7• DAMAS NÃO DEVERIAM SUJAR SUAS MÃOS
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"Todos os meus lobos começam a uivar
Acorde-me, a hora é agora
Oh
você consegue ouvir o rufar?
Oh
Há uma revolução vindo"
- Revolution, The Score.
O
dia já começou agitado. Assim que acordamos, novamente em pares, saímos para conhecer um pouco mais desse reino.
Passando pelas ruelas de Davhar em nenhum momento recebi olhares suspeitos, o disfarce estava funcionando bem por enquanto, mas não podemos demorar muito por aqui e correr o risco de dar de cara com algum soldado patrulhando as ruas. Se bem que eram abarrotadas de gente andando por todos os lados, tornando assim mais difícil alguém me ver.
Ontem à noite conversamos muito sobre o que faríamos a seguir, se seria possível ficar mais algumas noites na hospedagem ou voltar à floresta. As duas opções têm sua parte ruim, na floresta há perigos que nem se pode imaginar segundo as lendas sobre o lugar. Davhar é um pequeno reino, o que não tira a possibilidade de terem feito uma aliança com o novo rei. Às vezes nos lugares mais simples é que se encontra um poder maior.
O plano de James era bom. Mas no caminho podemos acabar enfrentando alguns empecilhos. Primeiro temos que chegar em um reino com recursos suficientes para nos ajudar, aí vem o primeiro empecilho, o que irão querer em troca? Poderei dar o que eles pedirem?
Segunda parte, armar os soldados a altura da guerra, empecilho, precisamos do Dr. Julian Foster e não sabemos onde está sua lealdade.
Terceira parte, digamos que eu tenha sucesso nas partes anteriores, estou perto de ser coroada, mas não posso antes que tenha me casado, uma rainha não pode governar sozinha, precisa de um rei. Empecilho, terei de arranjar um marido, dependendo de sua nacionalidade perderei todo o poder de comandar meu próprio reino.
Não tenho tantas opções à disposição. Era isso ou perder tudo que minha família construiu.
O céu está nublado e não tem previsão nenhuma que o sol apareça tão cedo, mesmo nessa condição o dia segue abafado e seco devido a tanta poluição vinda das fábricas, tem muitas delas por aqui.
Caminho lentamente pelas ruas de paralelepípedo observando as barracas de comércios disponíveis em cada lado, Philip me acompanha em seu ritmo lento, às vezes para e olha algum produto, mas logo continua.
Por hora decidimos que seria tranquilo ficar por aqui, não seria nada ruim dormir em uma cama por mais uma noite.
Todos saímos da hospedagem em busca de conseguir mais suprimentos para seguirmos viagem, vamos precisar de mais armas se possível. Alguns sacos de dormir para acampamento já que barracas seriam um peso extra para carregamos.
Ficaremos por mais um dia a fim de andar pelo Reino e tentar descobrir mais algumas informações sutilmente sem precisar perguntar diretamente a ninguém. Não posso usar meu celular nem o anel pois seria muito suspeito, aqui não há essa tecnologia, pelo que pude ver só usam rádios para obter notícias e se comunicar entre os reinos, um pouco ultrapassado em minha opinião.
Paramos em uma pequena loja onde vendiam barracas e coisas para acampamento, por algum motivo estava bem vazia sem muitos compradores em potencial.
Havia equipamentos de segurança para escalada, cordas e até roupas apropriadas para tal. O lugar parecia bem decaído em vista as outras espalhadas por todo o centro. Paredes descascando e sujas com o tempo, teia de aranha por todo o teto me causando arrepios, não sou fã de criaturas de oito patas e em alguns casos peludas. Evito olhar para cima enquanto vou até o balcão onde o vendedor se encontra tranquilamente sentada em uma cadeira velha de balanço, ele claramente parece surpreso ao nos ver, provavelmente não estava esperando por clientes.
- Bom dia senhor! Nós queremos comprar alguns sacos de dormir. - Philip fala fazendo com que o vendedor se levantasse relutante vindo até nós.
- Não estão pensando em acampar, estão? - O senhor pergunta um tanto perplexo com o pedido.
- Na ver... - começo, mas paro quando me lembro de guardar essas informações.
Procuro o olhar de Philip em busca de ajuda.
- Não senhor. Vamos usar como uma cama provisória.
O senhor nos encarou por um instante, coça seu cabelo branco que começa a ficar ralo. Ele não parece acreditar na resposta de Philip, mas ainda assim se vira nos deixando a sós e entra numa porta que havia atrás dele.
