Onze


Todas as selecionadas precisavam saber tocar algum instrumento se quisessem agradar ainda mais a família real. Particularmente, a literatura sempre me chamou mais a atenção do que a música. Aprender a tocar algum instrumento não era uma meta de vida, até então.

A maioria das garotas escolheram piano, violino ou flauta. Morgan Alvis, que era perfeita em praticamente tudo, provocou inveja em muitas das selecionadas por saber tocar os três instrumentos muito bem. Mas dominava a flauta melhor do que os outros dois. Por isso era o seu instrumento favorito.

A jovem meiga e simpática, se ofereceu para ajudar algumas das selecionadas  aprenderem a tocar os instrumentos que escolheram. Inclusive, me perguntou se queria ajuda. Disse que eu tinha cara de que me daria bem com o piano.

_ O piano. Ele é aquele homem que já está na casa dos sessenta, mas continua elegante. O senhor piano representa ser alguém tão sábio. Tenho certeza que ele tem muitas histórias para contar em cada uma das suas notas. Que tal experimentar? _ Morgan, sugeriu, me conduzindo até o instrumento, com a sua mão nas minhas costas.

Nós estávamos na sala de música. A vista de lá era deslumbrante. O piano, por exemplo, ficava perto da grande janela. Dava para ver as montanhas, a floresta e um ângulo diferente do jardim do palácio, incluindo a fonte de água.

Abri um sorriso fraco para Morgan Alvis, enquanto me sentava na banqueta em frente ao piano. Não queria soar mau educada mas a verdade é que o piano não me interessava muito.

Para minha sorte Eloá Bridgestone, uma das selecionadas, pediu que Morgan a auxiliasse com a flauta. Daí ela me deixou sozinha por um momento.

Respirei fundo e repousei as mãos sobre as teclas. Corri com os olhos pelo local e me dei conta de que aquilo não estava certo. Não para mim. Muitas garotas tocando o mesmo tipo de instrumento? Isso não soava nada original. E eu não queria ser só mais uma entre as outras. O plano era ficar em destaque. Não ia conseguir me sobressair fazendo as mesmas coisas que as outras selecionadas.

Queria ser diferente. Me levantei rapidamente e atravessei a sala de música até onde nossa tutora Margareth estava sentada a mesa, tomando uma xícara de chá. Basicamente, só estava ali para nos supervisionar. Não estava nos ajudando em nada. A senhorita Alvis, estava fazendo o trabalho por ela.

_ Algum problema senhorita, Alisson? _ Quis saber, levantando os olhos ao descruzando as pernas.

_ Bem, decidi que não quero tocar piano, nem flauta ou violino. Quero experimentar algo diferente.

Margareth, arqueou as sobrancelhas. demonstrando um pouco de mais atenção.

_ E qual outro instrumento gostaria de praticar?

Olhei em volta com os olhos semi errados enquanto mordia os lábios.

_ Aquele ali _ Apontei para um instrumento que mais parecia um violino gigante. 

_ Violoncelo? _ Perguntou, intrigada _ Posso dizer que de todos os outros que você mencionou anteriormente, o violoncelo é a opção mais desafiadora. Não gostaria de escolher um instrumento mais, mais comum?

Neguei com a cabeça. Determinada. Aquele instrumento era o ideal. Nenhuma selecionada tinha escolhido ele e nem mesmo Morgan sabia toca-lo. Pelo menos, não tinha tanta habilidade.

_ Vá em frente, então. Desejo boa sorte! _ Margareth, deu de ombros, se recostando no estofado da cadeira.

Caminhei até o violoncelo. Primeiramente deslizei o dedo sobre ele. Analisando o instrumento que era quase do meu tamanho. Isso arrancou muitos olhares das outras selecionadas. A maioria delas torceram o nariz.

Ouvi um burburinho de que eu estava querendo me destacar entre as outras. Isso não era mentira. Porém, diante daquele novo instrumento me senti com um nó na garganta. De fato, mais ninguém ali fazia ideia de como se tocava aquilo. Nem Prissy e nem mesmo Morgan.

