Capítulo 27 Cala a boca e me beija

 A sensação era como se algo esmagasse meu peito, pisquei várias vezes tentando assimilar aquela informação desejando ter ouvido errado, mas infelizmente não foi o que aconteceu.

— Isso é sério, pai? — perguntei já sentindo as lágrimas brotarem nos olhos.

— Sim, infelizmente, sim. E se os compradores forem aqueles que vieram hoje, muita coisa vai mudar.

— Que tipo de coisas, José? — perguntou minha mãe, e pelo visto, ela também não sabia.

— Eu não queria fazer alarde, mas reconheço que todos precisam estar cientes do que pode acontecer.

— O que pode acontecer, José, chega de suspense, por favor!

— Calma, mãe, deixa o pai falar — intervim.

— Saiu o inventário, e os herdeiros resolveram vender a fazenda de porteiras fechadas para dividir o dinheiro da herança. Não tem o que fazer, o seu Laércio não queria dispor da parte dele, mas não tem o dinheiro para comprar a parte dos três irmãos.

— Desculpa me envolver — disse Rodolfo. — Mas os novos proprietários vão precisar de mão de obra, e normalmente mantêm a mesma equipe, já pensaram nessa possibilidade?

— Sim, mas acontece que os interessados na propriedade disseram que não tem a intenção de trabalhar com gado, eles mexem com lavoura e já tem seus funcionários. Mais da metade do pessoal aqui vai ficar sem emprego, e de quebra sem moradia.

A fazenda tinha em torno de dez famílias morando na colônia, somava não mais que uns trinta funcionários, mas ainda assim, eram pessoas que precisavam do emprego, assim como da moradia, e essa mudança repentina ia ser um grande baque para todos.

— Eu não quero ir embora daqui, morei a vida toda nesse lugar — disse Emanuelle em lágrimas.

— Eu também, em cada canto dessas terras existe uma lembrança, uma vida inteira de dedicação que... droga, não quero ser injusta — protestei limpando a lágrima que descia pelo rosto.

— Eu não faço questão, já tenho meu trabalho e se minha família vai embora da fazenda, é óbvio que irei com eles — Fabiano se manifestou decidido.

— Eu também não fico — Otávio se apoiou na parede de braços cruzados.

— Com tanta terra nessa fazenda, eles vão demolir as casas da colônia para plantar milho e soja. É muita maldade, não se trata apenas de moradias, é um ciclo de uma vida inteira sendo cortado sem anestesia — Emanuelle, se debruçou na mesa escondendo o rosto sobre seus braços cruzados.

— É isso que eu penso, nossa família chegou bem depois, mas o senhor, o seu Justino pai da Manu, o seu Jonas estão aqui a muito tempo, e agora correm o risco de serem descartados. É uma pena que o valor de uma mão de obra seja medido pela idade.

— Eu cheguei aqui só tinha mato, já namorava a Nilza, mas Justino já era casado, fomos nós que abrimos a primeira picada para colocar o gado. O Jonas chegou uns meses depois, e cada peão que passou por aqui foi orientado, ou por mim, ou por eles. Cada cerca existente nessa fazenda, a sede, as casas da colônia, tudo foi feito pelas nossas mãos e dos peões que literalmente deram o sangue aqui. Mas como eu disse, nada disso nos pertence, e sabíamos que um dia poderia acontecer isso.

— Eu me lembro de quando a gente conversava — Manu levantou a cabeça buscando o meu olhar. — Quantas vezes falamos sobre realizar o casamento conjunto na capela da fazenda, de ter a nossa casa na colônia e ver nossos filhos crescerem correndo pelos mesmos lugares onde passamos a vida toda. É injusto, sabe, sei que nada disso é nosso, mas dói ouvir que o sonho acabou.

— Mas já é certeza de que essas pessoas vão comprar? Pode ser que apareça outros interessados e mantenham a fazenda como está — disse Rafael.

— Eu torço muito por isso, porque mesmo que resolvessem tocar a fazenda como está, e eu continuasse como encarregado, se o comprador for o que veio aqui hoje, eu prefiro bater massa em uma obra.

— O senhor conhece? — perguntei curiosa.

