Capítulo 30 Me perdoa Mãe
Me levantei irritada ao ver do que se tratava. Era uma nova postagem com outro texto mentiroso, e dessa vez, com uma foto minha e de Otávio, recém tirada, onde conversávamos trocando olhares e sorrisos. A Manu simplesmente foi cortada como se estivéssemos sozinhos, era nítido que queriam me ferrar a todo custo.
— O que foi? — Otávio me lançou um olhar preocupado.
— Olha isso! — lhe entreguei o celular, com as mãos trêmulas.
Enquanto o peão analisava aquela postagem, corri meu olhar por ali e avistei na área externa de uma lanchonete do outro lado da rua, aquela cobra toda sorridente ao lado de Raul e sua mãe.
— Essa garota mexeu com a pessoa errada, vou arrancar a verdade dela nem que seja a tapas!
— Não, você não vai! — Otávio segurou meu braço. — Quer se expor ainda mais? O advogado está nos aguardando, vê se sossega.
— O tênis! — Emanuelle apontou para a vitrine da loja ao lado. — Eu quero escolher um tênis, você me ajuda, Cíntia?
— Ótimo! — Otávio vasculhou sua carteira, antes de entregar o cartão para Emanuelle.
— Eu percebi que querem me distrair — revirei os olhos, contrariada.
— Acontece que vamos falar com o advogado daqui a pouco — afirmou o peão. — Se for até lá falar com eles, vai acabar perdendo a razão. E outra coisa; eu te trouxe até aqui, qualquer coisa que te aconteça cairá sobre mim, então, não, você não vai falar com ninguém, não agora. E isso não é negociável.
— Ele tem razão, amiga.
— Tá, vamos lá ver o seu tênis — bufei inconformada.
— Sem confusões? — ele segurou meu queixo fazendo com que o encarasse.
— Sem confusões — concordei de cenho franzido.
— A senha do cartão é a mesma — Otávio acenou levando o celular até o ouvido. — Tem uma borracharia a duas quadras daqui, vou arrumar o pneu e já encontro vocês na loja. Ninguém atravessa a rua.
É claro que fiquei frustrada, eu estava sendo alvo de ataques covardes, a causadora daquele transtorno estava do outro lado da rua e não podia ir até ela? Por mais que soubesse que Otávio tinha razão, e que Manu só queria o meu bem, meu lado impulsivo gritava dentro de mim.
— E aquele azul?
Emanuelle experimentou outro modelo enquanto eu andava de uma lado para o outro, impaciente. Ia até a porta da loja e voltava, se o chão fosse fofo já teria feito uma trilha profunda nele.
— Então você voltou mesmo?
— Não, isso é uma ilusão da sua cabeça, pisca três vezes que passa.
O bicho quando resolve nos testar, ele capricha. Eu já estava irritada, me controlando para não socar a fuça de alguém e me brota do nada a minha frente, ninguém mais, ninguém menos do que Romana, a loira pernuda que me deu o título de corneada. Eu não atravessei a rua, então tudo bem?
— Era para ser engraçado?
— Não sei, Romana, foi?
— Eu queria muito te encontrar.
— Sentiu saudades? — cruzei os braços, a encarando com deboche.
Eu juro que tentei manter a pose, mas não era meu dia. A garota correu o olhar sobre mim com desdém, eu não estava apresentável, saí de casa para espairecer a cabeça, não para uma balada e ainda rolou de tudo pelo caminho.
— Não, eu só queria olhar para essa tua cara de caipira sonsa.
— Então olha, mas não demora muito porque a caipirice é contagiosa. Daqui a pouco começa a nascer uns galhos assim em sua cabeça, a visão fica turva e você passa a enxergar galinhas que ciscam cacarejando a sua volta. Isso aconteceu comigo, ainda estou em fase de recuperação.
— Olha aqui garota! — ela deu um passo à frente, de modo que ficasse com o rosto bem próximo do meu. — Eu perdi o emprego por sua causa, tive que trancar a faculdade, me agrediram na rua e jogaram ácido no meu carro.
— E o que eu tenho a ver com isso? — dei um passo à frente, o que encurtou ainda mais a distância entre nós.
