achar algo sou eu... Agora, me diga, o que foi agora? Sentiu saudades da sua filha desquerida?

— Eu vim te perguntar sobre uma coisa.

— Sim, sou toda ouvidos, mamãe. — Cruzei os braços, preparando-me mentalmente para o que viria.

Ela deu um passo na minha direção e passou as pontas dos dedos sobre a franja, jogando os fios um pouco para trás, e então continuou:

— Por que aceitou essa loucura de liderar com a Lauren essa baboseira de despensa? Lori disse que não é justo com as pessoas, principalmente com a gente, que fomos os que mais trouxemos. Por que aceitou, mesmo Lori dizendo não ser o certo?

— Ah, sim, claro... Entendo... Sempre a sagrada Lori. — Soltei uma risada debochada. — Bom, só digo que ela não sabe de nada. O líder é o Shane, e ele amou a ideia, simples assim.

— Shane... — Suzi inclinou a cabeça, um tom de insinuação começando a surgir. — Não acha que estão muito próximos? Lori me disse que vocês ficam se olhando de um jeito... que chega a soltar faíscas.

— Meu Deus! Por que não manda a Lori cuidar da vida dela?

— Ela só está preocupada.

— Óbvio... Ela é uma irmã incrível. — Minha voz pingava sarcasmo, mas minha mãe seguia imune a isso. Inabalável.

Mamãe se aproximou mais um passo, como uma cobra prestes a dar o bote; o sorrisinho compassivo nos lábios era mais como uma faca escondida do que uma demonstração de carinho.  

— Minha filha, homens como o Shane não escolhem garotas como você.  

As palavras venenosas me acertaram como um soco. Ela sabia exatamente onde mirar para machucar. Era o jogo dela. E eu conhecia bem o roteiro: ela falava, eu surtava e, automaticamente, me tornava a errada e difícil de lidar.  

Engoli em seco, erguendo o queixo. Não ia dar esse gostinho para ela.  

— O que quer dizer com isso? Acha que não sou boa o suficiente pra ele?  

— Você é imatura, não daria o suporte necessário a um homem forte e destemido como Shane.  

— A Lori daria. — Retruquei antes de conseguir me segurar; minha voz saiu mais amarga e abalada do que queria demonstrar.  

Dona Suzi assentiu devagar, como se eu tivesse acabado de confirmar o óbvio.

— Assim que o luto da sua irmã pelo Rick passar, tenho certeza de que eles vão ficar juntos.

— Ah sim... Vocês já levaram em consideração a possibilidade do Shane não querer a Lori perfeitinha?

— E quem ele iria querer, minha querida? Você?

— Realmente... — Fiz uma pausa cruzando os braços, acrescentando com ironia. — Eu não seria capaz de dar o suporte a ele...

— Isso... Lori é a esposa ideal, pra qualquer homem. Linda, elegante, modesta, educada... e não tem essas coisas horrorosas desenhadas pela pele.

Analisei minhas tatuagens soltando um riso debochado, frustrado, cansado. Nem eu sabia ao certo. Era tão cansativo ficar junto da minha mãe, que eu só queria sair dali, tinha medo de que respirar por muito tempo o mesmo ar que ela, me tornasse uma copia sua.

— Com certeza, mamãe... — Forcei um sorriso e engoli o nó que se formava na garganta. — Agora, se a senhora me dá licença, eu tenho umas coisas pra conferir na dispensa antes da Carol começar a preparar o jantar.

Dei meia-volta, cortando depressa pela frente dela. Os cabelos ainda pingavam água, e eu nem os tinha penteado, mas não me importava. Saí da barraca antes que pudesse explodir, deixando Suzi sozinha. Ficar perto da minha mãe e da Lori se tornava cada vez mais insuportável. Respirar o mesmo ar que elas já drenava minha energia.

Eu queria uma família como a de Amélia: pais e irmão carinhosos, que se importavam de verdade. Não uma família que vivia de aparências, manipulando, jogando veneno, como se a vida fosse um desfile onde a opinião dos outros era o prêmio.

Lá fora, a brisa da noite começava a esfriar, mas o calor do meu sangue pulsando nas veias me fazia ignorar. Shane e Lori? A ideia me corroía de um jeito que eu não queria admitir. Suzi sabia como cravar suas unhas nos meus pensamentos, minar minhas defesas e alugar um triplex na minha cabeça.