— Eles vieram em nome de Raul Panicky Ferrari, o avô do Raul, seu ex-noivo.

— Puta que pariu! — exclamei ganhando todos os olhares. — Desculpa, é que... prossigam.

— Eu sei que a família tem posses, mas duvido que tenham dinheiro suficiente para comprar uma propriedade como essa, até seu Laércio desconfia da procedência do dinheiro, mas não podemos dizer nada.

— Políticos — Rafael revirou os olhos.

— O Raul é o neto preferido do seu Panicky, se o avô comprar a fazenda com certeza ele viverá por aqui mandando e desmandando. Por mais que eu ame esse lugar, minha sanidade mental e a segurança da minha família vale mais — afirmei.

— Vai saber se não foi o próprio pau de bosta que convenceu o avô — Otávio cerrou o punho livre de cenho franzido. — Está com o orgulho ferido, é bem a cara dele atropelar pessoas inocentes para benefício próprio.

— Não acho que ele iria tão longe, não é como comprar um cachorro quente no trailer da esquina — comentei.

— Vamos mudar o rumo dessa prosa, eles ainda não compraram e muita água ainda passará por baixo dessa ponte até que saibamos o desfecho — disse minha mãe, colocando uma travessa de mandioca frita sobre a mesa. — E chega de tristeza, tem comida feita, carne assada, o boi não volta pro pasto mesmo, então bora comer que sofrer de barriga cheia é melhor.

No fundo todos sabíamos que minha mãe tinha razão, não adiantava ficar tentando prever o futuro, e por mais injusta que a situação fosse, não dependia de nós, agora só nos restava aguardar para decidir o nosso destino.

— É hoje que eu arrasto o chifre no chão e acendo a fogueira com suas faíscas — Rafael virou o restante da caipirinha e puxou Emanuelle para dançar umas modas que Fabiano tocava na viola.

— Oi, mãe — disse Rodolfo se afastando mais uma vez. Pelo visto aquela discussão com a mãe não terminaria tão cedo.

— Ele dança bem, não é? — perguntei me sentando ao lado de Otávio.

— Nem prestei atenção — disse ele, ficando corado.

— Eu gosto muito do Rafa, conheci poucas pessoas com o valor que ele tem.

— Só o que ele fez por ti, já mostra sua bondade.

— Como você está?

— Eu? Ah, estou bem, eu acho.

— Está bem mesmo?

— Você sabe — ele me olhou desconcertado. — É claro que sabe.

— Sei do quê? — me fiz de desentendida.

— Cíntia, eu te conheço muito bem para saber quando está mentindo. Ele te contou, não é?

— Não, eu não sei mesmo do que está falando.

— Cintia? — ele me encarou estreitando os olhos, e acabei me atrapalhando, nunca fui boa com mentiras.

— Isso seria ruim? Digo, muito ruim?

— Droga — Otávio se levantou fazendo sinal para que o seguisse.

— Não briga com ele, eu...

— Ninguém pode saber disso, entendeu?

— Relaxa eu só vou anunciar no grupo da cidade, talvez no da fazenda, ou deveria postar um vídeo nas redes sociais?

— Tá doida?

— É claro que não vou contar a ninguém o seu segredo tão horrendo. Poxa, Ferrugem, pensei que tivesse a mente mais aberta.

Mentira, pensei não, eu sabia que ele era rústico e sistemático, mas não admitiria em voz alta. Não agora.

— Assim você me faz sentir culpado.

— A boca dele dá choque?

— Não.

— Então qual o problema?

— Não acredito que estou falando isso justo com você.

— Somos amigos, porque não falaríamos?

— Olha, aquele beijo foi...

— Foi?

— Foi uma atitude impulsiva que não vai se repetir, meu pai me mata se souber que beijei outro cara, os peões vão me zoar pelo resto da vida e tem o fato de ser peão de montaria. Já ouviu falar em algum peão de rodeio gay?

— E você acha que é gay?

— Eu beijei outro cara.

— E daí?

— Eu gostei.

— E daí?

— Se fosse homem, macho, não teria gostado.

— Vai ser menos homem por gostar de outro cara?

— Ah, Cíntia. Não complica.

