Sete



Corremos uma em direção a outra pelo corredor, Natalié, vinha de um lado e eu de outro. Correr com aquele vestido e aqueles sapatos era um pouco difícil. Quando nos encontramos demos um abraço forte, como se não nos víssemos a muito tempo.

_ Eu estava torcendo para chegar no meu quarto e encontrar você _ Disse, com um semblante um pouco decepcionado. Minha amiga me olhou do mesmo jeito _ Mas me diga, quem é a garota sortuda que terá a oportunidade de ter você ajudando ela?

Natalié, revirou os olhos dramaticamente. Não dando muito crédito as minhas palavras.

_ O nome dela é Prissy... senhorita Theodoro _ Contou naturalmente, se esforçando para lembrar o sobrenome.

_ Ah _  Soltei, meio sem graça, me lembrando que era a mesma garota que havia feito um comentário maldoso sobre o meu corpo.

_ O quê, foi? Qual o problema? _ Natalié, indagou, assumindo traços mais sérios no rosto.

Balancei a cabeça

_ Não, não é nada _ Menti, entre um sorrisinho falso e sem mostrar os dentes. Não queria preocupar a minha amiga, então achei melhor não dizer nada de negativo sobre Prissy.

_ Tenho que voltar para o quarto agora mesmo. Antes que a senhorita Theodoro, comece a atirar os seus sapatos contra a parede. Ela parece ser um pouquinho estressada _ Natalié, comentou com um tom de voz baixo. O suficiente para nós duas ouvirmos. De certa forma, já previa que a senhorita Prissy, tinha um temperamento forte e difícil de lidar.

Deixei que minha melhor amiga voltasse para o seu trabalho e eu fui para o meu quarto. Minhas criadas, Fiona, Mariah e Jade estavam a minha espera para que pudessem preparar o meu banho.

Jade, era a criada mais nova entre elas e tudo indicava que ainda estava em treinamento. As duas criadas tinham que ficar ditando para ela o que deveria fazer. Jade, era um tanto teimosa. Queria fazer tudo do seu próprio jeito e ignorar os comandos de Fiona, que era a chefe entre elas.

As 14 horas, todas as selecionadas foram para o salão das mulheres para o início de nossas aulas. Sim, durante a seleção teríamos aulas. A nossa tutora era senhorita Margareth Smith.

Assim que me viu, sentada próxima a grande janela, Morgan veio rapidamente se sentar ao meu lado. Ela olhou para mim e me cumprimentou com um sorriso largo. Para ela já éramos bem próximas.

Todas as garotas estavam conversando entre elas, até a nossa tutora surgir no salão das mulheres.
Margareth Smith, deveria ser uma mulher de cinquenta anos. Mas estava bem conservada. Ela andava com elegância e postura.  Seu visual combinava mesmo com o seu trabalho; seu cabelo estava preso em um tipo de coque e ela estava  usando um conjunto de blaiser com uma saia lápis da cor nude e nas mãos estava segurando uma pasta.

Quando parou na nossa frente, todas ficaram em silêncio e olharam para ela.

_ Teremos aulas de etiqueta três vezes por semana e dois dias na semana vamos praticar canto, dança e piano. _ Margareth, explicou depois das apresentações.

Franzi as sobrancelhas e corri os olhos pelas outras selecionadas. Porém, todas elas permaneciam com um semblante impassível e despreocupado. Pelo visto só eu me incomodará com aquelas informações que me deixaram com uma pulga atrás da orelha.

_ Muito bem, alguma dúvida? _ A tutora perguntou, fechando a pasta.

As outras selecionadas balançaram a cabeça que não e apenas eu levantei a mão um pouco receosa, enquanto mordia os lábios inferiores. Os olhares todos se voltaram para mim.

_ Pois não, senhorita?

_  E quando será aplicado as outras matérias?

_ Outras matérias? _ Margareth, indagou desentendida, um burburinho também começou a correr entre as outras garotas.

_ Sim, quero dizer? Em quais dias da semana estudaremos história, geografia... assuntos importantes, se é que me entende! Como por exemplo protocolos e leis... _ Expliquei, entre um sorrisinho forçado.

Daí a tutora teve uma reação inesperada, ela soltou uma gargalhada. Senti minhas bochechas corarem e engoli em seco, me perguntando se havia dito algo realmente engraçado.

_ Querida, vocês estão aqui para receberem treinamento de como uma princesa de Illéa deve se comportar e não para se prepararem para entrarem em uma universidade. Deixe que só o rei e o príncipe se preocupem com esses assuntos burocráticos! _ Margareth, explicou com um leve tom de ironia.

Fiz uma cara feia, enquanto tentava entender suas palavras que para mim soaram um tanto contraditoras.

_ O que eu quero dizer é que se alguma de vocês se tornarem princesas garanto que não terão que se preocupar com assuntos políticos ou de estado. Tudo o que realmente terão que se preocupar é com a sua imagem ao lado do príncipe _ Margareth, esclareceu como se lesse o meu pensamento.

_ O que exatamente uma princesa faz? _ Ingrid, indagou de repente, intrigada. Tudo indicava que aquela  era a primeira vez que estava mesmo interessada em saber qual o papel de uma princesa.

Aquela se tornou a dúvida de todas as outras selecionadas, que concordaram com a cabeça e se viraram para a tutora.

