Capítulo 16 Dinheiro não é tudo

Era como se toda a animação que tive nos últimos dias fosse se esvaindo do corpo, eu realmente me senti intimidada pela madame, Clô, e sua fiel escudeira, não menos arrogante, Karina. Não fazia ideia de onde aquele táxi estava me levando, mas só o fato de sair daquele prédio e respirar um pouco, longe daquelas duas, me fez sentir bem melhor.

— O hospital? — minhas sobrancelhas se elevaram quando o táxi parou na porta do pronto atendimento. É óbvio que eu sabia que ele estava ali, só não compreendi sua intenção ao me levar até lá.

Rodolfo se aproximou quando desci do carro, me deu um beijo breve e cumprimentou o jovem motorista que logo seguiu o seu rumo. Confesso que fiquei surpresa com aquela manifestação pública, era seu local de trabalho, eu realmente não esperava.

— O que você está aprontando?

— Só quero te mostrar uma coisa — ele segurou em minha mão e me conduziu para dentro. Um gesto que causou um rubor inesperado em meu rosto e olhares curiosos na equipe.

— Boa noite — disse o segurança quando passamos pela entrada da recepção.

— Boa noite — respondi tímida.

Seguimos pelo corredor do pronto atendimento, onde havia algumas cadeiras encostadas de um lado da parede com pacientes aguardando. Avistei as salas de medicação com poltronas ocupadas por pessoas tomando soro, e de frente ao posto de enfermagem. Os profissionais dividiam os olhares entre nossas mãos dadas e o meu rosto, que deveria estar muito corado. Eu até tentei disfarçar, mas não sou muito boa em esconder reações, como a timidez, fico vermelha com muita facilidade. Rodolfo os cumprimentou naturalmente e continuou me levando por aquele labirinto de portas, corredores e rampas, completamente despreocupado.

O primeiro setor que visitamos foi a clínica médica, não entramos nos quartos, mas só de passar pelo corredor deu para ter uma noção de como aquele lugar era carregado. Seguimos para a clínica cirúrgica, onde se encontravam alguns pacientes recém operados, acidentados e outras patologias. 

Na pediatria me deparei com algumas mães no corredor, crianças tão pequenas com aqueles pijaminhas e olhares inocentes, esse seria um lugar que jamais trabalharia, não teria coração para isso. Respirei profundamente quando paramos em frente a uma porta restrita. Era a ala de pacientes críticos, e ali, eu não sabia se ia querer entrar, mas acabei não me manifestando.

A princípio não entendi muito bem aquele passeio diferente, ele apenas me pediu para que observasse tudo com muita atenção, e o que eu vi, foi uma mistura de dor, esperança, fé, sei lá, só quem precisa estar nesses lugares consegue definir o sentimento. Eu parei de tentar decifrar qualquer coisa que fosse quando adentramos aquele espaço, e apesar de toda a estrutura que demonstrava ser uma área particular, do tipo não acessível a reles mortais como eu, ali, de todos os lugares, foi o mais tenso.

— Por que estamos aqui? — perguntei curiosa.

— Veja — ele apontou para uma parede com uma parte de vidro onde avistei um paciente na cama.

— O que ele tem?

Se tratava de um homem, ali daquela distância não consegui ver seu rosto, mas me senti incomodada com o barulho dos aparelhos, e tantos fios ligados a aquele ser humano imóvel naquela cama.

— Está vendo aquele cano ligado ao seu pescoço?

— Sim.

— É o respirador. Através daquela cânula de traqueostomia, ele recebe o oxigênio — explicou. — Percebe as caixinhas fixadas no suporte de soro? São bombas de infusão contínua.

— E o que seria isso?

— Esse aparelho regula a quantidade certa de medicamentos que vão correr em suas veias, é isso tudo que o mantém vivo.

— Eu nunca havia estado em um lugar assim, é tão... triste, o ar parece pesado, o clima, tudo. Sei lá, eles estão entregues.

Era uma sensação muito estranha estar ali, ele me observava atento enquanto ainda tentava assimilar todas aquelas imagens. Foi um verdadeiro choque de realidade, mas o seu olhar compassivo diante daquele vidro, me dizia que não era só para ter uma aula básica de medicina que eu estava ali.