Philip me lança um olhar que entendo na hora. Eu quase estraguei tudo dizendo a verdade. Foi por pouco que não entreguei nossa verdadeira intenção.
No momento seguinte ele volta com vários sacos nas mãos e joga sobre o balcão dizendo que pela pequena demanda está custando mais caro que antes. Não temos escolha e compramos mesmo assim. Ainda tínhamos uma barraca, então eu poderia dividi-la com Camilla e compraria apenas três sacos de dormir para os garotos, precisávamos economizar os poucos besantes que nos restam. James estava com a maior parte para conseguir armas para nós. E ainda precisávamos comer algo.
Antes que fossemos embora o senhor segurou meu braço.
- Não sei o que pretender fazer na floresta, mas ouçam uma coisa. - Ele para e olha em volta se certificando de que ninguém os ouvisse. - Não deveriam acampar num momento como esse.
Puxo meu braço com força e saímos da loja.
O que ele quis dizer com isso. Em um momento como esse, o que ele sabe?
Estávamos a mais de uma semana na floresta sem notícia de fora. O que estava circulando por aí? O que há de tão ruim que não sabemos?
Sei de lendas que poderiam arrepiar qualquer um, até o mais corajoso dos homens. Mas são apenas lendas, certo?
Relembro o que passei naquele momento no lago, os gritos, as vozes e a mão fria me tocando, fico trêmula somente de lembrar. Ou o dia em que fugimos de uma criatura que nem ao menos conseguimos ver o que era, será que estão ligados de alguma forma?
Estávamos a caminho do local onde nos hospedamos para deixar nossas compras quando nos demos contra uma multidão seguindo para a praça do centro. Todos seguiam para o mesmo lugar, acabamos sendo empurrados com eles não tendo outro caminho a seguir.
As pessoas caminhavam atordoadas e sussurrando entre si, coisas que não conseguia ouvir, mas não parecia nada bom.
Philip e eu nos entreolhamos e seguimos eles.
De longe avistei um homem de meia idade vestindo um aketon surrado, mas não continha a insígnia de Tethundra, não sei de onde poderia ser, mas não estaria atrás de nós. Havia duas pessoas posicionadas em cada lado dele portando rifles em mãos, estavam em pé em cima de um banco e falavam ferozmente com a multidão que se instalou no local à sua volta. No começo não entendi o que falava pelos gritos das pessoas. Ele para esperando o público se aquietar e então levanta o tom de voz.
- SENHORES, PEGUEM SUAS ESPINGARDAS E SE PROTEJAM! A BESTA ESTÁ ENTRE NÓS NOVAMENTE!
Alguns gritavam em resposta. Outros erguiam os punhos e grunhiam como bárbaros, parece até que voltamos à era medieval.
- NÃO ESPEREM ATÉ QUE INVADA NOSSO REINO. VÃO PARA A FLORESTA! CAÇEM ELE E O MATEM!
Philip me olha com uma expressão confusa. Eu também não estou compreendendo, do que eles estão falando? Que besta...
E então a fixa cai, as lendas, as histórias sobre a criatura que vive na floresta desde os primórdios. Eu os conhecia como dragões. Vez ou outra apareciam nas histórias que minha mãe nos contava, eram criaturas magníficas, com poderes inimagináveis e tão fortes que ninguém nunca conseguiu derrotá-los. Mas dizia que nos últimos anos eles haviam desaparecido, não tiveram mais relatos de seu aparecimento. O que os fez despertar?
Não ficamos para ouvir mais com medo de que alguém notasse que não éramos moradores daquele reino, não estávamos agindo como eles sendo grotescos ou gritando como loucos.
Eu realmente não sei como fazem para se comunicar a longa distância por aqui, preciso urgente falar com James, mas não posso correr o risco de mostrar meu anel ou abrir um holograma com ele.
Desviamos do caminho que seguiríamos anteriormente para um beco mais afastado das ruelas repleta de pessoas ainda ouvindo as palavras daquele homem, ele não ter porte de soldado, fico imaginando o motivo de estar usando o aketon, ou onde o conseguiu.
Adentramos em uma curva brusca à direita de um café isolado na esquina. O beco estava vazio e não tinha uma saída, era fechado por um muro alto e havia várias lixeiras sujas e cheias até a tampa derramando para fora, o que causou um mal cheiro tremendo naquele lugar pequeno e abafado. Andamos até não ter visão da rua onde as pessoas circulavam.
- Do que ele falava? - Philip pergunta atordoado.
