Capítulo 17 Não preciso disso para minha vida
A cada andar que aparecia no painel do elevador, subia um frio diferente pela minha coluna, me senti como se fosse ser fuzilada assim que entrasse naquele apartamento. E fui, pelo olhar da Karina que não fez questão de disfarçar sua inquietação quando passamos pela sala.
— Filho, você? — Dona Clô, nos olhou surpresa ao perceber que estávamos de mãos dadas. — Não estava de plantão, Rodolfo?
— Não estou mais — ele respondeu me levando pela mão.
Eles jogavam baralho na varanda, Karina me olhou com ódio; Rafael com um sorriso; Levi com surpresa, e a senhora, Clô, com certeza queria me matar. Mas o grandalhão não deu importância foi direto para meu, então quarto, o que também me deixou surpresa.
— Precisa de alguma coisa? — perguntou diante do meu olhar confuso.
— Um fundo mútuo, sua mãe vai me matar depois dessa — eu ri, mas foi de nervoso.
— Vou tomar um banho, me espera que dormirei contigo hoje — ele sorriu me dando um beijo e saiu.
Eu demorei uns minutos para assimilar aquela informação, ele realmente passaria a noite ali comigo, com a toda poderosa dona Clô em casa?
"Gente essa mulher vai me jogar no mar na primeira oportunidade", pensei ao passar despercebida rumo ao banheiro, é óbvio que corri tomar um banho, precisava estar bem cheirosa e limpinha para receber o homem mais incrível que conheci.
Rodolfo ainda estava na sala, pelo pouco que ouvi, recebendo um sermão que pelo visto foi ignorado, já que logo a porta de seu quarto se fechou próximo de onde eu estava. Na volta tive o desprazer de esbarrar com Karina pelo corredor e o modo como me olhou literalmente me causou arrepios.
— Iludida — sussurrou ao passar por mim com um sorriso no rosto, indo em direção ao quarto do Rodolfo.
— Oferecida — falei entredentes.
Eu ainda estava assimilando tudo o que ouvi naquele hospital e confesso que me senti insegura em relação a nossa aproximação. Não fazia ideia de como isso iria repercutir em minha vida, nem se me traria mais problemas do que já tinha. Sendo apenas o doutor Rodolfo, médico bem sucedido, diretor de um hospital de grande porte já o fazia alguém aquém de minhas possibilidades, eu não queria pensar em como seria agora, porque não conseguiria ignorar o fato de sua mãe me achar uma pistoleira, prestes a dar o golpe em seu filho.
"Cíntia, meu amor, por favor, me atende, eu quero muito falar contigo. Não desista de nós dois, eu sei o quanto errei, se pudesse voltar atrás, nunca teria me envolvido com ela, hoje eu sei o quanto você é importante em minha vida. Me perdoa, eu preciso de você".
O Raul insistia em me ligar, e como não atendia, me mandava inúmeros áudios que eu não mais abria, só que ali, sozinha, acabei vasculhando o celular na esperança de que o tempo passasse depressa.
— Cíntia? — Rafael bateu na porta discretamente.
— Está aberta — falei desligando a tela do celular.
— Eu queria te dar um presente, mas não tive tempo — disse ele com uma caixinha na mão.
— Presente para mim? — sorri confusa.
— Um agradinho para apimentar a vida de vocês.
— Vocês quem? — perguntei soltando o laço.
— Não abra ainda, eu tenho que ser breve, o Levi me espera — ele segurou a minha mão, e sorriu. — Não liga para as provocações da minha mãe, ela tem medo de que outra mulher tome o seu lugar em nossa vida.
— Outra que não seja a Karina, não é mesmo?
— Não se iluda, esse chamego todo com a Karina, é porque a garota faz tudo o que ela quer.
— Eu conheci seu pai.
— Eu sei, o Rô me contou, e se ele abriu o jogo contigo é porque você é especial. Mesmo a Karina não sabe tudo na íntegra.
— Sério?
— Sim, e não liga para a implicância da minha mãe, logo ela volta para Dubai e te deixa em paz. Não machuca meu irmão, é só isso que te peço.
— Rafa, eu...