"Homens como Shane não escolhem garotas como você."

O eco da voz dela era insuportável. Mas se ele não me escolheu, por que diabos não conseguia parar de me olhar?

☆《▪︎▪︎▪︎》☆

O calor da fogueira, em contraste com a brisa relativamente forte e fresca, criava uma sensação gostosa em meu rosto. As meninas estavam ali comigo, sentadas ao redor do fogo, enquanto comíamos e conversávamos aleatoriedades; quer dizer… eu apenas ouvia e resmungava, remexendo nos meus legumes dentro do pote, que, mesmo picados e cozidos, pareciam ter mais vida do que eu naquele momento.

Minha mente estava bem longe dali… Estava em minha mãe e nas suas palavras venenosas de mais cedo, que zuniam e giravam dentro da minha cabeça como uma faca afiada: “Um homem como Shane não escolheria uma garota como você.” Pois bem, se dona Suzi sabia tanto sobre escolhas, acho que estava na hora dela escolher melhor as palavras que saíam da sua boca. Era incrível como Suzi Willis Bennett tinha o poder de transformar uma noite tranquila em algo totalmente desagradável.

— Acho que o Glenn está afim de mim. — Amy comentou baixinho, se encolhendo, como se aquilo fosse protegê-la de alguém ouvir seu comentário.  

— Sério? — Amélia começou. — O coreano joga pra todo lado. Quem cair no papo dele primeiro, ele leva pra cama.  

— Amélia! — Lauren ralhou, mas o riso escapou antes que ela ficasse realmente séria.  

Eu não ria, não me movia. Ainda estava quieta, mergulhada nas minhas questões internas, enquanto observava os homens ao longe.  

Shane, como sempre, chamava minha atenção sem esforço; chegava a me dar mais raiva, porque, se Lori tinha notado as tais “faíscas”, com certeza minha mãe e mais pessoas também. Encostado no jipe, ele comia direto de uma lata. Shane Walsh era todo... presença, forte e másculo.

As mangas da sua camisa puxadas até o cotovelo, expondo os antebraços musculosos enquanto segurava uma lata com a mão direita. Os braços musculosos faziam a camisa parecer apertada demais, e o peito estufado como se estivesse pronto para enfrentar o mundo. E aqueles olhos...

Sempre me achando no meio do caos, como se estivesse esperando alguma reação minha. Como se quisesse que eu tomasse a atitude, a iniciativa. Mas o que ele esperava que eu fizesse? Que me jogasse nos braços dele sem mais nem menos? Ao lado dele, Daryl, sempre com uma expressão fechada, T-Dog, Merle e Glenn formavam um círculo descontraído, ainda que menos ruidoso que o nosso.  

— Ah, eu daria tudo pra descobrir a pegada do sulista... Não acha, amiga? — Amélia comentou e me deu um empurrãozinho com o ombro. Minha amiga me analisou por um segundo antes de perguntar: — Tá muito quieta. O que foi?

— Nada.

— Para, eu te conheço. Foi sua mãe? Ou a Lorichatonilda? — Amelia lançou, apontando na minha direção com a mão que segurava um pedaço de pão.

Suspirei, jogando o garfo de volta no pote e limpando as mãos no short.

— Minha mãe.

— O que ela disse dessa vez? — Amelia arqueou a sobrancelha.

— Nada de mais. — Dei de ombros.

— Amiga, seja lá o que for, não deixa te afetar. — Amy tentou suavizar a conversa, se esticando para tocar e acariciar meu joelho.

Revirei os olhos e dei de ombros outra vez, mas a verdade escorregou pela minha boca antes que eu conseguisse segurá-la.

— Ela disse que um homem como o Shane nunca me escolheria.

Silêncio. Foi até engraçado; as meninas se encararam e, então, nossa pequena roda explodiu em risadas exageradas, o que nos rendeu uma repreensão severa do velho Dale. Eu dei graças a Deus por minha mãe e Lori não estarem por ali para encher ainda mais meu saco.  

— O quê? Tá maluca? — Amy quase derrubou o pote do seu colo ao se inclinar para frente.  

Lauren olhou para mim daquele jeito todo maduro dela. Apesar de eu ainda ser um ano mais velha do que ela, Lauren parecia mais centrada, mais evoluída. Não de um jeito ruim, que te rebaixava, mas de uma forma que me fazia parar para ouvir as coisas que ela tinha a dizer.  