- Lembra das histórias?
Ele balança a cabeça em discordância ainda confuso com o que ouvimos.
- Dragões. - Digo por fim e ele entende. De repente algo vem à minha mente. O ataque da criatura. Era um deles.
Como não pude me lembrar naquele momento? Está tão óbvio agora que não vejo outra alternativa que descreva melhor aquela coisa que nos seguiu, isso explica eu ter imaginado que ele voava, só não explica o fato de não termos visto ele. Isso foi novo.
- Então o que seguiu a gente... - ele diz pensativo.
Assinto em resposta.
Preciso contatar James. Saber se ele ouviu algo do gênero por onde andava.
Não estamos visíveis escondidos sobre esse beco que consegue ser escuro até na luz do dia, olho para o alto e entendo o motivo. Além de ser entre dois prédios altos, o céu fechou ainda mais, uma nuvem escura se aproximava rapidamente junto de outras tampando toda a luz disponível.
Pego o celular e mando um recado curto a James.
Temos mais informações. Nos encontramos no café.
Digito rápido e mando a localização, compartilho também para Camilla e Harry como uma garantia de que pelo menos um deles veja.
Chamo Philip que está perdido em seus pensamentos e seguimos para o café que havia ali na esquina, pouco movimentado.
Passo pela porta procurando uma mesa vazia, tem algumas mulheres limpando o balcão e outras servindo café nas mesas. Sinto um aroma de pães assando, meu estômago ronca em resposta, vou até o caixa e peço dois cafés acompanhado de dois pãezinhos de creme. Seguimos para a mesa mais isolada do lugar em frente ao banheiro. Assim que nos acomodamos entendi o motivo de estar isolada, acho que precisam chamar o encanador.
O sabor do pão compensa o local de péssima qualidade. O café também não está nada mal, talvez seja por eu estar faminta.
Um grupo de pessoas entram conversando animados e ocupam uma mesa.
O tom de voz deles eram altos o suficiente para que ouvíssemos cada palavra que falavam.
O homem ria como se tivessem lhe contado uma piada, já a mulher ao seu lado não tinha uma expressão nada boa, parecia temer algo.
- Johnny me escuta cara! Se a gente pegar aquela besta ficaremos ricos. -Ele ria ao dizer isso para o jovem que estava com eles, parecia gostar da ideia.
- Você é maluco e vai morrer se entrar naquela floresta. - Um senhor de cabelos brancos e expressão dura os alerta.
- E você é um velho covarde! - O cara ao lado da mulher o encarava.
O senhor falava num tom mais baixo que os demais, quase não pude ouvir o que dizia a eles. Discretamente me levanto com a xícara na mão e vou até o balcão pedir mais, a fim de ouvir a conversa daquele grupo peculiar.
- Deveria acreditar em mim. Eu vi com meus próprios olhos e digo que foi sorte eu ainda estar vivo para lhe contar isso seu brutamontes.
O cara bate com força na mesa atraindo a atenção das pessoas presentes ali.
- Quero ver me impedir! - Ele o desafia conquistando aprovação do mais jovem e deixando a mulher cada vez mais nervosa com a situação.
- Faça por sua conta e risco. Mas te aviso, não voltará com vida!
- Qual é vovô! É apenas um dragão, eu consigo um bom armamento pra gente, relaxa vai dar certo. - O jovem dá uma piscada se sentindo muito confiante.
O senhor ri com gosto de seu neto. - Antes fosse somente isso meu filho! Não sabe que segredos aquela floresta esconde.
Volto para a mesa e vejo que meus amigos já estão todos lá, nenhum deles tem uma expressão boa no rosto, e não acho que seja seguro termos uma conversa naquele lugar.
Nos amontoamos no pequeno quarto da hospedagem, cada um preso em seus próprios pensamentos, atordoados com a conversa que ouvi no café.
Alguma coisa está por vir e será muito maior do que imaginávamos, totalmente fora dos nossos planos. O que faremos se a floresta não é nossa melhor opção de refúgio no momento?
Nós precisamos seguir em frente e não podemos ficar presos aqui após esses boatos. Ir de trem não é uma opção viável, tem muitos guardas patrulhando as linhas ferroviárias, sendo elas fazendo parte das invenções do Dr. Foster, tenho plena certeza de que serão os soldados de Tethundra a cuidar disso. Um risco desnecessário a se correr quando poderíamos seguir pela floresta, um caminho comprido, mas seguro e livre de guardas.
Eu não posso ser reconhecida, será meu fim.