— Eu pedi o mesmo a ele ainda agora — disse ele se levantando. — Vou dormir no apartamento do Levi, se cuida tá.
Rafael me jogou um beijo à distância, e se foi.
— O que deu nele? — falei abrindo a caixa.
Eu ri ao ver alguns daqueles produtos da gaveta, inclusive alguns frasquinhos do pozinho do mal, mas o que me chamou a atenção foi uma outra caixinha com um rabinho de gato, branco, muito fofo, parecido com o da raposa que eu tanto paquerava. Ali também tinha algemas e outras coisinhas que nem fazia ideia de sua utilidade, só tinha olhos para meu enfeite de cabelo porque só podia ser para isso, ou não?
— Desculpa a demora — disse Rodolfo entrando no quarto.
Ele estava de calça de moletom e camiseta regata, eu amava quando se vestia assim era como se seu corpo ficasse ainda maior, o que me causava um calor repentino.
— O que foi? — perguntei ao notar seu olhar curioso.
Eu segurava aquela algema, as coisas estavam sobre a cama, e o rabinho fofo fiz um coque no cabelo e o coloquei de qualquer jeito, depois descobriria um jeito de ficar mais firme.
— O Rafa te deu essas coisas? — ele se sentou ao meu lado com um sorriso diferente.
— Sim, ele disse que era para apimentar as coisas, e também pediu que não o magoasse.
— Ele me pediu o mesmo, mas isso em seu cabelo, você sabe que não é assim que se usa, não é?
— Não?
— Não — ele afirmou depois de soltar uma risada nasal.
— E onde eu enfio isso?
— O que eu te respondo, Cíntia? — agora Rodolfo ria me deixando com o rosto corado.
— Não ria de mim, eu não sei para que servem essas coisas — tapei o rosto com as mãos.
— São produtos para usar na hora do sexo, então, se esse é um rabinho...
Eu tirei o acessório do cabelo e o encarei, me recusava a acreditar no que minha mente estava visualizando, mas a expressão de Rodolfo me dizia que estava falando sério.
— Isso aqui eu coloco... não, isso... mas...
— Sim — ele balançou a cabeça aos risos. — É sério que pensou que fosse um acessório de cabelo?
— Eu pensei, tá! — escondi meu rosto em seu peito enquanto ele ria me abraçando. — Nem vou perguntar como se usa essa borrachinha que parece um mordedor de bebê, e esse ovo.
— Vai usar essa noite? — falou divertido olhando para o rabinho em minha mão.
— Não, você riu de mim — protestei envergonhada beliscando sua cintura.
— Essa unha — ele me agarrou mordiscando meu pescoço e me prendendo embaixo de seu corpo.
— Que unha? — perguntei deixando rastros pela sua cintura.
— Ah, Cíntia — sussurrou alcançando minha boca.
Seus beijos eram como um condutor de energia que me faziam perder o sentido facilmente. Eu amava sentir o seu gosto, amava quando brincava com meus lábios, mordendo, sugando daquela forma enquanto suas mãos firmes me despiam descaradamente. Ele era muito habilidoso, nem percebi suas más intenções, quando dei por mim, estava nua, algemada na cama.
— Ah, garota, você bagunçou a minha cabeça — murmurou se despindo lentamente.
Meu olhar acompanhou seus gestos quando pegou uma caneta que soltava um gel cremoso com cheiro de morango, e fez vários desenhos em partes sensíveis que me deixava cada vez mais arrepiada. O jeito como ele me olhava me fazia sentir incrivelmente desejada, sei que já disse, mas reafirmo que toda mulher deveria sentir isso ao menos uma vez.
Ele me tocava, apertava, beijava, e quando usou sua língua para limpar aqueles desenhos, eu já estava a caminho das estrelas.
— Você é cruel — protestei quando senti suas mordidas no interior de minha coxa.
— Sempre fui — sorriu mordiscando um pouco mais.
— Vai me deixar mal acostumada.
Mordi os lábios me encolhendo quando revezou entre mordidas e carícias que mais uma vez me deixaram muito perto do alívio que tanto precisava, mas é claro que não ia me dar o que queria, não agora.
