Cinco


As selecionadas chegariam no palácio no dia seguinte. As pessoas começaram as festas um dia antes. As ruas de Angeles estavam decoradas. Mas não era só Angeles, que já estava em clima de comemoração. Todas as províncias estavam bastante empolgadas e agitadas.

Cada província resolveu fazer uma homenagem para a garota que a representaria durante o concurso. Em Angeles, as pessoas se hesitaram em fazer tantas homenagens e festas para mim. Angeles se comportava como uma província neutra. Não queriam mostrar favoritismo, porque poderia fazer outras selecionadas pensarem que já tinham a sua escolhida e que não seriam tão bem recebidas na província onde o palácio estava localizado.

Provavelmente, se eu morasse em uma outra província, não existiria esse problema.

Não me importava em não receber tantas homenagens. Para ser sincera, eu mesma não apareceria nas festividades que fizessem para mim por que sempre gostei mais ficar dentro do palácio ou da minha casa, lendo, desenhando ou apenas existindo. É bem mais confortável e interessante do que festas.

Mas quando eu e minha mãe saímos de casa às seis da manhã para irmos para o palácio, descobri que não era tão invisível e insignificante assim. Duas jovens simpáticas e sorridentes, que deveriam ter quinze anos estavam me esperando do lado de fora. Elas me deram uma coroa de flor e me desejaram muita sorte durante o concurso.

Coloquei a coroa de flor na cabeça, só para me divertir um pouco e como uma forma de mostrar gratidão pelo presente, mas é claro que antes de pegarmos o metrô tive que tirar o acessório. Dificilmente alguém olharia para mim e pensaria que era um presente. Iriam pensar que só estava tentando chamar a atenção.

Quando chegamos ao palácio, fiquei assustada e perdida com o tanto de funcionário passando de um lado para o outro. Uma grande correria. Nunca vi tanta gente trabalhando.

Parecia que durante aquele tempo a grande maioria dos empregados estavam em seus esconderijos, e agora com o calor da véspera da seleção, todos começaram a aparecer.

Além disso, até os móveis e os objetos de decoração estavam saindo de seus lugares. O palácio estava sendo redecorado para a chegada das selecionadas.
Toda aquela movimentação me deixou estressada só de olhar. Tinha que sair do meio daquela aglomeração. Minha mãe já tinha ido na frente por que tinha muito trabalho a fazer.

Quase fui atropelada umas duas vezes por um mordomo e por duas criadas, enquanto atravessava indo em direção a escada.

Como tinha muita gente perambulando pelo palácio e em todos os corredores, era impossível ir para o meu lugar escondido sem ser notada. Precisaria encontrar um outro lugar calmo para ler.

Pensei em um sala específica que ficava no primeiro andar. Normalmente, não era um cômodo muito usado, mas naquele dia tinha sim duas pessoas conversando lá dentro. Antes de empurrar a porta escutei duas vozes masculinas. Uma pude reconhecer com facilidade.

_ Só sei que agora estou mais ansioso do que quando anunciamos para Illéa sobre a minha seleção. Parece que foi ontem que eu e o meu pai conversamos sobre a possibilidade de fazer o concurso e as jovens já chegam amanhã!

O homem, que eu não fazia ideia de quem seria mas que estava ouvindo o príncipe, soltou uma risadinha  _ Para ser sincero, não queria estar na sua pele. Já não é fácil lidar com uma mulher, imagina com trinta e cinco? Tem vezes que preciso sair de casa para não brigar com a minha esposa, e olha que ela é só uma e está em um cômodo de cada vez.

O príncipe riu. Mas algo em sua risada entregava o seu desespero.

Saí dali, antes que um dos dois abrissem a porta e descobrissem que eu estava ouvindo tudo por mera curiosidade.

Não consegui achar nenhum canto sossegado. Além do mais, naquele dia em especial minha capacidade de concentração não estava funcionando muito bem. Acho que acabei me influenciando com toda aquela agitação do palácio e até eu comecei a ficar ansiosa para os próximos acontecimentos.

Desisti da leitura e fui em busca de algo útil para fazer. Ajudar minha melhor amiga Natalié, era uma boa opção.

_ Por favor, me deixa te ajudar! Não posso para ir para o sótão. O palácio tem mais de cem cômodos e por incrível que pareça todos estão sendo usados no dia de hoje ou estão sendo redecorado. _ Implorei, quase ficando de joelhos no meio do quarto.

Natalié, não queria de forma alguma me deixar ajudá-la porque segundo ela, eu deveria estar me preparando para o primeiro dia do concurso.