— Não sou eu que estou complicando. Você não vai ser menos homem por assumir que se sente atraído por ele. Pode ser bi sexual, já pensou nisso?

— Eu não entendo essas modernidades.

— Vai deixar de ficar com um cara legal por medo? Se não quer que saibam, sejam discretos, se dê um tempo para descobrir o que realmente sente em relação a isso. Eu duvido que nunca tenha ficado com uma garota sem que ninguém soubesse.

— Claro que fiquei.

— Qual a diferença?

— Eu sou um peão, droga!

— E daí?

— E daí, e daí — Otávio respirou profundamente demonstrando agitação. — E daí que não espero que entenda a confusão que está aqui dentro da minha cabeça agora.

— Não estou desmerecendo a sua preocupação, de modo algum, só não acho que deva deixar de fazer as coisas por medo do julgamento alheio. Principalmente se for algo que lhe faça bem.

— Cíntia, eu não sei se consigo — ele me segurou pelo ombro olhando em meus olhos, não precisei de mais de alguns segundos para perceber o quão perdido estava. Não pensei duas vezes e o abracei.

— Não cometeu nenhum crime — falei em seu abraço.

— Eu sei — ele respondeu com a voz embargada.

— Se é algo que lhe trás desconforto, se afaste, mas se lhe faz bem, não fuja. Têm coisas que não voltam mais.

— Eu atrapalho alguma coisa?

A voz grave de Rodolfo nos fez separar imediatamente.

— Não, eu só estava...

— Relaxa, grandão, eu e ela somos amigos — Otávio deu tapinhas no ombro de Rodolfo e retornou para junto dos outros.

— Você fica abraçando seus amigos assim, sempre?

— Não, e você com ciúme fica ainda mais lindo — falei puxando sua camisa, ficando na ponta dos pés para alcançar a sua boca.

Rodolfo me beijou de uma forma possessiva, minhas costas se chocaram contra a parede, estávamos no corredor lateral, não havia iluminação, apenas alguns feixes de luz vindos do jardim.

— Entenda de uma vez por todas — disse ele entrelaçando os dedos em meu cabelo, fazendo com que o encarasse. Seu corpo enorme pressionou o meu contra a parede quando sua mão livre desceu pelas minhas costas chegando na curva da minha coxa quando me puxou ainda mais firme para si. — Eu te deixo livre se disser que não me quer, mas se decidir ser minha, saiba que jamais aceitarei outro homem tocando esse corpo além de mim.

Aquela juntada me fez engolir em seco, e quando repetiu o gesto me fazendo sentir a potência de seu corpo firme, eu já não conseguia raciocinar sobre qualquer coisa que fosse.

— Eu quero ser sua, mas não posso negar um abraço a qualquer ser humano que precise — falei olhando em seus olhos, que me encaravam fixamente.

— Se o ser humano for alguém que já se envolveu intimamente, eu prefiro que não o faça. A menos que queira me magoar, eu não sou tão evoluído assim.

— Deixa eu te contar uma coisa — peguei sua mão e levei até o interior da minha coxa e fui subindo lentamente. — A chave daqui é só você que tem, só essa mão pode tocar, então aproveita que me atiçou e resolva esse problema.

— Safada — ele sorriu me puxando para a parte mais escura do corredor. — Você gosta de me provocar.

— Acendeu a fogueira, agora apague, doutor — sussurrei em seu ouvido. — Eu disse, agora.

— Se essa é a sua forma de evitar uma briga, deu muito certo.

Ele me beijou loucamente quando me recostei a uma árvore onde minha mãe amarrava algumas mudas de orquídea. Os galhos grossos levemente encurvados serviram de apoio para minhas costas, não eram confortáveis, mas tinha que servir.

— Você é perigosa, me faz agir feito um garoto no auge da puberdade — ele sussurrava em meu ouvido enquanto eu rezava para ninguém passar ali e ver os galhos daquela árvore balançando sem vento. Era arriscado? Sim. Mas eu quis parar? De jeito nenhum.

O problema é que nos empolgamos e naquela situação desajeitada acabei desequilibrando...

— Eu to caindo!