- James, alguma sugestão? - Pergunto ansiosa por algo sólido em meio às terríveis notícias.
Todos buscam o olhar de James a procura de alguma esperança. Ele é o mais velho entre nós e passa um ar de proteção, que podemos contar com ele mesmo nas mais diversas situações que James dará seu jeito de escapar.
Ele balança a cabeça. - Nada além do que já havia planejado. - Nenhuma das opções são boas.
- Enfrentar a fera ou correr para os inimigos! - Philip fala preocupado. Ele também viu o desespero das pessoas vendo aquele soldado avisar, viu como elas reagiram quando souberam do ressurgimento. Ele conhece as lendas tão bem quanto eu e sabe que não somos capazes de enfrentá-lo.
- Se ela não foi reconhecida até agora, podemos arriscar uma viagem até Aquiles, daí em diante vamos pela floresta. - Harry sugere.
- Economizaríamos uma semana de caminhada e estaremos fora do alcance da fera. - Philip continua a linha de raciocínio.
- Pode dar certo. Mas precisamos de um plano B caso algo saia de controle. - James fala parecendo um pouco mais esperançoso.
Por algumas horas discutimos sobre qual seria a melhor opção caso fosse pega. O trem partiria da estação às 20h.
A noite já havia caído ao terminar de arrumar nossas coisas. James conseguiu mais algumas armas, cada um teria a sua para se defender caso fosse pego sozinho. Eu fiquei com as adagas em formato de lua, já me acostumei com o peso delas nas minhas mãos, coloco escondidas dentro do casaco de couro. Philip já tinha sua espada e Camila ficou com o revólver.
Harry era bom no arco e flecha, mas não seria nada sutil andar com isso por aqui, menos ainda em uma viagem de trem. Então basicamente preferiram pelas espadas, não muito chamando pelo fato de terem porte de soldado.
Em menos de 15 minutos estávamos prontos para partir. Saímos em pares assim como entramos para não deixar suspeitas.
Caminhamos a passos acelerados até a estação de trem, havia muitas pessoas querendo sair de Davhar após os boatos se espalharem. Isso nos dá uma vantagem, menos possibilidades de me virem no meio da multidão que seguia com pressa para os trens. Espero que haja espaço para todos.
As crianças choravam enquanto eram arrastadas pelas mães em direção à estação. Não queriam abandonar seu lar.
Em meio ao caos que se instalou perdi Philip de vista. Os outros estavam longe e não podia vê-los. Mas tudo bem, sabemos aonde ir e o que fazer, posso me virar sozinha. Respiro fundo e entro no meio da aglomeração em busca de comprar minha passagem. James foi inteligente ao distribuir os besantes a cada um de nós, como se tivesse previsto uma separação.
Esbarro em uma mulher que carregava um bebê nos braços, ele dormia tranquilamente mesmo com o barulho do local, não poderia ter mais de seis meses de vida, tão pequeno, tão inocente.
Avanço entre as pessoas, mas não consigo ver para onde estou indo devido ao número que aumentou. Fico na ponta dos pés a fim de ver melhor e avisto dois guardas em frente a entrada da estação, estão armados e usam o aketon. Aperto os olhos e foco no símbolo. Um pássaro com asas abertas, o símbolo da paz, insígnia de Tethundra.
Com dificuldade e discretamente levanto a mão como se fosse arrumar uma mecha do cabelo e mando uma mensagem de voz a Philip.
Soldados a postos na entrada.
Espero que ele ouça e me encontre, se eles me virem preciso sair bem rápido e com essa multidão não será nada fácil.
Repito a mensagem agora para James, mantê-lo informado era essencial. Descrevo o local onde estou exatamente para que saiba caso precise de ajuda.
Abaixo a cabeça e sigo as pessoas tentando não tropeçar em ninguém.
Todas essas pessoas desesperadas para saírem daqui, procurando um local seguro para seus filhos. Algo sensato a se fazer nessa situação, o contrário daquele homem no café, além de arriscar sua vida para caçar uma criatura de uma lenda, levaria seu filho consigo, mesmo com os alertas do mais velho e sábio senhor, um idiota que se acha forte o suficiente para derrotar um monstro mítico, certamente não ouviu as histórias.
As lembranças invadem minha mente, não consigo evitar ouvir o som da voz de minha mãe, sentada a beira da cama enquanto me contava as histórias dos seres mágicos que vivem por aí. Eu ficava fascinada por cada um deles e seus respectivos poderes, os dragões eram os preferidos de Philip, sabia cada poder atribuído e seus pontos fracos. Há muitas variedades dessas criaturas, o modo como ela nos contava era incrível, não eram os monstros, eles somente atacavam para se defender, se provocados. Algumas das criaturas mágicas até conseguiam domar os dragões.
