Uma plantação inteira foi incendiada durante a noite em Honduragua. Ninguém sabia o que causará o desastre, estavam em busca de pistas. Porém tudo indicava que não fora apenas um acidente.

__ Foram os ciganos. Com certeza. Soube que uma família já chegou em Illéa. __ Mackenzie comentou, olhando atentamente para a tv.  Estávamos no salão das mulheres.

Sempre gostei de jornais. Também estava meio que deitada ao lado de Mackenzie em um puff grande, acompanhando as notícias.

__ Como você fica sabendo dessas coisas? __ Indaguei intrigada, me virando para ela __ Parece até que você descobre tudo antes mesmo do rei. Ele não disse nada sobre os ciganos no jornal de Illéa.

__ Não posso ser uma mulher informada? __ Questionou, dando uma mordida em um bombom __ Tenho minhas fontes __ Admitiu, só que bem baixinho, quase não dando para mim ouvir no meio das conversas das outras garotas.

Fontes? Que tipo de fontes seriam? Só alguém do lado de fora do palácio poderia estar repassando essas informações para Mackenzie. Mas a minha pergunta era: Porque o palácio permanecia em silêncio? Os ciganos estavam mesmo chegando em Illéa? Eram de fato perigosos ou tudo não passava de um lenda? Porque o rei não dizia nada a respeito, enquanto uma das selecionadas parecia saber de quase tudo ?

__ Porque um cigano incendiaria uma plantação que não pertence a ele?

Mackenzie se sentou, revirou os olhos, soltou o ar impaciente e colocou a cabeça na minha frente

__ Pensa comigo, os ciganos são conhecidos por terem a sua própria cultura. Eles não tem casas fixas, mudam de cidade, país, com frequência. E a verdade é que as pessoas tem medo de darem empregos para os ciganos __ Mackenzie, começou a explicar, depois de colocar o cabelo atrás da orelha. Ela fazia gestos com as mãos para dar mais ênfase a sua explicação.

__ Tá, e o que isso tem a ver com o incêndio?

__ Oras, pensa comigo. Suponhamos que essa família de ciganos chegaram em Honduragua. Qual deve ter sido a primeira coisa, que o chefe da família, deve ter feito? Procurado emprego em alguma fazenda. Provavelmente ele deve ter recebido um não de um proprietário Illéano e a noite ele foi lá e se vingou por isso. Colocando fogo em tudo.

Franzi as as sobrancelhas enquanto digeria toda aquela informação. Fazia sentido , mas quem poderia garantir?

__ Acha que os ciganos são assim? Quero dizer, vingativos e agressivos?

__ Eu acho que sim. __ Mackenzie respondeu, se deitando novamente.

Fiquei olhando para a imagem na tv da plantação que agora não era mais verde. Na verdade tudo estava preto e cheio de fumaça. Enquanto repassava as ideias de Mackenzie. Ela dizia com tanta confiança, como alguém que entendia das coisas. Isso me fez sentir um pouco inferior. Pois até então pensava que eu já sabia muito. Pelo visto não tinha conhecimento o suficiente como imaginava. Por exemplo, sobre os ciganos. Era ignorante nesse assunto.

Depois que a reportagem acabou, me levantei em busca de algo interessante para fazer. Era sábado e geralmente nos sábados não tínhamos aulas e nem atividades extras. Podíamos simplesmente fazer o que bem quiséssemos. Isso deveria ser bom, mas era entediante as vezes.

Algumas garotas como Hadassa, Eloá e Gisele estavam na mesa jogando cartas, Cholé bordava serenamente, sentada em uma poltrona próxima a janela, enquanto Prissy lia um romance indecente, deitada no sofá. E Morgan? Não estava em nenhum lugar. O que me fez presumir que estava em mais um encontro com o príncipe. Suspirei profundamente reprimindo a vontade de chorar.

Corri os olhos pelas selecionadas, me perguntando se também haviam reparado que a senhorita Alvis estava mais ausente do que presente em várias ocasiões. Tirando as aulas com a nossa tutora Margareth, as aulas de músicas e as refeições, Morgan quase nunca aparecia. Para Joshua se apaixonar em pouco mais de um mês, os dois de fato deveriam passar muito tempo juntos.

A tarde, por volta das duas da tarde, tivemos um piquenique na área verde do palácio. Armaram tendas e também colocaram alguns puff e alguns colchões infláveis espalhados. Além disso havia música. Cada hora era a vez de alguém escolher uma música preferida, não importava o estilo e o gênero.
Morgan Alvis gostava country, Prissy Theodoro escolheu uma música eletrônica, já Yumi preferia jazz, Chloé curtia uma salsa, Hadassa era do Rock. Já eu nunca tive preferência de um único estilo musical. Gostava um pouco de cada um.

