☆《DON'T WASTE ANY MORE TIME》☆
☆《▪︎Shane Walsh▪︎》☆
— O que vamos fazer com a Anya? — A voz chata e estridente da dona Suzi me atingiu como um prego arranhando vidro.
Deus, essa mulher nunca cala a boca?
Eu estava no limite. O acampamento tinha virado um caos do caralho depois que Anya matou Ed. Manter aquela gente sob controle foi um inferno. Se não fosse o Daryl segurando as pontas comigo, não sei se teria dado conta. A gente virou a noite em claro, os nervos à flor da pele.
Carol, Anya e Sophia estavam visivelmente abaladas. Ficar ali com elas foi uma tarefa e tanto. Eu nunca sei direito o que fazer nessas horas, nunca soube. Só fiquei lá, passando algum tipo de força moral, parado no canto do trailer em silêncio, trocando olhares silenciosos com Anya. Tinha algo diferente brilhando no castanho das suas íris, e com certeza tinha nos meus também. Cruzei os braços e fiquei observando, enquanto Lauren, Amélia e Amy cuidavam delas. Tentando entender o que vinha depois.
— Não sei, mas precisamos fazer… — Lori começou, mas me apressei a cortar antes que aquela ladainha pudesse continuar.
— Fazer o quê? Expulsá-la? Vocês estão loucas? — sentia o calor subindo pelo pescoço. Era sempre assim com elas: falavam como se fossem donas de tudo, como se Anya precisasse da aprovação delas para respirar.
Mas Anya não precisava de porra nenhuma.
— Meu filho, Anya tirou a vida de alguém! — Suzi levantou a voz, como se isso fosse um argumento brilhante.
— Foda-se! — Minhas palavras saíram mais fortes do que eu pretendia, mas não me importei, tão pouco me arrependi. — Ele era um bosta. Anya foi gigante aqui, fez o que ninguém teve coragem de fazer. Matou um abusador de merda. — A raiva fervia no meu peito, mas ali no meio tinha algo mais: orgulho. Um orgulho que me pegava de jeito sempre que eu pensava nela, no que teve coragem de fazer. — Ela é uma rainha, ponto final.
Olhei para as duas. Suzi, com aquela expressão de indignação forçada, e Lori, com o olhar hesitante de sempre, lábios entreabertos e olhos levemente arregalados.
Nenhuma delas entendia o que era viver no limite, fazer o que precisava ser feito. E Anya? Pelo jeito, ela entendia; pelo jeito que agiu, ela já vivia no limite, e meu subconsciente me dizia que as culpadas eram as duas mulheres diante de mim. Anya foi lá e fez o que tinha de fazer para salvar a vida de alguém.
— Tinha outro jeito de fazer isso. Podíamos ter prendido ele. Qualquer coisa menos matá-lo. Anya sabe disso; eu a criei dentro da igreja, está na Bíblia, no livro de Mateus, capítulo cinco, versículo vinte e um: NÃO MATARÁS.
Tombei a cabeça devagar, apoiando os polegares no cós da calça. Analisei as duas à minha frente, e a última gota que faltava para me fazer transbordar veio quando Suzi resmungou aquelas babaquices.
— Tá falando sério? — Minha voz saiu lenta, carregada de desprezo. — Suzi, você está aqui me jogando um versículo bíblico como se fosse fazer alguma diferença nessa merda que estamos vivendo? É sério mesmo? Mateus 5:21? Sabe o que mais está na porra do livro? “Olho por olho”. E se tem uma coisa que esse mundo ensinou, é que ou você luta ou você morre.
Suzi me olhou com aquela cara de superioridade hipócrita, o nariz empinado como se ela ainda estivesse no conforto da sua casa. A boca se abriu, incrédula, lábios tremendo levemente, mas logo tratou de se recompor, fechando a boca e apertando os lábios em uma linha fina.
Mas Lori… Lori hesitou. Seus olhos ficaram presos nos meus por um segundo longo demais, desconfortável pra caralho, como se algo finalmente tivesse estalado. Ela piscou algumas vezes e sorriu meio nervosa.
— Mãe… o Shane tem razão.
Vi o choque correr pelo rosto da Suzi, como se alguém tivesse acabado de socar a sua alma. A mulher olhou para a filha mais velha de maneira estranha, como se não reconhecesse a cria diante de si, fitou-a intensamente, confusa, com um olhar tão vazio quanto a pregação barata que tinha acabado de fazer para mim. Um calafrio esquisito percorreu minha espinha, mas não dei muita importância.