— Esse povo surtado que te segue começou a me ameaçar, jogaram fezes no quintal da minha casa, picharam o meu muro, minha vida virou um inferno.
— Você viu os meus vídeos?
— Por que perderia meu tempo?
— Se tivesse visto, saberia que em momento algum eu incentivei qualquer tipo de retaliação. A minha vida também virou um inferno, e estou aqui, firme e forte dando a volta por cima, então você sobrevive. E vai se afastando eu preciso respirar!
Usei minhas duas mãos para empurrá-la, e por pouco não a derrubei.
— Você se acha demais para alguém tão insignificante, aliás, deveria se envergonhar por ficar correndo atrás do Raul, ele...
— O teu amante? — ali eu já havia perdido o controle do meu tom de voz. — Ele te contou que foi atrás de mim em São Luiz, mesmo depois de eu dizer que não queria mais nada? Te contou que me mandava mensagens diárias pedindo perdão e insistindo no casamento? Te falou que foi até a fazenda se humilhar de joelhos e que "eu" o dispensei? Quer saber o resto da história?
— Mentirosa!
— Mentirosa? — ri com deboche.
Não pude deixar de notar que alguns curiosos já se acumulavam por ali. Hoje em dia basta um barulho diferente e já tem vários celulares apontados para você na esperança de capturar o melhor ângulo da fofoca. Inclusive uma garota filmava toda aquela vergonha, então me aproveitei da situação...
— Está se doendo porque achou que ia tomar o meu lugar e continuou no papel de vadia reserva, não é mesmo?
— Enquanto você ficava em casa choramingando e mandando mensagem, ele estava se divertindo na minha cama. Eu nunca fui reserva, você pegava meus restos, imbecil. O Raul e eu estamos juntos desde muito antes dele te conhecer, sua iludida!
A maluca não só tinha orgulho em dizer isso, como ria de satisfação. Não entendo o que se passa dentro da cabeça de algumas mulheres.
— Te preserva, mulher, está passando vergonha — falei lhe dando as costas.
— Ele sempre foi meu, sua otária!
— Então vai ali, ó, e avisa a namorada dele, porque a coroa de chifres, a faixa de enganada e o manto da vergonha agora são dela — apontei para o outro lado da rua. — Obrigada pelo livramento, depois te mando flores em agradecimento.
— Ela também não significa nada para ele além de uma esposa troféu, eu sou a mulher que ele procura, eu...
— Ah, garota, não me estressa! E me dê licença que tenho mais o que fazer!
— Não cruza o meu caminho! — Romana apontou o dedo como uma ameaça, mas eu já estava me distanciando.
— Não se preocupe, eu não frequento as currutelas — respondi com um sorriso sínico.
Nossa discussão foi rápida, mas durou tempo suficiente para me fazer perder a cabeça e querer confrontar aqueles dois, que sorriam como se nada tivesse acontecido enquanto eu era atacada por todos os lados. Se era para eu cair no inferno, arrastaria eles para tomar um drink comigo ao lado do dono do recinto.
"Olá a todos! Sei que muitos de vocês estão ansiosos por um posicionamento meu, e por isso decidi fazer esta transmissão ao vivo. Quero começar expressando minha profunda gratidão pelo carinho que recebi ao longo desse tempo. Vocês são realmente incríveis e me apoiaram nos momentos em que mais precisei. Hoje, venho aqui para me despedir. Decidi que não quero mais ter minha vida exposta dessa maneira, pois isso não tem sido saudável para mim. É verdade que o apoio de vocês foi fundamental e isso é algo que não tem preço, mas, ao mesmo tempo, essa exposição acabou machucando outras pessoas e, consequentemente, a mim também. Agradeço de coração a todos vocês."
Não esperava que fosse ser tão difícil enfrentar aquele momento. A ansiedade me dominava; minhas mãos tremiam e, em meio a um turbilhão de emoções, minha voz falhava, sufocada por um choro engasgado na garganta. Otávio ainda não havia voltado e Emanuelle não percebeu quando me afastei. A discussão com Romana foi na porta da loja, acredito que o som ligado talvez tenha me favorecido.