Entretanto, não poderia voltar atrás e escolher o piano. Isso seria humilhante. A melhor coisa a fazer era disfarçar o quanto estava insegura, nervosa e, fingir que sabia exatamente o que estava fazendo quando escolhi aprender a tocar a aquele violino gigante.

Os olhares ainda estavam sobre mim, quando me sentei e coloquei o instrumento na frente do meu corpo. Peguei o arco e respirei fundo. Todas estavam esperando o que eu faria em seguida.  Felizmente o horário da nossa aula de música acabou. Era hora do almoço e para minha sorte todas as selecionadas estavam famintas por que não quiseram ficar nem mais um minuto ali

_ Uau, você é bem mais ousada do que pensei. Vai mesmo tocar violoncelo? _ Morgan Alvis, grudou do meu lado, quando atravessamos a sala.

Olhei para ela por cima do meu ombro. Me perguntava em que momento a senhorita Alvis, interpretou que éramos boas amigas. Ou que podíamos ser próximas.

_ Vou _ Afirmei, olhando para frente com a cabeça erguida _ Gosto de desafios

Morgan, riu cobrindo a sua boca com a mão. Me virei para ela sem entender o motivo de estar sorrindo e franzi o cenho

_ Disse algo engraçado?

Ela sacudiu a cabeça

_ É só que você é  diferente das outras. Eu gosto do seu jeito. Você parece tão determinada.

Não esperava por aquelas palavras genuínas. Meu objetivo era manter aquela jovem distante. Ela era uma ameaça. Pensei uma ou duas vezes em dizer que não podíamos andar juntas. Mas diante daquele par de olhos grandes e brilhantes, cheio de simpatia, que piscavam rapidamente, não consegui ser rude.  Morgan Alvis, parecia uma criança que acaba de chegar na escola pela primeira vez e está toda contente por fazer uma amiga.

As manhãs eram agitadas no palácio, as tardes mais tranquilas, e as noites passavam depressa. A maioria das selecionadas ocupavam o salão das mulheres durante a tarde. Entretanto, as selecionadas mais espertas achavam que ficar em uma sala confortável só lendo revistas e espalhando fofocas era perda de tempo. Preferiam ocupar o tempo com algo útil.

Ava Wilson, por exemplo, estava pintando um quadro no jardim. Aisha Becc, comentou que pediu a sua criada para ensiná-la a costurar e naquela tarde provavelmente estava em seu quarto tendo aulas.

Aparentemente, Prissy Teodoro e Morgan Alvis eram só mais um rostinho bonito naquela sala.  Na verdade, elas tinham belezas diferentes. Prissy,  era uma mulher mais sensual e soberba. Já Morgan, não era nem um pouco vulgar. Seu vestidos, acessórios e penteados eram bem românticos. De fato, uma princesinha dos contos de fada. Ela também se comportava com muita graça e elegância. Até para espirrar!

Morgan, estava sentada em uma das poltronas cor de rosa e o seu passatempo era acertar as palavras cruzadas de uma página de jornal. Já Prissy, estava no sofá com as pernas para cima, uma taça de champanhe em uma das mãos e com a outra, abanava a região dos peitos com um leque. Parecia mais que estava pousando para uma capa de revista sexy.  Todos os vestidos da senhorita Teodoro, eram assim. Seus peitos pareciam que iam saltar para fora a qualquer momento.

Também estava entre as selecionadas que preferiam perder tempo no salão das mulheres. Mas logo me cansei e percebi que deveria fazer algo mais interessante do que ficar analisando as duas melhores concorrentes.

Matthews Lennox, estava em um dos corredores. Dessa vez não fiquei tão surpresa em vê-lo. Já estava me acostumando em esbarrar com ele por ali. Obviamente, fiquei animada. Ele estava no terceiro andar. Quando passei por ele, dei uma rápida olhada para trás e para os lados, pisquei com um olho e continuei andando com passos lentos e os braços para trás. Antes de virar o corredor me virei para trás.