— O quê? Lori, você não pode estar falando sério.
— Estou, mamãe. Shane tem razão. Anya fez o que tinha que ser feito. E, sinceramente? Eu teria feito o mesmo se estivesse no lugar dela. Ou melhor, teria feito muito antes se soubesse de tudo, é claro. — Lori ergueu a cabeça, com o tom de voz de uma submissa tentando agradar.
Suzi abriu a boca pra retrucar, mas Lori ergueu uma mão, pedindo silêncio, tocou o ombro da mãe com carinho e deslizou a mão, puxando o braço da mais velha para entrelaçar no seu.
— Onde minha irmã está? Precisamos cuidar dela.
— Está na minha barraca. — Menti. Não queria aquelas duas rondando Anya e deixando a menina nervosa.
— Na sua barraca?
— Sim, mas não quero que vocês vão até lá.
— Shane, eu preciso falar com a minha irmã. Ela precisa de mim.
Eu ri. Um riso curto, seco, quase debochado.
— Não precisa, não. Ela está sendo cuidada. Lauren e as meninas estão com ela agora. — Minha voz endureceu. — Sabe o que Anya não precisa? De vocês duas em cima dela, jogando mais peso nas costas da garota do que ela já carrega. Deixem ela em paz, só um pouco.
Lori piscou, processando o que eu disse. Finalmente, suspirou.
— Está certo. Você está certo. Ela precisa de espaço… — vacilou por um momento, mas se recompôs rápido. — Eu estou do lado dela, Shane. Do lado de vocês.
— Ta bom. — Foi tudo que falei.
— Quando puder falar com ela, você me avisa?
— Aviso… pode deixar.
— Obrigada, Shane. Não sei o que seria da gente sem você liderando nosso grupo.
E, com um aceno de Lori e uma olhada incisiva de Suzi, elas se viraram e se afastaram.
Fiquei parado ali, vendo as duas se afastarem. Lori, finalmente mostrando um pingo de coragem, ou talvez fosse encenação? Não sabia, mas sentia uma coisa estranha no ar pairando sobre ela, o que me deixava intrigado. Suzi ainda estava presa no mundo dela, cheio de regras que não servem pra merda nenhuma nesse apocalipse, e seguiu o caminho resmungando algo com Lori, baixo o suficiente para que eu não ouvisse.
Balancei a cabeça em negação e fui até Andrea, que estava na fogueira preparando o café da manhã. Eu ia pegar algo para comer e levar pras meninas.
Anya tinha feito o que precisava ser feito. Eu sabia disso. E se o inferno era o preço a pagar por defendê-la, então que viesse com tudo. Por ela, eu queimaria sem pensar duas vezes.
☆《▪︎▪︎▪︎》☆
O dia transcorreu silencioso. Contra minha vontade e a de Daryl, o corpo de Ed foi enterrado. Por mim, jogavam-no numa vala qualquer. Não faria diferença. Nem para mim, nem para ninguém.
Não houve cerimônia, nem rezas. Só um buraco mal feito, com terra jogada às pressas por cima daquele cadáver inútil.
Mas antes disso, aconteceu algo... estranho. Estranho é pouco, na verdade. Um bagulho que ninguém ali podia explicar. Ed não tinha sido mordido, não tinha nenhum arranhão, nada. Até onde sabíamos, ele não teve contato algum com os zumbis. Só que, quando estávamos prestes a jogar o corpo dele na cova, ele... virou.
Por um instante, achei que não estivesse morto. Aquele som — grunhidos baixos — e os espasmos das mãos e pernas. Meu coração disparou. Num reflexo, saquei a arma da cintura. Daryl correu para perto, assustado.
Ele me encarou com aqueles olhos esbranquiçados, sem vida, as mãos se esticando, tentando me pegar, me levar até sua boca. Foi então que caiu a ficha. Ele não estava vivo. Ele estava morto. E tinha voltado como uma daquelas coisas.
Como uma porra dessas é possível?
O maldito tentou levantar, virou de lado e caiu dentro da cova. Destravei a arma, engatilhei e atirei bem na nuca. Ed parou na hora e já ficou exatamente onde deveria estar: na porra do seu túmulo.