"Antes de tudo, eu queria deixar claro que esse vídeo não é para me promover, e sim, fazer justiça por uma pessoa que é muito importante para mim e está sofrendo por conta de toda essa exposição. Se estiver assistindo, me perdoe por não ter te contado, realmente foi um erro e estou pagando caro por isso. Infelizmente não posso voltar no tempo, mas posso mostrar a verdade e é isso que estou tentando fazer. — respirei fundo tentando não desabar, eu precisava ir até o fim, já havia me sabotado por tempo demais. — Em relação ao vídeo que está circulando do beijo no rodeio, quero esclarecer que eu e o Fabiano somos amigos. Aquilo só aconteceu devido à pressão da brincadeira e foi só ali naquele momento. Assumo a minha culpa, eu correspondi, mas não posso admitir que usem um deslize causado pela pressão do momento para me prejudicar. Essa história de traição foi uma mentira inventada por aquela garota que está ali com o motivo dos meus pesadelos, que resolveu me atacar e inventar calúnias por pura maldade. Eu e o Fabiano nos conhecemos há muitos anos e temos um carinho muito grande um pelo outro; mas é só isso. Não compartilhem mentiras, isso afeta pessoas inocentes. A causadora de todo esse transtorno está ali, vamos ver o que ela tem a dizer em sua defesa."
— Tem gente que não se enxerga mesmo — Wendy revirou os olhos ao me ver aproximar.
Raul me olhava inexpressivo, sua mãe com o mesmo desdém de sempre, e a namorada, exibia uma expressão de cinismo tão grande que precisei me segurar para não apertar o seu pescoço com minhas próprias mãos.
— Conte para nós qual é o sentimento de inventar mentiras para ganhar visualizações.
Por sorte eu estava filmando, caso estivesse com as mãos livres teria arrancado aquele sorriso debochado no soco.
— Eu não autorizei me filmar, sua...
— Eu também não autorizei postar mentiras sobre a minha vida, e nem por isso deixou de fazer.
— Prova que é mentira!
— Prova que é verdade!
— Eu não tenho que provar nada a ninguém, queridinha.
Naquela altura já havia outros celulares apontados para nós, uma aglomeração de pessoas e meus amigos já vinham correndo.
— Que ridícula, eu sempre soube que você não tinha classe — disse dona Eugênia, com toda a sua arrogância ajeitando a postura.
— Não me dirija a palavra, eu não te chamei para a conversa — falei para a madame que estalou os olhos exibindo uma expressão de espanto.
— Não fale assim com minha mãe! — Raul elevou o tom de voz, se levantando.
— Ah, cale a boca, você nunca teve atitude, não é agora que vai começar! — apontei o dedo em sua direção. — É tão covarde que sabe que ela está mentindo para me prejudicar e não é capaz de admitir.
— Eu não tenho nada a ver com o que ela posta. Se mentiu ou não, vocês que se entendam!
— Bem típico da sua postura. Nunca se posiciona, vive uma vida de mentiras para ter essa imagem falsa de merda que sua família criou.
— Você respeita meu filho!
— Ah, vá catar coquinho! A senhora é a primeira a não fazer isso!
— Cíntia, o que você está fazendo? Eu não falei...
— Está tudo bem, Otávio. Eu não vou perder meu tempo com esse bando de abutres.
— Eu não saí de casa para ser insultada — disse a megera, que um dia chamei de sogra, se fazendo de vítima. — Essa desclassificada é uma...
— Chega, mãe!
Até eu assustei com aquele grito; nunca imaginei que veria o Raul enfrentando sua mãe, ainda mais por minha causa.
— Filho, você nunca gritou comigo, eu sou... — ela protestou em um drama que foi interrompido pelo filho revoltado.
— Eu disse, chega!
— Amor, está gritando com sua mãe, ela...
— Cale-se você também! — Raul a sacudiu pelos braços, com brutalidade. — Toda essa merda que vocês inventaram só serviu para me prejudicar, inferno!
— Eu menti por você, Raul, é assim que retribui?
— Mentiu porque quis, eu nunca te pedi para fazer isso. Essa droga de namoro não me serviu de nada, estou farto das duas falando na minha cabeça!
