Capítulo 14 visita indesejada

ATENÇÃO! Os primeiros parágrafos desse capítulo, contém cenas quentes, proibidas para menores. Cena breve, nada explícito.

Eu acordei de manhã abraçada ao travesseiro, cheguei a pensar que fosse um sonho, mas quando senti um braço forte e pesado circular minha cintura, entendi que não precisei morrer para visitar o paraíso. Se bem que depois de tudo o que fizemos aquela noite, sei não se iria para lá.

"Eu dormi com ele", pensei com um sorriso estampado no rosto. 

Bem... dormir não era a palavra exata, já que passamos a maior parte do tempo muito bem acordados.

Rodolfo repousava sereno ao meu lado, me pus a observar seus traços de homem, que tanto me enfeitiçavam. Aquele corpo grande, firme, cheio de músculos, era um atrativo e tanto para meus olhos que nunca haviam contemplado tal visão de tão perto. Não resisti, comecei a acariciar seu tórax, e depositei alguns beijos por ali. Ele abriu os olhos e sorriu, então aproveitei para continuar minha inspeção, que agora estava em seu abdome que se contraía ao toque de minha mão.

— Que maneira gostosa de acordar — murmurou beijando a minha testa, descendo pelo rosto e parando em minha boca.

Enquanto me presenteava com aquele beijo, minha mão foi descendo pelo seu abdome até alcançar onde realmente queria tocar. Fiz algumas carícias ali e então encaixei meu corpo sobre ele, eu o queria, e ele estava pronto.

— Você se encaixa perfeitamente em mim — disse ele apertando minha cintura. — Se soubesse como eu amo fazer amor quando acordo.

— Se soubesse como fica lindo com essa cara de safado — sussurrei em seu ouvido.

Olhar em seu rosto naquele momento de intimidade era muito excitante, agora eu estava no controle, e por incrível que pareça, soube aproveitar muito bem desse benefício.

— Quando estiver no plantão — mordisquei seu queixo. — Lembre-se de mim — beijei seu pescoço. — Assim, encaixadinha em você — sussurrei em seu ouvido.

— Puta que pariu, mulher, vai me fazer deixar os pacientes sem atendimento e vir correndo para sua cama.

— É bom que as enfermeiras não ficam te secando.

— Podem secar o quanto quiser, na minha cama só tem espaço para uma — ele inverteu nossas posições, e atacou a minha boca tomando as rédeas da situação.

Alguma coisa havia mudado em mim, eu nunca fui de tomar iniciativas, nunca consegui me soltar. A única vez que ousei colocar uma lingerie diferente e tentar apimentar a noite, tomei um banho de água fria e um sermão sobre como aquilo não combinava comigo. Talvez não fosse sobre mim, e sim sobre a pessoa com quem estava; o Rodolfo explorou o meu lado mulher, que precisa de estímulo, de incentivo, de química. Agora eu estava ali, livre de pudores, vergonha, me soltando, me conhecendo, me entregando de verdade a um homem que sabia como arrancar o melhor de mim.

O problema é que nos empolgamos e o barulho ecoou pelo quarto não permitindo que percebêssemos que não estávamos mais sozinhos em casa.

— Gente, por favor — as batidas do Rafael na porta nos fez parar imediatamente. No susto, eu rolei rapidamente para o lado tentando me cobrir com o lençol, e quando dei por mim, estava estatelada no chão, entre a cama e a parede.

— Fala! — disse Rodolfo me estendendo a mão enquanto ria baixinho.

— Está tudo bem aí? — perguntou Rafael do outro lado da porta. — É que ouvi um barulho.

— Pare de rir — falei com o rosto corado me sentando à beira da cama.

— Eu espero que seja importante — disse Rodolfo com a porta entreaberta.

— Eu não quero atrapalhar a festa, mas o barulho se excedeu um pouco, e ela tem visita.

— Puta que pariu, os patrões vieram me buscar — corri apressada pisando no lençol que usava para me cobrir e quase tomei outro tombo cinematográfico.

— Éca, se cubra, mulher — Rafael fez uma careta ao me ver com os seios de fora. — É o seu noivo que está aí.

— O quê? — um uníssono ecoou pelo quarto.

— Ele não veio sozinho, a mãe está junto.

— Merda, merda, merda, o que eu faço agora?

— Tira essa cara de felicidade do rosto e venha recepcionar a visita.

— Será que ouviram? — perguntei envergonhada.

— Pouco provável, eu interrompi a tempo — disse o Rafael. — E não se preocupem, a roupa destruída eu já tirei de lá. Você, hein, Rô, quem diria.

— Vá se lascar, Rafael — Rodolfo sorriu envergonhado voltando a fechar a porta.

— Eles vieram me buscar, tenho certeza disso, a mãe disse que os patrões viriam, mas... Não acredito, o que eu faço?

— Eu não posso te pedir para não ir lá falar com eles, nem te impedir de voltar. Só não quero que se sinta pressionada a nada.

Rodolfo me deu um último beijo e foi se vestir. Agora eu tinha a missão de sair dali na surdina como se tivesse cometido um crime. E foi o que fiz.