Glenn, Dale e T chegaram por volta da hora do almoço, e foi nesse caos que os colocamos a par dos últimos acontecimentos. Dale, sempre com aquele ar de moralista cansado, ergueu as sobrancelhas, tirou seu chapéu e o segurou nas mãos. Os três estavam com as roupas sujas de sangue e terra, o que indicava que haviam topado com algumas daquelas coisas. Dale pigarreou e, por fim, perguntou com a voz baixa, como quem não quer ofender, mas já ofendendo:
— O que faremos com a Anya? Vamos prendê-la por ter matado Ed?
Dei uma risada seca, debochada, e cruzei os braços.
— Não vamos fazer porra nenhuma, Dale. Se alguém tinha que pagar alguma coisa ali, era o Ed, e adivinha? Ele já tá morto.
Glenn desviou o olhar, como se preferisse se manter calado ou tivesse medo de discordar de Dale por ser um senhor. Eu nem liguei; Glenn era só um garoto. T-Dog não tinha voz nenhuma naquele momento. Ficou calado, cruzou os braços e me encarou depois de dar uma rápida olhada de canto em Anya. Tinha algo na forma como ele olhou para ela e depois para mim que me mostrava que seu silêncio era sua aprovação. Já Dale, claro, quis rebater, mas eu só ergui a mão, cortando qualquer tentativa de argumento.
Será que eu estava tão errado assim? Não, não estava. Sou policial, ou pelo menos era. Conheço as leis, as regras, tudo aquilo que um dia foi o certo a se fazer. O protocolo mandava procurar as autoridades, resolver as coisas de forma justa. Mas, porra, qual autoridade? Qual justiça? Isso acabou. O mundo agora é sobre sobreviver e fazer o que precisa ser feito.
Anya fez o que tinha que fazer. Ponto final.
Eu e Daryl íamos resolver isso, mas ela foi mais rápida. Agiu no calor do momento e salvou Carol de algo muito pior. Apesar dos hematomas no rosto dela, nada estava quebrado. Graças à Anya. Se ela não tivesse agido, o cadáver agora poderia ser o da Carol, não o do Ed. Seria mais um feminicídio para a conta. E na conta de quem seria essa?
Olhei ao redor. O trailer ainda cheirava a tensão, misturado ao suor e ao ar abafado do calor do dia. Carol estava sentada em um canto, em silêncio; Sophia estava com Carl e Lori. Anya estava ali perto; ela não tinha saído do lado de Carol um segundo sequer e não tinha dormido a noite toda. Estava acordada, virada; eu sabia porque também não tinha conseguido pregar os olhos nem por um segundo. Anya seguia em um silêncio estranho, mas havia um brilho nos olhos dela, e a forma como me olhava era como se pedisse coisas sem realmente pedir. E tinha mais… tinha coragem, tinha força.
Queria dizer isso para Dale, esfregar na cara dele que Anya não só tinha razão, como fez o que todo mundo aqui precisava aprender a fazer: tomar uma decisão, mesmo quando dói.
— Se quiserem discordar de mim, tudo bem, mas fiquem longe dela — finalizei, encarando Dale com firmeza.
O velhote suspirou e recuou, finalmente calado, enquanto Glenn só mexia no boné e acenava em concordância, claramente desconfortável. T deu um leve aceno com a cabeça.
Se existia algum tipo de justiça naquela merda, ela se chamava Anya Bennett. Que porra era essa? Primeiro a própria mãe dela, agora Dale também? Não, não ia deixar ninguém fazer nada com Anya.
— Me contem, como foi lá? — Tentei focar no que importava agora, mesmo com o caos latejando no fundo da minha mente.
— Até a altura da 95 estava tudo tranquilo, uns carros abandonados e só — explicou Glenn.
— Mas, depois daquela rodovia onde nos encontramos, virou um inferno. — T-Dog continuou. — Aquele engarrafamento? Ainda estava lá, mas as pessoas foram substituídas por zumbis. Foi foda.
— Limpamos o caminho o quanto deu, pegamos algumas coisas dos carros. Agora está mais seguro, pelo menos até os vilarejos próximos. — Dale finalizou.
— Bom… isso é bom. Me mostrem o que trouxeram.
Eles abriram as mochilas, tirando o que conseguiram: produtos de higiene, enlatados, coisas que nos dariam mais uns dias até conseguirmos planejar algo maior.
Antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, a voz dela me chamou.