A tensão agora se instalava entre o casal, e eu mal consegui conter o riso ao notar que Emanuelle estava usando um tênis de cada cor. A cena se tornava ainda mais cômica com a vendedora tentando puxá-la de volta para a loja, acompanhada pelo segurança, que parecia mais interessado na fofoca do que em fazer o seu serviço.
— Ok, é para falar a verdade? Então vamos falar a verdade, querem jogar merda no ventilador, então faremos isso! Eu inventei essa história de traição a pedido da mãe dele!
— Mentira! — Dona Eugênia acertou um tapa no rosto de Wendy.
— Não encosta em mim, sua cobra!
Um alvoroço de gritos ecoou pelos meus ouvidos; eu já havia alcançado mais do que esperava, mas a verdadeira confusão estava apenas se iniciando.
— Foram anos de promessas que nunca se se concretizaram. Romana não era a única amante dele; eu estou ao seu lado há muito mais tempo!
— Bota meu nome no meio dessa história não, garota!
Romana surgiu, sei lá de onde, desafiando Wendy que a encarou. Ali se iniciou um festival de baixaria, que com certeza terminaria em quebra-pau. O dono do estabelecimento que até aquele momento não havia se manifestado foi empurrando as pessoas para longe, um furdúncio sem tamanho.
Otávio me pegou pelo braço e foi se afastando.
— Não foge não, sua imprestável! — gritou dona Eugênia, já no meio da rua. — Essa confusão toda é por sua culpa!
Voltei meu olhar para trás e vi que a confusão já havia se instaurado. Um repórter de jornalismo policial se esforçava para capturar o melhor ângulo da cena. Wendy e Romana se atracavam no chão, com uma agarrada ao cabelo da outra em meio a gritos. Otávio me puxava pelo braço, falando algo que não conseguia ouvir. Manu, descalça, tentava se espremer entre a multidão agitada, enquanto Raul tentava tirar a mãe surtada do meio da rua, mas a doce senhora que agora desceu do salto, insistia em me ofender. Nem me dei ao trabalho de decorar os nomes que levei.
— Vá pro inferno! — gritei, fazendo um gesto indelicado em direção a ela.
— Ah, que droga! — o ruivo exclamou, segurando-me com uma mão e jogando-me sobre seu ombro. — Chega de escândalo, já me arrependi de ter vindo.
Otávio saiu apressado entre as pessoas, me carregando como se eu fosse um saco de batatas, e só me devolveu ao chão quando chegamos ao carro.
— Eu disse que ia dar merda, olha o tamanho da confusão que se formou! — ele me repreendeu, abrindo a porta do carro para que eu entrasse.
— Não me arrependo. O Rodolfo está indo embora por causa da mentira que aquela vaca postou na...
— Ele não está indo embora, está apenas indo até o Maranhão resolver algumas questões da empresa. Ele tem direito a uma quantia em dinheiro que nunca usou e vai pegá-la para comprar a fazenda.
— A Manu mandou para ele um vídeo que você gravou no dia em que veio embora. Eu disse para não atravessar a rua, droga!
— O vídeo que não postei — falei ao me lembrar daquela declaração de amor. Eu sequer sabia que Manu ainda tinha, aliás, nem me lembrava desse vídeo. — Se eu soubesse que ela tinha feito isso, não teria...
— Você não pensa antes de fazer as coisas, Cíntia.
— Se você sabia de tudo isso, porque não me contou? — perguntei afivelando o cinto.
— Eu não sabia, falei com o Rafa por telefone enquanto estava na borracharia e ele me contou. Já tinha avisado que estávamos aqui, eles estão vindo — disse ele, fechando a porta e dando a volta no carro. — Anda Manu!
Olhei adiante e vi Emanuelle correndo ofegante, segurando os chinelos do Otávio nas mãos. A polícia passou por nós com a sirene ligada, rumo à confusão. Tentei espiar pela janela do carro, mas o toque do celular do peão desviou minha atenção.
— Oi, estou com ela, deu o maior barraco, tive que intervir. Sim, estou na esquina da praça, está um tumulto aqui, vou levá-la embora.
— Não vai, não!
Antes que eu pudesse raciocinar um disparo alto ecoou e Otávio caiu no chão ao lado da porta do motorista, que estava aberta.
— Não! — gritei em desespero quando ouvi o outro disparo.