— Ah, Manu, eu nem posso te ligar, meu celular está na sala — falei correndo pelo corredor, vestida com uma camiseta gigante que Rodolfo me emprestou.

Me arrumei rapidamente e recitei um mantra em pensamento para enfrentar aquela situação. Eu não fazia questão nenhuma de encarar o olhar esnobe de dona Eugênia, nem a cara de pau de seu filho, mas estavam ali, e não tinha como fugir dessa conversa, então caminhei a passos de tartaruga até a sala onde já estavam os irmãos, e as visitas indesejadas aguardando a minha presença.

— Bom dia — falei me aproximando com uma cara amassada.

— Boa tarde, não é? Já são dez e meia — disse a megera de cabelo acinzentado me encarando de cenho franzido.

— Oi, meu amor — Raul se aproximou e tentou me beijar, mas virei o rosto fazendo com que sua boca se encostasse em minha bochecha. — Que saudade de você. — ele me abraçou mas não correspondi.

— Hum — a sogra limpou a garganta. — Sua mãe disse que viriam te buscar, mas a convenci de me dar o endereço, queríamos fazer isso pessoalmente.

— Ela me disse que os patrões viriam — falei incomodada.

— Vocês aceitam um café — perguntou Rafael.

— Não costumo ingerir cafeína, meu jovem — disse ela, mas eu sabia que era mentira.

— Eu aceito — disse o Raul.

Rafael foi em direção a cozinha e na sala o clima era espetacular, espetacularmente desconfortável.

— Então, Cíntia, nós acompanhamos a sua trajetória por aqui, e espero que entenda que não foi legal o que fez. A minha família é muito conhecida e gerou muitas especulações.

— A minha família também têm sentimentos, dona Eugênia. Não foi fácil para todas as partes envolvidas, mas lembre-se que quem traiu, não fui eu.

— Nós temos mesmo que conversar na frente de estranhos?

Ela apontou com desdém para Rodolfo que estava carrancudo na poltrona do canto, e depois para o Rafael que vinha com uma bandeja com algumas xícaras.

— Minha vida foi exposta na Internet — revirei os olhos. — E não tenho nada a esconder deles.

— Prefere açúcar, ou adoçante? — perguntou Rafa todo prestativo colocando a bandeja na mesinha de centro.

— Adoçante — disse Raul o encarando de cenho franzido.

— Cíntia, um cubinho de açúcar — afirmou Rafael com um sorriso fofo.

— Você tem noção da repercussão da sua aventura ao lado desses dois?

— Dona Eugênia, eles não são aventureiros. São pessoas de bem, trabalhadores honestos e gostaria que não os tratasse assim.

— Não precisamos falar sobre isso, só arrume suas coisas e vamos sair daqui o quanto antes — disse ela abanando a mão a minha frente.

— Acontece, que eu não vou. Não com vocês.

— Como assim, não vai? — ela me encarou de cenho franzido.

— Eu não vou, simples assim.

— Cíntia, deixa de bobeira, está fazendo drama por conta de uma aventura que meu filho teve na despedida de solteiro?

— Então, só que não foi uma aventura. O meu "drama", foi uma decepção por ter sido traída pelo cara em quem confiava cegamente.

— Bobagem, se eu fosse ligar para cada aventura do meu marido, nem estávamos juntos. Homens traem, é a sua natureza.

— Com licença — Rodolfo se levantou e foi para a sacada.

— Olha garota, eu não costumo dizer meias verdades, você sabe que se dependesse de mim, meu filho estaria casado com outra pessoa, e...

— Mas ele está livre, pode se casar com quem quiser — dei de ombros.

— Deixe de ser mal-agradecida, o Raul gastou uma fortuna naquele apartamento, que já estava todo montado e agora mudou tudo para te agradar. Saiu daquela distância para te buscar e vem com gracinhas?

— Eu não pedi para mudar o apartamento, tampouco para virem até aqui, então se quer me culpar por algo, arrume um motivo melhor.

— Está cheia de si — ela balançou a cabeça com um sorriso sarcástico. — Minha família tem muito prestígio na região, deveria ser uma honra fazer parte dela. Era a hora de beijar os meus pés e agradecer por eu ter saído de Campo Grande, e ter vindo até esse fim de mundo exclusivamente para te buscar.

— Desculpe, senhora, mas o teu filho é mudo? — Rafael interveio.

— A conversa é entre família, meu jovem, você poderia se juntar ao rapaz ali do lado de fora, e...

— Não, eu não poderia, a senhora desde que entrou em minha casa, me olha com desprezo. Agora está intimidando a minha visita, e quer que me cale? O seu precioso ali, não fala? Ele não deveria ao menos tentar se defender? Ou a senhora saiu do seu castelo de cristal e veio até aqui somente para ofender a minha amiga?

— Respeita a minha mãe, cara!

— Ah, para defender a sua mãe você tem boca, mas para defender a mulher que "diz que ama", enfia o rabinho entre as pernas? Que belo homem você é!

— Não ligue filho, ele nem pode ser chamado de...