— Alguns, sim, esse paciente usa fralda, é necessário que alguém o troque, que o banhe, está vendo o caninho em seu nariz? É a sonda de alimentação, é preciso que alguém esteja atento a tudo isso durante vinte e quatro horas por dia. Ele depende cem por cento de uma pessoa para ter o mínimo de dignidade na curta vida que lhe resta.

— Vocês são anjos — afirmei com lágrimas nos olhos, correndo o olhar para o posto de enfermagem ali à nossa frente. — Eu cresci ouvindo que a vida é frágil, mas nunca parei para pensar em como de fato ela é, e agora, aqui, depois de tudo o que vi. Nossa, nem sei o que dizer.

— Minha intenção não é te assustar, de fato queria te mostrar um pouco do meu mundo, mas vai além disso — ele olhou para aquele paciente como se tentasse procurar as palavras certas a dizer. E posteriormente, entendi que era o que realmente fazia. — Esse homem, é dono de setenta por cento desse hospital, ele tem uma fortuna que te deixaria boquiaberta, e todo o seu dinheiro não foi o suficiente para comprar a sua saúde. Percebe aonde eu quero chegar?

— Na verdade, não.

— Ele foi um bom filho, um ótimo pai, um marido que tratava sua esposa feito uma rainha. O problema é que fazia o mesmo com sua amante, e quando o caso foi descoberto, perdeu a família, e quase foi a ruína.

— Que triste, mas, porque está assim?

— Há cinco anos ele teve um acidente vascular cerebral, popularmente conhecido como derrame. Desde então, nunca mais saiu da cama.

— Igual a um peão bem antigo da fazenda, ele passou mal, foi andando para o hospital e voltou acamado, perdeu a fala e paralisou um lado de seu corpo.

— Isso é bem comum.

— Tanto dinheiro para terminar sozinho em uma cama de hospital — murmurei mais alto do que pretendia.

— Sua família mora fora do país, quem o visita com frequência são os filhos. A amante nunca virou esposa, e a esposa não chegou a se divorciar, mas também, nunca botou os pés aqui nesse quarto ou em casa para visitá-lo. Esse, homem, é meu pai.

— Está falando sério? — Um frio intenso percorreu minha coluna. Nunca, nem por um instante, pensei que estivessem enfrentando uma situação assim.

— Sim, ele passou mal quando visitava o Brasil — Rodolfo soltou um suspiro profundo. — Nunca mais voltou para Dubai.

— Rafael disse que contou sobre o Renatinho, eu pensei que fosse por telefone, não imaginava que...

Eu olhava para o Rodolfo, e depois para aquele homem na cama, sem saber o que dizer. Simplesmente fiquei em choque, estive com eles durante um mês inteiro e nunca mencionaram que o pai estaria em estado grave. Notei que sempre saíam, às vezes conversavam no quarto, mas jamais disseram uma única palavra sobre isso. Me senti culpada por um instante, afinal, se dedicaram tanto a me ajudar a segurar o mundo que caía sobre meus ombros, quando o deles estava literalmente em ruínas.

— Por que nunca me falaram sobre ele, eu poderia ter visitado, dado um apoio aos dois, e...

— Você já tinha problemas demais, achamos melhor não envolvê-la nisso — explicou antes de apertar a minha mão. — Eu só estou te mostrando essa situação, porque não curti a maneira como a mãe do Raul te tratou. E eu sei que a minha acabou fazendo o mesmo, não vi, mas o Rafael me contou, e isso é o tipo de coisa que não tolero. O fato de ter dinheiro e uma posição social privilegiada, não torna ninguém melhor do que ninguém. Qualquer pessoa está sujeita a passar por isso — ele voltou o seu olhar para o pai. — E no fim, a terra nos consome da mesma forma.

— Eu não queria me sentir assim, mas é automático, sequer consigo responder quando me tratam com superioridade. É como se isso me travasse.