— Shane…
Levantei os olhos na mesma hora; o seu som me puxou como um ímã. Todos pararam, as atenções focadas em Anya, como se tivessem medo do que ia sair da sua boca ou como se ela fosse explodir a qualquer momento.
Me levantei, ignorando o peso dos olhares, e fui até ela.
— Sim, Anya?
Ela hesitou. Notei o tremor quase imperceptível na sua mão, mas fiquei quieto.
— Vou lá fora tomar um ar, talvez um banho no riacho. Chamei a Carol, mas… ela não quer ser vista com o rosto assim, então vou sozinha.
Um banho. Sozinha. A porra do riacho. Meu estômago deu um nó.
— Quer que eu vá com você? Posso fazer companhia.
— Não… você tem mais coisas pra resolver aqui. Eu tô bem. Só preciso de um tempo, respirar um pouco.
— Tá. — Peguei o rosto dela com as mãos, forçando-a a me olhar. Meu tom saiu mais baixo, porém ainda firme. — Você sabe que não precisa carregar isso sozinha, né? Se precisar, tô aqui. Sempre vou estar. E… Anya? Eu tô orgulhoso pra caralho de você.
Ela piscou, seus olhos brilharam, marejados.
— Obrigada, Shane.
A porta do trailer foi aberta com um rangido alto, e logo o espaço antes ocupado por Anya se tornava um vazio quase opressor. Fiquei ali parado, encarando o nada, sentindo o nó dentro do estômago se apertar ainda mais.
Respirei fundo, os dedos ainda formigando do toque em seu rosto. Cada vez que Anya dizia que estava "bem", eu sentia o contrário. Talvez fosse a porra do instinto. Ou talvez fosse o simples fato de que, quando se tratava dela, nada nunca parecia suficiente.
☆《▪︎▪︎▪︎》☆
Sabia que não devia. Anya tinha me pedido um tempo; precisava ficar sozinha. Eu vi isso no olhar dela — aquele olhar quebrado que eu nunca quero ver de novo.
Mas não dava. Não consegui.
Desconversei rápido com Glenn, Dale e T, deixando-os trocar as mesmas ideias que já tinham repetido umas dez vezes. Minha cabeça estava em outro lugar. Lauren e Amélia seguiram para o trailer, levando Sophia para ficar com Carol e tentar ajudar de algum jeito, enquanto eu saí feito um furacão, sem nem olhar para trás.
Anya podia dizer o que quisesse, mas eu sabia melhor. Sabia que, mesmo de longe, eu precisava ficar de olho nela. Era mais forte que eu.
O sol já estava quase sumindo quando finalmente a encontrei. Ela estava no riacho, sozinha. As roupas largadas na margem, só de sutiã preto e uma calcinha pequena, fina, que parecia um pecado só de olhar. Anya mergulhava e voltava para a superfície, a água escorrendo pelo corpo como se desenhasse cada curva perfeita.
Porra… aí você me quebra.
Eu fiquei parado na entrada da trilha, encostado no tronco de uma árvore. As mãos enterradas nos bolsos, mas nem isso me ajudava a controlar o que estava rolando dentro de mim. Os cabelos dela, longos e pretos, grudavam na pele molhada, escorrendo pelas costas como uma cascata. Cada movimento parecia coreografado e ensaiado, feito para deixar qualquer homem maluco.
Os ombros, a curva do quadril largo, o jeito como a luz do fim de tarde dançava sobre sua pele... Era demais. Não tinha como não reagir. Meu corpo estava tenso, cada músculo reclamando, ardendo, o sangue correndo mais rápido do que deveria. O pau dentro da calça parecia um ferro quente, um lembrete do quanto ela me afetava.
Mas não era só isso. Não era só desejo. Era o jeito que Anya carregava o mundo nos ombros e, ainda assim, parecia tão... livre ali, na água. Não sei se isso era realmente bom, pois uma pessoa que carrega tanto peso consegue disfarçar tão bem… bom… talvez seja o jeito dela de se proteger. Mas, de que? Não sei o que era, não sei por que dei isso a ela, mas Anya, mesmo sem saber, tinha o controle completo sobre mim. Não era só um cara olhando para uma mulher bonita. Era muito mais do que isso. Ela era tudo.
Ainda assim, fiquei ali parado, observando de longe, porque era o que ela precisava: espaço. Mesmo que minha vontade fosse entrar na água, atravessar o riacho e mostrar para ela o quanto eu estava ali para ela e por ela, o quanto eu era dela, mesmo que ela não soubesse disso ainda.