— Olha, me desculpe, mas sua mãe tá vendo tudo errado. Pelo jeito que ele te olha... Como agora, por exemplo.

Meu olhar seguiu o dela até parar nele… Shane. Ele estava me olhando de novo, daquele mesmo jeito, misterioso, mas profundo, que parecia me pedir coisas mesmo sem dizer uma única palavra. Seu olhar quente, direto, sem nenhuma intenção de esconder o que estava pensando.

— Ele te olha assim desde que me juntei a vocês na rodovia. Se isso não é escolha, eu não sei o que é — concluiu Lauren.

— Concordo totalmente — disse Amy, se inclinando, sorrindo maliciosa e falando de boca cheia. — Se me olhassem igual ao Shane te olha, Anyinha, nossa... Eu já estaria peladinha.

Soltei um riso curto, mas as palavras da minha mãe ainda davam voltas e voltas dentro da minha cabeça.

— E você? Escolheu ele? — questionou Lauren, deixando seu pote agora vazio sobre a madeira abaixo de si, apoiando o cotovelo sobre os joelhos e repousando o queixo em uma das mãos, me encarando.

— Eu não sei... É complicado.

Remexi outra vez nos legumes já frios do meu pote, Amélia suspirou, segurando em meu pulso com firmeza, me fazendo olhar para ela.

— Amiga, para de perder tempo e vai sentar nesse macho até ficar assada, antes que outra pessoa faça isso por você.

A gargalhada que veio de todas as outras me pegou desprevenida, o que fez Dale vir até nós e nos mandar ficar quietas ou iria nos separar. Até parecíamos criancinhas, fazendo bagunça na sala de aula…

Mas agora, o comentário de Amélia ficou ecoando acima das palavras maldosas da minha mãe. Minhas amigas eram uma mistura de apoio e caos, mas havia verdade no que Amélia disse. Algo que eu não podia simplesmente ignorar; não dava, ela tinha razão… havia alguma coisa ali, pairando entre nós, e ficava cada vez mais claro que a tensão que nos envolvia só crescia.

Levei uma quantidade de legumes frios até a boca e tomei a cabeça de lado, lançando mais um olhar na direção de Shane, que ainda estava lá, quase me comendo viva, como se fosse devorar todos os meus segredos de uma vez só. Talvez fosse verdade. Talvez ele já tivesse me escolhido.

Mas será que eu teria coragem de escolhê-lo de volta? Ou seria mais fácil seguir em frente, ignorar e guardar essa bagunça no fundo da minha cabeça? Aquele jogo de olhares, de palavras não ditas e meio sorrisos era perigoso; alguém podia sair machucado, queimado, estraçalhado e, segundo as minhas experiências mais íntimas, a vítima sempre era eu.

Suspirei e pensei... E você, aí do outro lado, o que faria no meu lugar?

🍫🌶《▪︎ Oi oi meus beberes! mais um dia comum na cidade da manipulação pra essa mãe chatonilda da Anya... eu fico VAI CHATA, FALA CHATA... Mas é preciso mostrar dela pra vcs então, eu tenho que aturar.

🍫🌶《▪︎ Tenho uma notícia beeeem gostosinha pra vcs! Logo logo o nosso AMIGO COM BENEFÍCIOS vai entrar em ação... nao vou dizer em qual capítulo exatamente que é pra pegar vcs de supresa 😈

🍫🌶《▪︎ Se eu não botar esses dois pa fuder, eles que vao fude comigo 🫦

🍫🌶《▪︎ Sei que vocês gostariam de mais capítulos por semana, mas até que eu apareço bastante, atualizo minhas duas fics toda semana, a unica semana que deixei sem atualização é pq estava doente. (tem autora que some por meses, nao é criticando, mas ja criticando akakakak) Vcs estao no céu com a mama Hana.

🍫🌶《▪︎ Vou deixar aqui abaixo fotinhas dos nossos amores que a IA faz pa eu.

No mais, é isso. Não esqueçam dos meus coments dos meus votos em!! ou Shane da série vai aparecer no pé da sua cama. Esse Shane da fic a Anya morre de ciúmes.

Bjos até o próximo ❤️❤️

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