Capítulo 26 E lá se foi a nossa noite
Quando retornamos, o sol já se escondia tímido atrás dos montes. Eu estava feliz, apaixonada por um cara incrível que me completava de todas as formas, que me cuidava, me aceitava apesar de todas as minhas imperfeições, manias e me fazia sentir amada como nunca fui por um homem... que não fosse meu pai. E por falar em pai, assim que acessei a área dos fundos me deparei com ele contando casos passados ao Rafael, que cuidava da churrasqueira.
Minha mãe se aproximou com uma caipirinha que ela mesma havia preparado e lhe entregou, eu sorri observando aquela cena. Na caixa de som tocava moda de viola e músicas sertanejas, o cheiro do tempero pairava no ar, cheiro de família, de um lar feliz.
— E aí? — perguntei pegando o copo da mão do Rafa e levando até a boca. Rodolfo agora falava com meu pai sobre a beleza da cachoeira e minha mãe mexia alguma coisa na panela que fervilhava sobre o fogão de lenha.
— Nem te conto, aconteceu uma coisa muito inusitada comigo.
— Pois então fale, porque pela sua cara foi uma coisa muito boa.
— Rolou.
— Rolou o quê? — levei o copo até a boca novamente.
— Eu beijei o Ferrugem.
— O quê?
Na surpresa, me afoguei com a bebida chamando a atenção dos demais ali presentes.
— Seja discreta, mulher — Rafael me puxou para o canto. — Ninguém pode saber.
— Conta essa história direito — falei em um misto de curiosidade e surpresa. — O Otávio é o cara mais hétero que eu conheci, como conseguiu essa façanha?
— Amadinha, eu não sei, em um minuto estávamos trocando confidências sobre nossa má sorte no amor, e em outro me vi com a minha boca colada na dele.
— Que doideira, Rafa, eu brinquei contigo, mas não passou pela minha cabeça que fosse acontecer.
— Nem eu, mas rolou e foi bom demais, não me chama de emocionado, mas estou nas nuvens. O novinho tem pegada.
— Que drama, o Otávio vai completar vinte e dois anos, é só dois de diferença — revirei os olhos com um sorriso. — Mas me conta, como aconteceu, vocês estavam sozinhos na arena?
— Sim, chegamos lá e a arena estava completamente vazia, aí depois de pegar suas coisas nos sentamos na arquibancada. Ele me explicou sobre as regras, como se sentia a cada montaria, como superou as dificuldades, a frustração diante as portas que se fecharam, o preconceito — Rafael dizia empolgado, mas depois de uma breve pausa seu semblante mudou. — Eu via a emoção estampada em seu rosto a cada relato e acabei me identificando. Nossos mundos são diferentes, mas eu sei o que é ter que derrubar barreiras para conseguir se encaixar em algum lugar.
— Eu me lembro de como ele era criticado por querer se dedicar a montaria. E também me lembro das zoações por ter o cabelo vermelho e as sardas no rosto, o apelido de Ferrugem ele não se importa pois foi dado ainda criança, mas já até brigou na escola por conta dos garotos que pegavam em seu pé com piadinhas sem graça.
— Ele me disse que não se importa com o apelido, achei fofo ele assumir que estranha ser chamado pelo nome — Rafael exibia um sorriso bobo. — Depois de conversar um pouco com ele, percebi que temos muito em comum, essa questão do bullying por conta da aparência, a escolha da profissão, são tantos conflitos internos.
— Bem, ele monta em touros bravos, eu penso que a cada disputa é uma vitória, mesmo que isso não signifique levar o prêmio para casa. E tem a parte das viagens, os dias longe da família, por aí você percebe que não é uma profissão das mais confortáveis.
— Definitivamente, não — Rafael concordou. — Ele também me disse que teve uma grande paixão em sua vida, que lhe entregou seu coração e recebeu uma cadeira para se sentar no camarote da zona da amizade. Estava todo tímido e confessou que nunca teve uma namorada, só amores de temporada. Cada cidade uma lembrança.
— Caramba — desviei o olhar, eu sabia que tinha culpa no cartório. — E como ele reagiu depois do beijo?