Estou perto da entrada, quase passando pelos guardas que ficam um de cada lado. De repente começa uma briga no meio da aglomeração, as pessoas gritam e começam a empurrar umas às outras.
Philip, cadê você?
Mando outra mensagem a ele, mas sem sinal de resposta de nenhum deles, tenho que dar um jeito de passar pela bagunça que está acontecendo aqui. O caos toma conta quando cai uma chuva densa e fria seguida de trovões estrondosos.
Preciso passar por aquela porta. Ando um pouco abrindo espaço entre as pessoas. Um brutamontes enorme passa por mim com uma velocidade surreal me jogando contra um homem parado à minha esquerda. Caio em cima dele que me ajuda a levantar rapidamente, quando vou agradecer ele me encara, as gotas de chuva escorriam pelo meu rosto, estava suja e mancando após vários pés pisarem nos meus. Faço menção de continuar em frente, mas ele me impede, o encaro de volta e assim vejo que se trata do soldado. Ele segura meu pulso e me analisa por tempo demais, tento em vão me desvencilhar, mas seu aperto se torna mais firme e então suas sobrancelhas antes franzidas sobem num arco de surpresa.
A única coisa que penso é que ele me reconheceu.
- Você! - Ele suspira em um assovio irritante. - Deveria estar morta.
Puxo meu braço com força, mas ele logo agarra o outro. Minha respiração fica pesada, meus batimentos aceleram mais a cada segundo. Não posso ficar revivendo isso todas as vezes. Respiro fundo e com a mão direita livre enfio dentro do casaco em busca da adaga, puxo rapidamente e antes que o soldado veja o que faço, num golpe rápido que andei treinando enfio a lâmina na sua barriga. Ele arregala os olhos percebendo o que fiz e tenta puxar a espada para me atacar soltando meu braço, o que me dá a chance de pegar a outra adaga e perfurar seu peito.
Ele paralisa e me encara boquiaberto por ter sido acertado, não esperava que eu fosse tentar me defender. Grande erro.
Não vou ter tempo de sentir remorso pela sua morte, não quando foram capazes de nos trair por dinheiro e assassinar toda minha família a sangue frio. Foram covardes e não deixarei que me peguem, não está nos meus planos.
Puxo de volta minhas adagas e só posso imaginar que seja pior tirar pela sua expressão muda, e então ele cai de joelhos e logo após está estirado no meio das pessoas que nem viram aquilo acontecer, passam por cima de seu corpo como se não fosse nada. O único a dar falta foi seu amigo, o outro guarda, ele não viu meu rosto, não sabe quem sou, a única pessoa que o viu está morta. Não tenho do que temer.
- AQUELA GAROTA! PEGUEM ELA! - O guarda se deu conta do que havia acontecido com seu companheiro e mandou outros soldados atrás de mim.
Saio correndo na direção contrária. O ar queimando meus pulmões. A chuva densa caindo sobre minha pele e limpando o sangue que escorria das adagas, sangue do inimigo. Sinto que essa não será a última vez que faço isso.
Tento sair da multidão o mais depressa que minhas pernas aguentam.
Plano B.
Aviso James e corro até não poder ouvir o barulho das pessoas, até não ver ninguém andando pelas ruas, até não sentir medo de ser pega.
Meu pai não gostaria de me ver nesse estado. Já sei o que diria.
Isso não é aceitável.
As Damas não deveriam sujar suas mãos.
Desculpe pai, mas sua princesa não está mais aqui. Ela se foi junto com vocês naquele momento. Agora só resta a rainha que fará de tudo para ter seu trono de volta.
Eu mal posso acreditar que consegui fazer isso. Não sei exatamente qual foi o momento em que deixei de ser indefesa.
Sinto que sou capaz. Eu estou pronta para lutar pelo que é meu. E tenho sorte de ter amigos tão leais quanto esses, penso comigo ao ver eles aparecendo pela ruela escura, armas em punho, prontos para o que vier.
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(Imagem feita por mim em ia)
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PRÓXIMO CAPITULO EM
ANDAMENTO...
CONTINUEM POR AQUI,VALE A PENA.
O QUE ESTÃO ACHANDO DA HISTÓRIA ATÉ AGORA?
PS: DEIXA A ESTRELINHA ⭐
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