Não sei quando, como ou por que. Talvez fosse toda essa merda de apocalipse, o fim do mundo batendo à porta, mas, em algum ponto daquela corrida insana pela sobrevivência, Anya tinha entrado no meu sistema. Invadido tudo. Não sobrava mais espaço para porra nenhuma. Só ela.
Dia e noite, cada segundo. Minha cabeça jogava o rosto dela para todo lado — o jeito que ela me olhava, aquela boca, aquele sorriso, o som da voz dela que ficava ecoando na minha mente como se fosse algum tipo de maldição.
Jesus Cristo. Eu tava pirando de vez.
Anya mergulhou de novo. Fiquei ali, encostado na árvore, observando o jeito como o corpo dela desaparecia na água, ansioso como um idiota. Sabia que ela ia voltar, jogar aquele cabelo molhado para trás e me arrancar o fôlego mais uma vez.
Mas ela não voltou.
Só ficou o silêncio. O som das pequenas ondas se quebrando na parede de pedra e na margem do riacho, alguns passarinhos cantando ao longe, e nada de Anya.
Desencostei da árvore, com as mãos saindo dos bolsos. O coração batia tão rápido que quase podia sentir a pulsação na garganta.
Anda, Anya. Volta logo. Por favor, volta.
Um segundo. Dez. Vinte. Um minuto. Não sei. Só sei que ela sumiu. Afundou no rio e não voltou mais.
— Porra! — Minha voz saiu alta, praticamente gritei, enquanto arrancava a camiseta. Forcei as botas com os pés, jogando-as de qualquer jeito, e pulei na água como um louco. O choque do frio gelado rasgou minha pele quente, mas nem senti; não importava.
Olhos abertos, cabeça virando de um lado para o outro, o coração batendo tão alto que parecia explodir dentro do meu crânio.
Cadê você, Anya?
Bati os braços e as pernas, nadando com tudo para o fundo. Meu corpo ficou dolorido, os músculos queimando, pedindo por uma trégua; o ar começava a faltar, mas nada disso importava. Quando virei na outra direção, dei de cara com ela.
Seu corpo flutuava inerte, o cabelo negro espalhado ao redor como um maldito manto de seda. Os braços e as pernas obedeciam ao fluxo da água, sem força própria.
Não… não, porra, não!
Avancei, movendo os braços como um louco. Envolvi seu corpo gelado e a puxei para a superfície. O ar rasgou meus pulmões quando emergi, mas isso não significava nada. Porra! Mas que caralho! Ela não se mexia…
— Anya… — Minha voz saiu fraca, tremida. — Não faz isso comigo.
Com esforço, nadei até a margem, puxando-a comigo. Meus braços estavam exaustos. Coloquei-a no chão com cuidado, os joelhos afundando na terra úmida, gotas de água escorriam do meu cabelo e rosto, se desprendiam da linha do meu maxilar e pingavam sobre ela e sobre a terra.
Me inclinei sobre Anya, afastando o cabelo grudado em seu rosto.
— Droga…
Apoiei meu ouvido em seu peito. Nada. Nenhum som.
— Merda, merda, merda! — Minha voz ecoou pelas árvores.
Comecei a massagem cardíaca, intercalando com a respiração boca a boca. Contava mentalmente.
1, 2, 3… nada.
De novo.
1, 2, 3… ainda nada.
Minha testa encostou na dela, minhas mãos tremiam. Eu fechei os olhos com força e soltei um suspiro trêmulo. Eu nunca fui o tipo de cara que rezava. Não acreditava, nem desacreditava, mas… Rick era. Anya também. Talvez Deus ouvisse só desta vez, só por causa deles.
— Por favor… por favor… — sussurrei, a voz engasgada. — Ela não pode partir. Ela não pode.
Minha garganta queimava, e minha mente estava em um turbilhão. Ela era jovem demais, forte demais. E eu… eu não conseguia imaginar isso. Viver sem ela.
Não sei se foi Deus, não sei se foi o diabo. Provavelmente nenhum dos dois. Foda-se também.
Anya começou a tossir, colocando água para fora. Segurei sua cabeça e virei seu rosto para o lado para não acabar engasgando com o próprio líquido. Quando terminou, limpou a boca com o dorso da mão e piscou algumas vezes, desnorteada, com os olhos dela desesperados encontrando os meus. Eu estava igual. Afoito, aflito.