— Acho que se arrependeu logo em seguida, disse que nunca havia beijado outro cara e ficou todo bolado com isso. Sinceramente, não sei o que pensar.
— É compreensível.
— Eu quero de novo, Cíntia, mas acho que espantei o bofe.
Rafael bufou deixando os ombros caírem.
— Eu ainda não estou acreditando, se fosse outro, mas o Otávio?
— Sim, o Otávio, aquele homem grande, forte, que exala masculinidade. Ele tem uma pegada maravilhosa, beija como ninguém, aperta como ninguém, deve...
— Tá, Rafa, não precisa se empolgar — devolvi o copo em sua mão. — E o Levi?
— O Levi está postando fotos do passeio romântico de lancha com o Joel. E antes que me acuse, já te digo que, não, eu não beijei o Otávio para me vingar, realmente me senti atraído desde o momento em que esses olhos que há de comer terra um dia, pousaram sobre ele.
— Pousaram? — franzi o cenho pensativa. — Não seria que a terra há de comer um dia?
— Está vendo? Ele me faz perder a linha de raciocínio.
— Gamou mesmo — eu ri, ganhando uma careta engraçada.
— Não sou mais um adolescente para me apaixonar por um beijo e planejar um futuro, mas eu sei quando uma pessoa se encaixa perfeitamente, e ele é como um desafio que sinto muita vontade de encarar.
— Caramba nunca passou pela minha cabeça, você e o Ferrugem?
— Nem pela dele, porque pela minha... — Rafael deu uma risadinha suspeita. — Qual é Cíntia, até parece que não sabe que alguns homens nos procuram e se escondem em seguida. É mais comum do que você pensa, eu mesmo já recebi propostas indecentes de pessoas que você ficaria ainda mais surpresa. Não entendo essa masculinidade frágil.
— Você não existe, Rafa. Mas falando sério, ele deve estar bem confuso agora.
— Eu sei — Rafael recostou na parede, seu semblante mudou de divertido para aborrecido em questão de segundos. — Você acha que ele vai fugir, ou, me evitar?
— Sinceramente, eu não sei, mas isso importa tanto assim?
— Importa porque sempre tenho que pisar em ovos quando me interesso por um cara, e isso é cansativo.
— Bem, eu acho que ele vai precisar de um tempo para assimilar o que aconteceu, mas de coração, se ficarem juntos vou ser a primeira a torcer pelo casal.
— Eu quero um amor para viver, Cíntia, estou cansado de histórias inacabadas e romances complicados.
— É estranho, de verdade, eu nunca pensei que Otávio pudesse se interessar por rapazes — afirmei. — Não sei como ele vai reagir de agora em diante, mas te peço que mantenha seus dois pés cravados no chão.
— Como assim?
— Não coloque expectativas demais, o meio em que ele vive é machista e isso pode fazer com que tenha receio de se envolver e acabe fugindo por medo de julgamentos.
— Que coisa mais antiquada — Rafael revirou os olhos com uma careta.
— Antiquada, mas real.
— Não quero que me leve ao altar, eu hein! Só que me beije outra vez com a mesma vontade que fez hoje. É errado eu querer curtir um pouquinho?
— É claro que não.
— Já decidi que não vou namorar tão cedo, estou cansado de amores forçados, de ficar criando expectativas, ativei o lado promíscua.
— Então avisa a promíscua que habita dentro de você, que a segundos atrás ele era um desafio que queria encarar — eu ri.
— Abusada — rimos juntos.
— Nunca diga, dessa água não beberei, eu fiz isso e tive sede.
— Oh, glória! E vocês, se entenderam?
— Eu acho que sim — sorri voltando minha atenção para o Rodolfo, que mostrava as fotos da cachoeira para minha mãe.
— As coisas vão começar a entrar nos eixos — Rafael sorriu se afastando.
— Vou tomar um banho e já volto — acenei para meu pai, que agora estava pensativo olhando para o nada, e não reagiu.
— Pai, está tudo bem? — perguntei a distância e ele apenas acenou com a cabeça.
Meu velho nunca foi de ficar demonstrando preocupação, ele tinha um jogo de cintura incrível para enfrentar até mesmo as situações mais complicadas, mas ali seu olhar exibia um brilho triste, seu semblante abatido, sorrisos forçados, aquela distração não combinava com ele, definitivamente não estava bem.