Tentei me soltar do cinto, mas não deu tempo, Raul entrou no carro e acelerou deixando o rapaz sangrando no chão.
— Otávio! — olhei para trás e vi Emanuelle aos prantos, de joelho, abraçada ao peão desfalecido.
— O que você fez! — gritei o estapeando. — Assassino! Eu te odeio, Raul!
"Sinto um clima de despedida no ar."
Eu chorava puxando meus cabelos enquanto me lembrava de suas palavras. As imagens dele sorrindo e brincando conosco naquela manhã, se misturavam com a dele no chão, cheio de sangue, morrendo por minha causa. Eu pedi que me levasse a cidade, não o obedeci quando disse para não atravessar a rua, ele falou que não estava com um bom pressentimento. Eu o matei.
"Amigos não dizem só o que deseja ouvir, então dane-se se vai ficar com raiva precisa acordar para a vida e parar de achar que aquele cara é inofensivo. Não espere alguém levar a pior para tomar uma postura, Cíntia!"
— Assassino! Você matou o Otávio, assassino! Eu tinha que ter te denunciado, tinha que... Nunca vou te perdoar seu monstro! Por que não atirou em mim em vez dele?!
Raul sorriu, mas não havia humor em seus olhos. Havia um ódio profundo, sua presença era como uma sombra pesada, parecia estar possuído por uma força ruim.
— A culpa foi sua! — seu grito saiu como um rosnado, e antes que eu pudesse reagir, senti o baque da coronha em minha cabeça. Logo senti o sangue escorrer pela lateral do meu rosto, misturando-se com o terror que pulsava dentro de mim.
O carro seguia em alta velocidade, o motor rugindo como uma fera enfurecida, enquanto o barulho da sirene da polícia ecoava cada vez mais próximo. O homem descontrolado ao meu lado afivelou o cinto com um movimento brusco, seus olhos exibiam uma fúria desenfreada quando ainda me recuperava do baque. Estava tonta, não esperava aquela brutalidade toda.
— Eu planejei uma vida contigo, e você me descartou como se eu fosse nada! Mesmo sabendo que se entregou a aquele merdinha do apartamento, eu te perdoei! Pedi para meu avô comprar a fazenda quando soube que iam vendê-la. Era nossa chance de sermos felizes, e você tinha que estragar tudo!
— Você matou o Ferrugem! Ele estava tão cheio de sonhos, prestes a ir para o Texas, e você tirou a vida dele! Meu amigo, seu...
— Você me transformou em um assassino! Eu nunca fui um cara ruim, e você sabe disso! O que você fez comigo? Você me empurrou para esse abismo!
Raul gesticulava com aquela arma enquanto dirigia feito um louco, segurando o volante com uma única mão. Os carros buzinavam e saíam da frente, ele não ia parar.
— Você atirou no Otávio! Ele não merecia! Eu nunca vou te perdoar, Raul! — gritei, as lágrimas escorriam como um rio descontrolado, cada palavra saía entre soluços desesperados. A dor do arrependimento é amarga demais, eu poderia ter tomado uma atitude, mas preferi me calar, agora estava nas mãos do destino.
— Você apertou aquele gatilho quando me rejeitou! — ele rosnou, os olhos fixos na estrada, mas cheios de uma fúria cega que eu nunca tinha visto antes.
O carro seguia e alta velocidade pelas ruas de Campo Grande, como uma bala perdida, subindo calçadas e invadindo a contramão. A adrenalina pulsava nas minhas veias, e eu tapei o rosto quando um motoqueiro, colidiu violentamente contra um carro estacionado ao tentar desviar de nós. A brutalidade da cena me atingiu como um soco no estômago; nunca imaginei que Raul pudesse se transformar em um monstro, e agora eu estava presa em um pesadelo sem fim, sem saber o que viria a seguir.
— Está correndo demais, vai nos matar desse jeito! — clamei, as lágrimas misturando-se com o medo que apertava meu peito, meu corpo sendo arremessado de um lado para o outro, agarrada ao cinto de segurança como se isso pudesse salvar minha vida.
— Morreremos juntos — ele sussurrou, como se a ideia fosse um conforto.
— Me perdoa, mãe.
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