Inclinei-me mais perto, segurando-a firme com uma mão enquanto a outra acariciava sua bochecha. Ela agarrou meus braços com tanta força que quase senti as unhas rasgarem minha pele.
— Me deu um susto daqueles, sua malditinha.
— Eu… eu me afoguei? — A voz dela saiu fraca, entre tosses e respirações rápidas.
— Eu estava aqui, te observando, tomando conta de você, quando vi que não subiu mais. Pulei na hora para te tirar de lá. Céus, Anya, pensei que tivesse te perdido!
— Não foi por mal. Eu mergulhei fundo, bati a cabeça numa pedra e… não lembro de mais nada.
Tombei o rosto dela com cuidado e empurrei os cabelos para trás. Foi aí que vi: um pequeno corte no alto da cabeça, o sangue misturado com a água que ainda escorria. Caramba. Eu estava tão desesperado que nem tinha reparado.
— Vem, vou te levar para o trailer do Dale. A gente limpa isso e vê se precisa de ponto.
— Shane, espera…
— O que foi? Tem mais algum machucado?
— Não, eu só… — Anya hesitou, os olhos cheios de algo que eu não conseguia decifrar, a respiração dela ficando mais rápida.
Sua mão subiu até meu rosto, os dedos trêmulos, decididos, me puxando para mais perto.
A distância entre nós desapareceu quando seus lábios encontraram os meus no meio do caminho. Não foi um toque tímido ou hesitante. Foi fome, urgência e algo tão insano que parecia explodir no ar ao nosso redor.
E eu explodi junto. Ah, porra, e como explodi!
Foi alucinante.
Os lábios dela... macios, gostosos pra caralho, estavam molhados e frios pela água do riacho, mas quentes contra os meus, como uma febre que queimava em ondas. Não era só um beijo. Era um incêndio, um colapso. Eu não devia — cacete, eu sabia que não devia. Mas, no momento em que senti sua boca, todas as desculpas e razões foram pro inferno.
Minha mão encontrou sua cintura, agarrando com força, os dedos escorregando contra o tecido molhado da lateral da sua calcinha até sentirem a curva da sua pele por baixo. A outra subiu lentamente pelo seu ombro, a pele arrepiada sob minha palma, até alcançar sua nuca. Ali, segurei seus cabelos, embrenhando os dedos com um aperto firme.
Inclinei a cabeça, aprofundando o beijo, e foi como cair de um penhasco sem me importar com o impacto. Minha língua deslizou contra a dela, e eu chupei com uma intensidade que vinha de cada maldita vez que reprimi o que sentia, de cada maldita vez que tive que me controlar para não pegar aquela garota, jogar no meu ombro e tomá-la para mim. A textura da sua boca era pura perdição. Seu gosto era uma mistura de água doce e algo cru; visceral, me deixava fora de controle.
Anya arfou contra meus lábios quando mordi de leve seu lábio inferior, e o som reverberou direto pelo meu corpo, cada músculo tenso como uma corda prestes a estourar. Suas unhas cravaram ainda mais fundo nos meus braços, e o choque de dor misturado ao prazer me fez gemer rouco, abafado pelo beijo que não parecia ter fim.
Minha respiração ficou pesada, ofegante, misturada à dela. Cada ar que ela puxava parecia arrancado diretamente do meu peito, dos meus pulmões. Meu corpo inteiro reagiu, queimando como o próprio fogo do inferno, sem espaço para dúvidas ou hesitação. O tecido molhado da minha calça parecia uma prisão torturante enquanto meu pau latejava, rígido, pulsando com cada mínimo movimento que aquela malditinha fazia.
O mundo ao nosso redor desapareceu, e eu estava pouco me importando se alguém podia aparecer ali e ver. Só existíamos nós dois, a água escorrendo, o calor crescente, o caos de um desejo tão violento quanto as coisas que sentíamos um pelo outro.
Anya se ergueu levemente e pressionou o corpo ainda mais contra o meu, os seios fartos e empinados encostando no meu peito. Foi aí que eu senti o restinho do meu controle ruir como areia entre os dedos.
Nada mais importava. Nem o momento, nem o lugar. Só ela. E aquele desejo que consumia tudo, que devastava, arrastava a gente e nos jogava em um redemoinho de alucinações e luxúria.