Me agarrei a sua camisa, mas não deu tempo, fomos direto ao chão. Não recomendo que tentem isso em casa, e se acaso decidirem arriscar, escolham roupas leves, soltas, ouvi dizer que calça jeans prejudica sua mobilidade e dificulta o equilíbrio. Mas só ouvi dizer...

— Se machucou? — ele perguntou aos risos.

— Droga — protestei revoltada, mas ainda assim entre risos.

— Depois a gente termina — ele me estendeu a mão para que levantasse. — Prometo que dessa vez não te derrubo.

— Abusado! — eu ri, ajeitando a roupa.

Voltamos para junto dos outros com uma cara lavada que só vendo. Emanuelle já estava levemente alterada, assim como eu, era fraca para bebidas. Rafael nos olhava desconfiado, só entendi os olhos semicerrados com um sorriso ladino quando gesticulou para que tirasse a grama do cabelo. Não bastava a vergonha de uma tentativa de acasalamento mal sucedida, ainda tinha que trazer a prova do crime comigo.

Eu não via a hora de poder andar com ele de mãos dadas em todos os lugares, dormir e acordar ao seu lado sem ter que me esconder. De poder me entregar sem medo, esfregar na cara de todas as pessoas que me julgaram, das que riram da minha desgraça, que superei e que estava em mãos muito melhores. E que mãos, Brasil!

Quando retornamos, meu pai já cochilava na cadeira e minha mãe o chamou para ir se deitar, o pedido teve que ficar para outro dia.

— Tinha uma do Tião que teve um caso com a filha do patrão e ela ficou grávida, não lembro o nome — ia dizendo Rafael.

— Já sei — disse o Fabiano iniciando outra moda.

— Caipirinha, churrasco, um peão gato tocando moda de viola, o clima perfeito para chorar o chifre derramado — disse Rafael virando o copo.

— Achei ofensivo — eu ri, esfregando a testa.

— Amadinha, a sua época de corna já passou, vamos respeitar o meu momento? — Rafa fez uma careta engraçada.

— Já vi tudo, agora, disputar quem levou mais guampa é a primeira vez — disse Otávio pegando o copo de caipirinha da mão de Rafael e virando o restante na boca.

— O que é guampa, gente? — Rafael sorriu confuso.

Rodolfo levantou um copo feito de chifre que estava sobre a mesa gesticulando para o irmão, enquanto os demais fizeram um gesto com a mão junto a cabeça.

— Pois eu sou a metamorfose ambulante, pois nunca na história da humanidade se ouviu comentar de uma gazela que virou um touro — disse Rafael, causando uma crise coletiva de risos. — Agora só falta o peão para me usar o rodeio.

— Misericórdia — Otávio se engasgou com a bebida.

O clima agora era descontraído, várias músicas já haviam sido tocadas e não paravam de pedir mais. Álcool, churrasco e música velha são a combinação perfeita para se curtir ao lado de pessoas animadas. Mas não para todas, já que Emanuelle bebeu um pouquinho além da conta e fez uma ligação de vídeo para o namorado que fechou o tempo por ciúmes do Rafael. Justo de quem?

— Gente, alguém avisa esse garoto que eu não ofereço risco — Rafael levou as mãos até o peito ofendido.

— Ele é assim mesmo — afirmou Otávio. — Os peões até se afastaram da Manu por conta disso.

— Então foi por isso? — Manu franziu o cenho revoltada.

— Coisa mais infantil — Fabiano balançou a cabeça colocando a viola de lado.

— Não, não, mais música! — Emanuelle abraçou Fabiano pelos ombros. — O pé na bunda pelo visto tá garantido, então simbora cantar modão. Vixe, meu celular tá tocando.

Manu estava falando mole, avisei os rapazes para maneirar na bebida, não que estivessem exagerando, é que ela realmente era fraca e isso poderia nos trazer problemas.

— Cíntia, o Raul está me ligando — Manu sussurrou discretamente.

— Não atende.

— Eu postei uma foto no status e ele visualizou, agora não pára de me ligar.

— Me dê o celular.

Emanuelle me estendeu o aparelho que tocava sem parar, gesticulei avisando que atenderia em outro lugar e saí. Os rapazes cantavam uma moda antiga, não perceberam quando me afastei, Manu daria alguma desculpa caso perguntassem, então precisava ser rápida.