O rei Rubens também escolheu a sua música, ele gostava de rock, rock dos anos 70 e 80. Joshua foi o próximo a revelar seu gosto musical ele gostava de músicas pop.

Foi uma tarde bem descontraída e divertida. E havia fotógrafos para registrar cada momento. Nos pediram para agir o mais natural possível. Aquelas fotos apareciam no jornal de Illéa, em revistas e manchetes.

Resolvi dar uma volta e me deparei com a figura do príncipe e de Morgan, andando bem um do lado do outro outro, próximo ao lago. Os dois estavam sorridentes, se sentiam confortáveis. Tinha que admitir que formavam um casal bonito.

Após o jantar alguns de nós ,fomos para uma sala na qual tinha uma lareira, um piano branco, sofás e poltronas. Morgan e Prissy, foram para os seus quartos. Morgan disse que havia gasto muita energia no piquenique e Prissy alegou que estava com dor nas pernas.

Fomos para aquela sala para ouvir a senhorita Hadassa tocar piano, enquanto Chloé cantava. Se a seleção não desse certo, as duas poderiam investir nessa carreira.

O rei e a rainha se sentaram juntos, a mão da rainha Clair ficou o tempo todo repousando sobre a perna de seu marido. A pequena Charlotte, estava sentada no carpete perto da lareira, ela observava atentamente as garotas tocando e cantando, como se desejasse estar no lugar delas.

Aproveitei o momento que todos estavam entretidos com a melodia e o talento das duas participantes e caminhei até a grande janela. A vista do segundo andar era incrível. O céu estava impressionante enfeitado de muitas estrelas e a lua cheia estava fabulosa. Tão iluminada e grande que parecia ser de mentira. Um cenário falso de um estúdio.

__ Eu gosto muito de observar a lua a noite __ O príncipe comentou, sua voz se misturava com a canção ao fundo. Ele parou ao lado, escorou os braços na janela e mirou a lua com os olhos. A sua presença repentina me pegou de surpresa.

__ Devo admitir que não faço isso com tanta frequência __ Disse, me virando para ele.

Ele apenas assentiu.

__ O meu avô me deu um telescópio pouco antes de morrer e nós dois passávamos horas observando as constelações, alguns  planetas e a lua, através dele. Foi daí então que passei a gostar muito de astronomia __ O príncipe estava com a cabeça levantada, observando o céu azul escuro. Enquanto falava, acho que as cenas dele e do avô juntos, se passaram diante dos seus olhos.

Porque Joshua Schreave de repente estava conversando amigavelmente comigo e até contando uma parte da sua infância, de um jeito que nunca fez antes, eu não sei. Mas preferia ele mil vezes ele assim.

__ Nunca olhei através de um telescópio. Deve ser uma experiência legal.

O príncipe concordou com a cabeça.

A salva de palma que se seguiu de todos os que estavam na sala, indicava que a apresentação de Hadassa e Chloé havia chegado ao fim. Dei uma rápida olhada para trás e a rainha estava elogiando Chloé, enquanto Hadassa se levantava de trás do piano.

Me preparei para sair de perto da janela, pois deduzi que estava quase na hora de ir para o quarto. Outras garotas já estavam se levantando e indo em direção a saída.

__ Você parecia estar lidando com algum problema, ontem quando nos encontramos no átrio. Você se sente melhor? __ O príncipe indagou, quando eu estava prestes a me retirar.

Busquei o seu rosto, admirada com a sua pergunta repentina. Como o príncipe poderia ter mudado da noite para o dia? De repente passou a me tratar com mais dignidade.

__ São só problemas pessoais __ Dei de ombros.

__ Eu tenho um montão desses __ Joshua murmurou cheio de frustração, com os lábios franzidos e as sobrancelhas cerradas, revelando sua exasperação. Enquanto falava, ele deu alguns tapinhas de leve na madeira da janela, como se buscasse liberar a tensão que o consumia. Seus olhos castanhos, normalmente brilhantes, estavam turvos e cansados, refletindo o peso de seus problemas pessoais.

Por um momento quis muito saber que tipos de problemas pessoais teria o príncipe herdeiro de Illéa. Não que eu imaginasse que sua vida fosse leve, ainda mais sendo uma figura pública. Mas só queria saber para lhe oferecer talvez um ombro amigo. Se Joshua ao menos fosse capaz de se abrir comigo. Ficaria o resto daquela noite disposta a ouvir cada desabafo seu.