"Essa fase vai passar, meu herói", pensei indo em direção ao corredor dos quartos. Os últimos dias foram muito intensos, aliás, o último mês, e levaria um tempo para as coisas se normalizarem, porque voltar a ser como antes, nem eu queria.
Tomei um banho demorado, escolhi uma calça jeans e jaqueta, não estava muito frio, mas era o suficiente para usar uma blusa fina. A cada minuto um frio subia pela minha coluna, ao me lembrar de que ele queria namorar comigo, o meu doutor me amou naquela cachoeira de uma maneira que nunca havia feito e ainda disse que queria oficializar o nosso relacionamento. Caramba, isso seria incrível. Não me declarei, mas já ensaiava como dizer que o amava, e tinha que ser aquela noite.
— Cíntia? — Manu bateu na porta do meu quarto.
— Está encostada — falei passando creme hidratante na mão.
— Que cheirosa — disse ela. — Menina, que homem é aquele lá fora?
— Você viu que monumento?
— Nem me fale, ele foi me cumprimentar, eu caí no riso, não aguentei. — Manu se jogou de costas em minha cama tapando o rosto, atrapalhada. — Que vergonha.
— Não entendi — me sentei ao seu lado, aguardando a crise repentina de risos dela passar.
— Me lembrei de você me ligando de madrugada, e eu querendo chamar meu pai porque tinha um tarado armado te atacando do outro lado do país.
— Putz, verdade — rimos juntas. — Tinha que ser você, não é Manu?
— O homem ficou me olhando sem entender nada, deve estar achando que tenho um parafuso a menos.
— Depois eu explico a ele, sei que vai rir muito disso.
— E esse sorriso no rosto, hein?
— É o sorriso de quem passou uma tarde incrível na cachoeira, sendo amada por aquele monumento lá fora.
— É doida — Manu estalou os olhos. — Se alguém te pega?
— Sou doida, sim, por ele — admiti, sentindo aquele arrepio bom ao me lembrar de como me beijou naquele riacho, antes de caminhar comigo de mãos dadas como naqueles filmes de romance clichê.
— Se pudesse ver o brilho que nasce em seus olhos quando fala dele — observou Emanuelle.
— Estou apaixonada, amiga, muito apaixonada e é bom demais. Ele vai me pedir em namoro pro meu pai, estou nervosa como se fosse a primeira vez.
— Ele é lindo demais, você tirou a sorte grande.
— Eu sei — concordei. — Mas me fala, você conheceu o Rafa?
— Sim, ele é muito fofo, tão lindo quanto o irmão.
— Por dentro e por fora — afirmei.
— Ele disse que está com dor de corno e vai se afogar na cachaça hoje. Estava dançando abraçado com uma garrafa de vodca, você acredita?
— Rafael é de fases, mas eu me divirto com seus surtos.
— E o Fabiano?
— O Fabiano e eu somos amigos. Eu, hein!
— O beijo? — Manu gesticulou com as sobrancelhas elevadas.
— Eu não contei, você acha que devo falar antes dele falar com meu pai?
— Eu contaria, até porque foi uma brincadeira, você não planejou nada daquilo. Ele pode ficar chateado, mas vai acabar entendendo.
— É, talvez você tenha razão.
— Se precisar de testemunha, amigos são para essas coisas.
— Você é incrível, Manu — sorri a abraçando. — Talvez eu precise mesmo.
— Às ordens — ela sorriu batendo continência.
Depois de conversar com minha amiga consegui ficar um pouco mais calma. No fundo eu sabia que não havia muito o que se fazer sobre aquela questão, não podia devolver o beijo, então, a sorte estava lançada.
— Olha as duas aí — minha mãe sorriu quando nos juntamos a eles.
— O Rodolfo estava te procurando — disse o Rafael me estendendo um prato com carne assada, recém picada.
— Onde ele está? — perguntei correndo meu olhar pelo local.
— Foi rumo ao jardim, e você venha dançar comigo — Rafael colocou o prato sobre a mesa, antes de puxar Manu para uns passos de forró.