Nós nos afastamos, mas foi apenas o suficiente para que nossos olhares se encontrassem e dissessem tudo o que as palavras não podiam. Os olhos de Anya estavam escuros, dilatados, uma tempestade que parecia refletir a minha. Tudo nela me consumia, me puxava para um lugar onde nada além de nós dois existia ou importava.
Minha mão ainda estava firme em sua cintura, o calor da pele dela queimando a minha palma. A outra continuava em sua nuca, os dedos enredados nos cabelos úmidos, mantendo-a firme e presa a mim.
Anya ainda estava deitada na terra, o corpo tremendo levemente. Era como se estivéssemos respirando o mesmo ar, vivendo o mesmo momento, fundidos de um jeito que não dava mais para separar. E não queríamos nos separar; dava para ver, dava para sentir.
Meu peito ardia, como se cada batida do coração fosse uma explosão prestes a me destruir. A garganta estava seca e o ar parecia não chegar aos pulmões. Meu controle? Não existia mais. Não com Anya me olhando desse jeito, como se eu fosse a única coisa que importasse no mundo. Ninguém nunca tinha olhado assim para mim.
Eu era dela, só dela.
— Anya…
— Shane… — Sua voz era quase um sussurro. — Eu quero dormir na sua barraca hoje. Com você. Na sua cama. Nós dois juntos… nus, fodendo até o dia amanhecer.
Suas palavras não eram um convite, eram uma ordem! Mas o que me destruiu de vez foi o jeito como eu estava cheio de vontade de obedecer a cada uma delas, com tanta fome e tanta força quanto ela gostaria de ser fodida.
Acho que ri, mas foi um som baixo, carregado de um tom grave, mais de alívio e incredulidade do que de humor.
— Anya… — Apertei sua cintura com mais força, meus dedos traçando círculos lentos e possessivos. — Se não for na minha barraca, vai ser na sua. Ou aqui mesmo, a céu aberto, não importa. Desde que eu seja seu e você seja minha. A noite toda, até o amanhecer.
Por um instante, o mundo inteiro parou. Congelado, como se todos fossem obrigados a respeitar aquilo que existia entre nós dois.
A tensão entre nós era palpável, quase um terceiro ser.
Nossas respirações eram uma só, entrecortadas, e eu não conseguia desviar o olhar dos olhos dela. O desejo era um animal selvagem no meu peito, mas, por trás disso, havia algo mais, algo que eu não sabia explicar e que me assustava tanto quanto me atraía. Mas era forte pra caralho e crescia a cada segundo, tomando proporções que não davam para voltar atrás; já era, estava lá, pulsando dentro de mim junto do meu sangue.
Anya ergueu a mão e tocou meu rosto de novo, os dedos trêmulos percorrendo minha mandíbula como se quisessem me memorizar.
E então, como se aquele momento não pudesse suportar mais palavras ou toques, ela apenas sorriu. Foi um sorriso pequeno, mas cheio de significado, um desafio silencioso e uma rendição ao mesmo tempo.
Eu sabia que ali, naquele instante, não era o fim. Era o começo de algo muito maior, muito mais intenso.
— Então, o que está esperando, Shane?
O som do meu nome rolando pelos seus lábios foi a última gota. O resto do mundo poderia queimar — eu já estava queimando por ela.
🍫🌶《▪︎ Oi oi meus beberes! como vcs estao? mais um capítulo bem gostosinho no azeite pra vcs.
🍫🌶《▪︎ Finalmente o beijoooooooooooo mas o hot fica pro próximo, se nao isso aqui ia ficar gigantesco. E se preparem, o próximo capítulo sera INTEIRO DE HOT! Então, se vcs sumirem e nao comentarem, vai apanhar na bundinha.
🍫🌶 《▪︎ Quase que fico sem postar essa semana, tava escrevendo e do nada bateu um bloqueio 😭 quase chorei. mas consegui terminar, foi uma semana bem foda por aqui, talvez seja isso.
🍫🌶《▪︎ Espero que gostem! Não esqueçam dos meus comentários e dos votos. Aproveitem e me digam o que acharam do beijo.
🍫🌶《▪︎ Nao sei se ja disse isso, mas NÃO SE PRENDAM A CRONOLÓGICA DA SERIE. vou mudar tudo, então e tudo novo por aqui.
(me sigam no tiktok mores o @ de la é autora.hana.grimes)
Beijos mama Hana 🫦🫶🏻
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