Matthews estava parado no mesmo lugar só que com os olhos em mim como se estivesse tentando interpretar o que aquele sinal queria dizer. Apontei a cabeça para o lado em direção ao sótão e balancei as sobrancelhas.

Felizmente ele entendeu o recado e sorriu igual a uma criança travessa prestes a fazer alguma travessura. Dei uma última olhada e saí andando agora com passos um pouco mais rápidos.

Foram mais ou menos três minutos de muita ansiedade. Já estava no sótão e agora me perguntava se ele ia realmente aparecer ali.  Ao mesmo tempo, estava apreensiva. Levar alguém para o meu cantinho especial era loucura.

De repente o barulho de sapato subindo as escadas anunciou que Matthews estava se aproximando. Antes mesmo de vê-ló senti meu coração quase sair pela garganta.

_ Aí! _ Gemeu, levando a mão até a cabeça depois de batê-la na entrada.

Soltei uma pequena risada
_ Cuidado. Aqui o teto é baixo para você

_ E só agora você me avisa? _ Matthews, fingiu estar irritado. Ele teve que se encurvar todo para caber ali. Até que finalmente percebeu que seria melhor se sentasse no chão.

Me sentei na sua frente e  olhei para o seu rosto por um instante. Quase não podia acreditar que estava mesmo ali. O guarda ficou olhando para todos os cantos.

_ Como consegue passar mais de uma hora aqui? É tão pequeno.

Balancei os ombros

_ Já me acostumei. Na verdade, até acho confortável.

Não queria perder nenhum minuto. Por isso inclinei o rosto e me aproximei do seu, olhando para os olhos de Matthews. Ele abriu um pequeno sorrisinho, repousou a mão no meu rosto e começou a me beijar. Foi um beijo lento e quente. Mesmo depois de afastar o rosto continuei com os olhos fechados por um segundo.

_ Odeio quando faz isso _ Admiti, frustrada.

Ele arqueou uma das sobrancelhas

_ Faço o quê?

_ Interrompe o beijo. Porque sempre espero mais.

Matthews assumiu um semblante mais sério, passou sua mão pela minha nuca e me puxou contra o seu corpo para me beijar novamente. Dessa vez o beijo foi mais rápido e as nossas cabeças ficavam dançando de um lado para o lado. Ele também deslizou a sua mão pelo meu braço algumas vezes e eu agarrei o seu uniforme com as duas mãos.

_ Isso que estamos fazendo é loucura _ Matthews, sussurrou, afastando os nossos lábios. Nossos rostos  ainda estavam bem próximos. Podíamos sentir as nossas respirações quentes e ofegantes na bochecha um do outro. Levantei os meus olhos par mirar o seu rosto _ Não devíamos continuar _ Ele completou.

Afastei o meu rosto rapidamente com os olhos arregalados. Havia sido pega de surpresa. O guarda parecia estar falando sério. Ele estava. 

Coloquei meu cabelo atrás da orelha, tentando afastar o nervosismo que agora estava correndo pela minha espinha.

_ O quê? Mais por que está dizendo isso de repente? _ Indaguei,soltando uma risadinha forçada. Sentindo minha voz instável.

Matthews, coçou a nuca, transparecendo seu desconforto e um pouco de impaciência.

_ Você está participando da seleção do príncipe Joshua. E eu trabalho para ele. Devo ao príncipe a minha fidelidade. Na verdade, jurei que seria leal a ele e a toda família real. _ Matthews, concertou a sua postura, enquanto ajeitava o uniforme.

Lennox, tinha toda razão. Me senti corar, por que sabia daquilo tanto quanto ele. Porém, não queria que acabasse ali.



Hey! Como estão?
Hoje irei liberar dois capítulos e espero que estejam gostando!

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