" Alô."

"Cíntia?"

"Qual o seu problema, Raul?"

"Vadia dos infernos, você acha que vai me desmoralizar?"

"Você me respeita!"

"Respeito? Você quer respeito?"

"Não, de você eu quero é distância, e pare de ficar ligando para a Emanuelle!"

"Saudade de quando chegava da rua e me esperava com aquela camisola transparente. Estou com ela aqui, mas não é a mesma coisa."

"Raul eu..."

Não tive tempo de terminar a frase, o aparelho foi arrancado da minha mão.

"Escuta aqui cara, qual é a sua de ficar ligando para minha namorada?"

De um lado Manu olhava assustada, do outro, eu tinha a mesma expressão que ela, e a nossa frente, Rodolfo bufava ao telefone.

"Preste bem a atenção, eu não vou repetir, a Cíntia é minha garota agora, você goste disso, ou não. Se voltar a importuná-la por qualquer que seja o motivo, vai se ver comigo e te garanto que te quebro bem mais do que um nariz!"

Rodolfo desligou o telefone, e entregou na mão de Emanuelle, que ainda o olhava com espanto.

— Bloqueia, e se ele ligar de outro número, bloqueia outra vez.

— Sim — disse ela, guardando o celular no bolso, ainda com um olhar assustado.

— E você, tem certeza de que quer ficar comigo?

— É claro que eu quero — respondi.

— Então, chega de se esconder.

Ele segurou em minha mão e me levou pelo corredor até chegarmos na área dos fundos, onde Fabiano dedilhava uma melodia triste na viola. Rafael e Otávio conversavam ao seu lado, e quando nos aproximamos, todas as atenções se voltaram para nós, mais especificamente para nossas mãos unidas. Rafael deu um gritinho suspeito e bateu palmas, Fabiano e Otávio trocaram olhares de cumplicidade, e Manu, essa ainda sorria feito uma boba alegre.

— Por que parou a música? — perguntou Rodolfo me abraçando pela cintura.

— Qual vocês preferem?

— Uma bem romântica para eu dançar com minha gata — disse Rodolfo beijando meu ombro.

"Eu não sei, de onde vem, essa força que me leva pra você..."

Não sei de propósito, mas Fabiano iniciou a música que me fazia lembrar dele. Rodolfo me apertou em seus braços iniciando aquela dança e Manu puxou Otávio para dançar com ela. Rafael fez um vidro de conserva de pimenta de microfone, e o cantor, esse parecia colocar todo o seu sentimento naquelas estrofes. E quando a música terminou, ele tocou a saideira...

"Sabe aquela menina sentada ali? Com olhar desconfiado tão inocente..."

Cantamos em coro, e quando a música terminou, eles me ajudaram a ajeitar a bagunça. Já passava da meia noite, o sono estava batendo, Otávio conversava encostado em seu carro ao lado de Rafael quando acompanhei Fabiano, que daria uma carona a Emanuelle, que tinha seu centro de equilíbrio alterado pelas doses de caipirinha que tomou. Rodolfo foi fazer alguma coisa dentro de casa, e meus pais já estavam no terceiro sono, como dizemos no interior.

— É bom te ver feliz — disse o Fabiano, enquanto Manu se acomodava no banco carona.

— A mãe dele não gosta de mim.

— Nem tudo na vida é perfeito — ele sorriu tímido. — Queria que soubesse, que mesmo não tendo escolhido a mim, a minha admiração por você ainda é grande, e que se precisar de um ombro amigo, um colo, pode me procurar.

Fabiano acariciou com ternura o meu rosto, antes de segurar a minha mão — Você é incrível, garota, desejo de coração que seja feliz. Chega de sofrimento.

Uma lágrima de emoção desceu pelo meu rosto, fazia muito tempo que não me sentia assim, tão feliz. Eu sei que muitos problemas ainda me rondavam, mas ter o Rodolfo ao meu lado de certa forma me fazia sentir segura, como se ele pudesse espantar todos os perigos. Achei que viveria nas nuvens, mas ao ouvir uma música vindo do corredor lateral de casa, vi meu mundo desabando enquanto caía em queda livre...

"Cala a boca e me beija"

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