Dezoito

A notícia do primeiro baile se espalhou como fogo de palha, gerando uma onda de empolgação entre as garotas. O ar ficou eletrizado com a expectativa e a ansiedade. Risos excitados, sussurros animados e olhares brilhantes revelavam a emoção contida. Cada uma imaginava o que vestiria, com quem dançaria e como seria aquela noite.

Também me animei. Seria o primeiro baile real da minha vida. A seleção definitivamente não era tão doce quanto um conto de fadas, mas com certeza tinha as suas vantagens!

__ Preciso de um favor seu! __ Pedi, cheia de ansiedade e expectativa, segurando as mãos de Natalié __ Quero que desenhe um vestido para o baile no fim de semana.

Natalié arregalou os olhos, surpresa e emocionada ao mesmo tempo. Seu rosto iluminou-se com um sorriso radiante, refletindo a alegria e gratidão que sentia.

__ Vai mesmo usar um dos meus vestidos no baile?__ perguntou Natálie, mal conteve a emoção, sua voz tremia de entusiasmo.

__ Claro que sim. Já disse que você é a melhor estilista!

__ Mas e as suas criadas? Elas não se sentiram ofendidas? __ Ela questionou , preocupada com a reação das outras.

__ Isso não vem ao caso __ respondi, com um gesto de despreocupação __ Quero usar um vestido criado pela minha própria melhor amiga.

Nesse momento, os olhos de Natálie brilhavam ainda mais. Ela se jogou em meus braços e me deu um abraço forte.

__ Eu prometo que vou usar todos os meus dons e você será a mais linda do baile. Pode acreditar!

Sorri. Desejava o mesmo.

Queria contar essa novidade para a minha mãe. Já tínhamos combinado que só poderíamos nos falar quando ela estivesse na sala de descanso dos empregados, já que não tinha autorização de Mackenzie, para entrar no seu quarto quando minha mãe estivesse lá.

Dessa vez, com certeza, minha mãe não estava a minha espera. Ou seja, ela não havia previsto que eu poderia aparecer ali naquele momento. E por isso a cena que me deparei ao adentrar a sala de descanso, me deixou imóvel, de queixo caído.

Minha mãe estava escorada na bancada daquela pequena cozinha, e um guarda estava de frente para ela, segurando a sua cintura e os dois riam baixinho, como se compartilhassem um segredo.

__ Mãe? __ A chamei, sentido um nó na garganta.

__ Meu Deus! __ Ela exclamou assustada, saindo de trás do guarda. Ela estava corada, seus olhos arregalados. O guarda também se virou para mim e nesse momento um frio correu pelo umbigo. Pois o seu rosto por um algum motivo era familiar. O formato dos olhos, a cor do cabelo e o queixo fazia com que a imagem de uma certa pessoa viesse a minha mente.

__ Eu acho melhor eu ir agora. Conversamos depois __ O guarda disse para minha mãe, que ficara sem fala. Ele caminhou em direção a porta e acenou com a cabeça para mim antes sair. No momento em que passou ao meu lado, notei o seu primeiro nome no crachá: Matthews.

__ Eu não sabia que você poderia vir por agora, pensei que estivesse tendo aulas __ Admitiu, entre um sorrisinho sem graça, passando as suas mãos pelo seu pescoço.

___ O que significa isso? __ Indaguei com a voz trêmula, ao dar um passo para frente.

Minha soltou o ar que estava prendendo pela boca junto com uma risadinha cheia de nervosismo.

__ Wendy, olha só,você não é mais uma criança para fingir que não entende o significado do que acabou de ver!

Arqueei uma das sobrancelhas. Ela tinha razão, mesmo assim aquela satisfação não era o suficiente para o que eu tinha acabado de presenciar. Por mais que fosse tão óbvio, parecia que eu ainda precisava de mais informações para realmente compreender o que estava acontecendo.

__ Ele é o seu namorado então? Quem é ele? Há quanto tempo isso está acontecendo?

__ Vai com calma querida, uma pergunta de cada vez por favor! Porque não sentamos para conversar melhor? __ Minha mãe se dirigiu até a mesa e eu a acompanhei, mordendo os lábios, apreensiva. Sentamos uma de frente para outra, como se aquilo fosse um interrogatório.

__ E então?

Minha mãe encheu o peito de ar antes de começar a falar.

__ Ele é um dos guardas daqui do palácio. O nome dele é Matthews e isso está acontecendo já faz algumas semanas. Mas! __ Minha mãe deu ênfase no "mais" ___ Só agora estamos oficializando, por isso não te disse nada sobre.