— Não, Cíntia, você não tem que se sentir inferior a ninguém, existe sim, hierarquias em empresas, família, tudo é questão de respeito, mas é uma via de mão dupla. Respeite para ser respeitado, não tem que baixar a cabeça para uma pessoa, só porque a conta bancária dela é maior que a sua.

— Ele é bravo igual sua mãe? — falei quando uma enfermeira passou por nós e entrou no quarto.

— Ele foi uma das pessoas mais carinhosas que conheci — Rodolfo respirou profundamente com lágrimas nos olhos. — Sempre foi presente, atencioso, nunca vi esse homem brigar com minha mãe, nem levantar a voz em casa. Até mesmo quando ia nos dar alguma bronca, falava baixo olhando nos olhos. Se não fosse aquela traição, ainda seríamos uma família. Agora está aí sozinho, teve duas mulheres, mas nenhuma sequer liga para saber como está.

— Vocês ao menos cuidam, têm filhos que acabam escolhendo um lado, e...

— É meu pai, Cíntia. Não concordamos com suas atitudes, jamais, ele sabe que nunca compactuamos com isso, mas independente de qualquer coisa, nunca viraria as costas para um ser humano que precisasse. Os seus erros, não cabe a mim cobrar, só estou fazendo a minha parte.

— Nem sei como seria se meu pai ficasse assim.

— Não queira imaginar, é muito doloroso.

— Mas, sua mãe, ela...

— Ela não era essa mulher amarga, fria e arrogante, era uma mulher carinhosa e muito simpática com as pessoas. Hoje não a reconheço mais, é como se usasse uma armadura, ou tivesse raiva da vida, realmente não sei como explicar.

— Cada um lida com os traumas de um jeito — refleti olhando para o homem entregue naquela cama.

— Ele tentou reatar o casamento, mas ela nunca o perdoou, e não a julgo por isso. Traição é algo que não consigo lidar e faria o mesmo.

— Nem me fale — desviei o olhar.

— Talvez se fosse ela nessa cama, ele estaria na poltrona ao seu lado, mas cada um sabe de si e não nos cabe apontar o dedo.

— Realmente uma história muito triste, agora entendo você passar tanto tempo no hospital.

— Eu vi o teu vídeo, sei que em parte se sentiu assim devido ao dia estressante que teve. Primeiro dona Eugênia com seu ego frágil, o filho marionete, e depois minha mãe com suas pedras. Existem pessoas que pensam que dinheiro e status é tudo, mas olha para ele — Rodolfo apontou para o pai. — O dinheiro não o privou desse sofrimento. Sua cadeira na empresa está ocupada por outra pessoa, seus amigos do poker continuam jogando, sua amante já o trocou por outro, seu dinheiro rende juros no banco, mas não serve para nada além de manter um quarto de luxo nesse lugar.

— Que tombo — murmurei.

— Todos os lugares por onde passamos ainda agora, em cada setor existe uma pessoa lutando pela vida, outras pedindo pelos seus entes queridos, e tem aqueles que deixam os seus familiares para estar aqui levando um pouco de alívio para as dores daqueles que sequer conhecem. O mundo não pára, até que curamos nossas feridas, a vida segue, e não dá para ficar se lamentando, ou deixando de viver por conta de opinião alheia.

— Isso é uma grande verdade — comentei.

— Aqui é um lugar de dor e sofrimento, mas também é um lugar de fé, esperança, de vida. Quando percebemos que aquele ditado, que sempre tem alguém pior do que nós é uma grande verdade, não ligamos mais para algumas passagens que não merecem tanto de nossa atenção. Como o controle que sua sogra quer exercer sobre você; sobre o julgamento das pessoas de sua cidade, ou sobre o seu medo de soltar essas amarras que te prendem e ser feliz. Você é dona de seus passos, hoje, veja bem, hoje, você tem saúde, é jovem e tem tudo para correr atrás de seus objetivos, pode tudo que quiser. Algumas pessoas não podem mais sonhar.

Ele apontou para o pai com a voz embargada.

— Eu não sei se ele se arrependeu de verdade, mas agora pouco importa, não dá mais tempo. Seu dinheiro atraiu interesses, mas nunca lealdade, e como caixão não tem gavetas, tudo ficará aí.

— Será que quando partimos, as lembranças nos acompanham?