Eu ri vendo aquela cena descontraída. Meu pai conversava com minha mãe ainda com aquela feição preocupada, logo imaginei que pudesse ser sobre as atitudes de Raul, achei melhor não me envolver no assunto, então, decidi procurar meu futuro namorado.
— Que os anjos me ajudem a encarar a fera.
Decidida a lhe contar, segui pelo corredor de roseiras e ouvi a sua voz lá adiante. A lua clara e a brisa leve deixava o clima ainda mais acolhedor, me senti naqueles filmes de romance clichê, onde a mocinha avista a silhueta do mocinho no jardim, ela se aproxima e os dois se beijam ao som de alguma música romântica, então acabam dançando em câmera lenta enquanto pétalas de rosas caem sobre eles. Só que não foi isso que aconteceu.
— Mãe, por favor! — ele gesticulava de costas ao telefone, fiz uma parada brusca e ia retornando quando ouvi o meu nome...
— Ah, não, dona Clô, por favor não estrague minha noite — murmurei aflita.
— Sim eu vim atrás dela, estou na casa da Cíntia com sua família e fui muito bem recebido — disse impaciente. — Anular o testamento do meu pai? É essa a sua ameaça agora? — Ele caminhava de um lado para o outro, transtornado.
— Você vai se complicar por minha causa — murmurei aflita.
— Não está me reconhecendo? É claro que não, se me conhecesse bem, saberia que esse tipo de coisa não me afeta. Se o problema for a minha parte da herança, prepare a papelada, eu abro mão. Aproveita e compra minhas ações da empresa, porque essas eu conquistei por mérito e não vou te entregar de mão beijada. Drama? Me conhece tanto que está me chantageando de forma errada, sabe que tem muito tempo que não dependo do dinheiro da família, eu trabalho e vivo muito bem com meu salário.
— E agora, Cíntia? — estalei meus dedos inquieta, sem saber se aparecia como quem não quer nada a fim de encerrar aquela discussão, ou deixava os dois se entenderem.
— Se for falar de tradições, você sabe que como filho mais velho eu sou seu responsável agora. Precisa decidir qual das duas tradições quer seguir, porque está pendendo para o lado que lhe convém, só que esse não te beneficia. Arrogante? — ele balançou a cabeça, não precisei me aproximar para entender que ria de nervosismo. — Mãe, olha para você, está tão desesperada por atenção que não enxerga o que realmente quero para minha vida. O teu dinheiro não compra isso não é? Carinho, afeto, amor, e eu que acreditei que tivesse mudado.
Eu observava aquela cena com um aperto no peito, ele já tinha tantas feridas a cicatrizar e agora aquela briga desnecessária. Isso era muito injusto.
— Tá mãe, eu já entendi, e apesar de não ter me dito isso, eu também te amo, estarei sempre aqui para você, mas minhas escolhas não lhe dizem respeito. Estou com a minha namorada, se precisar de alguma coisa relacionada a empresa, fale com o escritório, e se precisar de mim como filho, liga, que jamais deixarei de atendê-la. Ao contrário, me deixe em paz, eu preciso desse tempo, goste você, ou não.
Não ouvi o restante da conversa, saí antes de ser notada, mas confesso que vê-lo me defendendo quando o Raul nunca o fez, só aumentou a minha certeza de que ele era o cara certo.
— Cíntia, você era um denguinho quando criança — Rafael balançou uma foto no ar, quando me aproximei.
— Ah, não, mãe!
Eu corri na tentativa de guardar o álbum de fotos, não entendo o barato das mães fazerem isso. O problema é que não deu tempo e ela estava tão feliz que acabei baixando a guarda.
— Olha essas bochechas — Rafael sorriu acariciando uma foto de quando eu era um bebê. — Saudade do meu filho postiço.
— Você tem filho? — minha mãe perguntou.
— Ah, tia, eu fui pai por menos de um mês, mas é uma longa história.
— Nem me lembre, fui eu que fiz o parto da criança.
— Você? — minha mãe me olhou surpresa. — Vocês estão de brincadeira comigo, né?