— Chamado de homem? — Rafael se levantou. — Acha que não notei seu desdém comigo, dona, não gosta de homossexuais?

— Eu não disse isso.

— E precisa? A senhora já passou por aquela porta me olhando de cima. Ainda estou tentando identificar se foi racismo ou homofobia, talvez os dois.

— Ah, garoto, entenda como quiser, a conversa aqui é entre meu filho e sua noiva.

— Até onde vi, a conversa é entre a senhora e sua arrogância.

— Quem você pensa que é para falar assim comigo?

— Ele foi o cara que acolheu a Cíntia quando o seu tesouro ali, ao invés de levar flores em seu aniversário, preferiu levar a sua amante a boate — Rodolfo se aproximou irritado. — Esse "garoto", acolheu a moça que sequer conhecia, quando teu filho "hétero", um cara de família conhecida, de "prestígio", a traiu covardemente sem pensar na exposição que isso teria.

— É isso, Cíntia, é com esse tipo de gente que prefere ficar?

— A senhora respeita minha casa! — Rodolfo explodiu.

— Você não grita com minha mãe!

— Escuta aqui filhinho da mamãe. A madame ali, apesar de não merecer o meu respeito ainda o tem porque é mulher, mas você tenta cantar de galo embaixo do meu teto para ver se não te quebro ao meio.

Rodolfo deu de dedo a centímetros do rosto do Raul, que teve seu brilho sumindo instantaneamente.

— Bem a sua cara, não é, Cíntia, mexer com gente desclassificada.

— Até para ser educado tem limites, e antes de pedir que se retire, quero dizer que foi um desprazer conhecê-la — disse Rodolfo.

— Escuta aqui, seu grosso!

— Escuta aqui a senhora! — Rafael se manifestou. — Está jogando sua posição social na cara da garota, como se isso fosse um troféu. Se o fato de ter dinheiro na conta, lhe dá o direito de dizer que ela se ajoelhe aos seus pés, então a senhora deveria se ajoelhar aos nossos.

Dona Eugênia gargalhou enquanto eu fuzilava o filho dela com o olhar, não sei discutir, me sinto completamente perdida.

— Você sabe com quem está falando, garoto? Meu marido é deputado federal, somos de uma família tradicional de...

— A minha família também é tradicional, tanto no Marrocos, como em Dubai, conhece?

— Rafa — Rodolfo interveio. — Não precisa dar satisfações a ela.

— Ah, mas eu quero, odeio gente deslumbrada — Rafael protestou com o irmão antes de voltar novamente sua atenção à megera, que o olhava com desprezo. — Eu não costumo jogar status, nem posição social na cara de ninguém, acho isso ridículo. Mas se o fato de a senhora ter um pouco de dinheiro a faz tão importante, saiba que meu pai investiu a vida toda em poços de petróleo, nós temos ações na empresa, e como únicos filhos, somos herdeiros de uma fortuna que a madame não saberia calcular, e nem por isso temos esse nariz empinado, tampouco desfazemos das pessoas. Dinheiro não é tudo, dona, seja mais humilde.

— Contou essa mentira a ela, por isso está aqui?

— Ei, me chama de interesseira, não!

— A Cíntia nem sabia, desde que chegou aqui vem trabalhando, e pagando suas próprias coisas, mesmo quando dissemos não ser necessário. A senhora pode dizer o que quiser lá fora, essa moça, aqui, tem muito mais caráter do que o teu filho que a traiu covardemente e depois ficou mandando mensagens melosas se humilhando. Se realmente a amasse, não a teria traído, tampouco deixaria sua mãe a diminuir dessa forma! — afirmou Rodolfo.

— Deveria se envergonhar de se meter na vida alheia — disse ela ao grandalhão, que soltou uma risada nasal.

— Deveria ouvir seus próprios conselhos.

— O que está insinuando, seu...

— Chega! — Rafael interveio. — Só para encerrar essa conversa, dona Eugênia, duquesa da arrogância — disse ele se posicionando ao lado da porta. — Se a senhora aceita viver sendo desrespeitada, enganada, só lamento. Nem todo homem trai, alguns tem uma coisa chamada caráter, e deveria ensinar isso ao teu filho.

— Escuta aqui, garoto!

— Rafael, esse é meu nome, e a porta da rua é serventia da casa — encerrou com uma reverência.

— Mas isso é um absurdo — disse ela pegando o celular na bolsa. — Alô, seu José Luiz, eu estou aqui com sua filha, mas estou muito insultada. Nunca fui tão ofendida em toda a minha vida.

— Meu pai vai me matar — murmurei com lágrimas nos olhos.

— Sim, tentamos de tudo, mas ela está iludida com uma vida de mentiras, eu vou embora, é muita decepção. Não... não precisa se desculpar, eu entendo, sim ela é jovem e não tem juízo, perdemos o nosso tempo. Sim, vamos cancelar esse casamento, não tem mais jeito, ela está deslumbrada. A sua filha se perdeu, vive com dois homens aqui.

— Pai, é mentira! — gritei quando ela saiu pela porta.

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