— Não sei, mas penso que o que vale, é vivermos intensamente cada momento para nunca se lamentar. E se realmente houver lembranças, que sejam boas.

— Há quanto tempo ele está aqui? Digo, nesse quarto.

— Três longos meses, e... não tem jeito, está parando, não tem mais nada que possa ser feito.

— Eu sinto muito — falei o abraçando.

— Só queria que tudo ficasse bem — ele murmurou em meu abraço.

— Vai ficar, tem que ficar.

— Promete para mim, que não vai deixar o julgamento alheio apagar o teu brilho? — ele segurou meu rosto entre as mãos. Não consegui responder, apenas concordei com a cabeça. — Venha, vou te apresentar o meu pai.

Eu caminhei ao seu lado, insegura, lavei as mãos e segui suas orientações antes de entrar no quarto e me aproximar da cama. O homem fisicamente não se parecia em nada com os filhos que eram muito parecidos com a mãe. Ele tinha a pele oliva, bem característica dos árabes, cabelos lisos, negros como a noite nem parecia ter mais de cinquenta anos, na ocasião tinha barba feita e semblante sereno.

— Pai, oi, essa é a Cíntia, a moça que te falei — disse Rodolfo passando a mão pela minha cintura. — Seu Muhammad, olha que moça bonita.

O homem estava de olhos semi abertos, porém não esboçava nenhuma reação, achei agonizante aquilo, a princípio achei que não tivesse gostado de mim, mas depois soube que ele só ficava assim, preso em sua consciência. Os poucos sons que emitia, eram baixos e confusos, praticamente incomunicável, ao menos para mim.

— Oi, seu Muhammad, sou a Cíntia, eu e o Rodolfo somos amigos, é um prazer conhecê-lo.

Eu não sabia como me apresentar, e também não olhei para o Rodolfo para saber como deveria, só agi por impulso. Conversei com o homem, apertei sua mão, e sei lá, me senti diferente fazendo isso. Ficamos ali por uns instantes e não pude deixar de notar o carinho como ele tratava o pai. 

Se o Rodolfo soubesse como aquela sua atitude mexeu comigo, sem dúvidas me ensinou uma grande lição. Eu só conseguia pensar, que, se dinheiro fosse tudo na vida, aquele homem estaria em casa com sua família, se comprasse felicidade, dona Eugênia não era tão amarga e seu filho tão idiota.

— Você administra isso tudo? — perguntei quando entramos em um escritório na ala da administração.

— Eu tenho minha cota de participação, mas quem tem o controle de tudo é minha mãe. Ela sempre teve tato para os negócios, passou a representar meu pai quando ele adoeceu, inclusive, atualmente é a representante do Grupo Abdalla no Brasil. A família do meu pai tem muitos investimentos por aqui, e apesar de em sua grande maioria ser os homens que tomam frente, minha mãe conquistou o seu lugar com pulso firme e determinação.

— Isso realmente é interessante, dizem que os árabes não dão muito espaço para mulheres.

— Realmente, não, isso faz parte da cultura, mas como legítima brasileira, ela não deu mole para os machões da família — Rodolfo sorriu dando de ombros. — Cada um exerce sua função, eu e o Rafael, apesar de termos nossas rotinas diferenciadas, não deixamos de cumprir nossa responsabilidade frente aos negócios da família. Nem tenta entender, é bem complexo.

— Você e seu irmão são tão humildes, eu jamais pensaria que...

— Eu cresci no luxo, sempre tive tudo o que queria, menos privacidade, tinha sempre um segurança por onde íamos. Estudo, passeios, tudo era uma maratona e nunca curti essa vida.

— Eu pensei que só no Brasil tivesse essas coisas.

— Sequestro? — Rodolfo sorriu. — No meio em que cresci tinha bem mais do que isso. É um conflito de interesses e poder, mas não vale a pena falar sobre.

— E você não tem medo de acontecer algo aqui?

— Não, aliás, aqui eu conheci uma vida que me encantou e por isso nunca mais quis voltar. Eu conheci a simplicidade depois de uma temporada com meu avô materno aqui no Brasil, as melhores férias da minha vida.