_ Bem, uma princesa tem muitas atividades interessantes. Como por exemplo, organizar bailes e outras recepções, participar de palestras... ah e também tem as visitas a eventos de caridade. Enfim, coisas desse tipo!

Margareth, contava aquilo como uma vantagem ou um privilégio. A maioria achou bem interessante e ficaram até empolgadas com as possibilidades de serem anfitriãs de grandes festividades. Mas para mim aquilo soou entediante. Basicamente, o papel de uma princesa era só aparecer, marcar presença e só isso.

Já tinha lido muitos livros de época, onde as possibilidades para as mulheres eram bem limitadas. Tudo o que precisavam fazer era se casar e se tornarem um enfeite da sociedade. Nada de educação superior para elas. Principalmente as rainhas não tinham voz. Pelo visto, Illéa estava aderindo a este estilo de vida novamente.


_ Não acha isso frustrante? Pensei que iríamos aprender como se governa um país ao invés de só aprender a usar uma talher do jeito adequado! _ Desabafei, impaciente, quando eu e Morgan estávamos saindo juntas do salão das mulheres. Ela riu da minha indignação.

_ Você é um pouco engraçada

_ Você não está incomoda? _ Questionei, curiosa, me virando para a garota.

_ Não, na verdade não. São assim que as coisas funcionam, então por mim tudo bem. Além do mais acho que a senhorita Margareth tem razão, vamos deixar que só o príncipe tome conta desses assuntos mais sérios sobre governo. Tenho certeza que saberá cuidar disso melhor do que todas nós.

Encarei Morgan Alvis, decepcionada ao descobrir que tínhamos um pensamento completamente diferente uma da outra. E eu não concordava nenhum pouco com ela.

Se me tornasse uma princesa um dia, gostaria que Joshua Schreave solicitasse a minha opinião e que as minhas ideias fossem consideradas. Ou seja, gostaria de poder ajudá-lo a governar a nação de Illéa ao invés de só planejar bailes inúteis.

Morgan Alvis, já pensava totalmente ao contrário.Para ela tudo bem se o seu papel fosse só aparecer ao lado do príncipe.


Depois de me despedir de Morgan, fui atrás da minha mãe, que como sempre estava em um quarto. Dessa vez  estava trabalhando como criada para a senhorita Mackenzie Benson, uma das selecionadas.

Mackenzie, ainda não havia retornado ao seu quarto. Na verdade quando saí do salão das mulheres ela ainda estava lá sentada no sofá conversando com Yumi, Violet e Ingrid.

_ A seleção mau começou, mas porque tenho a impressão de que não vejo mais a minha filha com tanta frequência? _ Minha mãe, questionou, parando a sua atividade e repousando a mão na cintura.

_ Oi mãe _ Soltei, com um ar de cansaço e me deixando cair sentada na poltrona perto da sacada.

_ Conheço essa cara, alguma coisa que você não gostou aconteceu _ Ela alegou, me analisando.

_ Eu só achei que durante o concurso íamos aprender também a liderar, a governar!

Obviamente minha mãe não entendeu muito bem do que eu estava falando ou porque havia dito aquilo de repente. Então tive que contar a história desde o começo, sobre a nossa tutora, sobre as aulas de etiqueta até chegar na pergunta importante que fiz para que ninha mãe entendesse o contexto.

_ Wendy, filha, talvez você esteja a frente de seu tempo _ Ela alegou, voltando ao trabalho.

_ O quê? A frente do meu tempo? Não acho que sou eu que esteja me adiantando e sim a forma de governo de Illéa que talvez esteja regredindo. Eu li sobre mulheres que se tornarem rainhas, como América Singer, e ela conseguiu junto com o príncipe acabar com as castas. E até onde sei foi ela quem teve a coragem e a iniciativa de promover essa mudança extraordinária em Illéa!

_ Se acalme _ Minha mãe me repreendeu, com um olhar sério, como sempre fazia quando eu criticava alguma coisa relacionada ao governo Illéano. Acho que minha mãe tinha medo de alguém no palácio nos escutar falando mal e se isso acontecesse ela poderia até perder o emprego e todos os benefícios.

Me dei conta de que já estava perdendo o controle e a paciência, então me recompus e me acalmei. Era perigoso para mim também se alguém me ouvisse falar daquela maneira.

Nesse mesmo momento, Mackenzie abriu a porta de repente e quando se deparou com a minha figura fez uma cara meio feia. Me levantei rapidamente de sua poltrona e ajeitei o meu vestido e olhei para a minha mãe.

_ Senhorita Benson, essa é Wendy, minha filha. Ela também está participando da seleção junto com vocês. Ela só veio me ver mas já está de saída, espero que não tenha se incomodado _ Minha mãe, se explicou com uma voz agradável e casual, dando um passo para frente.

_ Ah, nesse caso tudo bem _ Ela disse de um jeito meio seco, entre um sorrisinho bem fraco e forçado.

_ Então, já vou indo _ Disse, atravessando o quarto e saindo o mais rápido possível, depois de perceber que Mackenzie não tinha gostado nem um pouco da minha invasão ao seu quarto.




Oii! Desculpa ter sumido no domingo passado e quase sumi hoje também. Essas semanas tem sido bem agitadas!

Mas enfim, capítulo sete liberado e eu espero que tenham gostado da leitura.

Um super beijo e até a próxima!

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