— Apressadinha.
Me encolhi quando senti aquele tapa. Não foi forte, apenas não esperava e confesso que gostei muito da sensação que me causou. Ele me olhou por um instante, antes de alcançar a proteção, e ali, eu sabia que seria minha perdição.
— Então você curte tapinhas, que delícia — Rodolfo sorriu me dando outro.
Ele sabia exatamente o que estava fazendo e em questão de segundos eu já implorava para que me soltasse e pudesse tocá-lo, mas é óbvio que não me obedeceu e me fez perder os sentidos por duas vezes até que finalmente me libertou.
— Cansada? — perguntou quando eu tentava me recompor e só consegui balançar a cabeça negativamente. — Ótimo, porque estou muito animado.
Seu corpo grande e pesado encobria totalmente o meu, mas ali não fazia diferença, estávamos entregues. Sua mão entrelaçou em meu cabelo enquanto dizia palavras obscenas em meu ouvido, se movimentando em um ritmo frenético que acabava comigo. Ele era tudo o que eu precisava para ser feliz, tudo o que eu precisava para me sentir a mulher mais sortuda do universo. E eu era, definitivamente era.
— Eu não quero ficar sem você — murmurei quando tentava retomar o fôlego.
— Então fica aqui comigo — pediu me beijando outra vez. E lá estávamos nós iniciando outra rodada, nem deu tempo de respirar.
O que começou na cama, terminou no chão sobre o tapete que não fazia barulho, não precisávamos de mais sons além dos que emitíamos, e esses já eram altos o suficiente para preencher aquele quarto minúsculo. Nos desafiamos para ver quem arregava primeiro, e confesso que perdi, eu já não tinha pernas, nem forças para outra sessão daquelas, o homem era um dicionário de posições e tinha um estoque infinito de energia. Mas prometemos continuar aquela conversa que foi boa demais para encerrar o assunto.
Era muito bom estar em seus braços, me sentia protegia, segura, acolhida. Ele acariciava meu cabelo com tanta delicadeza que o sono acabou me consumindo, e quando acordei, já era tarde e ele já havia saído.
"Olá, meus amores, eu queria fazer uma declaração, e... é, não reparem o meu jeito, se não falar agora talvez perca a coragem. É que minha vida mudou tanto nos últimos trinta dias, e foi para a melhor. Sim, para muito melhor, e... bem, eu não imaginava que viveria tudo o que vivi, cheguei aqui desiludida e encontrei o homem mais perfeito que o destino poderia colocar em meu caminho. Sim, estou apaixonada, estou muito apaixonada, ele é incrível, me faz sentir como nunca me senti antes, me faz sorrir de coisas bobas, sonhar, alcançar as estrelas, ele foi a luz que eu precisava quando apagaram o meu brilho, o combustível que me incendeia e me faz voar até o céu. Ele é sem dúvidas nenhuma, o homem da minha vida, e mesmo que fuja para as montanhas quando ver esse vídeo, porque ele vai ver, queria que soubesse que eu te amo, Rodolfo. Eu viveria contigo em uma cabana no meio do nada se fosse preciso, porque só sua presença me basta".
Quando terminei de gravar o vídeo, não tive coragem de postar, enviei para Manu pedindo para que ela assistisse e me dissesse se seria loucura postar, mas nem deu tempo de obter a resposta, eu não estava mais sozinha...
— Ah, você está aí, que bom porque tenho pressa — disse dona Clô, vindo apressada com Karina logo atrás.
— O que aconteceu?
— Aqui está sua passagem, junte suas coisas que vou te levar agora mesmo ao aeroporto.
— Como? — perguntei aflita.
— Ande logo menina, eu não tenho tempo!
Eu sequer consegui responder, ela me pegou pelo braço de maneira bruta e me arrastou até o quarto. Agora eu juntava minhas coisas em lágrimas, estava sozinha com elas e não sabia se bater de frente era uma boa opção.
Prometi ao Rodolfo não deixar que sua mãe, ou qualquer outra pessoa me intimidasse, mas não foi isso que aconteceu. Aquela mulher me tratou com tanta brutalidade que fiquei sem reação, ela era a dona da casa e eu apenas a visita indesejável, pelo menos era assim que me sentia em sua presença.
