"Vermelho"

Se tinha alguém que estava determinado a ganhar aqueles jogos, esse alguém se chamava Anny! Ela estudava cada palavra difícil, desde o português até o latim. Fazia aulas de canto e ensaiava quase a toda hora. Na parte musical, existiam eliminatórias e categorias, e uma delas era composições originais, e ela tinha inspiração de sobra para escrever algo de qualidade.
Ela estava praticando piano na sala de música. Era sábado, então não tinha ninguém na escola. Pegou sua caderneta, a caneta e começou a trabalhar de novo na música para a competição. Parou depois de cinco minutos, colocou-a no lugar das partituras, tocou brevemente a abertura:

Sei bem,
O tempo está se esgotando para mim
Quero tudo ... mm mm ...
Quero tudo ... mm mm ...

Queria que parassem
Que não tentassem me desligar
Quero tudo ... mm mm ...
Quero tudo ... mm mm ...

Eu estou lutando-

- Não!!
Deu um soco nas teclas do piano, começou a chorar. Estava já a três dias encima da letra e quase nenhum progresso! Depois dos esportes, vinham soletração, gastronomia, dança e música. Ela tinha um prazo de somente dois meses para terminar a música e ensaiar! Não tinha nem o refrão ainda! "Que compositora horrível eu sou" pensou. Limpou as lágrimas, pegou a caderneta de novo e tentou arrumar o trecho:
- Quero tudo ... mm mm .../ Estou me equilibrando/ tentando chegar mais alto/ Penso que estou encurralada ..? Aaaaaaaaah!
Colocou a caderneta encima da cabeça, como se fosse um chapéu. Compor um música era mais difícil do que parecia! Leu tudo de novo:
- Parece que estou cercada/ Por palhaços e mentiras ...
- Mesmo que consiga o que quero ...
- Legal! Valeu!
Anotou uma palavra e arregalou os olhos. Levantou seu campo de visão para cima. Um garoto mascarado e com o corpo completamente coberto estava parado na porta:
- ............... AAAAAAAAH!!!
- Calma, espera ...!
Tarde demais, a menina já havia jogado a caderneta na cabeça dele, que se queixou:
- Jeito de tratar os que te ajudam!
- Desculpa, mas ... por que estava me espiando!!?
- Não estava, só vim para te ver.
- Me ... ver?
- Sim ... me senti muito mal pelo que a Bleed fez com você, e vim pedir desculpa por, primeiro, não ter feito nada, segundo, para te devolver isso ...
Tirou da capa um broche com uma flor-de-lótus, Anny perdeu o ar:
- M-meu broche!
- O Guy Diamante pegou antes ... de você-já-sabe e eu queria ... devolver ...
Estendeu o objeto, a menina catou da mão dele e pressionou contra o peito, aliviada:
- Desculpe, mas ... o que tem de tão especial nesse broche?
- Não é um simples broche, é o broche de namoro dos meus pais!
- Broche de namoro?
- Sim ... minha mãe adotou esse costume lobisomem. Quando um casal desse clã começa a namorar, a menina dá um broche de cabelo para o menino com a flor símbolo da família ... e a da minha é uma flor-de-lótus.
- E ... esse é o dos seus pais?
- É sim ... e é também a única lembrança que tenho deles ...
- Como assim?
Ela ficou em silêncio, seus olhos ficaram cristalinos:
- Quando eu tinha cento e oito anos, meus pais me levaram para um lago ... onde eles se conheceram ... mas alguns vampiros acharam que ... eram poltergeist's ... e atiraram ... com balas de prata ...
Lágrimas escorreram no rosto dela. O menino sentou do lado dela, lançando um olhar compreensivo:
- Sinto muito ...
- Tudo bem ... - enxugou as lágrimas - ... isso só me fortalece, e aqui somos uma enorme família, e ainda tenho meu primo Branch, minha avó e minha irmãzinha María.
- Tenho inveja ... - murmurou
- Inveja do que? De ser marginalizado e não ser levado a sério?
- De poder confiar piamente que o seu clã vai te acolher calorosamente ... é cada um por si lá na Presas ...
- Você é um vampiro?
Ele ficou em silêncio:
- S-si-m ... mas ... não sou como os outros ...
- Como assim?
- Não concordo com a maneira que tratam o seu clã ... e acredito que não roubaram a porcaria da terra natal!
- Como pode ter certeza?
Olhou para todos os lados, como se alguém pudesse surgir das sombras:
- Tentando provar que estavam errados, numa noite de domingo, fui até onde Vlad. Pepe guarda aquilo ... tirei todo o conteúdo e analisei no microvampospio, que serve para pesquisa de artefatos tradicionais dos clãs e ...
- O que foi?
- Aquela não era a terra natal!
Ela arregalou os olhos:
- N-não?!
- Não, eram ... as cinzas de ouro.
Virou, encarando o nada, sem acreditar no que ouviu:
- As cinzas de ouro ... com o poder de curar lobisomens ... o símbolo do clã ... nas mãos do Vlad. Pepe ... Branch estava certo ...
- Certo sobre o que?
Hesitou um momento, fazendo movimentos de escalas do piano com os dedos:
- Jura por tudo que é mais sagrado que não vai contar para absolutamente NINGUÉM?
- Juro!
Anny narrou com detalhes. Quando acabou, o menino estava muito assombrado:
- ...... Vlad. Pepe ... é um humano!!
- Entendeu o motivo de ele querer provar para, a Bleed e todo o seu clã, que somos bons?
- Sim, mas ... ele ... REALMENTE gosta dela?
Assentiu com a cabeça:
- Mas esconde no fundo da alma, primero, pela inimizade dos nossos clãs, segundo, pelo que ela fez/faz comigo ... mas tem uma queda por ela desde que tinha ... 100 anos mais ou menos.
- Draki Mami ... ele deve de ser o melhor primo.
- É sim ... mas se tem uma coisa ruim nele é os ciúmes!
Riram juntos, pararam para olharem diretamente nos olhos:
- Acho ... que tenho que ir ...
- Espera! Me encontra amanhã de noite no lago da Lua Cheia?
- Claro ... até amanhã ... Lótus ...
- Como ... posso te chamar?
- "Vermelho".
Saiu da sala de música, Anny a encarou por dois minutos inteiros. Sacudiu a cabeça, se colocando a compor aquela música novamente.

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