Assimilei todas aquelas informações, com os olhos fixos em um pequeno vaso de planta que enfeitava a mesa.

__ Ele tem um filho que também trabalha aqui no palácio como guarda. Se não me engano, tem o mesmo nome do pai.

Arregalei os olhos. Tudo fez sentido. Matthews, o guarda que eu havia me envolvido a algumas semanas atrás, era idêntico ao pai. Uma semelhança muito grande.

__ Filha, você está bem? Ficou pálida de repente __ Minha mãe questionou, contorcendo a cara de preocupação.

Era provável que havia perdido a cor depois daquela revelação inusitada. Precisava de um tempo para processar aquilo.

___ Me sinto um pouco fraca. Acho que não me alimentei muito bem no café da manhã __ Menti, para disfarçar.

__ Tem aqui um pedaço de bolo, você pode comer __ Minha mãe, se levantou rapidamente e foi em direção ao armário. Ela agiu apressadamente, como se fosse uma emergência, como se eu estivesse prestes a desmaiar .

__ Na verdade, não precisa. Eu tenho que ir __ Me levantei da mesa muito rápido e sai daquela salinha, quase que correndo.

__ Wendy! __ Minha mãe gritou o meu nome, quando estava saindo. Não olhei para trás, apenas saí, deixando a sozinha.

Chegando no átrio do palácio, não consegui continuar. Minha cabeça estava uma loucura e minha respiração ofegante. Me encurvei para frente e enfiei as duas mãos entre os cabelos.

__ Meu Deus __ Sussurrei, mirando o piso desenhado.

Lidar sozinha com a ideia de que minha mãe estava em um relacionamento com o pai de um garoto que eu havia beijado algumas vezes e o mesmo garoto que eu havia partido o seu coração, era assustador.

__ Você está bem? __ Uma voz familiar soou em meus ouvidos. O tom de voz não demonstrava muita preocupação. Na verdade quem quer que estivesse perguntando aquilo, pelo visto estava fazendo isso por algum tipo de obrigação.

Levantei os olhos e me deparei com a imagem de Joshua Schreave, parado a minha frente só que um pouco distante. Suas mãos estavam nos bolsos da calça.

Me reclinei, assumindo a postura de uma dama e me forcei a melhorar a minha expressão facial.

__ Eu estou bem, alteza __ Afirmei, olhando diretamente nos seus olhos. Ele permaneceu parado me olhando , como se examinasse a veracidade das minhas palavras __ Com licença __ Pedi, fiz uma breve reverência e sai.

Precisava muito ver Matthews e falar sobre o que estava acontecendo entre os nossos pais. Queria saber qual o seu ponto de vista e como lidaríamos com aquela situação. Se o relacionamento deles fosse adiante e se tornasse algo mais sério e se os dois se casassem, eu e Matthews pertenceríamos a mesma família. Seríamos quase irmãos!

Fui atrás dele, onde sabia que poderia estar. Estava sozinho naquele corredor para a minha sorte. Mesmo assim olhei para todos os cantos para conferir. Quando me avistou, seu semblante caiu um pouco e seus olhos perderam um pouco do brilho. O que me fez sentir uma pequena pontada de dor no peito.

__ O que veio fazer aqui ? __ Quis saber, com um tom de voz um pouco frio e sério.

__ Mathews, precisamos conversar. Preciso que você me encontre no sótão __ Disse baixo, ao me aproximar mais dele. Ao fazer isso, o guarda deu um passo para trás, como se estivesse tentando manter distância. Como se eu fosse lhe tocar ou algo do tipo. Isso abriu uma ferida no meu coração.

__ Não posso. Estou trabalhando.

Olhei nos seus olhos. Senti saudades da sua versão anterior. Da forma como sorria ao falar comigo.

__ Eu sei que você pode tentar. Por favor, é algo importante __ Supliquei, ainda com a voz baixa __ Estarei te esperando no sótão.

Depois de dizer isso, prossegui caminhando e olhei para trás, para confirmar se ele viria atrás de mim. Ele estava parado me acompanhando com os olhos, pensando se deveria ou não fazer isso.

Ao chegar no sótão, inspirei fundo. Já fazia alguns bons dias que não visitava o meu refúgio. Estava com saudades até mesmo daquele cheiro de poeira.
Havia deixado ali alguns livros e um esboço com os meus desenhos. Desde que a seleção começou quase não tinha tempo de fazer fazer o que gostava que era ler e desenhar.