— Ande garota, não tenho todo o tempo do mundo!
Ela me levou pelo braço até o quarto e foi jogando minhas coisas de qualquer jeito na mala. Karina observava tudo com um sorriso satisfeito no rosto, e eu que nunca fui de sequer discutir verbalmente com as pessoas, apenas aceitei aquela humilhação de cabeça baixa.
— O que eu fiz para a senhora me tratar assim? — perguntei com lágrimas nos olhos quando ela praticamente jogou algumas peças de roupa sobre a cama para que me vestisse, sequer tive privacidade para isso.
— Acha mesmo que aceitaria uma pistoleira na cama do meu filho?
— Eu não sou uma...
— Ah, garota vista-se logo que não podemos atrasar, te quero longe daqui o mais rápido possível.
Karina me observava com um olhar de superioridade enquanto a senhora, dona da casa, me botava no olho da rua, de uma maneira indelicada.
— Eu queria me despedir dos rapazes, ao menos agradecer por...
— Não seja por isso — ela me estendeu um papel e caneta. — Escreva o que vou te mandar e depois assine.
— Eu posso ligar, e...
— Escreva logo!
"Eu queria agradecer pela hospitalidade de vocês que me receberam com muito carinho, mas é hora de ir embora, tenho um noivo me esperando. Desculpa sair assim, tenho pressa, não me procurem, por favor, eu quero reorganizar a minha vida. Rodolfo, esqueça tudo o que aconteceu entre nós, eu decidi entrar naquela igreja e viver um casamento feliz. Com amor, Cíntia."
Escrevi aquele bilhete em lágrimas, ela pendurou na geladeira e me levou novamente pelo braço. Até tentei argumentar, mas já estávamos no elevador, nem cabelo consegui pentear, a "dama da sociedade" tinha pressa em me despachar como um lixo qualquer.
— Dona Cíntia, está indo embora? — perguntou o porteiro quando saímos do elevador.
— Sim, e está atrasada, o vôo não espera — disse a mulher colocando minhas malas no carro já estacionado na frente do prédio, e no votante, uma Karina vitoriosa com seus óculos escuros nos aguardava.
— Obrigado por tudo, senhor José — falei ao senhor de pele alva e olhos claros, antes de ser praticamente empurrada para dentro do carro.
Eu não queria chorar, mas foi mais forte, me senti humilhada demais, nem dona Eugênia me tratou daquela forma, e para completar a situação, ela me tomou o celular, colocou no chão e pisou com o salto sobre a tela assim que chegamos ao aeroporto.
— Por que fez isso? — perguntei aflita.
— Você não vai ligar para meu filho — ela retirou o chip e me devolveu o aparelho quebrado. — Aqui tem o suficiente para comprar um melhor do que esse, chegando em sua cidade poderá substituí-lo, veja como um presente.
A maluca enfiou um bolo de dinheiro em minha bolsa, mas devolvi, pelo menos tentei.
— Eu não quero seu dinheiro, dona Clotilde — estendi a mão para ela com as notas.
— Clô, apenas Clô!
— Então, dona Clotilde, eu trabalho e posso comprar um celular novo, não precisa se preocupar com isso.
— Escute bem, mocinha, eu sou a matriarca da família — ela segurou em meu braço de uma maneira bruta. — Estou tomando as rédeas por aqui e não quero que procure meu filho outra vez. Ele não é para alguém como você, saiu mais cedo para não te ver indo embora porque não queria se envolver em minhas decisões. O Rafael também sabe que está indo, eles me obedecem, então só recolha-se em sua insignificância e vai!
Eu não entendia tamanha maldade, ela me tratou com uma frieza tão grande, que doeu na alma. Entrei naquele avião aos prantos e nem era apenas pelo medo de voar, eu não queria ir assim, não queria partir sem me despedir dos rapazes, desconfiava de que não estavam cientes, caso contrário, aquele bilhete seria desnecessário, estava tão machucada que só conseguia chorar.
— Não preciso disso para minha vida — murmurei em lágrimas quando o avião decolou.
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