— Nossa, isso é raro.

— Meu pai construiu fortuna no decorrer da vida e terminou assim. Eu abriria mão de tudo, se isso significasse ter minha família unida e saudável outra vez — Rodolfo respirou profundamente me encarando. — É bom ter minhas próprias coisas, uma vida comum, poder fazer escolhas. O dinheiro te escraviza, te trás inimigos, problemas, rivalidade e interesses. Eu quero é paz, e meu irmão seguiu o mesmo caminho.

— E sua mãe aceita essa decisão?

— Ela fica preocupada, mas respeita, sabe que somos felizes assim. Eu realmente não me importo com nada do que deixei para trás, já tenho meu trabalho e me sinto realizado. Sei que chegará o momento em que terei de lidar com isso, mas enquanto puder viver do meu jeito, não abro mão da minha paz.

— Realmente sua mãe tem motivos para se preocupar com quem se aproxima de você — suspirei ao me recordar de seu olhar desconfiado sobre mim. — O Rafa com sua vida pública, realmente é perigoso.

— Nunca falamos sobre isso exatamente para evitar qualquer transtorno. Te contei porque confio em ti, e também porque ninguém acreditaria numa história dessas — Rodolfo deu de ombros com um sorriso.

— Realmente é uma história difícil de acreditar — concordei.

— Então vamos fingir que nunca tivemos essa conversa — ele me puxou pela cintura me fazendo sentar em seu colo. — E quanto a minha mãe, ela tem todo o direito de se preocupar, mas nunca de escolher por mim, nem destratar qualquer pessoa que seja por conta disso — ele me puxou pela cintura me fazendo sentar em seu colo.

— Você existe mesmo?

— Sim, e estou com muita vontade de beijar essa boca.

Eu ri com a mudança brusca de assunto, mas até que foi bom, ele me beijou de um jeito tão gostoso que quase me esqueci de que estava em seu local de trabalho.

— Eu passaria a noite toda saboreando esse beijo bom — seu sussurro em meu ouvido, somado a tensão de seu corpo rígido me fez soltar um sorriso involuntário ao sentir aquele arrepio indiscreto.

— É melhor pararmos por aqui, já esgotei minha cota de ser pega em flagrante em uma situação constrangedora — falei sentindo o rosto esquentar com aquela lembrança.

— Quem diria que eu encontraria uma caipirinha que me fizesse ficar assim — Rodolfo sorriu me encarando.

— Assim como?

— Rodolfo?

Uma voz masculina ecoou do outro lado da porta acompanhada de batidas discretas, o que me fez levantar de seu colo imediatamente.

— Pode entrar — disse Rodolfo, ajeitando sua postura, mas não sem antes me encarar com um sorriso travesso.

— Só para avisar que cheguei — disse um jovem médico se juntando a nós naquela sala. — E já comecei pegando um óbito no 602.

— O seu Farias? — perguntou Rodolfo. — Que pena, ele estava se preparando para receber o transplante.

— Pois é, tanto tempo de hemodiálise e agora que conseguiu o rim — comentou o jovem verificando algo em seu celular. — Hoje a noite será longa, você me deve essa.

— Te acharam?

— Outra paciente passando mal — o jovem balançou o celular no ar. — É melhor você ir senão não sai daqui hoje.

Eu pensei ter ouvido errado, mas foi isso mesmo que ele disse. Rodolfo passou o plantão ao colega e me levou outra vez pela mão.

— Não precisa deixar o plantão por minha causa — falei preocupada. — Sei que está fazendo isso por conta da presença da Karina, mas...

— Esqueça a Karina, não quero que se sinta inferior a ela — disse Rodolfo quando chegamos ao estacionamento.

— Não sei se inferioridade é a palavra, mas me sinto intimidada, sei lá, insegura.

— Não deveria, ela gosta de ostentar uma vida que não tem, nunca acredite em tudo o que vê, e também não se esqueça de que o dinheiro não é tudo.

Ele decidiu voltar comigo para casa, eu só não sabia como seria a reação da senhora, Clô, quando nos visse. Pelo horário rezei muito para que estivesse dormindo...

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