Peguei o último livro que estava lendo e havia parado na metade e soprei sua capa dura empoeirada. Era o diário de Illéa. Contava tudo, desde o nascimento do nosso país e acontecimentos que deixaram marcas históricas. Como por exemplo, o fim das castas. Torcia para ter um algum tipo de teste no qual tivesse que responder perguntas sobre a nação de Illéa. Provavelmente tiraria nota máxima graças aquele diário.

A tosse alergia de Matthews, indicou que ele estava subindo as escadas que davam acesso ao sótão. Respirei aliviada por não ter esperado em vão.

__ Obrigada por ter vindo __ Agradeci, assim que ele surgiu ali, antes mesmo de se sentar.

__ Por favor, seja breve. Preciso voltar para o meu posto antes outros guardas deem falta de mim.

Respirei fundo e olhei para ele com a cara triste

___ Mathews, eu sei que você ficou decepcionado. E eu sinto muito por te fazer sentir assim. Mas por favor, não continue me tratando como se fosse uma estranha.

__ Então foi por isso que me chamou aqui? Para se desculpar, por que se for ... __ Ele murmurou, meio impaciente, coçando a cabeça.

__ Não, na verdade não te chamei para falar de "nós" __ Rebati, Matthews, que já estava ensaiando sair dali, me olhou nos olhos por um instante e decidiu permanecer, agora sua expressão facial refletia curiosidade __ Você não deve saber, por que eu mesma descobri agora pouco, seu pai tem uma namorada.

Matthews começou a rir.

__ O quê? Que história é essa? E desde quando você sabe algo sobre o meu pai? __ Ele continuou rindo, achando graça da situação. Eu permaneci seria, até Matthews se dar conta que aquilo não era uma piada.

__ Estou falando sério Matthews. E sabe como eu sei disso?

__ Como? __ Ele indagou, diminuindo o riso gradativamente.

__ Por que eu vi com os meus próprios olhos. A minha mãe e o seu pai estão em um relacionamento.

Matthews estava inicialmente relaxado, com um sorriso no rosto, mas sua expressão mudou drasticamente quando ouviu aquilo sair da minha boca. Ele engoliu em seco, tentando processar a informação que acabara de receber. Seu rosto perdeu a cor, ficando pálido, tenso e dando lugar a uma expressão de confusão.

__ Você os viu? __ Indagou, como se isso não tivesse ficado claro na minha fala anterior.

Afirmei com a cabeça, mordendo os lábios inferiores.

__ Eu os flagrei juntos, quando fui falar com a minha mãe na sala de descanso dos empregados.

__ Mas, eles ... eles estavam próximos? Eles poderiam estar apenas conversando, não acha? __ Matthews, estava no modo negação.

Revirei os olhos, e soltei o ar pela boca.

__ Mathews, eles estavam bem próximos. Me arrisco até dizer que estavam se beijando segundos antes de eu entrar. Seu pai não disse nada sobre estar com alguém?

O guarda fez que não com a cabeça e ficou encarando o chão. Tentando processar aquilo.

__ E o que devemos fazer em relação a isso? __ Questionou.

Encolhi os ombros e franzi o cenho

__ Como assim? Não vamos fazer nada. Apenas daremos o nosso apoio e vamos garantir que eles não saibam que eu e você ... __ Perdi a coragem de finalizar aquela frase, fui tomada pelo constrangimento. As cenas dos beijos quentes e intensos se passaram diante dos meus olhos, me fazendo corar.

__ Se eles descobrirem, isso será bem embaraçoso __ Matthews alegou ainda mirando o chão e esfregando lentamente o dedo nos lábios.

__ Muito embaraçoso. Talvez até decidam romper o namoro. Para dizer a verdade, estou feliz que a minha mãe tenha aberto novamente as portas do coração para o amor. E o seu pai me parece ser um bom homem, então, desejo que sejam felizes.

Matthews, não fez uma cara boa. Aparentemente, não estava totalmente a favor da decisão do pai.

__ Já eu, não sei como lidar com a ideia do meu pai ter alguém que não é a minha mãe. E eu sei que ela está morta a bastante tempo e que não vai voltar para os dois ficarem juntos. Mesmo assim, é estranho. __ Admitiu, procurando os meus olhos __ E honestamente, o fato de ser a sua mãe, não ajuda muito.

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Posso estar enganada, mas acho que por essa ninguém esperava!

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