_ Se você fizer muito esforço hoje, amanhã vai aparecer nas câmeras com a aparência de cansada _ Ela alegou, aspirando o chão.

Revirei os olhos, dramaticamente. Mesmo com tanto drama, Natalié, praticamente me colocou para fora do quarto. Estava sendo um dia estressante no palácio e pelo visto não era só eu que estava sentido isso.

Bem na hora que Natalié fechou a porta para não incomoda-lá no trabalho, me virei e dei de cara com o guarda Matthews Lennox. Era um milagre ver ele passando pelo segundo andar.

Matthews, surgiu de repente e foi a única coisa boa no meu dia. Agradeci mentalmente por ele estar ali, já que não conseguiria invadir o último andar sem ser vista. Me peguei sorrindo e acenando para ele. Isso o encorajou a mudar de direção, e caminhar até mim. Enquanto o guarda vinha na minha direção, senti o meu peito subir e descer, a respiração acelerada e o coração batendo mais rápido do que o normal. Aqueles segundos parecem horas, como se eu pudesse assisti-lo em câmera lenta.

_ Até que em fim você resolveu não ficar parado só em um lugar hoje! _ Brinquei,

_ Não foi por vontade própria, eu admito _ Ele admitiu sorrindo, se inclinando um pouco para mim.

_ O que aconteceu? _ Quis saber, olhando para Matthews.

_ Acho que vão mudar a minha designação.

Arregalei os olhos. Também me senti um tanto desapontada. Se Matthews, saísse de lá, meu acesso ao sótão ficaria ainda mais difícil.

_ Você não vai ficar mais perto do meu lugar secreto?... Quero dizer, não vai ficar mais no último andar?

Ele me encarou com as sobrancelhas franzidas, um olhar curioso enquanto segurava um sorriso com a boca. Provavelmente, porque nomeei o sótão como meu lugar secreto e agora ele sabia disso.

_ Lugar secreto? _ Perguntou, caçoando de mim.

Fiz uma careta, sem me importar de estar sendo infantil e nos rimos juntos.  Depois, fiquei olhando fixamente para o rosto de Matthews. Enchi o peito de ar, enquanto tentava compreender toda aquela inquietação dentro de mim. Meu corpo parecia um caldeirão borbulhante.  A minha respiração estava ficando pesada.

Desviei os olhos até os lábios de Lennox e mordi os meus. Depois lhe lancei um olhar desejoso. Ele me olhou bem nos olhos, assumindo traços mais sérios em seu rosto. E em um impulso, ou talvez de forma inconsciente, o guarda deu um passo para frente encurtando a distância entre nós. Ele estava prestes a segurar o meu rosto com as suas mãos. Mas nesse momento o barulho de um sapatinho de salto ecoando no piso do corredor nos impediu de dar o próximo passo.

_ Acho que aqui não é o melhor lugar... _ Mathews, disse baixinho próximo ao meu ouvido. Senti meus pelos se arrepiarem e um calor subir pelo rosto.
Estivemos tão próximos, a ponto de sentir melhor o seu perfume e sua respiração.

Ele deu alguns passos para trás, endireitou a sua postura passando a mão pela sua farda e limpou a garganta.

_ Acho melhor voltar para o trabalho

Concordei com a cabeça. Mathews me lançou um outro olhar penetrante. Pude notar que suas pupilas estavam um pouco mais dilatadas do que o normal.

Depois que ele se retirou, soltei  o ar que prendi durante todos aqueles minutos intensos e precisei de um momento para processar tudo o que tivera acontecido. Ou melhor, o que quase aconteceu.

Instantaneamente, meu subconsciente lançou um alerta de culpa. No formulário para a seleção, havia assinado como forma de promessa que seria leal ao príncipe Joshua Schreave, durante toda a competição. Envolver com qualquer outro garoto durante esse tempo seria encarado como traição.

Ao mesmo tempo, para não me sentir péssima, não considerei o que aconteceu no corredor como um ato de deslealdade. Primeiro, porque nada de fato aconteceu. Eu e Mathews Lennox não nos beijamos. Segundo, o príncipe não queria mesmo que participasse de sua seleção e estava ansioso para me chutar. Joshua Schreave não gostava de mim, e não era segredo algum e terceiro, o concurso só começaria oficialmente no dia seguinte, quando as trinta e quatro chegassem ao palácio.

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Oi, Illéanos! Tudo bom? Como sou boazinha irei liberar mais um capítulo hoje. Serão então, os capítulos 5 e 6. Espero que gostem!

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