— Quem dera fosse, mãe — afirmei, ganhando um olhar de espanto. — Digamos que não tenha tido escolha, a grávida já chegou parindo, foi um horror.
— Eu teria tido uns cinquenta desmaios diferentes se estivesse lá — comentou Rafael, olhando outra foto de quando eu era criança.
— Conversou com ele? — perguntou Emanuelle com discrição.
— Não, ele está falando com a mãe, e pelo visto brigaram.
— Poxa, Cíntia, você não tem mesmo sorte com as sogras.
— Pela cultura árabe o Rodolfo é responsável por ela, sei lá, eu o ouvi dizer isso.
— O Rodolfo é árabe?
— O pai dele era, mas a mãe é brasileira. Ela se casou ainda adolescente, se converteu, não sei como funciona, e sinceramente, prefiro não pensar nisso, já tenho problemas demais.
— O homem já é bonito, já pensou vestido de sheik?
— Amiga, você mudou muito, estou amando essa versão mais safada — eu ri.
— Credo, que vergonha, fala baixo — Manu sorriu tímida. — Seu pai está bem?
— Não sei o que aconteceu, ele estava bem hoje pela manhã. Quando cheguei da cachoeira já estava assim, desligado, mas acho que é por conta desse tsunami que atingiu nossas vidas. Bem, era para ter atingido só a minha, mas...
— Vai passar — Manu encontrou a cabeça em meu ombro, enquanto observávamos meu velho olhando para o nada no canto da área.
— Olha, Rô, que cute cute — Rafael apontou para a foto do meu batizado no álbum.
— Linda — Rodolfo sorriu folheando as outras páginas. — É incrível como uma imagem tão simples possa ser tão carregada de lembranças.
— Sim, essa aqui foi de quando ela perdeu o primeiro dentinho — explicou minha mãe. — Aqui, essa é dos primeiros passos, e, essa o primeiro dia de aula — ela sorriu acariciando aquela imagem impressa em um papel, como se estivesse assistindo aquela cena, e acredito que estava. — Eu pensei que ela ia chorar por ficar sozinha, mas quem chorou fui eu quando a deixei na sala de aula.
— Recordar o passado, é como abrir dentro de si uma caixinha repleta de saudades — refletiu Rafael.
— Essa eu não tive coragem de tirar do álbum — ela apontou para uma foto da ceia de natal, foi meu primeiro natal com Raul. E o último com minha avó. — Saudade da minha mãe, ela se foi cinco meses depois.
— A senhora é muito parecida com ela — disse Rodolfo. — Não precisa tirar do álbum se lhe trás boas memórias.
— Eu queimei todas as fotos que ele aparece, peguei tanta raiva — os olhos de minha mãe lacrimejaram. Era a primeira vez que a via falar assim de Raul.
— Uma imagem, mil lembranças — afirmou meu pai, olhando para uma foto antiga dele e o pai da Manu em cima do cavalo, tocando gado.
— Vamos tirar uma foto? — pediu minha mãe. — Todos juntos, eu quero colocar em um porta retrato para sempre me lembrar desse dia.
— Eu também quero — afirmou Rafael.
— Ali perto do José, é mais claro e pega o gramado de fundo — sugeriu minha mãe.
— Eu tiro a foto — Manu se ofereceu.
— Nada disso, vou colocar no temporizador — disse o Rafa posicionando o celular sobre a mesa e ajustando a imagem.
A primeira foto parecia feita para um comercial de novela de época, meus pais sentados em uma cadeira de mãos dadas, de um lado eu e Rodolfo, e do outro Manu e Rafael. Até que ficou bonita, mas as outras foram as mais divertidas, o que nos rendeu muitos risos. Até meu pai que antes estava calado agora se divertia com a situação. Pena que durou pouco tempo.
— Boa noite — disse o Fabiano se aproximando ao lado de seu irmão Otávio.
Todos os olhares se voltaram para eles, que exibiam um semblante sério, e antes mesmo de que alguém respondesse, Fabiano foi logo perguntando:
— É verdade que o patrão está vendendo a fazenda?
A pergunta de Fabiano ao meu pai, causou um silêncio repentino enquanto toda a atenção se voltou para sua resposta.
— Sim.
E lá se foi a nossa noite...
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